A Ilha parecia estar sempre em festa
por causa da algazarra e do cantar dos galos, quase em
todos os momentos e por todos os cantos.
A alegria era infernal.
Mas os galos monopolizavam a Ilha,
esquecendo-se de que não eram os únicos habitantes.
Havia pessoas que estavam contentes
com os galos, por causa da sua alegria contagiosa.
Portanto, achavam adequado e apoiavam o barulho feito
pelas aves. Outros estavam indiferentes com a algazarra.
Existia, no entanto, um terceiro
grupo, o mais numeroso, que achava impróprio o barulho
feito pelos galos, encontrando-se, portanto, zangados
com os galináceos.
Não podendo aguentar por mais tempo
tanto barulho, o terceiro grupo mandou, através de um
mensageiro, o seguinte aviso:
- Aconselhamo-vos a emigrarem e a
fixarem-se num local muito afastado de nós. Caso
contrário, haverá guerra entre os nossos grupos no
período de quarenta e oito horas. O vencedor ficará no
terreno.
Os galos, como eram muito educados e
delicados, optaram pela primeira hipótese, convocando
imediatamente uma reunião cujo tema era a escolha do
rei para chefiar uma expedição que se iria processar
imediatamente.
A escolha recaía sobre um galo
preto, muito grande.
Depois dos preparativos, a
emigração começou.
Deram voltas e mais voltas às ilhas
e ilhéus, procurando incansavelmente um sítio bom, que
reunisse todas as condições para ter uma vida alegre.
Depois de muito andarem e de muito
procurarem, passado um ano, encontraram o lugar ideal,
que parecia criado de propósito para os galos,
fixando-se então aí.
Desde esse tempo, jamais se ouviu os
galos cantarem desordenadamente de norte a sul, de este
a oeste, mas sim num lugar determinado e a horas certas.
Então, os habitantes das ilhas
designaram esse lugar por Canta Galo.
Nos nossos dias, esse local ainda
existe e surgiu um distrito com a mesma designação.
Contos tradicionais santomenses,
Direcção Nacional da Cultura da República
Democrática de S. Tomé e Príncipe, 1984, pp. 47-51.