A Prof. Dr. Maria Salomé Pinho, do Departamento de Psicologia e Ciências
da Educação da Universidade de Coimbra, iniciou a palestra referindo-se
ao livro de Gabriel Garcia Marquez,
Cem Anos de Solidão.
Nesta obra, o autor descreve o que aconteceu numa pequena aldeia, quando
atacada por uma praga que afectou a memória da população. Os indivíduos
perderam a capacidade de recordar a sua infância, posteriormente ficaram
também incapacitados de se recordarem do nome e da funcionalidade dos
objectos. Por último, perderam a capacidade de recordar as pessoas com
quem se relacionavam e até mesmo a sua identidade.
Esta história ficcionada e alguns casos de neuropsicologia dão-nos a
conhecer como “a memória é vida” e como o nosso dia-a-dia depende do
seu funcionamento. Sem ela, nada teria sentido. Mas, como em tudo, só
damos importância à memória quando falha.
Ficámos a saber que a memória, que conhecemos como única, é constituída
por vários sistemas que se podem distinguir quanto ao modo como a
informação é armazenada e ao modo de aceder a essa informação. A nossa
memória é sensorial e recebe um caudal de informações através da nossa
sensibilidade. Por isso sabemos, por exemplo, onde fica isto ou aquilo,
sabemos o que fazer com as coisas e sabemos localizar no tempo as nossas
tarefas.
Temos a memória a curto prazo ou de trabalho que nos permite fixar por
pouco tempo um número de telemóvel ou o número do nosso bilhete de
identidade. É com esta memória que aprendemos na escola, adquirimos
aptidões e conhecimentos. E ainda a memória a longo prazo que tem uma
duração ilimitada e contém toda a nossa
vida. Não temos acesso a esta memória pois, sempre que recordamos, esse
conteúdo só se recupera na memória
a curto prazo para ser utilizado – é a nossa memória de trabalho.
auxiliares de memória
Durante a sessão, participámos em alguns exercícios para compreendermos
como funciona a memória e como não é de todo fiável. Soubemos que há
estratégias auxiliares de memória e, segundo Daniel Schacter,
reconhecemos, em sete pecados, o modo distinto como a memória nos pode
enganar facilmente e iludir acerca da realidade. Ficámos a saber o que
significa quando dizemos “está debaixo da língua”, ou o que significa
estar sujeito à distracção, ou forjar ou distorcer a realidade sem
termos consciência disso. Não são propriamente “peca-dos mortais”, mas
alguns diabretes da nossa memória, que nos provocam dificuldades ou
algum embaraço.
Nós, alunos do 12º ano, da disciplina de Psicologia,
gostámos do que ouvimos, consideramos
interessante o modo como nos foi apresentado o
tema e elucidou-nos sobre muitos
aspectos já tratados nas aulas. Os
outros alunos presentes do 11º ano e alguns docentes estavam satisfeitos
e acima de tudo, pensamos nós, mais
abertos ao interesse que suscita
este e outros temas que são
desenvolvidos no âmbito da nossa disciplina de Psicologia.
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A história de um soldado português a
preto e branco e as memórias de um tempo que já passou, mas que se
renovam sempre neste dia, foi o pretexto que levou um professor e uma
professora desta Escola a uma viagem ao passado.
A convite da professora Maria Manuel da
turma A do 2º ano da Escola do Primeiro Ciclo, Vera Cruz, nº 3, os
Professores Amélia Moreira, de História, e António Martins, de
Português, ambos na nossa Escola, foram falar sobre o 25 de Abril e do
significado desse dia para eles.
Ao som da canção ”uma gaivota, voava,
voava, asas de vento, coração de mar”, entoada por cerca de setenta
crianças ansiosas por conhecerem quem lá vinha, os Professores foram
recebidos calorosamente. Entre risos, dedos no ar, ora senta no chão,
ora na cadeira, os alunos foram escutando, sempre com dedo no ar, não
fosse o colega de lado ser mais rápido, a história do 25 de Abril
contada pela Professora Amélia: o descontentamento do povo português, a
falta de liberdade de expressão, a perseguição pela Pide àqueles que
ousavam questionar a política do regime vigente e, por fim, a Revolução
dos Cravos.
O sonho da liberdade renascia agora
ali, devagarinho, contado com mil cuidados, para que todos pudessem
perceber o quanto tinha sido árduo conquistar e o quanto é importante
preservá-lo para que ele possa estar sempre presente nas nossas vidas.
Depois, foi a vez do Professor Martins,
o soldado que esteve na Guerra do Ultramar, mais concretamente em
Angola, com tantas histórias para contar! As fotografias a preto e
branco de um tempo que estas crianças não conhecem fizeram o delírio das
raparigas, mas sobretudo dos rapazes que arrastando-se para junto do
Professor queriam saber se era mesmo ele que estava ali, naquele jipe,
de calções, e como foi, como era… E falou do desespero das famílias que
viam os seus filhos partir para tão longe, sem terem notícias deles
durante tanto tempo, o calor insuportável do mato, os amigos que
desapareciam subitamente na escuridão da noite, e as saudades imensas
dos familiares que não pôde ver durante três anos!
Apesar do sol quente que brilhava lá
fora, choveram perguntas e mais perguntas… As fotografias passeavam de
mão em mão, e a ausência de cor incutia mais realismo ao momento
presente!
O som de palavras novas, Ditadura,
Colónias, Censura ou Democracia, soava pela primeira vez para muitas
destas crianças. A curiosidade era insaciável e quem assistia, como eu,
só podia sentir muito orgulho em estar ali, naquele momento, a olhar
para aquelas crianças a perguntar aquilo que eu nunca pude perguntar e
sobretudo, como dizia a Professora Amélia, ter a possibilidade falar
sobre o que é ser “livre.”
As memórias das crianças, a história de
familiares que conheceram a repressão, sob a forma de violência física e
psicológica na escola primária, onde “ a menina dos sete olhos” era
usada de uma forma discriminada, que viveram momentos dramáticos nas
ex-colónias ou que, de algum modo, foram perseguidos durante o regime
salazarista foram, igualmente, partilhadas ao som de duas canções que
algumas crianças já sabem de cor e outras já registaram na memória como
sinónimo de liberdade: ”Grândola, Vila Morena” e “Depois do Adeus”.
Num gesto de gratidão pela presença dos
dois Professores e, sobretudo, pela mágica viagem de regresso ao passado
proporcionada, as crianças cantaram uma pequena canção, semente de uma
memória que jamais irão esquecer:
Nós, as crianças
Queremos brincar em liberdade
Em qualquer lugar
Queremos brincar aqui
Sem haver prisões
sem armas nem tiros
e sem canhões.
O 25 de Abril ou a Revolução dos
Cravos, ilustrado pelo cartaz que a Professora Amélia afixou na sala,
sugere a cumplicidade que este dia tão especial teve para estas
crianças: “Sou livre quando, em vez de disparar, ofereço uma flor pela
PAZ.”
Aveiro, 23 de Abril de 2007 |