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N.º 19

Janeiro 2007

NA ESCOLA


Ganham todos quando a família e a escola se unem
Prof. Teresa Correia

Da esquerda para a direita: Maria de Lurdes Ventura; Paula Mata (representante da Associação de Pais e Encarregados de Educação); António Martins (Presidente do Conselho Executivo); Júlio Pedrosa de Jesus (Presidente do CNE); Liliana Sousa e António Neto Mendes (docentes da UA).

Promovido pela CIVITAS Aveiro, em colaboração com a Escola Secundária Dr. Mário Sacramento e com a respectiva Associação de Pais e Encarregados de Educação, realizou-se um Debate sobre a Educação e a Cidadania, no dia 14 de Dezembro, na Biblioteca da escola.

Foram convidados para dinamizar o debate Júlio Pedrosa de Jesus, Presidente do Centro Nacional de Educação (CNE), e dois docentes e investigadores da Universidade de Aveiro, Liliana Sousa e António Neto Mendes.

Depois de sublinhar a importância do Debate Nacional sobre Educação, o Presidente do CNE observou que as várias iniciativas em que tem participado, nos últimos meses, denotam uma consciência generalizada de que se deve repensar a relação escola / família. A intervenção parental limita-se, em muitas famílias, a conversas de gestão do dia-a-dia “Como te portaste hoje? Que notas tiraste?” Outro aspecto que destacou foi o facto de os problemas da violência e do sucesso escolar já não estarem circunscritos aos grandes centros urbanos. No país, verifica-se uma situação generalizada desses tópicos. Porque é nas escolas que se acumulam os inúmeros problemas sociais, económicos e de relações humanas; é nas escolas que eles acabam por se revelar exponencialmente.

Nunca se pediu tanto às escolas e elas “estão muito sozinhas. As escolas estão muito pouco acompanhadas”. -  comentou o Professor Júlio Pedrosa de Jesus.

Por sua vez, Liliana Sousa apresentou a lógica “Quanto mais os pais e os professores se envolverem na escolaridade dos alunos, melhores notas estes terão, melhores comportamentos sociais, escolas mais activas, melhores cidadãos.” Apesar de muitos pais e alunos terem consciência de que a maior intervenção dos primeiros na educação escolar se reflecte num sucesso mais evidente dos segundos, o seu envolvimento na escola nem sempre é efectiva. A docente sublinhou que, se os alunos perceberem pequenos gestos de cidadania por parte dos pais e professores, eles próprios desenvolverão atitudes de cidadania.

Quanto a Neto Mendes, fez uma análise da situação da educação em Portugal, relembrando que há muito que a escola deixou de ser, a par da família, um dos poucos agentes educativos. A estes acrescentou os meios de comunicação, com especial destaque para a internet. Defendeu a ideia de que os pais devem poder escolher a escola onde querem que os seus filhos sejam escolarizados.

Cerca de 40 pais e professores participaram no debate que começou às 21h30 e se prolongou até à meia-noite e meia. Sem esquecer que a escola é o local de trabalho de professores e alunos, reforçou-se a importância da participação dos pais: intervir nos órgãos em que, por Lei, têm assento; conhecer os espaços e condições de trabalho dos seus filhos; acompanhar actividades extra-curriculares; seguir as tarefas escolares. Houve intervenções no sentido de os pais conhecerem os diferentes professores dos seus filhos, e não só os Directores de Turma.

Rematando o debate, o Professor Júlio Pedrosa valorizou a abertura revelada pelo Presidente do Conselho Executivo, por alguns professores e pais presentes, que se manifestaram quanto a uma certa eficácia nas suas relações actuais e futuras. Por fim, lançou o desafio de que seja realizado um debate a nível nacional sobre os valores e as regras que se querem ver aplicados nas escolas. n Jornal Correio do Vouga  - 20/12/2006

A Assembleia da República promove, conjuntamente com o Governo, um Debate Nacional sobre Educação, por ocasião dos vinte anos da publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo (1986-2006). O CNE foi mandatado para organizar este Debate que termina dia 15 de Janeiro de 2007.


Educação sem Cidadania? Não!
Paula Mata - Associação de Pais e Encarregados de Educação

Como é possível exigir aos nossos filhos/alunos que, quando lhes colocamos uma questão num teste, eles respondam com objectividade a essa questão quando provámos ali mesmo, naquele debate, que não o sabemos fazer? Na minha opinião, isto não é um pormenor! Tanto mais que tive a grata surpresa de verificar que a adesão entre os professores da escola foi muito significativa!

Para a minha maneira de ser, se calhar demasiado pragmática, confesso que fiquei um pouco desiludida, em termos de trabalho feito. Mas não com a acção da CIVITAS! E, em particular, "aqueci-me" com as palavras do Prof. Júlio Pedrosa que focou, na sua intervenção final, aquilo que também considero ser hoje a questão essencial: a revisão dos valores pelos quais nos regemos.

A Cidadania está, efectivamente, no centro da discussão desses valores.

Se não tivermos bem definidos valores essenciais como o humanitarismo, a solidariedade, o respeito pela diferença, a tolerância, a liberdade responsável, a cultura do brio, a vontade de evoluir interiormente, o conceito de Cidadania deixa de fazer qualquer sentido...

Também julgo não fazer sentido pensar em Educação sem incluir nela os aspectos associados à Cidadania. E não vi este debate acontecer! Achei, em especial, que uma intervenção que foi feita logo no início teve o "mérito" de desvirtuar completamente a discussão lançada, encaminhando o debate para questões que, na minha opinião, pouco ou nada tiveram a ver com o tema proposto. O que me assusta um pouco é essa intervenção ter partido de alguém cujo papel também é de docência. O que me assusta muito, é ninguém ter tido a presença de espírito suficiente para retomar o tema em debate, colocando um pouco de ordem em alguns raciocínios que entretanto se desenvolveram.

Resumindo, aspectos negativos da sessão: não foi efectuado o trabalho de debate proposto pela CIVITAS subordinado ao tema "Educação e Cidadania" apesar de ter sido colocada uma questão muito concreta e directa como base. Isto causou-me algum desconforto quanto à capacidade interpretativa e disciplina mental de uma boa parte do grupo presente.

Aspectos positivos: a introdução ao debate com música [Pedro Corga foi convidado   para tocar flauta transversal no início da sessão] foi uma ideia que considero brilhante e com um papel muito importante em termos de “pré-reflexão”, senti-me gratificada pela presença de bastantes professores e de alguns encarregados de educação, e fiquei com a sensação de que muitos também ficaram um pouco desconcertados com o desenrolar do debate.

Seja qual for a taxa de sucesso deste tipo de encontros, só pelo facto de acontecerem, já vale a pena, pelo menos, para nos conhecermos melhor. n


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