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Sobre as nossas
flores, devo agradecer todas as amabilidades e saberes
que me foram transmitidos, prestando homenagem a grandes
Senhoras de Ílhavo - Dona Beatriz Matias, Dona
Jorgelina Pina e a Dona Lucília Isabel Ferreira de
Figueiredo. Foi relativamente fácil recolher todos os
pequenos segredos sobre as Flores que sempre se fizeram
nesta terra do mar, enriquecidas pelo nascimento da
primeira Escola de Convento em 1876 .
Palmas,
Palmitos, Rocas, Ramos de Solitário, Ramos de Mordomo
de Ílhavo, Ramos de Mordomo de Aveiro, Ramos de Andor e
Ramos de Altar são os trabalhos mais tradicionais que
se faziam e que se conseguem reproduzir ainda hoje. São
moldes de trinta e seis flores diferentes que ilustram a
beleza destes trabalhos. Papeis nobres coloridos, papeis
coloridos com anilinas, tecidos engomados, tecidos
embebidos em gelatinas orgânicas, pratinhas dos maços
de tabaco, cartão, colas, sisal, corantes, linhas,
farinha de mandioca, pêlo de veludo, fios de prata e
ouro, arames, fitas, cascas de castanha, alho e cebola,
escamas de peixe, conchinhas, sementes, pevides,
brilhantinas, missangas, vidrilhos, canutilhos,
lantejoulas são alguns dos muitos materiais que servem
para se fazerem as flores.
Estas artes de
se trabalhar o papel apareceram no nosso país, como
aliás em toda a Europa, no decorrer do Séc. XVIII e
primeira metade do Séc. XIX. De acordo com notícias
históricas merecedoras de crédito, as suas primeiras
manifestações surgiram nos conventos, como ocupação
ou simples passatempo de freiras, frades ou de pessoas
recolhidas à paz dos claustros. O tempo tentou condenar
esta arte que nunca chegou a desaparecer, ora de mãos
para enfeitar a vida, ora de mãos para sustento da
casa.
Dos tecidos que
escutaram segredos ou limparam lágrimas, dos papeis que
embrulharam presentes, de conchinhas que foram
encontradas em namoros, das tintas oferecidas no
aniversário, tudo servia e serve para criar o que pode
aquecer a alma.
CLASSIFICAÇÃO
DE REGISTOS
REGISTOS NÃO
RELIGIOSOS
1- CAIXA DOS
AMORES
É uma caixa de
madeira composta por duas partes octogonais.
2- SAUDADES OU
MEMÓRIAS
São
composições com bordados e colagens, tendo como ponto
principal uma fotografia de um ente querido. Geralmente
encontram-se bordadas com cabelo, fios de seda e
algodão, ou com aplicações em tecido, casca de
castanha, pratinhas de embrulho, escamas de peixe,
cascas de árvore e de outras "botânicas".
3- RELÍQUIAS
COMEMORATIVAS
São colagens
ordenadas, em quadros de vários feitios, redomas e
caixas de parede, com pertences de um ente querido,
referentes a alguma data ou simples característica
emocional, ou mesmo composições arbitrárias
referentes ao seu carácter ou gostos particulares.
REGISTOS
RELIGIOSOS
1- REGISTOS DE
ORAÇÃO
São
enquadramentos de figuras tridimensionais, pagelas,
santinhos de papel ou tecido, decorados à maneira das
possibilidades do artífice, ou com características da
zona de origem. São Registos essencialmente para
contemplação e oração, colocados, quase sempre, em
zonas recatadas de uma casa. Existem, conforme as
características, registos desta espécie designados por
Lapelas, Medalhas, Lâminas, Santinhos, Caixinhas,
Altares, Cruzes, Gamelas, Estrelas e Capelas.
2- REGISTOS DE
PROMESSAS
Normalmente,
estes Registos são designados por Ex-Votos. São
imagens pintadas em madeira, metal, pedra, tecido, tela
e pele, que se encontram em Altares, Sacristias, paredes
de Capelas, Igrejas e Ermidas. Também existem em forma
de objecto tridimensional. São sempre uma maneira de
agradecer uma promessa pedida e satisfeita.
3- REGISTOS
TEMÁTICOS
São
composições com temas específicos, feitos
exclusivamente para contemplação. Destinam-se a
recantos de rua ou para dentro de casa. Os temas mais
vulgares de se encontrarem são os do Nascimento de
Jesus, Santos Populares, Última Ceia de Cristo com os
Apóstolos, Via Sacra e acontecimentos bíblicos. Os
Presépios, que representam o Nascimento de Jesus,
designam-se por Maquinetas se estiverem fechados em
caixas de madeira e vidro. Os Altares, Armações,
Cascatas e Lapinhas são composições, mais ou menos a
descoberto, que se encontram nas ruas, Igrejas e casas,
aparecendo, por vezes, dentro de cântaros partidos ou
com outro tipo de resguardo.
4- REGISTOS
PRECIOSOS
São peças
contemplativas e únicas, cujo elemento principal é uma
relíquia pertencente a alguém elevado a Santo. As
referidas relíquias podem ser objectos de uso pessoal
do referido Beato ou Santo, elementos carismáticos da
envolvência dos mesmos ou pedaços dos seus corpos
mumificados. São sempre considerados sagrados e,
normalmente, designados por relicários.
BIBLIOGRAFIA
E FONTES DE INFORMAÇÃO
● Recolhas
verbais em Ílhavo, Aveiro, Marvão, Vila do Conde e
Portalegre, (saliento as informações do Sr. Valdemar
Ferreira de Vila do Conde);
●
Análise técnica detalhada a trabalhos existentes no
Museu Marítimo de Ílhavo, Museu Princesa Santa Joana
em Aveiro, Museu Municipal de Mafra, Museu da
Misericórdia da Ericeira, Museu de Arte Antiga em
Lisboa, Casa Museu de José Régio em Portalegre e Museu
de Marvão;
Ameal, João
— Santos Portugueses, Ed. da Livraria Tavares
Martins, Porto, 1957;
Hallam, Elizabeth — Os Santos, Livros e Livros,
1994;
Lacerda, Aarão — O Fenómeno Religioso e a
Simbólica, Ed. do Autor, Porto, 1924;
Leite, José — Santos de Cada Dia, Editorial
A.O., Braga, 1993;
Marques, Luís — Tradições Religiosas,
I.S.E.R. Universidade N. de Lisboa, 1996;
Soares, Ernesto — Inventário da Colecção de
Registos de Santos, B. N., 1955;
Tavares, Jorge Campos — Dicionário de Santos,
Lello & Irmão Ed., Porto, 1990.
Duarte José
Furão Morgado
Nota: Os registos
reproduzidos nestas páginas fazem parte de uma
colecção particular. Os três primeiros foram criados por António
Monteiro, artista aveirense. O último é da autoria da
Dr.ª Helena Semedo.
Para visitar a oficina e colecção de Duarte Morgado,
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