BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


PÁGINA 1
Editorial
Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 2
Repensar as
medidas pedagógicas

João Paulo C. Dias
PÁGINA 3
Jornais Escolares
Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 4
Contos populares
portugueses

Dá-me o meu meio tostão
PÁGINA 5
Dia da Poesia com
Rui Grave

HJCO e Paula Tribuzi
PÁGINA 6
Divulgação
HJCO e J. Paulo C. Dias
PÁGINA 7
Computadores e Prof2000
HJCO
PÁGINA 8
25 de Abril de 1974 - Uma leitura possível
Alcino Cartaxo
PÁGINA 9
De alienação em alienação
Isabel Bernardino
PÁGINA 10
O destino - Já traçado?
Sérgio Loureiro
PÁGINA 11
Dia da África
Alunos PALOP
PÁGINA 12
Escrita da Casa e Humor
Diversos
PÁGINA 13
Hora do Recreio
HJCO
PÁGINA 14
Fac-símile da versão impressa
 

Após a queda do muro de Berlim, que sentido tem falar em Marxismo? A utopia comunista desmoronou-se e nada mais ficava de pé.

Mas a filosofia de Marx poderá ser confundida com a utilização ideológica que dela foi feita?

Tantos marxismos, tantas leituras diferentes, levaram-nos de novo ao jovem Marx, para compreendermos a actualidade de alguns dos conceitos centrais da sua filosofia, a saber: alienação e ideologia.

Vivemos hoje no seio da terceira revolução industrial - a revolução informática; portanto, muito distantes do início da revolução industrial, pano de fundo da filosofia marxista!

Continuará a nossa sociedade mergulhada numa ideologia alienante que leva o homem a esquecer-se de si mesmo?

Nos «Escritos de Juventude», Marx afirma: «(...) A miséria do trabalhador aumenta com o poder e o volume da sua produção. (...) O trabalhador torna-se uma mercadoria tanto mais barata, quanto maior o número de bens que produz. Com a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção directa a desvalorização do mundo dos homens. (...)»

 

Ano de 2000 — Warnier, ao reflectir sobre a mundialização da cultura, constata: «O que faz admirar o observador é a extrema desigualdade entre países e entre classes sociais, no interior do mesmo país, perante os fluxos mundiais da cultura industrializada. Sabe-se que cerca de um bilião de seres humanos vive abaixo do limiar da pobreza. Esse limiar assinala duas coisas:

1º - que esse bilião sofre de má nutrição e de miséria crónica;

2º - que a pobreza exclui-os da comunicação e de redes sociais.»

Marx propõe-nos, para alteração deste cenário, uma prática revolucionária, que alterará as condições em que a ideologia se torna alienante, isto é, falsificadora da realidade e das condições de vida do homem.

E hoje?

Século da globalização ou mundialização, vivemos numa época de economia de mercado, que tem como principais protagonistas os países do primeiro mundo: Estados Unidos da América; Europa e Ásia rica. Este tipo de economia necessita da supressão de barreiras alfandegárias e da protecção de instituições, como a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, etc., que supe-rintendem a relação entre países e mercados.

Inseparável da globalização são também as grandes empresas multinacionais que se instalam na América Latina, África e, ultimamente, também na Europa do leste.

No velho capitalismo marxista, era a mão de obra que se deslocava. Agora é o capital.

Bairoch refere que o «mito» mais extraordinário da ciência económica é a ideia de que o mercado livre constitui o caminho de passagem para o desenvolvimento.

Qual o papel da ideologia neste contexto da globalização?

A ideologia de suporte ao mercado livre é o neoliberalismo. O poder é transferido para as entidades privadas (empresas multinacionais) e existe um corporativismo estatal, que procura assegurar as boas condições para o desenvolvimento das mesmas nos países em que se instalam.

Este poder veio oferecer às empresas a tentadora perspectiva de fazer retroceder as vitórias dos trabalhadores no plano dos direitos humanos. O facto de uma empresa operar simultaneamente em vários países, leva a que, em caso de greve, não surja uma ruptura no mercado, o que vai diminuir a força reivindicativa dos trabalhadores.

Qual o valor dominante nesta ideologia? É o lucro.

Continuamos, assim, instalados no velho processo de alienação, denunciado por Marx.

O modelo de vida proposto por esta ideologia e solidificado pelos mass media é o modelo consumista.

A essência do Homem desloca-se do trabalho (praxis) para o “ter”. Como Marcuse salienta, o homem reconhece-se nas suas mercadorias, no seu carro, nos seus objectos. E este novo homem encontra um aliado e amigo para a realização da sua essência: A BANCA. É esta que abre a porta do paraíso ao homem comum do século XXI.

A ideologia neoliberal falsifica a realidade, levando o homem a acreditar (alienação) que é nas grandes catedrais de consumo – nos centros comerciais - que ele será feliz. E esta alienação repercute-se no dia a dia do cidadão.

Na ânsia de muito “ter”, porque só assim “existe”, o homem torna-se um trabalhador a tempo inteiro, com todos os custos sociais que isso tem para a família e jovens.

Os mass media e a publicidade ajudam a consolidar esta nova visão do mundo.

Concluindo, o Homem está cada vez mais despojado da sua interioridade - alienado - e cada vez mais vazio. Se a revolução informática transformou o homem num ser da aldeia global, a comunicação não veio enriquecer a interioridade humana. Hoje existe-se pelo vedetismo - existir é ser visto nos mass media

             - pelo chatismo (Internet);
             - pelos paraísos artificiais.

 

Que saída para esta situação?

Tal como diria Marx, por uma prática revolucionária que:

- Repense a economia;
- Repense a relação homem-natureza;
- Repense o que é ser Homem e o traga para uma
    praxis não alienada.

«(...) Ao contrário das declarações que dão o comunismo de Marx como algo ultrapassado - por o confundir com as experiências socialistas feitas em seu nome -, o que a sua teoria da revolução ainda nos é capaz de ensinar é justamente o seu sentido anti-autoritário e democrático, a sua capacidade de reconhecer as potencialidades emancipadoras no interior da sociedade presente.» LOWY.

Isabel Bernardino


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