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Há
muitos anos, já lá vão mais de quarenta, descobrimos
que uma das melhores maneiras de combater o stress era
dando umas boas gargalhadas, convivendo e contando
anedotas e histórias pitorescas. Lembro-me até de um
colega que, à hora do almoço na cantina do liceu, era
o nosso principal animador nos intervalos entre a sopa e
o prato seguinte. Na época ainda não se tinha
inventado o sistema de self-service. Era a
funcionária da cantina que trazia a comida para as
mesas. Esses momentos de espera eram amenizados por esse
colega, que era um autêntico livro humorístico. Sabia
de cor e salteado centenas de histórias e anedotas.
Bastava-nos pegar na lista e indicar o número da
história, para termos, durante uns minutos, uns
momentos de franca gargalhada. Às vezes tão franca,
que vinham os professores junto de nós saber o que se
passava e mandar-nos ter um pouco mais de calma.
Como
os amigos não estão sempre presentes e aquele, em
especial, era um reportório vivo de anedotas, comecei a
recolher algumas das histórias e a registá-las.
Graças a uma máquina de escrever muito antiga que o
meu pai me dera, comecei a passar as anedotas em folhas
que constituíam um pequeno livro de formato pequeno, a
que dera o título de «Receitas para o fígado». Tive,
há dias, o prazer de descobrir essas folhas, que
pensava estarem já perdidas. Desse livro, retirámos
duas histórias. A segunda, é do tempo em que o
presidente da república do Brasil era Getúlio Vargas.
Os presidentes mudaram, mas o que não mudou foi a
graça da história dos dois irmãos chineses.
Um
problema de W.C.
Uma
senhora inglesa que sofria de ataques nervosos foi
aconselhada pelo médico a ir fazer uma estadia numa
pequena aldeia alemã e aí procurou alojamento. Não
sabendo alemão, dirigiu-se ao mestre escola, que
arranhava um bocadito de inglês, a fim de ele lhe dar
algumas indicações, as mais necessárias. De volta ao
hotel, depois de ter arranjado a casa que lhe convinha,
lembrou-se que não tinha perguntado onde ficava o W. C.
e, sobre este, escreveu ao mestre. Este recebeu a carta
e, como nunca tinha ouvido nem visto escrito aquela
abreviatura, pensou que a senhora era religiosa e se
queria referir a “Weld-Chapel” (Capela Campestre).
Neste sentido, respondeu-lhe com a seguinte carta:
Minha
Senhora
A W.
C. fica situada a sete quilómetros de sua casa, no meio
de um lindo panorama e está aberta às terças, quintas
e sextas.
É
deplorável para vossa excelência esta distância, se
está no hábito de lá ir frequentemente, mas de certo
lhe será grato saber que um grande número de pessoas
leva para lá um lanche e ali passam o dia todo. Outras
há que vão de carro e, mesmo sem pressa, chegam a
tempo. Como no Verão há muitos visitantes,
aconselho-vos a ir cedo. A acomodação é boa, havendo
aproximadamente oitenta lugares; mas, por vezes, todos
estão preenchidos e, nesse caso, há urna grande
quantidade de salas onde se pode estar de pé.
A
campainha toca dez minutos antes da abertura do W. C.
Recomendo-lhe principalmente a ir às sextas-feiras,
pois nesse dia há acompanhamento a órgão. A acústica
é esplêndida, pois até o mais delicado som se ouve
distintamente por todo o edifício. Os papeis com hinos
estão pregados nas paredes. Entretanto, ficarei
encantado de lhe conservar o melhor lugar e de ser o
primeiro a levá-la lá.
Minha
mulher e eu já há oito meses que não vamos à W. C.,
o que muito nos incomoda, mas para lá chegar é uma
grande caminhada.
Creia-me
atenciosamente
Fulano
tal...
História
complicada de dois irmãos
Fú e
Kú eram dois irmãos chineses. Fú foi para o Brasil,
em 1922, deixando o Kú na China. Passados meses, Fú
mandou vir o Kú da China. Este, assim que chegou,
enamorou-se de uma mulher que tinha urna filha que, por
sua vez, gostou de Fú.
Ficaram
assim dois pares amorosos. Enquanto a filha acariciava o
Fú, a mãe alisava os cabelos do Kú. Fú apaixonou-se
pela filha e Kú da mãe. Uma noite a filha, passeando
com o Fú, encontrou a mãe a beijar o Kú.
Um
Sábado, os dois irmãos foram ao barbeiro. Enquanto o
Fú lia o jornal, o barbeiro ensaboava a barba do Kú.
Decorrido algum tempo, o Kú e o Fú foram visitar o
presidente Vargas. Ao descer do automóvel, o Kú foi
vítima de um cisco no olho, de modo que, quando o
presidente chegou, encontrou o Fú a soprar o olho do
Kú. Após a visita, Fú retirou-se deixando o Kú à
disposição do ministro.
Certa
ocasião brigaram e o Fú teve a coragem de enfiar a
bengala no Kú. Três anos mais tarde, o Fú embarcou
para a China, deixando o Kú no Brasil. Lá chegado, foi
discutir com o governo sobre as vantagens de dar o Kú
ao Brasil.
P.S. —
Recomenda-se às pessoas nervosas que não levem esta
história a sério, pois podem sonhar com o Fú,
arriscando-se a meter o dedo no Kú.
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