Dizem os mais
antigos que cada pessoa nasce com o destino traçado.
Normalmente, esta profecia é evocada quando um qualquer
indivíduo deixa o mundo dos vivos para entrar no Reino
dos Céus.
Na realidade,
tal frase, de que o destino nasce com cada um de nós,
é vulgarmente parafraseada pelas pessoas de mais idade.
Para os jovens, na sua maior parte, o destino
constroi-se no dia a dia das pessoas. Mas, poderão
perguntar: «qual das gerações estará certa?» Eu,
pessoalmente, não posso, porque não sei, responder a
tal dúvida, até porque muitas das vezes também a
tenho.
O que é certo
é que, ao longo de uma vida, atitudes existem que levam
uma pessoa a mudar de um rumo previsto para curto,
médio ou até longo prazo. Digamos que até um
acontecimento pode fazer pensar muita gente e levar à
escolha de outro caminho para a vida.
Tentarei ser
mais concreto e preciso. Abro neste espaço, para o qual
fui convidado a escrever algumas linhas, uma excepção
à minha regra. Irei falar um pouco sobre a minha
pessoa. Desvendar segredos? Contar a história da minha
vida? Nem uma coisa, nem outra! Apenas tentar dar a
conhecer o que pode ter influenciado a minha maneira de
ser.
Trabalho neste
espaço escolar há sensivelmente quatro anos. Antes de
entrar no mundo laboral, fazia o que muitos jovens fazem
e outros deveriam fazer: estudava! Por razões
financeiras, tive que interromper o percurso académico
e começar a trabalhar. Nada que na altura me metesse
medo. Achava eu, naquele tempo, que até seria bem
melhor, porque iria ganhar dinheiro e viver um pouco
mais desafogado, deixando essa dependência que muitos
têm em relação aos pais.
A decisão, na
altura, pareceu-me a mais correcta. Com 25 anos e um
grau académico quase concluído, o melhor seria meter
mãos ao trabalho. “Ganhar dinheiro é que é bom!
Isto é que é vida!” — pensava eu.
Ao entrar na
escola, deparei-me com um mundo completamente diferente
do que aquele a que estava habituado. A responsabilidade
tinha, necessariamente, que ser outra. Enfim, passava a
ser um profissional no meu ofício. Tinha, em primeiro
lugar, que mostrar às pessoas que confiaram em mim que
eu era uma aposta ganha. A minha grande preocupação
era fazer o melhor que podia e sabia.
Como todos
devem saber, sempre que vamos para um sítio novo,
levamos ideias muito próprias, que achamos as mais
convenientes para o nosso posto. E logo a mim, que me
tinha calhado ficar com o atendimento dos professores,
não podia optar por uma atitude que os levasse a pensar
que do outro lado do balcão estava um indivíduo sem
qualidades, por vezes a «armar-se-em-bom» só para
mostrar que era diferente dos outros. Aliás, isso não
ficaria bem, nem diante dos docentes, nem dos próprios
colegas de profissão, que já andam nesta vida há
alguns anos.
Para que tudo
corresse bem, confesso que tive toda a ajuda necessária
dos colegas, Uns mais que outros, claro está! Também
da parte dos superiores hierárquicos houve a
preocupação de que nada me faltasse. Mas também aqui,
porque justiça deve ser feita, essa preocupação
revelou-se mais em alguns do que noutros.
E eu? Estarei
agradado com a vida que levo? O meu destino estaria
traçado desde o início?
Há coisas que,
mais do que outras na vida, nos alegram e nos fazem
felizes. Em relação à minha pessoa, passa-se
exactamente o mesmo. A minha profissão, por parte de
alguns, faz-me feliz e satisfeito; mas também me deixa
triste e cabisbaixo quando, ao fim do dia, vou para
casa. Mas de uma coisa estou certo, porque o sinto e
nunca o esquecerei: foi precisamente neste
estabelecimento de ensino que conheci um Ser Humano de
grande nível, com uma inteligência, uma humildade, um
coração e uma grandeza a toda a prova. Digamos que
essa pessoa fez com que eu visse o mundo com outros
olhos. Que não tomasse atitudes com, como se diz, o
coração ao pé da boca. Os seus conselhos, a sua
disponibilidade para ouvir, o sentimento de ajudar o
próximo, independentemente das suas escolhas sociais,
religiosas e/ou políticas, fizeram com que eu hoje
chegue à conclusão de que, na realidade, me ajudou a
construir o meu destino. Naquelas horas em que acabo o
dia, triste com alguma coisa ou com alguém da
secretaria, sabe tão bem ouvir essa pessoa! Mesmo que
não saiba aquilo que me vai no interior, só as suas
palavras dão a força necessária para voltar no dia
seguinte e encarar tudo e todos com outra disposição e
vontade.
Nestes dias
tenho andado triste e infeliz. Porque já tenho
conhecimento que essa pessoa irá deixar a escola. Pelo
menos, fico com a alegria de saber que não deixa o
mundo dos vivos, mas apenas e só irá deixar o
seu/nosso espaço escolar. Se existem pessoas neste
mundo a quem se devia prestar uma homenagem, era a esse
Homem. Ao menos porque me faz feliz.
O meu destino,
vou continuando a construi-lo devagarinho, sempre
pensando nos conselhos que essa pessoa me daria. Por sua
causa, hoje sou muito mais observador e calmo do que era
antigamente. Aqueles que continuam a viver achando que
dominam, a seu bel-prazer,respondo com o meu
distanciamento e a minha frieza.
Termino estes
simples e humildes desabafos como o faço noutra
situação já conhecida de muitos vós: já agora, vale
a pena pensar nisto!
Sérgio Loureiro