É muito difícil
dominar a viola? Quais os aspectos que consideras mais difíceis ao lidar
com o instrumento?
É difícil lidar com a viola, assim como é difícil lidar com outro
instrumento, porque temos de ser capazes de tirar o melhor som possível
do nosso instrumento e há muitas técnicas que se utilizam para o
conseguir, o que significa que é necessário dominá-las muito bem.
Frequentas, ao mesmo
tempo, dois estabelecimentos de ensino: a nossa Escola e o
Conservatório. Que disciplinas frequentas e que diferenças notas entre
os ambientes das duas instituições?
Frequento disciplinas como: instrumento, ou seja, viola de arco; prática
ao teclado (podemos escolher piano, órgão ou cravo e escolhi cravo);
formação musical (a música em forma de teoria); classe de conjunto
(orquestra); história da música; ATC (Análise e Técnicas de Composição)
e, por fim, Educação Vocal (canto). Na Escola, estou no curso de
Ciências Sociais e Humanas, mas como frequento o Ensino Articulado, que
é uma espécie de ligação do Conservatório com a Escola, sou dispensada
de algumas disciplinas, pelo que aqui fico apenas com Português, Inglês,
Filosofia e Educação Física.
Quanto ao ambiente que se vive em cada estabelecimento, não tem nada a
ver um com o outro. Entramos no Conservatório e ouvimos imediatamente
uma trompete ao longe, um violino a tocar numa sala próxima, uma
guitarra a estudar nos corredores… No Conservatório, até o ar que
respiramos é música. Na Escola, não há nada disso.
Como é o teu
quotidiano em termos dos estudos?
Depende um pouco do tempo que tenho disponível; geralmente, estudo duas
horas ou duas horas e meia por dia. Mas nas férias, como tenho mais
tempo, chego às três e, às vezes, às quatro e é
sempre viola. Ao cravo, dedico pouco
tempo, porque não aprecio muito, mas tem de ser. Quando estudo, faço-o
durante uma hora ou uma hora e meia.
Não aprecias cravo.
Mas não achas importante que haja muitas pessoas a tocar esse
instrumento, não apenas para a sua formação musical, mas, por exemplo,
para divulgar a obra de Carlos Seixas?
Eu gosto de cravo, mas estudo menos do que devia... No entanto, acho
muito importante ter-se alguma prática em instrumentos de tecla (por
isso existe uma disciplina no Conservatório chamada Prática ao Teclado).
Então o cravo, cuja grande parte do repertório é de estilo barroco,
ajuda-nos a compreender e interpretar melhor este estilo, e a divulgar
Carlos Seixas, como outros compositores barrocos e até alguns menos
conhecidos.
Para além dos
estudos regulares, que cursos tens frequentado?
Tenho participado em alguns estágios de orquestra com maestros
estrangeiros e também portugueses. Há três ou quatro anos, fiz um em
Lisboa; no ano passado foi em Braga, em Abril; em Setembro do ano
passado, fiz outro e, em Março deste ano, fui fazer um aos Açores.
Entretanto, vou tocando na Orquestra de Jovens de Santa Maria da Feira,
cujo concerto deve estar para breve. O mais marcante, para além de tocar
e sentir o que é estar numa orquestra enorme cheia de violinos,
violoncelos, e outros instrumentos, é também o convívio que se cria
entre os jovens que integram a orquestra. É maravilhoso.
Sabemos que já te
apresentaste em audições executando obras de Bach, Telemann e Mozart.
Quais as tuas preferências em termos de época musical e de compositor?
Eu gosto de todos as épocas musicais, acho que todas têm o seu brilho;
no entanto, gosto mais de música romântica e clássica e alguma do século
XX. Mas não aprecio muito música contemporânea. Gosto de compositores
como Mozart, Beethoven, Max Bruch, Bach, Tchaikovsky, Rachmaninoff,
Schubert, etc. Dos portugueses, gosto de Joly Braga Santos (ver
caixa),
Frederico de Freitas e Lopes Graça.
Também te dedicas a
ouvir gravações de obras, ou dedicas-te mais a estudar e tocar?
Dedico mais tempo a estudar, embora também ouça música.
Preferes tocar a
solo, em pequenos conjuntos de câmara, integrada numa orquestra, ou como
solista com orquestra?
Gosto muito de todas essas modalidades, embora a última só a tenha
experimentado neste ano e esteja a gostar muito da experiência. Julgo
que não posso dizer exactamente de qual gosto mais, pois são todas muito
distintas. Quando vamos tocar a solo, temos um estado de espírito e
quando vamos tocar integrados numa orquestra temos outro. Ficamos mais
concentrados quando vamos tocar a solo do que quando vamos tocar numa
orquestra, porque nesta não somos solistas. Na outra, somos o centro das
atenções. Gosto de todas.
Quando há um evento
de Rock, Hip-Hop ou afins, comparecem milhares de jovens, mas quando há
um recital ou um concerto com obras dos grandes compositores de tradição
europeia, a afluência é, em termos comparativos, irrisória. Em tua
opinião, a que se deve essa diferença?
As pessoas que nunca estudaram música têm sempre preferência pela que
toda a gente ouve, que é aquela que referiu. Devo dizer que também gosto
muito. No entanto, a música clássica, é preciso conhecê-la, porque quem
não a percebe, fica a achá-la um pouco “seca”, penso eu. E é por isso
que não gostam e preferem ir a concertos de Rock ou Hip-Hop. No entanto,
há muitíssimos concertos de música clássica com casa cheia, embora os
outros tenham muito mais.
Que dirias a um
estudante da nossa Escola no sentido de o motivar para a audição de
obras como aquelas que estudas e tocas?
É fixe. É muito, muito fixe. Ouve e aprende.
Não achas estranho
que na nossa Escola a Música não esteja presente como dimensão
educativa, estética e histórico-cultural?
Acho. Creio que era algo de que se poderia ensinar os alunos a gostar.
Já não digo ensinar a ler música propriamente dita, mas a saber gostar
de outros géneros. Seria um grande benefício.
Que pensas fazer
quando concluíres o teu actual nível de estudos?
Vou concorrer à Escola Superior de Música do Porto (ESMAE) e talvez à de
Lisboa. Se tudo correr bem, vou estudar para lá.
Quais são as tuas
aspirações para o futuro?
Gostava de estudar com um bom professor, que fosse também uma boa
pessoa. Gostava de ir para o Porto estudar, embora provavelmente
continue aqui em Aveiro a viver, não sei. Gostava de ser professora de
viola de arco, e era muito giro se fosse no Conservatório onde comecei,
ao mesmo tempo que tocasse numa orquestra profissional, o que eu espero
vir a conseguir. Basicamente, só quero tocar bem e fazer sempre melhor.
Recentemente
obtiveste vinte valores numa prova prática! Como foi isso possível?
Foi no meu exame do quinto grau, no ano passado, e toquei obras a solo
de Bach (Suite n.º 1 para violoncelo), toquei o concerto de Telemann em
Sol Maior, duas peças de carácter técnico (estudos) e escalas. Nesse
dia, não estive muito nervosa, talvez por ter de tocar muita coisa, e o
exame correu-me bem.
Que obras te
encontras a estudar actualmente, com vista a apresentação?
Neste momento estou a tocar o Concerto em Dó Menor de Johann Christian
Bach, a Segunda Suite de Bach para violoncelo e a Sonata para Viola de
Arco e Piano de Glinka. Brevemente começarei a estudar também o Romanze
para viola de Max Bruch.
Damos-te os parabéns
pela tua dedicação e trabalho, que são condições para se ir longe. E
desejamos-te as maiores felicidades ao serviço da Música!
Entrevista realizada pelo
Prof. Sérgio Ramos |