PÁGINA 1
Editorial

 

PÁGINA 2
A Educação de Adultos
Prof. João Paulo

 

PÁGINA 3
Ensino Recorrente em 1999/2000 

 

PÁGINA 4 
Ensino Recorrente - Plano 2001-2001

 

PÁGINA 5
Aveiro e SEUC sem carros
Prof. Cristina Campizes

 

PÁGINA 6
O cavalinho das sete cores

 

PÁGINA 7
Ano Europeu das Línguas

 

PÁGINA 8
Diversos 
Tatiana e Virgínia Sabino

 

PÁGINA 9
Encontro com Luís de Camões 
Profª Paula Tribuzi


PÁGINA 10

Quentes e Boas

 


PÁGINA 11

Uma questão de Felicidade 
Prof. Henrique Oliveira 


PÁGINA 12

Duas datas, dois momentos
Profª Claudette Albino

 

PÁGINA 13
Hora do Recreio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma Questão de Felicidade

Dei hoje a minha segunda aula deste ano a uma turma do nono ano, onde, embora predominem as raparigas, mesmo assim ainda existem nove rapazes, cujas idades oscilam entre os treze e os dezasseis anos. Após a elaboração do sumário da aula anterior, que me serve muitas vezes como forma de articulação entre as aulas, pedi a toda a turma que prestasse atenção ao texto que íamos passar a ouvir.

A turma ficou silenciosa. Carreguei na tecla do gravador e uma música melodiosa, tendo como instrumento central o piano, fez-se ouvir, ajudando a criar um ambiente agradável e propício à actividade pretendida. Ao mesmo tempo, um dos miúdos, espevitadito, por sinal, mas não irreverente, com gestos solenes, simulava sobre a carteira o percurso ágil dos dedos ao longo do teclado do piano. Achei graça ao miúdo, mas nada disse, fazendo como se de nada me tivesse apercebido, tanto mais que a turma se mantinha atenta e em profundo silêncio.

A pouco e pouco, a música começou a perder-se ao longe, com os acordes do piano sobressaindo cada vez mais distantes, para dar lugar à pessoa que emprestara a voz a Sebastião da Gama. Às primeiras palavras, extraídas do Diário deste professor e escritor, uma aluna abre ostensivamente o caderno diário, chamando a atenção das colegas para o texto que toda a turma já possuía, quebrando a magia do momento.

Desliguei o gravador. A atmosfera de êxtase havia sido abruptamente destruída. E pedi à miúda e aos que a imitaram que fechassem os cadernos, pois ninguém lhes pedira para ler, mas sim para ouvirem com os ouvidos da imaginação. Um professor de outra disciplina, inadvertidamente, vendo na secção de reprografia o texto que os professores de Português tinham seleccionado e mandado imprimir, para iniciarem a primeira unidade didáctica, pedira à funcionária uma fotocópia e, duplicando-a, distribuíra um exemplar a cada aluno, perturbando, irreflectidamente, todo o ambiente que se procurava criar na aula de Português, para uma melhor exploração das ideias do texto.

Fechados novamente os cadernos, rebobinei a fita e, uma vez mais, pedi aos alunos que, por momentos, se concentrassem apenas na audição e procurassem, usando a imaginação, não o coração, recuar no tempo e viver a situação que Sebastião da Gama registara no seu Diário. Voltou-se a ouvir a música, por sinal bastante agradável e evocadora de um ambiente calmo, ameno, recolhedor, mesmo de acordo com as ideias do texto. No final da audição, pedi à turma que se pronunciasse acerca do que ouvira, falando cada um na sua vez, como aliás sugeria o próprio texto. Todos tinham gostado e mostravam ter captado o essencial da mensagem.

Na fase seguinte, procurei com toda a turma reflectir mais profundamente sobre o conteúdo do texto, não sem antes o ter completado. O colega que o passara no computador, além de se ter esquecido da referência bibliográfica, subtraíra uma frase completa, sem a qual a mensagem deixada por Sebastião da Gama ficaria irremediavelmente truncada. Para isso, pedi aos alunos que efectuassem uma leitura atenta do texto, ao mesmo tempo que íamos ouvindo o autor através do locutor que lhe emprestara a voz. Toda a turma se apercebeu da lacuna. E a frase importante, em falta, foi por todos acrescentada:

«...lealdade. Lealdade para comigo, e lealdade de cada um para cada outro

Completado o texto, pedi a um aluno que relesse todo o excerto, para verificarmos a globalidade da mensagem que nos tinha sido legada pelo autor: «...E pedi, mais que tudo, uma coisa que eu costumo pedir aos meus alunos: lealdade. Lealdade para comigo, e lealdade de cada um para cada outro. Lealdade que não se limita a não enganar o professor ou o companheiro: lealdade activa, que nos leva, por exemplo, a contar abertamente os nossos pontos fracos ou a rir quando temos vontade (e então rir mesmo, porque não é lealdade deixar então de rir) ou a não ajudar falsamente o companheiro

Lido todo o excerto — e por sinal lido com correcção pelo aluno —, pedi que indicassem, utilizando as ideias do texto e os seus próprios conhecimentos, as condições necessárias para que uma aula possa ser simultaneamente um espaço de prazer e de tempo bem passado, agradável e proveitoso para todos, alunos e professor. Um a um, os alunos foram indicando essas condições: assiduidade, respeito pelos outros, falar cada um na sua vez, respeitar a opinião dos outros, ainda que contrária à nossa, atenção inteligente a tudo quanto se passa na aula, realização atempada das actividades dentro e fora da sala de aula, etc. Para terminar a exploração do texto, efectuando como que uma síntese, reli a primeira frase: «O que eu quero principalmente é que vivam felizes.» E perguntei qual era, no fundo, o objectivo que todos nós deveríamos procurar alcançar. O aluno que, no começo da aula, simulara o dedilhar do teclado do piano, levantou o braço para que o deixassem responder. Dei-lhe a palavra e ele, muito sério, respondeu que o que deveríamos ter era a Felicidade.

Os rapazes, primeiro, as raparigas, pouco depois, desataram todos a rir com vontade perante a minha brevíssima estupefacção: é que me veio logo à lembrança a professora Felicidade, rapariga nova, bonita e simpática, directora desta turma, dando-me igualmente vontade de rir. E sem qualquer premeditação, terminava a aula de uma maneira caricata, humorística, ilustrando as palavras do próprio Sebastião da Gama que, se aqui estivesse, também ele não deixaria de rir, confirmando a autenticidade das suas próprias palavras: «...rir só quando temos vontade (e então rir mesmo, porque não é lealdade deixar então de rir)... »

Henrique J. C. de Oliveira


Escola Sec. José Estêvão

Página anterior     Primeira página     Página seguinte

Aveiro - Janeiro 2001