BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


PÁGINA 1
Editorial
Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 2
Repensar as
medidas pedagógicas

João Paulo C. Dias
PÁGINA 3
Jornais Escolares
Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 4
Contos populares
portugueses

Dá-me o meu meio tostão
PÁGINA 5
Dia da Poesia com
Rui Grave

HJCO e Paula Tribuzi
PÁGINA 6
Divulgação
HJCO e J. Paulo C. Dias
PÁGINA 7
Computadores e Prof2000
HJCO
PÁGINA 8
25 de Abril de 1974 - Uma leitura possível
Alcino Cartaxo
PÁGINA 9
De alienação em alienação
Isabel Bernardino
PÁGINA 10
O destino - Já traçado?
Sérgio Loureiro
PÁGINA 11
Dia da África
Alunos PALOP
PÁGINA 12
Escrita da Casa e Humor
Diversos
PÁGINA 13
Hora do Recreio
HJCO
PÁGINA 14
Fac-símile da versão impressa
 

Já traçado ou em construção?

Dizem os mais antigos que cada pessoa nasce com o destino traçado. Normalmente, esta profecia é evocada quando um qualquer indivíduo deixa o mundo dos vivos para entrar no Reino dos Céus.

Na realidade, tal frase, de que o destino nasce com cada um de nós, é vulgarmente parafraseada pelas pessoas de mais idade. Para os jovens, na sua maior parte, o destino constroi-se no dia a dia das pessoas. Mas, poderão perguntar: «qual das gerações estará certa?» Eu, pessoalmente, não posso, porque não sei, responder a tal dúvida, até porque muitas das vezes também a tenho.

O que é certo é que, ao longo de uma vida, atitudes existem que levam uma pessoa a mudar de um rumo previsto para curto, médio ou até longo prazo. Digamos que até um acontecimento pode fazer pensar muita gente e levar à escolha de outro caminho para a vida.

Tentarei ser mais concreto e preciso. Abro neste espaço, para o qual fui convidado a escrever algumas linhas, uma excepção à minha regra. Irei falar um pouco sobre a minha pessoa. Desvendar segredos? Contar a história da minha vida? Nem uma coisa, nem outra! Apenas tentar dar a conhecer o que pode ter influenciado a minha maneira de ser.

Trabalho neste espaço escolar há sensivelmente quatro anos. Antes de entrar no mundo laboral, fazia o que muitos jovens fazem e outros deveriam fazer: estudava! Por razões financeiras, tive que interromper o percurso académico e começar a trabalhar. Nada que na altura me metesse medo. Achava eu, naquele tempo, que até seria bem melhor, porque iria ganhar dinheiro e viver um pouco mais desafogado, deixando essa dependência que muitos têm em relação aos pais.

A decisão, na altura, pareceu-me a mais correcta. Com 25 anos e um grau académico quase concluído, o melhor seria meter mãos ao trabalho. “Ganhar dinheiro é que é bom! Isto é que é vida!” — pensava eu.

Ao entrar na escola, deparei-me com um mundo completamente diferente do que aquele a que estava habituado. A responsabilidade tinha, necessariamente, que ser outra. Enfim, passava a ser um profissional no meu ofício. Tinha, em primeiro lugar, que mostrar às pessoas que confiaram em mim que eu era uma aposta ganha. A minha grande preocupação era fazer o melhor que podia e sabia.

Como todos devem saber, sempre que vamos para um sítio novo, levamos ideias muito próprias, que achamos as mais convenientes para o nosso posto. E logo a mim, que me tinha calhado ficar com o atendimento dos professores, não podia optar por uma atitude que os levasse a pensar que do outro lado do balcão estava um indivíduo sem qualidades, por vezes a «armar-se-em-bom» só para mostrar que era diferente dos outros. Aliás, isso não ficaria bem, nem diante dos docentes, nem dos próprios colegas de profissão, que já andam nesta vida há alguns anos.

Para que tudo corresse bem, confesso que tive toda a ajuda necessária dos colegas, Uns mais que outros, claro está! Também da parte dos superiores hierárquicos houve a preocupação de que nada me faltasse. Mas também aqui, porque justiça deve ser feita, essa preocupação revelou-se mais em alguns do que noutros.

E eu? Estarei agradado com a vida que levo? O meu destino estaria traçado desde o início?

Há coisas que, mais do que outras na vida, nos alegram e nos fazem felizes. Em relação à minha pessoa, passa-se exactamente o mesmo. A minha profissão, por parte de alguns, faz-me feliz e satisfeito; mas também me deixa triste e cabisbaixo quando, ao fim do dia, vou para casa. Mas de uma coisa estou certo, porque o sinto e nunca o esquecerei: foi precisamente neste estabelecimento de ensino que conheci um Ser Humano de grande nível, com uma inteligência, uma humildade, um coração e uma grandeza a toda a prova. Digamos que essa pessoa fez com que eu visse o mundo com outros olhos. Que não tomasse atitudes com, como se diz, o coração ao pé da boca. Os seus conselhos, a sua disponibilidade para ouvir, o sentimento de ajudar o próximo, independentemente das suas escolhas sociais, religiosas e/ou políticas, fizeram com que eu hoje chegue à conclusão de que, na realidade, me ajudou a construir o meu destino. Naquelas horas em que acabo o dia, triste com alguma coisa ou com alguém da secretaria, sabe tão bem ouvir essa pessoa! Mesmo que não saiba aquilo que me vai no interior, só as suas palavras dão a força necessária para voltar no dia seguinte e encarar tudo e todos com outra disposição e vontade.

Nestes dias tenho andado triste e infeliz. Porque já tenho conhecimento que essa pessoa irá deixar a escola. Pelo menos, fico com a alegria de saber que não deixa o mundo dos vivos, mas apenas e só irá deixar o seu/nosso espaço escolar. Se existem pessoas neste mundo a quem se devia prestar uma homenagem, era a esse Homem. Ao menos porque me faz feliz.

O meu destino, vou continuando a construi-lo devagarinho, sempre pensando nos conselhos que essa pessoa me daria. Por sua causa, hoje sou muito mais observador e calmo do que era antigamente. Aqueles que continuam a viver achando que dominam, a seu bel-prazer,respondo com o meu distanciamento e a minha frieza.

Termino estes simples e humildes desabafos como o faço noutra situação já conhecida de muitos vós: já agora, vale a pena pensar nisto! 

Sérgio Loureiro


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