Sr.
Reinaldo de Carvalho
Acabo de ler, com muito interesse, o
suplemento "Companha" do jornal "Litoral", em que também colabora com um
artigo seu «Escrever um Romance — Realizar um Filme». Lamento que não
ponha a nu as verdadeiras causas de só aparecerem ineptos a quererem
fazer filmes e só esses encontrarem subsídios, etc. Lamento que
desconheça a existência de Manuel de Oliveira e da sua obra. Lamento que
não tenha a atitude positiva, que todos nós que queremos um cinema
português digno devemos tomar e proclamar, de apoio à iniciativa
exemplar surgida em Lisboa de uma cooperativa do espectador para
produção de filmes já em actividade (o 1º filme, D. Roberto, está
planificado e vai entrar em filmagem) e aguardando o apoio de todos os
que não se interessam pelo cinema só como pretexto para lindos e
literários exercícios jornalísticos.
Lamento não ter vagar para lhe dizer
mais coisas a este respeito e a sinceridade com que desejo que a vossa
iniciativa, já de nível tão interessante, singre e venha a tomar o
relevo que merece.
Junto um boletim de inscrição na citada
cooperativa para produção de filmes e aconselho a leitura da revista de
cultura cinematográfica «Imagem». O último número, por exemplo, atingiu
um excelente nível. Veja, v. g., os artigos de José Augusto França sobre
o cinema americano, de Arande sobre cinema mexicano, etc.. Veja, em
números anteriores, Eurico da Costa, sobre o cinema português.
Sou um português que procura
desesperadamente manter-se limpo das teias de aranha que de todos os
lados lhe embaraçam a visão, etc.
RAUL CORREIA DE CASTRO |