1ª página

N.º 18

Junho 2006

Ver e ouvir / Ler e escrever


E se...

Filipa Lacerda_11º E

Se me basear nas provas, nas experiências feitas por milhares de cientistas ao longo dos anos, sei que sou constituída por ADN, ossos, pele, músculos, sangue (e cá está uma prova que eu posso experimentar: se me cortar, sangro, logo, o sangue faz parte de mim), já começo a acalmar-me… Já tenho mais razões para acreditar que realmente existo. Mas, espera lá, e se tudo isto em que acredito for falso?

 

 

Afinal, o que é, de facto, real?

Haverá algo ou alguém que possua essa característica?

Será que nós, pessoas comuns, que nos autoconsideramos livres e afinal somos prisioneiros da nossa realidade, existimos?

Não poderemos ser meramente simples marionetas comandadas por alguém? Mas somos tantos, haverá alguém capaz de nos movimentar a todos em simultâneo? E será que, quando nos apaixonamos ou fazemos um amigo, ou estabelecemos qualquer tipo de relação com outro alguém, não terá sido um erro de quem movimenta as marionetas, supondo agora, que sejamos mesmo marionetas…Não poderá ele ou ela, ou o que quer que seja, ter baralhado os fios e dado um nó cego, sem que tivesse intenção de o fazer?...

Mas, reconsiderando, se fosse-mos marionetas, não nos seria dado o privilégio de as termos também e de, em criança (e não só) brincarmos com elas…

Não encontro solução para este problema, que se torna, a cada dia, mais impertinente e perturbador.

Como é que posso ter a certeza de que este momento é, de facto, real ou se estarei a sonhar e daqui a poucos minutos vou acordar com aquele som horrível do despertador?

Despertador…bem, ouvimo-lo todos os dias, mas será que nos desperta realmente para alguma coisa? Um objecto tão insignificante (julga-mos nós) e que, para qualquer ser humano tem apenas uma única função, "ACORDA!!! São horas se ires para o teu ciclo vicioso onde não te questionas sobre nada"… Mas tem um nome…Será que, esse objecto insignificante, não é apenas um objecto insignificante, e tenta, todos os dias, exaustivamente "despertar-nos" para o que está para além da nossa rotina? Se assim for, duvido que algum dia tenha sucesso. Não conheço ninguém que não tenha medo do que não conhece, mesmo inconscientemente.

E por falar em medo…começo também a ficar com medo de realmente não existir!

Mas, para existir, para ser humano, não teremos que ter sentimentos? Já que nos auto-intitulamos como a única espécie racional...

Ok! Podemos até ser a única espécie, de todas as que conhecemos, a construir pensamentos, mas não acredito que sejamos a única a sentir. Portanto, lá por sentir medo, não posso ter a certeza que realmente existo.

Dúvidas, muitas dúvidas, dúvidas infinitas encheram agora esta sala (quase) vazia. Quer dizer, se não existir ela está vazia, mas se não existo, para que servem as salas?

Se alguém ou alguma coisa entrasse também com as duvidas e me desse a escolher entre ficar aqui sem nunca questionar nada e conhecer a realidade, algo que, julgo eu, não se pareça em nada com o nosso dia-a-dia, com a rotina da qual não queremos sair por acreditarmos que não existe mais nada para além disso. Que escolheria eu?

Provavelmente não acreditaria em nada do que me estariam a dizer e pensaria " não vás ao psiquiatra, não, que vais ver como é que ficas…" Contudo, decerto que ficaria a pensar no que me tinham acabado de dizer… "Será que adormeci por instantes enquanto escrevia e sonhei a coisa mais absurda do mundo!?...", "e se aquele doido tem mesmo razão", " se acreditamos num Deus que comanda tudo e nos observa, porque não acreditar que somos fantoches na mão de alguém, desse Deus, por exemplo?"…

Lá vêm elas, as duvidas, mais e mais e mais…Quase me sufocam, mas tenho a certeza que vão chegar muitas mais.

Se me basear no que suponho que realmente conheço sei que esta sala é real. Engraçado… agora tenho a sensação que já não sei… São as dúvidas, estão a tornar-se demasiado impertinentes!

Deixem-me em paz, só um bocadinho!

Ora, onde é que eu ia? Ah! Se me basear nas provas, nas experiências feitas por milhares de cientistas ao longo dos anos, sei que sou constituída por ADN, ossos, pele, músculos, sangue (e cá está uma prova que eu posso experimentar: se me cortar, sangro, logo, o sangue faz parte de mim), já começo a acalmar-me… Já tenho mais razões para acreditar que realmente existo. Mas, espera lá, e se tudo isto em que acredito for falso?

Não. Eu acredito que existo, embora não possua provas e justificações suficientes para que isso seja mesmo verdadeiro.

Ignoro completamente o meu futuro e tenho provas, adquiridas da minha experiência pessoal, para além de acreditar, que nunca o conhecerei, só realmente quando o vivo. Porque é que dizemos para viver o presente se, passado um segundo já estamos no futuro? Acredito que vivemos mais no futuro do que no presente, mas como não passa de uma crença não posso persuadir ninguém a acreditar nela também pois não possuo provas que possam justificar os meu argumentos.

Bem, se acredito e tenho provas de que não poderei conhecer o futuro, tenho algo em que se pode acreditar e que é, para alem de necessário, suficiente.

Bolas! Mas será que vocês não me deixam em paz? Pronto, está bem, não, não tenho a certeza de quase-nada! Só de estar a ser atacada, quase agredida por vocês… Dúvidas e dúvidas e dúvidas, estão a fazer com que comece a acreditar que sou uma total e completa ignorante e que realmente não conheço nada.

Mas eu quero conhecer! Finalmente, falei mais alto que vocês!!!

Sei que há um número infinito de coisas que ignoro e julgo conhecer, mas também sei, que sei algumas coisas… ou se calhar não sei nada…

Sou real e tudo à minha volta é real. Chiu! Calem-se, deixei-me acreditar sem duvidar! Durmam uma sesta, vocês nunca se cansam?

Sei do que gosto e do que não gosto, embora isso mude constantemente. Sei que estou numa escola e que às cinco horas tenho que ir embora, contudo, não sei que horas são.

Se estou a escrever, a sentir, a pensar, se sei que tenho um corpo (que vejo) e vou conhecendo, então é porque existo. E, usando ideias de Descartes ou dúvidas, é porque tenho que ter cérebro para o fazer. Ora, os cérebros não andam por aí a passear sozinhos e por isso, e se estou a escrever (para além da caneta) com alguma coisa é. Posso concluir que tenho um corpo e uma alma que faz com que veja tudo com uma certa subjectividade e que me ajuda a compreender que não basta dizer "eu conheço" para realmente conhecer. Então, não posso afirmar que existo, mas também não posso afirmar que não existo.

Contudo, acredito e tenho provas justificadas para afirmar: eu existo!

Ai! Ainda aqui estão? Ok, ok, têm razão. Mas não vou, por agora, explorar profundamente a essa ideia, até porque duvido que algum dia tenha a certeza.

Será que existo mesmo…? n


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