BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


PÁGINA 1
Editorial
Alcino Carvalho
PÁGINA 2
Gaudi, o
o arquitecto do
imaginário
Claudete Albino
PÁGINA 3
Contos tradicionais portugueses
PÁGINA 4
O Ensino Recorrente e o
acesso ao ensino
superior

João Paulo C. Dias
PÁGINA 5
Dos registos
às flores

Duarte José F. Morgado
PÁGINA 6
Napoleão
não foi assassinado
Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 7
Sociedade Psi
Isabel Bernardino
PÁGINA 8
A aventura literária de
Almada Negreiros 

Paula Tribuzi
PÁGINA 9
A escrita da
casa
PÁGINA 10
A propósito do
Halloween
Dois contos
PÁGINA 11
Da Filosofia e
seu papel

Alcino Cartaxo
PÁGINA 12
Castanhas e
Jeropiga e
S. Martinho

Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 13
Hora do Recreio
HJCO
PÁGINA 14
Fac-símile da versão impressa
 


O ano de 2002 ficará para a história como o ano internacional de António Gaudi, pois que decorrem precisamente 150 anos sobre a data do seu nascimento, em 1852.

Gaudi tem popularidade universal, é um mito universal. A UNESCO, em 1984, incluiu algumas das suas obras como fazendo parte do património universal: a casa Milá, conhecida por a «Pedrera», o parque Güell e a colónia Güell.



Casa Millá - A Pedreira

Gaudi surge como o obreiro das correntes de pensamento centradas no homem, por oposição às correntes materialistas, ambas produzidas na passagem do séc. XIX para o séc. XX. Criou uma linguagem própria, juntando arquitectura e decoração e inspirando-se em modelos naturais. O seu objectivo foi criar espaços de bem-estar para aqueles que lhe encomendavam as obras. Ao mesmo tempo que criava os edifícios, criava os objectos da vida quotidiana que os iriam decorar.

De personalidade forte, teve por berço a Catalunha. Foi baptizado em Reus. Habituou-se, desde pequeno, a ver o pai moldar objectos, de formas arredondadas, na sua oficina de caldeireiro, o que terá interiorizado. Essas formas veio a recriar como arquitecto, na sua técnica e na sua arte geniais, em muitas das suas obras.

Artista das formas e dos espaços, que criou com uma intenção orgânica e biológica, foi pioneiro da modernidade. São de Gaudi as seguintes palavras:

«Possuo a qualidade de sentir e ver o espaço porque sou filho, neto e bisneto de caldeireiro. Todas estas gerações me prepararam para o meu ofício».

Cruz Maiorquina da Casa Batlló.
Igreja da Sagrada Família.

Gabava-se de praticar qualquer tipo de manualidade e as suas obras reflectem que sempre se manteve muito próximo de todas as práticas artesanais. É Gaudi quem refere:

«O arquitecto há-de saber aproveitar-se do que sabem fazer e podem fazer os operários. Há-de aproveitar a qualidade pré-eminente de cada um. Isso é integrar, somar todos os esforços, dar-lhes a mão quando não conseguem o resultado; assim, trabalham com gosto e com segurança que confere a plena confiança no organizador».

Uma obra arquitectónica interpreta-se quando a vivemos, quando verificamos como funciona, como se percorrem os seus espaços, como são as suas texturas, como se recebe a luz, como são os seus pormenores.

As obras de Gaudi são o resultado de um processo lento de experimentação, com uma linguagem de síntese que resultou da mistura de diferentes artes aplicadas de forma unitária, sob a influência de referências mediterrânicas, árabes, góticas, naturalistas e barrocas. Nas suas obras são de destacar os elementos cerâmicos, o ferro forjado, a luz e a sombra numa profusão decorativa.

Lâmpada da Casa Batlló

Dragão existente no parque Güell.

A casa Vicens, que é das suas primeiras obras construídas, com quatro andares, está recoberta de ladrilho e cerâmica vidrada na fachada, de influência árabe e medieval, apresenta detalhes e um colorido que lhe proporcionam um ar irreal.

Na sua obra encontramos iconografia religiosa (Sagrada Família, Cruz Maiorquina, na casa Batlló), elementos da natureza (Casa Batlló), elementos mitológicos (parque Güell).

Para Gaudi estrutura e decoração são uma e a mesma coisa e daí a sua paixão por curvas e arcos, linhas onduladas e dinâmicas. Na colónia Güell, conjunto de casas para os operários, escola, biblioteca e outros serviços, junto à fábrica de panos e veludos que a família Güell possuía em Santa Coloma de Cervelló (Baix Llobregat), Gaudi foi encarregado de construir uma Igreja que completasse o conjunto. Dessa igreja apenas construiu a cripta, cuja abóbada é sustentada por um conjunto de pilares que se assemelham a troncos inclinados.

Elementos cerâmicos da Casa Batlló.

Diz Gaudi: «Perguntaram-me porque fazia colunas inclinadas. Disse-lhes que pela mesma razão que o caminhante cansado, quando pára, se apoia no bastão inclinado, porque em posição vertical não descansaria.»

As açoteias, as chaminés e até pára-raios, Gaudi decora-os profusamente pois que para ele «os terminais dos edifícios com pequenos elementos, como uma cruz, um pináculo, etc., são verdadeiras caricaturas; são como a careca onde brilha um só pelo no meio».

Como designer Gaudi criou peças para integrar num conjunto cuja concepção responde à mesma lógica, exigências e regras que utiliza nos seus projectos de edifícios.

Açoteia da Casa Milá

O cuidado que Gaudi coloca nos objectos de uso quotidiano é originário da sua formação artesã e paixão pelas artes e ofícios, assim como do facto de sentir-se capaz de controlar o processo produtivo. «É necessário alternar a reflexão e a acção que se completam e corrigem uma com a outra. Também para avançar se precisa das duas pernas: a acção e a reflexão», palavras de Gaudi.

Claudette Albino


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