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N.º 20

Maio 2007

Ver e ouvir / Ler e escrever


Jovens Talentos entre nós

Eles estão entre nós, os novos arautos da sublime Arte dos Sons: a herança é preservada, o discurso renovado. Desta vez, conversámos com a Teresa Fleming do 11.º ano F.
 

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Com que idade começaste a estudar Música e porque foi a viola o instrumento escolhido?

Teresa – Comecei a estudar música aos oito anos no Conservatório de Música de Aveiro, com cravo. Mas, por motivos profissionais, a minha professora de cravo mudou-se para Lisboa e abandonei o instrumento. Aos dez anos, depois de ver uma actuação em Braga de um grupo de violetistas (músicos que tocam viola de arco) num workshop, gostei e decidi mudar para este instrumento.
 

Muitas pessoas não distinguem uma viola de um violino. Podes explicar-nos as diferenças?

A viola e o violino são instrumentos muito semelhantes, mas a viola é um pouco maior que o violino e produz sons e timbres mais graves. De resto, são iguais.

É muito difícil dominar a viola? Quais os aspectos que consideras mais difíceis ao lidar com o instrumento?

É difícil lidar com a viola, assim como é difícil lidar com outro instrumento, porque temos de ser capazes de tirar o melhor som possível do nosso instrumento e há muitas técnicas que se utilizam para o conseguir, o que significa que é necessário dominá-las muito bem.

 

Frequentas, ao mesmo tempo, dois estabelecimentos de ensino: a nossa Escola e o Conservatório. Que disciplinas frequentas  e que diferenças notas entre os ambientes das duas instituições?

Frequento disciplinas como: instrumento, ou seja, viola de arco; prática ao teclado (podemos escolher piano, órgão ou cravo e escolhi cravo); formação musical (a música em forma de teoria); classe de conjunto (orquestra); história da música; ATC (Análise e Técnicas de Composição) e, por fim, Educação Vocal (canto). Na Escola, estou no curso de Ciências Sociais e Humanas, mas como frequento o Ensino Articulado, que é uma espécie de ligação do Conservatório com a Escola, sou dispensada de algumas disciplinas, pelo que aqui fico apenas com Português, Inglês, Filosofia e Educação Física.

Quanto ao ambiente que se vive em cada estabelecimento, não tem nada a ver um com o outro. Entramos no Conservatório e ouvimos imediatamente uma trompete ao longe, um violino a tocar numa sala próxima, uma guitarra a estudar nos corredores… No Conservatório, até o ar que respiramos é música. Na Escola, não há nada disso.

 

Como é o teu quotidiano em termos dos estudos?

Depende um pouco do tempo que tenho disponível; geralmente, estudo duas horas ou duas horas e meia por dia. Mas nas férias, como tenho mais tempo, chego às três e, às vezes, às quatro e é sempre viola. Ao cravo, dedico pouco tempo, porque não aprecio muito, mas tem de ser. Quando estudo, faço-o durante uma hora ou uma hora e meia.

 

Não aprecias cravo. Mas não achas importante que haja muitas pessoas a tocar esse instrumento, não apenas para a sua formação musical, mas, por exemplo, para divulgar a obra de Carlos Seixas?

Eu gosto de cravo, mas estudo menos do que devia... No entanto, acho muito importante ter-se alguma prática em instrumentos de tecla (por isso existe uma disciplina no Conservatório chamada Prática ao Teclado). Então o cravo, cuja grande parte do repertório é de estilo barroco, ajuda-nos a compreender e interpretar melhor este estilo, e a divulgar Carlos Seixas, como outros compositores barrocos e até alguns menos conhecidos.

 

Para além dos estudos regulares, que cursos tens frequentado?

Tenho participado em alguns estágios de orquestra com maestros estrangeiros e também portugueses. Há três ou quatro anos, fiz um em Lisboa; no ano passado foi em Braga, em Abril; em Setembro do ano passado, fiz outro e, em Março deste ano, fui fazer um aos Açores. Entretanto, vou tocando na Orquestra de Jovens de Santa Maria da Feira, cujo concerto deve estar para breve. O mais marcante, para além de tocar e sentir o que é estar numa orquestra enorme cheia de violinos, violoncelos, e outros instrumentos, é também o convívio que se cria entre os jovens que integram a orquestra. É maravilhoso.

 

Sabemos que já te apresentaste em audições executando obras de Bach, Telemann e Mozart. Quais as tuas preferências em termos de época musical e de compositor?

Eu gosto de todos as épocas musicais, acho que todas têm o seu brilho; no entanto, gosto mais de música romântica e clássica e alguma do século XX. Mas não aprecio muito música contemporânea. Gosto de compositores como Mozart, Beethoven, Max Bruch, Bach, Tchaikovsky, Rachmaninoff, Schubert, etc. Dos portugueses, gosto de Joly Braga Santos (ver caixa), Frederico de Freitas e Lopes Graça.

 

Também te dedicas a ouvir gravações de obras, ou dedicas-te mais a estudar e tocar?

Dedico mais tempo a estudar, embora também ouça música.

 

Preferes tocar a solo, em pequenos conjuntos de câmara, integrada numa orquestra, ou como solista com orquestra?

Gosto muito de todas essas modalidades, embora a última só a tenha experimentado neste ano e esteja a gostar muito da experiência. Julgo que não posso dizer exactamente de qual gosto mais, pois são todas muito distintas. Quando vamos tocar a solo, temos um estado de espírito e quando vamos tocar integrados numa orquestra temos outro. Ficamos mais concentrados quando vamos tocar a solo do que quando vamos tocar numa orquestra, porque nesta não somos solistas. Na outra, somos o centro das atenções. Gosto de todas.

 

Quando há um evento de Rock, Hip-Hop ou afins, comparecem milhares de jovens, mas quando há um recital ou um concerto com obras dos grandes compositores de tradição europeia, a afluência é, em termos comparativos, irrisória. Em tua opinião, a que se deve essa diferença?

As pessoas que nunca estudaram música têm sempre preferência pela que toda a gente ouve, que é aquela que referiu. Devo dizer que também gosto muito. No entanto, a música clássica, é preciso conhecê-la, porque quem não a percebe, fica a achá-la um pouco “seca”, penso eu. E é por isso que não gostam e preferem ir a concertos de Rock ou Hip-Hop. No entanto, há muitíssimos concertos de música clássica com casa cheia, embora os outros tenham muito mais.

 

Que dirias a um estudante da nossa Escola no sentido de o motivar para a audição de obras como aquelas que estudas e tocas?

É fixe. É muito, muito fixe. Ouve e aprende.

 

Não achas estranho que na nossa Escola a Música não esteja presente como dimensão educativa, estética e histórico-cultural? 

Acho. Creio que era algo de que se poderia ensinar os alunos a gostar. Já não digo ensinar a ler música propriamente dita, mas a saber gostar de outros géneros. Seria um grande benefício.

 

Que pensas fazer quando concluíres o teu actual nível de estudos?

Vou concorrer à Escola Superior de Música do Porto (ESMAE) e talvez à de Lisboa. Se tudo correr bem, vou estudar para lá.

 

Quais são as tuas aspirações para o futuro?

Gostava de estudar com um bom professor, que fosse também uma boa pessoa. Gostava de ir para o Porto estudar, embora provavelmente continue aqui em Aveiro a viver, não sei. Gostava de ser professora de viola de arco, e era muito giro se fosse no Conservatório onde comecei, ao mesmo tempo que tocasse numa orquestra profissional, o que eu espero vir a conseguir. Basicamente, só quero tocar bem e fazer sempre melhor.

 

Recentemente obtiveste vinte valores numa prova prática!  Como foi isso possível?

Foi no meu exame do quinto grau, no ano passado, e toquei obras a solo de Bach (Suite n.º 1 para violoncelo), toquei o concerto de Telemann em Sol Maior, duas peças de carácter técnico (estudos) e escalas. Nesse dia, não estive muito nervosa, talvez por ter de tocar muita coisa, e o exame correu-me bem.

 

Que obras te encontras a estudar actualmente, com vista a apresentação?

Neste momento estou a tocar o Concerto em Dó Menor de Johann Christian Bach, a Segunda Suite de Bach para violoncelo e a Sonata para Viola de Arco e Piano de Glinka. Brevemente começarei a estudar também o Romanze para viola de Max Bruch.

 

Damos-te os parabéns pela tua dedicação e trabalho, que são condições para se ir longe. E desejamos-te as maiores felicidades ao serviço da Música!

 

Entrevista realizada pelo
Prof. Sérgio Ramos


De Joly Braga Santos  ^  (1924-1989), sugerimos vivamente a todos os nossos leitores a (re)audição da sua notável Quarta Sinfonia, dedicada à Juventude, cujo andamento final é coral, sobre um poema de Vasconcelos Sobral. A obra, nas palavras do compositor, “não desdenhando as conquistas do Século XX”, fala “ao homem comum com simplicidade e clareza”. 


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