BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


PÁGINA 1
Editorial
Alcino Carvalho
PÁGINA 2
Gaudi, o
o arquitecto do
imaginário

Claudete Albino
PÁGINA 3
Contos tradicionais portugueses
PÁGINA 4
O Ensino Recorrente e o
acesso ao ensino
superior

João Paulo C. Dias
PÁGINA 5
Dos registos
às flores

Duarte José F. Morgado
PÁGINA 6
Napoleão
não foi assassinado
Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 7
Sociedade Psi
Isabel Bernardino
PÁGINA 8
A aventura literária de
Almada Negreiros 

Paula Tribuzi
PÁGINA 9
A escrita da
casa
PÁGINA 10
A propósito do
Halloween
Dois contos
PÁGINA 11
Da Filosofia e
seu papel

Alcino Cartaxo
PÁGINA 12
Castanhas e
Jeropiga e
S. Martinho

Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 13
Hora do Recreio
HJCO
PÁGINA 14
Fac-símile da versão impressa
 

 <<<    Sobre as nossas flores, devo agradecer todas as amabilidades e saberes que me foram transmitidos, prestando homenagem a grandes Senhoras de Ílhavo - Dona Beatriz Matias, Dona Jorgelina Pina e a Dona Lucília Isabel Ferreira de Figueiredo. Foi relativamente fácil recolher todos os pequenos segredos sobre as Flores que sempre se fizeram nesta terra do mar, enriquecidas pelo nascimento da primeira Escola de Convento em 1876 .

Palmas, Palmitos, Rocas, Ramos de Solitário, Ramos de Mordomo de Ílhavo, Ramos de Mordomo de Aveiro, Ramos de Andor e Ramos de Altar são os trabalhos mais tradicionais que se faziam e que se conseguem reproduzir ainda hoje. São moldes de trinta e seis flores diferentes que ilustram a beleza destes trabalhos. Papeis nobres coloridos, papeis coloridos com anilinas, tecidos engomados, tecidos embebidos em gelatinas orgânicas, pratinhas dos maços de tabaco, cartão, colas, sisal, corantes, linhas, farinha de mandioca, pêlo de veludo, fios de prata e ouro, arames, fitas, cascas de castanha, alho e cebola, escamas de peixe, conchinhas, sementes, pevides, brilhantinas, missangas, vidrilhos, canutilhos, lantejoulas são alguns dos muitos materiais que servem para se fazerem as flores.

Estas artes de se trabalhar o papel apareceram no nosso país, como aliás em toda a Europa, no decorrer do Séc. XVIII e primeira metade do Séc. XIX. De acordo com notícias históricas merecedoras de crédito, as suas primeiras manifestações surgiram nos conventos, como ocupação ou simples passatempo de freiras, frades ou de pessoas recolhidas à paz dos claustros. O tempo tentou condenar esta arte que nunca chegou a desaparecer, ora de mãos para enfeitar a vida, ora de mãos para sustento da casa.

Dos tecidos que escutaram segredos ou limparam lágrimas, dos papeis que embrulharam presentes, de conchinhas que foram encontradas em namoros, das tintas oferecidas no aniversário, tudo servia e serve para criar o que pode aquecer a alma.

Registo da autoria de António Monteiro.

CLASSIFICAÇÃO DE REGISTOS

REGISTOS NÃO RELIGIOSOS

1- CAIXA DOS AMORES

É uma caixa de madeira composta por duas partes octogonais.

2- SAUDADES OU MEMÓRIAS

São composições com bordados e colagens, tendo como ponto principal uma fotografia de um ente querido. Geralmente encontram-se bordadas com cabelo, fios de seda e algodão, ou com aplicações em tecido, casca de castanha, pratinhas de embrulho, escamas de peixe, cascas de árvore e de outras "botânicas".

3- RELÍQUIAS COMEMORATIVAS

São colagens ordenadas, em quadros de vários feitios, redomas e caixas de parede, com pertences de um ente querido, referentes a alguma data ou simples característica emocional, ou mesmo composições arbitrárias referentes ao seu carácter ou gostos particulares.

REGISTOS RELIGIOSOS

1- REGISTOS DE ORAÇÃO

São enquadramentos de figuras tridimensionais, pagelas, santinhos de papel ou tecido, decorados à maneira das possibilidades do artífice, ou com características da zona de origem. São Registos essencialmente para contemplação e oração, colocados, quase sempre, em zonas recatadas de uma casa. Existem, conforme as características, registos desta espécie designados por Lapelas, Medalhas, Lâminas, Santinhos, Caixinhas, Altares, Cruzes, Gamelas, Estrelas e Capelas.

Registo da autoria da Drª Helena Semedo.

2- REGISTOS DE PROMESSAS

Normalmente, estes Registos são designados por Ex-Votos. São imagens pintadas em madeira, metal, pedra, tecido, tela e pele, que se encontram em Altares, Sacristias, paredes de Capelas, Igrejas e Ermidas. Também existem em forma de objecto tridimensional. São sempre uma maneira de agradecer uma promessa pedida e satisfeita.

3- REGISTOS TEMÁTICOS

São composições com temas específicos, feitos exclusivamente para contemplação. Destinam-se a recantos de rua ou para dentro de casa. Os temas mais vulgares de se encontrarem são os do Nascimento de Jesus, Santos Populares, Última Ceia de Cristo com os Apóstolos, Via Sacra e acontecimentos bíblicos. Os Presépios, que representam o Nascimento de Jesus, designam-se por Maquinetas se estiverem fechados em caixas de madeira e vidro. Os Altares, Armações, Cascatas e Lapinhas são composições, mais ou menos a descoberto, que se encontram nas ruas, Igrejas e casas, aparecendo, por vezes, dentro de cântaros partidos ou com outro tipo de resguardo.

4- REGISTOS PRECIOSOS

São peças contemplativas e únicas, cujo elemento principal é uma relíquia pertencente a alguém elevado a Santo. As referidas relíquias podem ser objectos de uso pessoal do referido Beato ou Santo, elementos carismáticos da envolvência dos mesmos ou pedaços dos seus corpos mumificados. São sempre considerados sagrados e, normalmente, designados por relicários.

 

BIBLIOGRAFIA E FONTES DE INFORMAÇÃO

Recolhas verbais em Ílhavo, Aveiro, Marvão, Vila do Conde e Portalegre, (saliento as informações do Sr. Valdemar Ferreira de Vila do Conde);

● Análise técnica detalhada a trabalhos existentes no Museu Marítimo de Ílhavo, Museu Princesa Santa Joana em Aveiro, Museu Municipal de Mafra, Museu da Misericórdia da Ericeira, Museu de Arte Antiga em Lisboa, Casa Museu de José Régio em Portalegre e Museu de Marvão;

Ameal, João — Santos Portugueses, Ed. da Livraria Tavares Martins, Porto, 1957;
Hallam, Elizabeth — Os Santos, Livros e Livros, 1994;
Lacerda, Aarão — O Fenómeno Religioso e a Simbólica, Ed. do Autor, Porto, 1924;
Leite, José — Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1993;
Marques, Luís — Tradições Religiosas, I.S.E.R. Universidade N. de Lisboa, 1996;
Soares, Ernesto — Inventário da Colecção de Registos de Santos, B. N., 1955;
Tavares, Jorge Campos — Dicionário de Santos, Lello & Irmão Ed., Porto, 1990.

Duarte José Furão Morgado


Nota: Os registos reproduzidos nestas páginas fazem parte de uma colecção particular. Os três primeiros foram criados por António Monteiro, artista aveirense. O último é da autoria da Dr.ª Helena Semedo. Para visitar a oficina e colecção de Duarte Morgado, clique sobre esta hiperligação:
                                    visita à oficina do autor.


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