Um nível elevado de
produção
Seis grandes companhias produtoras,
Shochiku, Toho, Daiei, Shin Toho, Toei e Nikkatsu, são responsáveis por
cerca de 90% de toda a produção japonesa. Os restantes 10% são
representados por pequenos grupos produtores, na sua maioria
trabalhando em base cooperativista, sistema que goza de particular
estima no Japão.
Desde 1957 que todos os estúdios se
encontram devidamente apetrechados para a produção de filmes de qualquer
formato ou técnica especial. Uma grande parte desta produção é filmada a
cores e nós, em Portugal, já tivemos oportunidade de admirar a
extraordinária qualidade da cor japonesa. A manufactura é inteiramente
local, satisfazendo-se as necessidades da indústria tanto na qualidade
como na quantidade.
As receitas obtidas em 1957 elevaram-se
a 188 milhões de dólares, o que não causará espanto se soubermos que
existem no Japão 7000 salas públicas. Só em Tóquio funcionam 700
cinemas. Estatísticas recentes afirmam que cada japonês vai ao cinema
anualmente 12,1 vezes e este número está aumentando constantemente, Isto
representa que na totalidade se vendem 1100 milhões de bilhetes
anualmente.
Embora a produção nacional seja
extraordinariamente elevada, o público japonês tem possibilidade de
conhecer os melhores filmes produzidos no mundo inteiro, pois 190
películas são importadas anualmente dos Estados Unidos, França,
Inglaterra, Itália, Alemanha e outros países.
Não se pense no entanto que o grande
número de filmes produzidos no Japão e destina a um público unicamente
preocupado com umas horas de evasão dos problemas quotidianos. Pelo
contrário, o público japonês é muito exigente e só assim se justifica a
constante qualidade desta cinematografia.
O campeão dos
festivais
De 1951 a 1954, o cinema japonês
espantou o mundo ocidental, que o recebeu como uma verdadeira revelação.
Uma série notável de filmes, de que salientamos «A Porta do Inferno», «A
Vida de O’Haru», «Contos da Lua Vaga», «Pescadores de Caranguejos»,
«Amores de /página 11/
Samurai», «Os Sete Samurais», «O Intendente Sansho», «Viver», «A Rua sem
Sol», «Hiroshima» e dezenas de outros provocaram a maior admiração nos
festivais cinematográficos, obtendo os prémios mais importantes
conferidos nestes certames.
Muitos críticos afirmaram na época que a
maioria destes filmes eram produzidos unicamente com a intenção de
ganhar os prémios. Puro engano, pois a produção dos anos seguintes veio
confirmar que a cinematografia japonesa se define essencialmente por um
grande respeito pelo público, mantendo a tradição milenária da sua
cultura, sem dúvida uma das mais antigas do mundo.
Cinema experimental |
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Na produção fílmica abordam-se
variadíssimos temas da vida do Japão de hoje, como os conflitos entre
gerações, a destruição de Hiroshima e Nagasaki e o perigo atómico,
militarismo e antimilitarismo, além de outras produções mais
recreativas, desportivas, musicais, policiais, etc., merecendo destaque
a importância que nela desempenham os jovens. Só se lastima que nos seja
quase desconhecido o cinema mais produtivo do mundo, o cinema dum país
onde as escolas têm aulas obrigatórias para o seu estudo. |
Pode-se afirmar com segurança que a
produção cinematográfica japonesa se caracteriza por um tipo de produção
experimental, pois os realizadores e argumentistas gozam de inteira
liberdade para a concepção dos seus filmes. Talvez pareça estranho que
uma cinematografia dominada por seis grandes empresas favoreça o
desenvolvimento de uma produção de qualidade. É o que sucede no Japão
onde as companhias produtoras permitem o aparecimento de obras dignas.
Nenhum grande realizador guarda na gaveta projectos de filmes
irrealizáveis. A acepção do filme «maldito» não existe no Japão. Os
grandes inovadores (Kurosawa, Mizoguchi, Gosho, Kinugasa, Imai, Shindo)
jamais conheceram a menor dificuldade na concretização dos seus
projectos. E todos os filmes destes grandes criadores obtiveram sucesso
público.
Os realizadores sentem-se apoiados pelo
público que os encoraja a novas obras audaciosas e inconformistas.
Para esta valorização do espectáculo
cinematográfico contribui decisivamente o facto do cinema exercer uma
grande influência na educação do povo. Neste país, sob tantos pontos de
vista exemplar, o cinema faz parte integrante da disciplina escolar. O
estudo do cinema inicia-se aos cinco anos de idade e prolonga-se pela
vida fora. Existe uma produção de filmes para crianças que tem em conta
a mentalidade do público para que se dirige. Não admira portanto que o
cinema ocupe um lugar destacado na formação cultural do povo japonês.
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