BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


PÁGINA 1
Editorial
Alcino Carvalho
PÁGINA 2
Gaudi, o
o arquitecto do
imaginário

Claudete Albino
PÁGINA 3
Contos tradicionais portugueses
PÁGINA 4
O Ensino Recorrente e o
acesso ao ensino
superior

João Paulo C. Dias
PÁGINA 5
Dos registos
às flores

Duarte José F. Morgado
PÁGINA 6
Napoleão
não foi assassinado
Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 7
Sociedade Psi
Isabel Bernardino
PÁGINA 8
A aventura literária de
Almada Negreiros 

Paula Tribuzi
PÁGINA 9
A escrita da
casa
PÁGINA 10
A propósito do
Halloween
Dois contos
PÁGINA 11
Da Filosofia e
seu papel

Alcino Cartaxo
PÁGINA 12
Castanhas e
Jeropiga e
S. Martinho

Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 13
Hora do Recreio
HJCO
PÁGINA 14
Fac-símile da versão impressa
 

Sociedade PSI

Narciso, revendo-se na imagem que projecta nas águas do lago, é bem o símbolo da sociedade Psi. Lipovetsky apelida este homem narcísico de homo psychologicus.

«Conhece-te a ti mesmo» — eis o novo Imperativo Categórico!

Esta procura do autoconhecimento tem levado o homem a escavar cada vez mais fundo no seu complexo comportamento.

De Sócrates a Lacan, sem esquecer Freud, os fantasmas que condicionam o comportamento têm tentado ser compreendidos e desdramatizados.

Consiga um sorriso confiante com...

Hoje, vive-se numa sociedade que banalizou todos estes conhecimentos, e os transformou numa “ideologia” de consumo imediato. É a sociedade do individualismo, do intimismo, hedonismo e sedução — sociedade da transparência. É o reino do homo psychologicus. Por todo o lado proliferam biografias, análises intimistas que exploram um voyeurismo sem precedentes.

A perda do pudor fez desaparecer a fronteira público/privado. O homem psi sujeita-se a todas as exposições que aparentemente o tornam mais próximo do Outro.

Desde o Big Brother do povo ao Big Brother dos “tios” e “tias”, dos noticiários a explorarem as emoções das tragédias humanas, dos políticos a exporem a sua privacidade nas campanhas eleitorais, tudo isso contribui para melhor alicerçar este intimismo da sociedade psi.

O hedonismo e a sedução servem-se também “à la carte”! Que o diga a publicidade que nos seduz e nos faz acreditar que Existir é Consumir.

E de novo vem a Psicologia dar uma ajudinha!

Analisam-se teorias e práticas psicológicas de forma a entender o complexo comportamento humano e tornar mais eficaz o processo de consumo. É preciso corresponder às motivações do consumidor e despertar as menos activas.

O marketing identifica características da personalidade do consumidor alvo para estimular traços relevantes.

Num anúncio de um perfume, pode-se fazer apelo ao id (inconsciente Freudiano) como armazém de pulsações básicas. O sexo e a agressividade podem ser apresentados como necessidades de satisfação imediata e a escolha do modelo associada a uma mensagem eficaz podem completar esse quadro. A mensagem hedonista leva o consumidor por identificação à compra do perfume.

Aprofundando um pouco mais: cada indivíduo tem de si uma auto-imagem. Nesta vê-se como um certo tipo de pessoa, com certos traços, hábitos, posses, relacionamentos e formas de comportamento. A partir daqui foram identificadas várias auto-imagens do consumidor alvo.

● Auto-imagem real — como o consumidor se vê a si mesmo, e a que a publicidade apela para vender produtos domésticos, por exemplo: produtos de limpeza;

● Auto-imagem social — como o consumidor gostaria que os outros o vissem, e a ela as empresas apelam sempre que querem vender automóveis topo de gama, vestuário de marca, etc.;

● Auto-imagem ideal — traduz o modo como os consumidores gostariam de ser vistos; e aqui apela-se à fantasia. Por exemplo, promover uma viagem exótica.

Estes são alguns exemplos de como as empresas segmentam os seus mercados para melhor seduzirem o consumidor.

Em conclusão, no meio de toda esta dispersão psi, o homo psychoIogicus vive sem opacidade, numa exteriorização permanente, que o deixa cada vez mais vazio e solitário. Só lhe resta a proposta de Woody Allen... Reencontre-se no divã do seu Psicanalista... Sociedade PSI.

Isabel Bernardino


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