BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


PÁGINA 1
Editorial
Alcino Carvalho
PÁGINA 2
Amadeu de Sousa - Homenagem
Paula Tribuzi
PÁGINA 3
Contos tradicionais portugueses
PÁGINA 4
Uma pedra que era doce
Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 5
Dia da África
Poetas Africanos
PÁGINA 6
Mudar nem sempre é melhorar
João Paulo C. Dias
PÁGINA 7
Navegando no espaço virtual
Alcino Cartaxo
PÁGINA 8
Prémio literário J. Estêvão
PÁGINA 9
Acerca do SEUC
Apontamentos

Isabel Bernardino
PÁGINA 10
Organização e funcionamento do SEUC
João Paulo C.Dias
PÁGINA 11
Receitas para o fígado
PÁGINA 12
Hora do Recreio
HJCO
PÁGINA 13
Fac-símile da 1ª página
 

Receitas para o fígado

Há muitos anos, já lá vão mais de quarenta, descobrimos que uma das melhores maneiras de combater o stress era dando umas boas gargalhadas, convivendo e contando anedotas e histórias pitorescas. Lembro-me até de um colega que, à hora do almoço na cantina do liceu, era o nosso principal animador nos intervalos entre a sopa e o prato seguinte. Na época ainda não se tinha inventado o sistema de self-service. Era a funcionária da cantina que trazia a comida para as mesas. Esses momentos de espera eram amenizados por esse colega, que era um autêntico livro humorístico. Sabia de cor e salteado centenas de histórias e anedotas. Bastava-nos pegar na lista e indicar o número da história, para termos, durante uns minutos, uns momentos de franca gargalhada. Às vezes tão franca, que vinham os professores junto de nós saber o que se passava e mandar-nos ter um pouco mais de calma.

Como os amigos não estão sempre presentes e aquele, em especial, era um reportório vivo de anedotas, comecei a recolher algumas das histórias e a registá-las. Graças a uma máquina de escrever muito antiga que o meu pai me dera, comecei a passar as anedotas em folhas que constituíam um pequeno livro de formato pequeno, a que dera o título de «Receitas para o fígado». Tive, há dias, o prazer de descobrir essas folhas, que pensava estarem já perdidas. Desse livro, retirámos duas histórias. A segunda, é do tempo em que o presidente da república do Brasil era Getúlio Vargas. Os presidentes mudaram, mas o que não mudou foi a graça da história dos dois irmãos chineses.

Um problema de W.C.

Uma senhora inglesa que sofria de ataques nervosos foi aconselhada pelo médico a ir fazer uma estadia numa pequena aldeia alemã e aí procurou alojamento. Não sabendo alemão, dirigiu-se ao mestre escola, que arranhava um bocadito de inglês, a fim de ele lhe dar algumas indicações, as mais necessárias. De volta ao hotel, depois de ter arranjado a casa que lhe convinha, lembrou-se que não tinha perguntado onde ficava o W. C. e, sobre este, escreveu ao mestre. Este recebeu a carta e, como nunca tinha ouvido nem visto escrito aquela abreviatura, pensou que a senhora era religiosa e se queria referir a “Weld-Chapel” (Capela Campestre). Neste sentido, respondeu-lhe com a seguinte carta:

Minha Senhora

A W. C. fica situada a sete quilómetros de sua casa, no meio de um lindo panorama e está aberta às terças, quintas e sextas.

É deplorável para vossa excelência esta distância, se está no hábito de lá ir frequentemente, mas de certo lhe será grato saber que um grande número de pessoas leva para lá um lanche e ali passam o dia todo. Outras há que vão de carro e, mesmo sem pressa, chegam a tempo. Como no Verão há muitos visitantes, aconselho-vos a ir cedo. A acomodação é boa, havendo aproximadamente oitenta lugares; mas, por vezes, todos estão preenchidos e, nesse caso, há urna grande quantidade de salas onde se pode estar de pé.

A campainha toca dez minutos antes da abertura do W. C. Recomendo-lhe principalmente a ir às sextas-feiras, pois nesse dia há acompanhamento a órgão. A acústica é esplêndida, pois até o mais delicado som se ouve distintamente por todo o edifício. Os papeis com hinos estão pregados nas paredes. Entretanto, ficarei encantado de lhe conservar o melhor lugar e de ser o primeiro a levá-la lá.

Minha mulher e eu já há oito meses que não vamos à W. C., o que muito nos incomoda, mas para lá chegar é uma grande caminhada.

Creia-me atenciosamente

Fulano tal...

História complicada de dois irmãos

Fú e Kú eram dois irmãos chineses. Fú foi para o Brasil, em 1922, deixando o Kú na China. Passados meses, Fú mandou vir o Kú da China. Este, assim que chegou, enamorou-se de uma mulher que tinha urna filha que, por sua vez, gostou de Fú.

Ficaram assim dois pares amorosos. Enquanto a filha acariciava o Fú, a mãe alisava os cabelos do Kú. Fú apaixonou-se pela filha e Kú da mãe. Uma noite a filha, passeando com o Fú, encontrou a mãe a beijar o Kú.

Um Sábado, os dois irmãos foram ao barbeiro. Enquanto o Fú lia o jornal, o barbeiro ensaboava a barba do Kú. Decorrido algum tempo, o Kú e o Fú foram visitar o presidente Vargas. Ao descer do automóvel, o Kú foi vítima de um cisco no olho, de modo que, quando o presidente chegou, encontrou o Fú a soprar o olho do Kú. Após a visita, Fú retirou-se deixando o Kú à disposição do ministro.

Certa ocasião brigaram e o Fú teve a coragem de enfiar a bengala no Kú. Três anos mais tarde, o Fú embarcou para a China, deixando o Kú no Brasil. Lá chegado, foi discutir com o governo sobre as vantagens de dar o Kú ao Brasil.

P.S. — Recomenda-se às pessoas nervosas que não levem esta história a sério, pois podem sonhar com o Fú, arriscando-se a meter o dedo no Kú.


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