|
|
Todos
os anos, quando o sol começa a ficar mais inclinado, os
dias mais curtos e as noites mais longas, e as folhas
começam a deixar as árvores com os troncos despidos,
completamente nuzinhos e com os braços gritando para os
céus a perda daquelas mãos verdinhas, outrora
carregadas de clorofila e agora amarelecidas, costumamos
ser abençoados com uns dias calmos e cálidos, como que
nos avivando as saudades dos dias quentes de Verão. É
o «Verão de S. Martinho».
|
Durante
uns dias, somos brindados com tempo ameno, como
que para nos permitir uma preparação
psicológica para o tempo das camisolas de lã,
dos sobretudos quentes, mas pesados, dos gorros
enfiados até às orelhas, dos impermeáveis e dos
guarda-chuvas. E dizemos, uns para os outros: é o
«Verão de S. Martinho». |
E no
dia do dito, para manter a tradição, cumpre-se à
risca o provérbio secular: «Pelo S. Martinho vai à
adega e prova o vinho.» E porque não é favor cumprir
tradição deste teor, todos gostamos (nem
pestanejamos!) de festejar o bom do santo com vinho novo
da adega e também, porque é tempo delas, com castanhas
e jeropiga.
No dia
de S. Martinho, também este ano, não nos esquecemos de
festejar o Santo. Uma vez mais os alunos do SEUC se
reuniram com funcionários e professores. Uma vez mais
saborearam as castanhas assadas. Mas... Há sempre um
«mas» desconhecido, que espera por nós! Ninguém se
lembrou da jeropiga, bebida que santamente liga com
aqueles frutos castanhos saídos dos ouriços! E muito
menos do bom do santo! Ninguém se lembrou!
Ninguém
se lembrou?! Alto aí, que não é bem assim! O santo
não foi esquecido! Pelo menos, uma professora trazia-o
bem presente dentro de si. Tão presente, tão sentido,
que não quis que o bom do santo ficasse no
esquecimento. E como mais vale tarde que nunca,
trouxe-nos o texto, que passamos a transcrever (1):
«Há
cerca de 1600 anos, vivia na cidade de Sabária, na
Hungria, um valente cabo-de-guerra romano. Quando lhe
nasceu um filho (cerca do ano 316), pôs-lhe o nome de
Martinho, pois Marte era, para os romanos, o deus da
guerra.
Para que
Martinho se habituasse às lides guerreiras, o pai
levava-o, ainda muito pequeno, para os acampamentos.
Mais tarde, Martinho foi viver para Itália com o pai,
que entretanto tinha sido transferido para Pavia.
Certo
dia, espavorido com uma forte trovoada, refugiou-se numa
igreja, onde um bispo se encontrava a pregar um sermão
sobre a vida de Cristo e dos Apóstolos. Martinho ficou
tão interessado na doutrina que ouvira expor, que desde
esse dia se começou a preparar para se tornar cristão.
Aos 15
anos, tornou-se soldado; e, pouco depois, foi enviado
para Amiens, no norte da Gália.
|
Um
dia, ao entrar na cidade, encontrou na berma da
estrada um pobre a tremer de frio. Como não tinha
dinheiro para lhe dar, Martinho repartiu com ele o
que possuía: rasgou com a espada a capa ao meio e
deu metade ao pobre. A partir deste gesto de
generosidade se criou o costume, que em certas
terras ainda perdura, de fazer do dia de S.
Martinho um dia de «partilha». O tradicional «pão-por-Deus»,
que ainda existe nalgumas aldeias portuguesas, é
disso exemplo. |
S.
Martinho rasgou com a espada a capa ao meio e deu
metade ao pobre. In: No baloiço do Arco-Íris,
3º Ano do 1º Ciclo, Ed. Nova Gaia, 2001, p. 60. |
Conta a
história que, nessa mesma noite, Martinho teve uma
visão: acordou e viu Jesus trazendo a metade da capa
que ele dera ao pobre. Ficou tão contente que, logo na
manhã seguinte, se dirigiu à igreja mais próxima e
pediu para ser baptizado. Diz a tradição que, em
memória de S. Martinho, no seu dia, nunca há frio.
Daí o hábito de se designar o tempo soalheiro nas,
proximidades de 11 de Novembro, por «Verão de S.
Martinho».
Fizemos uma breve pesquisa na
Internet acerca das castanhas e do patrono do dia 11 de
Novembro. Foi uma fartura, não de castanhas, mas de
informações acerca do santo e dos costumes
relacionados com o santo dia da pinga, perdão, do S.
Martinho. De entre elas, achámos curiosa a quadra que
reproduzimos e que, segundo a fonte consultada, foi
recolhida em Mangualde:
|
«No
dia de S. Martinho,
Rabusca o teu soitinho;
Faz o teu magustinho,
Encerta o teu pipinho.» |
Em relação à lenda, as versões
foram ricas de variações. Se no texto que
transcrevemos era S. Martinho um valente cabo-de-guerra,
noutros os postos variaram ao gosto de quem contou a
história, tendo mesmo chegado à posição de general.
Quem quer que fosse ao certo o bom do Santo, ao certo do
que temos a rigorosa certeza é que ficou para sempre na
lembrança de todos.
Se quiserem provar daquilo que
consultámos, sentem-se diante de um computador com
acesso à Internet. Utilizem um bom motor de busca e
digitem as palavras «castanhas» e «Martinho». E
depois, façam a conveniente «rabusca», que até
receitas com castanhas acharão.
Henrique J. C. de Oliveira
(1) - In: Escola Democrática.
|