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Artes - Letras - Ciências
Suplemento do n.º 271 do "Litoral"
Dezembro de 1959, Ano I, n.º 4
págs. 21, 22 e 23

 

DIGESTO de NOTÍCIAS

coordenação de Pinto da Costa

 

Literatura

O jovem poeta italiano Carlo Miele, que durante a IV bienal de poesia, na Bélgica, fez uma sensacional conferência intitulada «Exortação à Cruzada da Poesia» e agora anda a correr Mundo, para a todos os povos levar o conhecimento dessa sua cruzada, que é não só uma mensagem de fraternidade humana, mas também um apelo ao reconhecimento do poeta pela Sociedade, esteve durante algum tempo em Lisboa, onde lavou pratos para se manter e conseguir o dinheiro necessário ao prosseguimento da jornada, que continuará, seguidamente, no Brasil.

A não atribuição do Prémio José Lins do Rego levantou forte celeuma, especialmente entre alguns dos concorrentes que exprimiram a sua estranheza por o júri ter reconhecido, entretanto, méritos incontestavelmente notáveis a alguns dos trabalhos apresentados, embora sem repercussão internacional. Respondendo a uma carta de Ruben A. e começando por dizer que a decisão foi, decerto, muito penosa para todos, incluindo os membros do júri e a empresa instituidora do Prémio, o escritor e crítico Óscar Lopes conclui: «Era preciso optar entre dois males: representar lá fora abaixo das suas mais altas potencialidades a nossa literatura actual e, por certo, o próprio autor contemplado, ou reconhecer que, no ensejo dado, tais potencialidades se não encontravam patentes, quaisquer que fossem os dons antes, ou então, revelados pelos concorrentes. E optou-se pelo mal menor, ou menor probabilidade de mal.»

Henri Massis, publicista francês, que veio a Portugal fazer um ciclo de conferências, ao ser entrevistado para um jornal da tarde e falando acerca da literatura francesa da actualidade que acha «desconcertante» por culpa exclusiva de Sartre que considera um glosador da filosofia alemã, rematou: «Veja “L’Être et le Néant”. Lêem-se cem páginas e fica-se satisfeito. Há filósofos difíceis: Kant, Spinoza... Mas quebra-se a noz e encontra-se miolo. Com Sartre não sucede outro tanto.»

Assinalando o 24.º aniversário da morte de Fernando Pessoa, ocorrida em 30 de Novembro, foi levado a efeito na Teatro da Trindade, em Lisboa, um recital, a cargo de Maria Germana Tânger, que interpretou exclusivamente poemas do autor da «Mensagem» e que disse, na íntegra, a «Ode Marítima», facto que raramente tem acontecido em recitais públicos, pois a declamação desse admirável poema tem a duração de 55 minutos.

Entre a Rússia e a Guiné foi assinado um acordo de cooperação cultural que prevê «trocas de informação nos domínios da literatura, artes, ciência e ensino superior e secundário, assim como no domínio dos desportos».

«Via Latina», que é o órgão da Associação Académica de Coimbra, propõe-se levar a cabo uma homenagem a Almada Negreiros, que considera uma grande descoberta do século XX. A página literária do «Diário de Lisboa», que já anteriormente sugerira uma reedição das suas novelas e peças de teatro, bem como a realização de uma retrospectiva da sua pintura, propõe agora que essas provas de reconhecimento e apreço façam parte também da homenagem que vai ser prestada a Almada Negreiros, «figura decisiva na nossa pintura, personalidade admirável, escritor novo e renovador.»

O famoso livro «Capitães da Areia», do escritor brasileiro Jorge Amado, será, dentro de meses, adaptado ao cinema por uma empresa americana que lhe pagará de direitos de autor qualquer coisa como cerca de 450 contos, o que representa uma boa compensação monetária para o grande romancista, além de uma cada vez mais ampla projecção universal da sua obra.

Jaime Cortesão, presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores, esteve na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, onde foram debatidos problemas de grande interesse literário e cultural, nomeadamente a defesa do livro Português no Brasil, cuja venda, nos últimos tempos, sofreu uma baixa quase total. Ficou mais ou menos assente a criação de uma Livraria Portuguesa, no Rio de Janeiro, com filiais ou agências em todos os grandes centros do país irmão, como São Paulo, Baía, Manaus, Belo Horizonte, etc..

Apesar das agitadas discordâncias que ainda hoje rodeiam a atribuição do último Prémio Goncourt, o romance «Le dernier des justes», de André Schwarz-Bart, que tem por cenário dominante a odisseia dos judeus perseguidos pelos nazis alemães durante a última guerra, parece registar neste momento maior número de vendas acima de todas as edições francesas dos últimos tempos, inclusive «Aimez-vous Brahms?», de Françoise Sagan que, segundo um inquérito de “L’Express”, ficou classificado em oitavo lugar.

A sociedade Portuguesa de Escritores instituiu o Prémio Revelação, destinado exclusivamente a estreantes nos géneros conto, novela, romance, poesia e teatro. O fundo do novo prémio, que será atribuído pela primeira vez este ano, foi possível devido às ofertas do escritor José Rodrigues Miguéis (Prémio Camilo Castelo Branco), do Dr. Acácio Gouveia e do editor de «Livros do Brasil», António Augusto de Sousa Pinto. Note-se, a propósito, sem comentários, que, ainda há pouco tempo. O crítico J. S., ao suplemento literário «Bazar», em apreciação ao livro «A existência literária», de A. Quadros, escrevia o seguinte: «o autor, no nosso entender, valoriza demasiadamente o pouco que tem feito a S. P. de E., que tem defendido, sobretudo, mais que os interesses de todos em geral e de cada um em particular, os interesses de alguns, e haja em vista o que aconteceu com a atribuição do Prémio a José Rodrigues Miguéis, aliás um brilhante escritor, mas que nem português é, pois se naturalizou americano, uma vez que não se esqueça que a sociedade é de escritores portugueses».

A morte prematura de Albert Camus, ocorrida em circunstâncias bem trágicas, a cerca de 100 kms de Paris, representa, indubitavelmente, a perda de um dos maiores escritores dramaturgos do nosso meio século. Ao ter conhecimento do desastre que vitimou o que foi o nono escritor francês a receber o prémio Nobel, em 1957, André Chamsan — como ele, romancista e académico —, proferiu estas palavras: «A morte de Camus será sentida não apenas por aqueles que se interessam pela literatura, mas ainda por quantos consideram a liberdade e a dignidade os mais importantes valores humanos. Havia em Camus uma tal vontade de sustentar o que, no homem, é o mais importante, que todos nós nos sentimos hoje de luto.»

Em Bristol, projecta-se a colocação de uma lápide na fachada da casa onde Eça de Queirós viveu durante os dez anos em que foi cônsul de Portugal naquela cidade britânica. Segundo se afirma, foi ali que o autor da «Relíquia» escreveu algumas das melhores páginas do jornalismo português. Entretanto, pergunta-se: — Será legítimo que os herdeiros de tão notável romancista continuem a manter fechados a sete chaves alguns dos seus últimos escritos? /página 22/

O livro mais caro de todos os tempos (5800 contos), ao que parece já praticamente vendido, vai ser publicado por um editor parisiense e versará o tema do Apocalipse, último volume do Novo Testamento, escrito por S. João Evangelista, cujas passagens serão interpretadas, cada uma à sua maneira, por alguns escritores como Boris Pasternak, André Malraux, Jean Paul Sartre, Luis Aragon, Robert Oppenheimer e por artistas como Pablo Picasso, Dali, Miró, Buffet, Chagall, Braque e Foujita. O arrojado editor, que não vê a mínima dificuldade na venda da obra e que espera fazer uma edição de alguns exemplares mais económicos, entre 120 e 560 contos (certamente destinados ao consumo do chamado grande público), afirmou ainda que o livro será um documento cultural dos nossos dias, um testemunho, nos tempos vindouros, das tendências artísticas e literárias da nossa vida actual.»

A revista e «Vértice», que continua a afirmar uma presença a todos os títulos necessário no panorama editorial português, insere, no seu n.º 193 – Vol. XIX, além de um estudo sobre o poeta e de uma invejável tradução de Orlando de Carvalho, algumas das mais notáveis e significativas poesias de Salvatore Quasimodo, último Prémio Nobel de Literatura, que se propõe também criar, ele próprio, um prémio: «não um prémio como os outros, mas diferente dos que já existem», esclarece o já famoso autor, que dizem um homem orgulhoso e amargo, o que em nada, porém, diminui a alta valia da sua obra poética.

Satisfazendo um pedido da Academia de Estocolmo, que lhe teria solicitado a indicação de um escritor lusitano, o Prof. e ensaísta francês, Jean-Baptiste Aquarone, na qualidade de membro de várias academias e sociedades científicas internacionais, propôs o nome de Miguel Torga para o próximo Prémio Nobel de Literatura. Por sua vez, a Sociedade Portuguesa de Escritores recomenda a candidatura de Aquilino Ribeiro, embora solidarizando-se também com a do autor de «Bichos». Entretanto — como diz o jovem poeta angolano Mário António, é de lamentar «que a intelectualidade portuguesa, dividida, transforme a primeira oportunidade que lhe é dada de reconhecimento internacional em mais uma luta de «capelinhas» e que certos senhores, a quem a literatura nada deve, tomem tão à vontade atitudes públicas de menosprezo de um ou outro dos candidatos».

Algumas das abras publicadas ultimamente: «As Frias Madrugadas», colectânea poética de Fernando Namora; «Silêncio, Gesto e Palavra», de Lubienska de Lenvol; «Aparição», romance de Vergílio Ferreira; «Poesias Escolhidas», de Natércia Freire; «O Cais das Colunas», romance de Tomás Ribas; «Um Fernando Pessoa», ensaio de Agostinho da Silva; «Entre Dois Universos», ensaio de Fidelino de Figueiredo; «História da Música Portuguesa», de João de Freitas Branco; «Luís de Camões», estudo de António José Saraiva. «Deseja-se Mulher», teatro de Almada Negreiros; «Os Deuses Não Respondem», contos de Maria da Graça Freire; «Rã no Pântano», conto de António de Almeida dos Santos; «Vereis o Céu Abrir-se» romance de Gilbert Cesbron; «Sartre e o Existencialismo», de Ismael Quiles; «As Aves da Madrugada», novela de Urbano Tavares Rodrigues. «Breve Encontro com Mário Sacramento», entrevista de José dos Santos Marques; «O Verbo e a Morte», poema de Vitorino Nemésio; «Histórias Mal Contadas», novela de Vítor Falcão; «Menina de Sem Falar». Poema de Alberto da Silveira; «A Alegria», romance de Georges Bernanos; «Situação da Pintura Ocidental», estudo de José Augusto França; «Antologia de Portugalaj Rokontoj», volume de traduções em esperanto de diversos autores contemporâneos portugueses.

Entre outros, anuncia-se a publicação dos seguintes livros: «O Homem Sem Mãos», de Afonso Botelho e «História de Portugal», de António Quadros, (Sociedade de Expansão Cultural); “Contos de 4.ª Feira», de Pedro Alvim, (Divulgação); «Tempos do Meu Tempo», de Aquilino Ribeiro, (Bertrand). «A Gravata Berrante», de Artur Portela; «As Regras do Jogo», de Vasco Branco, e «Palmeiras e Presidentes», de O. Henry (Arcádia); «O Cerco», de Mário Braga, (Atlântida); «Dez Anos de Cinema», de José-Augusto França, (Sequência); «O Último dos Justos», de Schwarz-Bart, (Europa-América); «A Gata e a Fábula», romance de Fernanda Botelho; «Safra», poesia de Domingos Janeiro; «O Livro das Sombras» contos e crónicas também de Mário Braga; «Bandarra», revista de artes e letras ibéricas, que se publica no Porto, dedica o seu próximo número, a sair em breve, ao escritor Augusto Navarro, recentemente falecido e inserirá colaboração de Ferreira de Castro, Guedes de Amorim, Mário Braga, Egito Gonçalves. Veiga Leitão, e outros.

 

artes plásticas

Três equipas, cada uma delas formada por um grupo de três arquitectos portugueses, elaboram projectos para o futuro Museu da Fundação Gulbenkian, a construir, dentro de quatro anos, no Parque de Palhavã, em Lisboa. Segundo o projecto da equipa que ganhar o concurso, espera-se, desde já, que o Museu fique a ser um dos mais belos do Mundo e nele serão expostas, entre outras obras de arte, os quadros, as antiguidades egípcias e de outras origens orientais, os móveis do século XVIII e uma célebre colecção de tapeçarias reunidas por Calouste Gulbenkian.

O pintor Max Ernst, de 68 anos, natural de Bruhl (Renânia), mas que em 1958 adquiriu a nacionalidade francesa, foi distinguido com o Grande Prémio Nacional da Arte 959, em Paris. Já em 1954 recebera o Grande Prémio da Bienal de Veneza. Trata-se de um pintor que, depois de ter recebido a influência de mestres como Monnet, Gaughin, Van Gogh e até Goya, enveredou rapidamente pela pintura da vanguarda, tendo organizado, ultimamente, uma exposição retrospectiva das suas obras, no Museu de Arte Moderna.

A 18.º Exposição de Artes Plásticas, levada a efeito pelo Grupo de Artistas Portugueses, na S. N. de B. A., com diversos trabalhos de pintura, óleo, pastel, têmpera, aguarela, desenho e escultura, - caracterizou-se, no ano findo, por um franco regresso ao clássico e às formas clássicas de tratamento dos temas, o que nos leva a perguntar, tal como um crítico da especialidade, se tanta fixidez em imagens do já visto não poderia antes dar lugar a uma maior variedade de temas e técnicas e, até mesmo, a uma certa fusão do clássico e do moderno.

O 23.º Salão de Inverno das Belas Artes, há pouco tempo inaugurado na mesma Sociedade, reuniu cerca de 130 trabalhos de aguarela, caricatura, desenho, gravura, miniatura, pastel e têmpera, nela tendo figurado também o nosso colaborador José Penicheiro. Pode dizer-se, à semelhança do certame atrás referido, que a sua mais larga representação era, igualmente, de tendência puramente académica,

As autoridades do Canadá levantaram um curioso problema sobre os limites imprecisos da Arte e as suas consequências legais, ao exigirem do escultor estadunidense Louis Diugosz o pagamento de direitos alfandegários pela entrada de 18 das suas obras naquele país. Enquanto o artista alega para os seus trabalhos a qualidade de «obras de arte», as autoridades canadianas dão-lhe o rótulo de simples «mercadorias», ficando assim levantada a questão do que se pode considerar, realmente, como obra de arte.

«É preciso não confundir uma gravura original, devidamente autenticada, com uma reprodução, mesmo perfeita, de qualquer gravura ou pintura. Enquanto a primeira pode ser uma verdadeira obra-de-arte, a segunda só interessa sob o aspecto documental, pois é sempre obtida por processos mecânicos, portanto alheios aos que condicionam a factura das gravuras de arte». Este, um dos avisos divulgados pela Sociedade de Gravadores Portugueses, cuja última exposição «foi enriquecida com uma nova secção de carácter didáctico, concebida para mostrar aos visitantes interessados, mas mal informados acerca do assunto, quais as técnicas inerentes aos vários processos clássicos de gravura artística, sua realização prática e correspondente aparelhagem, desde as prensas aos instrumentos de trabalho, como goivas, buris, lápis litográficos, etc.».

Na sala de exposições da Livraria Divulgação, do Porto, esteve aberta, durante a última quadra festiva, uma curiosa exposição de postais de Boas Festas e Ano Bom, da autoria /página 23/ dos jovens artistas António Quadros e Armando Alves, que assim abriram uma séria ofensiva contra a rotina e o mau gosto de milhares de cartões que circulam, habitualmente, por alturas do Natal e Ano Novo, facto, portanto, que nos leva a saudá-los por tão bela iniciativa

Mais recentemente, na mesma livraria, por ocasião do 7.º aniversário da morte de Teixeira de Pascoais, foi inaugurada uma exposição de desenhos do grande poeta do «Sempre», a qual incluía também bibliografia, manuscritos e iconografia do saudoso artista amarantino, cuja lembrança se mantém bem viva entre os seus admiradores, para mais que se fala agora muito sobre o Prémio Nobel da Literatura.

Júlio Resende, que da arte figurativa evolucionou para a abstracta e é, certamente, o pintor português de maior prestígio no estrangeiro, depois do êxito que alcançou com a sua exposição de óleos e desenhos entre a público belga, expôs, recentemente, na nossa capital, o que pode ser considerado o mostruário da sua actividade durante o ano findo, isto sem incluir, porém, nenhum dos trabalhos que o pintor levou a Bruxelas, e que, na opinião de um crítico belga, eram meio não figurativos. Nesta última exposição, o artista, ao contrário, parece ter procurado apresentar trabalhos totalmente não figurativos, mas desde que certas reminiscências nos deixam adivinhar as imagens que inspiraram as obras, quer-nos parecer que é também de perfilhar, mesmo neste caso, a opinião crítica que atrás relatamos.

Referindo-se ao livro «O culto gregário do colossal», de Vítor Falcão — que privou no seu tempo com Fernando Pessoa, Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Jorge Barradas —, o crítico D. F. do suplemento literário de «A Voz» diz, em dada altura, apenas isto: «...o autor perdoar-nos-á, porém, que protestemos contra a extrema severidade com que fala de Salvador Dali. Para além das extravagâncias em que se compraz — mas não as tiveram também os futuristas da geração do autor do «Culto gregário do colossal»? — Dali não é, embora V. F. diga o contrário, um «pinturilador»; é mesmo talvez, ainda que irregular, o maior «pintor» vivo do nosso tempo — em qualquer caso, maior do que Picasso, este mais um «criador» do que verdadeiramente, um «pintor».

 

Teatro

Marcel Marceau, que alguns apelidam de génio, mas que é, sem ponta de dúvida, um dos mais extraordinários artistas do nosso tempo, esteve de fugida em Portugal, onde se exibiu com inteiríssimo agrado e para deleite de quantos ansiavam conhecê-lo em pessoa. Verdadeiro redescobridor da poesia dos gestos e do silêncio, da pantomima ou, como outros lhe chamam, do teatro sem palavras, modalidade esta que representa uma das mais antigas formas de expressão dramática do homem, o famoso mímico francês também entre nós afirmou a categoria excepcional que o tornou célebre em todo a Mundo, pena sendo que não tivesse passado do Porto, Coimbra e Lisboa.

O Teatro dos Estudantes Universitários de Coimbra, actuando em Bragança, quis aproveitar o 21.º aniversário da sua fundação para homenagear o seu mais digno representante, na pessoa de Paulo Quintela, que dali é natural e cuja obra, de elevado sentido cultural e artístico, bem merece uma mais condigna homenagem da parte de todos os sectores responsáveis, ligados ou não com o meio académico. Como testemunho da gratidão do T.E.U.C., foi descerrada uma lápida na casa do homenageado e «não quiseram os operários bragantinos alhear-se à participação na festa prestada a um dos seus mais queridos patrícios. Homenagearam-no, homenageando seu Pai, que foi obreiro como eles, homem cuja profissão moldou granito.»

A singular tentativa de levar a efeito um colóquio sobre teatro espanhol à mesa do café «A Brasileira» de Lisboa, parece ter falhado redondamente, pois ficou reduzido a um monólogo de António de Cabo, que Vasco Morgado controlou para montar a comédia musical «lrma la douce» e a que assistiram apenas alguns jornalistas. Pelo que nos consta, foi, na entanto, ouvido com interesse, dado que «foi ele que, em Barcelona, em 1949, formou e dirigiu o primeiro teatro espanhol de câmara e provocou a moderna corrente teatral no país vizinho.»

 

cinema

Depois de «Orfeu Negro», baseado na peça «Orfeu da Conceição», do poeta brasileiro Vinicius de Morais e que está a conquistar os maiores galardões da crítica europeia, Marcel Camus prepara novo filme sobre «Os Bandeirantes», cuja história principia na Amazónia, passa pelo Nordeste e termina em Brasília. Tendo lido tudo o que em francês se publicou sobre aquela região brasileira, o já famoso realizador pretende dar ao Mundo a verdadeira face da Amazónia e para isso não será de todo indiferente o romance «A Selva», de Ferreira de Castra, cuja leitura — disse — fortemente o impressionou.

Aludindo, em artigo de jornal, ao infeliz casamento do cinema com a literatura, a propósito do novo filme português «O Primo Basílio», baseado no conhecido romance de Eça de Queirós, Gaspar Simões, a fechar, diz o seguinte: «Não é na cidade, não é em Lisboa, pelo menos na Lisboa da burguesia, alta ou baixa, que a sétima arte nacional pode encontrar o seu caminho, mas na serra, no mar, no campo — no seio de uma natureza tipicamente elementar como é a natureza da nossa gente rústica».

Em curto espaço de tempo, a França ficou privada de alguns dos seus maiores artistas, ligados ao cinema e outros também ao teatro, como Jean Wall, Gérard Philippe, Jean Grémillon, Yves Deniand, Henri Vidal. Escrevendo acerca da vida e morte de Gérard Philippe ou o preço da juventude e depois de referir que o mesmo acumulou uma série de êxitos na interpretação de personagens jovens, J. Estêvão Sasportes terminava assim o seu curioso artigo: «Actor completo eu não, genial ou não, pouco importa. Em G. P. havia, acima de tudo, e era isso que nos encantava, um segredo misterioso de eterna juventude».

 

música

A Fundação Calouste Gulbenkian vai editor, através da sua Secção de Música, uma colecção intitulada «Portugaliae Musica», que abrangerá composições de mestres portugueses (ou estrangeiros ao serviço de Portugal), desde o alvorecer do século XVI a meados da século XIX. 

Com o título «A morte de Raspoutine», está a fazer sucesso na Ópera de Colónia uma obra que se podia considerar das nações se tomarmos em linha de conta certas características muito especiais que a rodeiam: a música da ópera em questão é de um russo-americano; o libreto é inglês; o encenador vienense; os cantores, um dinamarquês, uma francesa e uma negra; todos cantam em alemão.

Fernando Lopes Graça, sem contestação considerado o mais válido compositor português contemporâneo, e também um notável pianista, deu, ultimamente, dois concertos, apresentando, em Lisboa e no Porto, inúmeras composições da sua autoria sobre textos poéticos populares e poesias de Camões, Bocage, Garrett, António Botto, António Nobre, Armindo Rodrigues, Mário Cesariny de Vasconcelos, Afonso Duarte Manuel Bandeira e Eugénio de Andrade. Um dos últimos colóquios da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, em que esteve presente, foi também dedicado à sua obra e, dum modo geral, à música contemporânea, nos seus aspectos populares e folclóricos. Estas manifestações e ainda a actuação do Coro da Academia dos Amadores de Música, de que Lopes Graça é, igualmente, preparador e regente coral, deram-nos a possibilidade de contactar mais de perto com várias facetas da actividade do prestigioso compositor e artista, cuja obra marcante bem merecia ser muito mais vezes escutada.

pinto da costa

 

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