Cansados, deixemos
dobrar os joelhos.
E marquemos, no chão,
O espaço para os corpos gastos, velhos,
De que as almas — quais delas? — subirão.
alberto de serpa |
BAIXO-RELEVO
AQUELA CURVA DA
ESTRADA
ONDE O LUAR AMORTECE;
AQUELA CANÇÃO MAGOADA
QUE A VOZ DO RIO CANTOU,
QUANDO OLHAMOS A DISTÂNCIA
DOS LONGES QUE JÁ NÃO SOU;
A FAVORÁVEL FOLHAGEM,
LEVEMENTE A ADOECER,
DO CHOUPO QUE SE DEBRUÇA
E AINDA ME FAZ DOER
POR JÁ NÃO SER SENTINELA
DA MAIS FUNDA INTIMIDADE
QUE AMBOS SOUBEMOS VIVER;
O SEIO NU QUE ME DESTE,
INSACIÁVEL, VORAZ,
NUMA VOLÚPIA INSTINTIVA
DE QUEM NÃO SABE O QUE FAZ
A TUA BOCA
QUE A MINHA SEDE APAGAVA,
FARTA DE TANTO BEBER,
E QUE OUTRA SEDE MAIS VIVA
FAZIA EM MIM RENASCER;
AQUELA CARÍCIA LEVE,
AQUELE OLHAR DEMORADO,
A FEBRE
DA TUA CARNE ESCALDANTE;
— TUDO QUE FOI PARA NÓS
UMA PAISAGEM VIVIDA,
GRITE, BEM ALTO, O
NOSSO AMOR DISTANTEI
1935 - Pedro Zargo |