BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


PÁGINA 1
Editorial
Alcino Carvalho
PÁGINA 2
Gaudi, o
o arquitecto do
imaginário

Claudete Albino
PÁGINA 3
Contos tradicionais portugueses
PÁGINA 4
O Ensino Recorrente e o
acesso ao ensino
superior

João Paulo C. Dias
PÁGINA 5
Dos registos
às flores

Duarte José F. Morgado
PÁGINA 6
Napoleão
não foi assassinado
Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 7
Sociedade Psi
Isabel Bernardino
PÁGINA 8
A aventura literária de
Almada Negreiros 

Paula Tribuzi
PÁGINA 9
A escrita da
casa
PÁGINA 10
A propósito do
Halloween
Dois contos
PÁGINA 11
Da Filosofia e
seu papel

Alcino Cartaxo
PÁGINA 12
Castanhas e
Jeropiga e
S. Martinho

Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 13
Hora do Recreio
HJCO
PÁGINA 14
Fac-símile da versão impressa
 

Castanhas e Jeropiga

Todos os anos, quando o sol começa a ficar mais inclinado, os dias mais curtos e as noites mais longas, e as folhas começam a deixar as árvores com os troncos despidos, completamente nuzinhos e com os braços gritando para os céus a perda daquelas mãos verdinhas, outrora carregadas de clorofila e agora amarelecidas, costumamos ser abençoados com uns dias calmos e cálidos, como que nos avivando as saudades dos dias quentes de Verão. É o «Verão de S. Martinho».

Durante uns dias, somos brindados com tempo ameno, como que para nos permitir uma preparação psicológica para o tempo das camisolas de lã, dos sobretudos quentes, mas pesados, dos gorros enfiados até às orelhas, dos impermeáveis e dos guarda-chuvas. E dizemos, uns para os outros: é o «Verão de S. Martinho».

E no dia do dito, para manter a tradição, cumpre-se à risca o provérbio secular: «Pelo S. Martinho vai à adega e prova o vinho.» E porque não é favor cumprir tradição deste teor, todos gostamos (nem pestanejamos!) de festejar o bom do santo com vinho novo da adega e também, porque é tempo delas, com castanhas e jeropiga.

No dia de S. Martinho, também este ano, não nos esquecemos de festejar o Santo. Uma vez mais os alunos do SEUC se reuniram com funcionários e professores. Uma vez mais saborearam as castanhas assadas. Mas... Há sempre um «mas» desconhecido, que espera por nós! Ninguém se lembrou da jeropiga, bebida que santamente liga com aqueles frutos castanhos saídos dos ouriços! E muito menos do bom do santo! Ninguém se lembrou!

Ninguém se lembrou?! Alto aí, que não é bem assim! O santo não foi esquecido! Pelo menos, uma professora trazia-o bem presente dentro de si. Tão presente, tão sentido, que não quis que o bom do santo ficasse no esquecimento. E como mais vale tarde que nunca, trouxe-nos o texto, que passamos a transcrever (1):

«Há cerca de 1600 anos, vivia na cidade de Sabária, na Hungria, um valente cabo-de-guerra romano. Quando lhe nasceu um filho (cerca do ano 316), pôs-lhe o nome de Martinho, pois Marte era, para os romanos, o deus da guerra.

Para que Martinho se habituasse às lides guerreiras, o pai levava-o, ainda muito pequeno, para os acampamentos. Mais tarde, Martinho foi viver para Itália com o pai, que entretanto tinha sido transferido para Pavia.

Certo dia, espavorido com uma forte trovoada, refugiou-se numa igreja, onde um bispo se encontrava a pregar um sermão sobre a vida de Cristo e dos Apóstolos. Martinho ficou tão interessado na doutrina que ouvira expor, que desde esse dia se começou a preparar para se tornar cristão.

Aos 15 anos, tornou-se soldado; e, pouco depois, foi enviado para Amiens, no norte da Gália.

Um dia, ao entrar na cidade, encontrou na berma da estrada um pobre a tremer de frio. Como não tinha dinheiro para lhe dar, Martinho repartiu com ele o que possuía: rasgou com a espada a capa ao meio e deu metade ao pobre. A partir deste gesto de generosidade se criou o costume, que em certas terras ainda perdura, de fazer do dia de S. Martinho um dia de «partilha». O tradicional «pão-por-Deus», que ainda existe nalgumas aldeias portuguesas, é disso exemplo.

S. Martinho rasgou com a espada a capa ao meio e deu metade ao pobre. In: No baloiço do Arco-Íris, 3º Ano do 1º Ciclo, Ed. Nova Gaia, 2001, p. 60.

Conta a história que, nessa mesma noite, Martinho teve uma visão: acordou e viu Jesus trazendo a metade da capa que ele dera ao pobre. Ficou tão contente que, logo na manhã seguinte, se dirigiu à igreja mais próxima e pediu para ser baptizado. Diz a tradição que, em memória de S. Martinho, no seu dia, nunca há frio. Daí o hábito de se designar o tempo soalheiro nas, proximidades de 11 de Novembro, por «Verão de S. Martinho».

Fizemos uma breve pesquisa na Internet acerca das castanhas e do patrono do dia 11 de Novembro. Foi uma fartura, não de castanhas, mas de informações acerca do santo e dos costumes relacionados com o santo dia da pinga, perdão, do S. Martinho. De entre elas, achámos curiosa a quadra que reproduzimos e que, segundo a fonte consultada, foi recolhida em Mangualde:

«No dia de S. Martinho,
Rabusca o teu soitinho;
Faz o teu magustinho,
Encerta o teu pipinho.»

Em relação à lenda, as versões foram ricas de variações. Se no texto que transcrevemos era S. Martinho um valente cabo-de-guerra, noutros os postos variaram ao gosto de quem contou a história, tendo mesmo chegado à posição de general. Quem quer que fosse ao certo o bom do Santo, ao certo do que temos a rigorosa certeza é que ficou para sempre na lembrança de todos.

Se quiserem provar daquilo que consultámos, sentem-se diante de um computador com acesso à Internet. Utilizem um bom motor de busca e digitem as palavras «castanhas» e «Martinho». E depois, façam a conveniente «rabusca», que até receitas com castanhas acharão.

Henrique J. C. de Oliveira

(1) - In: Escola Democrática.


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