BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


PÁGINA 1
Editorial
Alcino Carvalho
PÁGINA 2
Amadeu de Sousa - Homenagem
Paula Tribuzi
PÁGINA 3
Contos tradicionais portugueses
PÁGINA 4
Uma pedra que era doce
Henrique J. C. Oliveira
PÁGINA 5
Dia da África
Poetas Africanos
PÁGINA 6
Mudar nem sempre é melhorar
João Paulo C. Dias
PÁGINA 7
Navegando no espaço virtual
Alcino Cartaxo
PÁGINA 8
Prémio literário J. Estêvão
PÁGINA 9
Acerca do SEUC
Apontamentos

Isabel Bernardino
PÁGINA 10
Organização e funcionamento do SEUC
João Paulo C.Dias
PÁGINA 11
Receitas para o fígado
PÁGINA 12
Hora do Recreio
HJCO
PÁGINA 13
Fac-símile da 1ª página
 

Acerca do SEUC - Apontamentos

O ensino recorrente, parente pobre do sistema educativo português, ganhou notariedade através do oportunismo de alunos de outros subsistemas, que viram nele uma forma eficaz de furarem a barreira selectiva do ensino superior e assim entrarem nos almejados cursos de Medicina.

Os mass media encarregaram-se de fazer disso uma verdadeira cruzada.

O ministério acordou da sua letargia... E os legisladores deitaram mãos à obra. Foi um tal produzir... Todos os processos tiveram de ser revistos e, muitas vezes, atribuídas novas equivalências aos planos de estudo.

Os inquisidores ministeriais - inspectores - velam para que tudo se processe de acordo com as últimas normas legislativas.

E se efectivamente não podemos pactuar com fraudes, teremos de ver a quem se destina este subsistema de ensino e organizá-lo de forma coerente, para que seja eficaz e cumpra os objectivos.

O SEUC é um ensino de segunda oportunidade. Destina-se a trabalhadores estudantes. É nesta perspectiva que deve ser repensado e reorganizado.

Os materiais que o Ministério organizou para apoiar este subsistema de ensino pecam, de uma maneira geral, por uma enorme falta de qualidade; e as editoras também não fazem do ensino recorrente a sua prioridade.

Assim, o caminho a percorrer, mais do que seleccionar e travar o acesso ao ensino superior, passa por reformular, formar e apoiar, para que os alunos do ensino nocturno disponham de igualdade de oportunidades no país que eles, no seu dia a dia, ajudam a construir.

Ser professor no ensino recorrente é um verdadeiro desafio! Mas dedilhar filósofos é uma ousadia! E o mundo é sempre dos que ousam...

Assim, o professor tem de contornar alguns obstáculos e criar algumas “receitas.”

Há que esgrimir contra o pragmatismo imediatista do saber “prêt-à-porter” e criar tempo de “namoro” e intimidade entre a obras a estudar e os alunos. E isto não apenas no âmbito da disciplina de Filosofia, mas também em muitas outras, que exigem dos alunos o conhecimento de alguns dos que esgrimam no campo das letras com a Língua Portuguesa.

Depois, numa atitude de radicalidade e com muita “adrenalina”, mergulhar nesse mundo esotérico, no caso da Filosofia, ou no mundo da ficção literária e procurar descodificá-los, rasgando de vez os véus do preconceito, que tantas vezes impedem o mergulho!

É aí que autores, como Platão, Kant e Nietzsche caminham de mãos dadas. Todos diferentes e muito iguais nessa radicalidade. E é também aí que figuras diversas, que espelham de algum modo o mundo real, convivem e interagem, constituindo a trama da acção e espelhando, também eles, por vezes, maneiras próprias de pensar e encarar o mundo real.

 

O que deveria ser o professor neste sistema de ensino?

 

Um tutor que oriente o trabalho self-service do aluno! Mas não o pode efectivamente ser. E não pode porque a sua actividade faz-se num caminhar lento, passo a passo; e o aluno, numa grande maioria dos casos, ainda não está preparado para o conseguir de forma autónoma. De onde resultam diversas dificuldades que o professor deve procurar resolver, tanto mais que, quase sempre, se depara com a dificuldade de ter de trabalhar simultaneamente com várias unidades no mesmo espaço da sala de aula.

Num tipo de ensino como é o recorrente, não há, como em tantos outros casos, fórmulas feitas ou esquemas paradigmáticos que o professor possa seguir. É a experiência que o vai ajudando a contornar os obstáculos.

Se medirmos a eficácia deste ensino pelo número de unidades capitalizadas, ela é de facto questionável.

Mas não deveremos perder de vista que as três últimas unidades de Filosofia, por exemplo, (8, 9 e 10) correspondem ipsis verbis ao programa leccionado no 12º ano.

Outro dos problemas com que se debate o professor do ensino recorrente é com a flutuação da população estudantil. Os alunos podem na prática matricular-se durante todo o ano lectivo, o que implica um “eterno recomeçar”. E o facto de muitos deles serem trabalhadores estudantes, é mais uma condicionante na possibilidade de ter uma continuidade de aprendizagem.

Não posso, no entanto, deixar de salientar o quão gratificante é este subsistema de ensino na interacção humana. Cada aluno é sempre compreendido como uma pessoa na sua circunstância. E é com esta multiplicidade de individualidades que o professor tem de trabalhar, atendendo às diferenças e às especificidades de cada um.

Isabel Bernardino


1.Editorial   2.Homenagem a Amadeu de Sousa   3.O aprendiz do mago (conto popular)   4.Uma pedra que era doce    5.Dia da África - Poetas africanos    6.Mudar nem sempre é melhorar   7.Navegando no espaço virtual    8.Prémio literário José Estêvão    9.Acerca do SEUC   10.Organização e funcionamento do SEUC     11.Receitas para o fígado (humor)    12.Passatempos   13.Fac-símile da 1ª página


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