De personalidade
forte, teve por berço a Catalunha. Foi baptizado em
Reus. Habituou-se, desde pequeno, a ver o pai moldar
objectos, de formas arredondadas, na sua oficina de
caldeireiro, o que terá interiorizado. Essas formas
veio a recriar como arquitecto, na sua técnica e na sua
arte geniais, em muitas das suas obras.
Artista das formas
e dos espaços, que criou com uma intenção orgânica e
biológica, foi pioneiro da modernidade. São de Gaudi
as seguintes palavras:
«Possuo a
qualidade de sentir e ver o espaço porque sou filho,
neto e bisneto de caldeireiro. Todas estas gerações me
prepararam para o meu ofício».
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Cruz
Maiorquina da Casa Batlló. |
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Igreja
da Sagrada Família. |
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Gabava-se de
praticar qualquer tipo de manualidade e as suas obras
reflectem que sempre se manteve muito próximo de todas
as práticas artesanais. É Gaudi quem refere:
«O arquitecto
há-de saber aproveitar-se do que sabem fazer e podem
fazer os operários. Há-de aproveitar a qualidade
pré-eminente de cada um. Isso é integrar, somar todos
os esforços, dar-lhes a mão quando não conseguem o
resultado; assim, trabalham com gosto e com segurança
que confere a plena confiança no organizador».
Uma obra
arquitectónica interpreta-se quando a vivemos, quando
verificamos como funciona, como se percorrem os seus
espaços, como são as suas texturas, como se recebe a
luz, como são os seus pormenores.
As obras de Gaudi
são o resultado de um processo lento de
experimentação, com uma linguagem de síntese que
resultou da mistura de diferentes artes aplicadas de
forma unitária, sob a influência de referências
mediterrânicas, árabes, góticas, naturalistas e
barrocas. Nas suas obras são de destacar os elementos
cerâmicos, o ferro forjado, a luz e a sombra numa
profusão decorativa.
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Lâmpada
da Casa Batlló |
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Dragão
existente no parque Güell. |
A casa Vicens, que
é das suas primeiras obras construídas, com quatro
andares, está recoberta de ladrilho e cerâmica vidrada
na fachada, de influência árabe e medieval, apresenta
detalhes e um colorido que lhe proporcionam um ar
irreal.
Na sua obra
encontramos iconografia religiosa (Sagrada Família,
Cruz Maiorquina, na casa Batlló), elementos da natureza
(Casa Batlló), elementos mitológicos (parque Güell).
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Para Gaudi
estrutura e decoração são uma e a mesma coisa e daí
a sua paixão por curvas e arcos, linhas onduladas e
dinâmicas. Na colónia Güell, conjunto de casas para
os operários, escola, biblioteca e outros serviços,
junto à fábrica de panos e veludos que a família
Güell possuía em Santa Coloma de Cervelló (Baix
Llobregat), Gaudi foi encarregado de construir uma
Igreja que completasse o conjunto. Dessa igreja apenas
construiu a cripta, cuja abóbada é sustentada por um
conjunto de pilares que se assemelham a troncos
inclinados. |
Elementos
cerâmicos da Casa Batlló. |
Diz Gaudi: «Perguntaram-me
porque fazia colunas inclinadas. Disse-lhes que pela
mesma razão que o caminhante cansado, quando pára, se
apoia no bastão inclinado, porque em posição vertical
não descansaria.»
As açoteias, as
chaminés e até pára-raios, Gaudi decora-os
profusamente pois que para ele «os terminais dos
edifícios com pequenos elementos, como uma cruz, um
pináculo, etc., são verdadeiras caricaturas; são como
a careca onde brilha um só pelo no meio».
Como designer
Gaudi criou peças para integrar num conjunto cuja
concepção responde à mesma lógica, exigências e
regras que utiliza nos seus projectos de edifícios.
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Açoteia da
Casa Milá |
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O cuidado que
Gaudi coloca nos objectos de uso quotidiano é
originário da sua formação artesã e paixão pelas
artes e ofícios, assim como do facto de sentir-se capaz
de controlar o processo produtivo. «É necessário
alternar a reflexão e a acção que se completam e
corrigem uma com a outra. Também para avançar se
precisa das duas pernas: a acção e a reflexão»,
palavras de Gaudi.
Claudette Albino