A Família há alguns anos

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O Ensino Recorrente
Prof. João Paulo

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Dois castigos sem ter de quê
Prof. H. J. C. O.

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Dia da Poesia
Entrevista a Teresa Castro
Profª. Paula Tribuzi

PÁGINA 4 
A família há alguns anos
Odete Nogueira, 12º Turma E

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Voltar de novo a estudar?
A. Alberto Teixeira, 12º M

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Avaliação do Ensino Recorrente
Profs. Cristina Campizes e João Paulo

PÁGINA 7
Dia da África

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Literatura Africana em Língua Portuguesa
Nilton Garrido Sec. Turma SA

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O Movimento da Negritude
Nilton Garrido Sec. Turma SA

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Poetas da Casa

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Televisão - Janela aberta para o mundo?
Trabalho de grupo Sec.

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Hora do Recreio

Poderia falar acerca de como é difícil recomeçar os estudos após quase 20 anos, de como é difícil deixar diariamente uma família em casa, de como é cansativo estudar e trabalhar, enfim, tantas coisas poderiam ser ditas.... Mas não, preferi falar de uma recordação, que de certo modo me foi inspirada por um tema leccionado na aula de História: a família ao longo do antigo regime.

A minha história nada tem que ver com essa época. A semelhança reside apenas no facto de serem histórias do passado, enterradas no presente. Como seria bom “desenterrar” a minha história e pô-la em prática com os meus filhos, que, por sua vez, a contariam aos meus netos e estes aos meus bisnetos.... numa cadeia sem fim! Mas não... Não é possível parar o progresso.... Nós não temos mais tempo para falar... Não temos tempo para respirar a brisa matinal... para inspirar o cheiro da terra molhada pela chuva após um dia quente de verão. Não temos tempo.... Não temos tempo para coisas supérfluas e sem promoção!...

Nasci há 39 anos numa aldeia da Beira Alta, onde o despertador era o canto dos rouxinóis e o barulho dos carros de bois na calçada, onde adormecia ao som do cri cri dos grilos e do piado dos mochos. Lá não havia stress, nem psicólogos para as crianças, não havia Dragon Balls, Pokémons, nem jogos de vídeo, nem computadores, não havia status nem fingimentos, quase não havia televisões e telefones... Um ou dois.

Bem pequenina saí daquela aldeia, levada para a grande cidade pela minha mãe. Ainda me lembro que, nos meus tenros 4 anitos, olhava o horizonte e tentava visualizar aquela pérola perdida. Lá voltei todas as férias do Natal, da Páscoa e nas férias grandes (sempre tão esperadas), enquanto os meus avós foram vivos, levada, é claro, pela minha mãe, pois era o nosso paraíso.

À noite, não se ligava a televisão, pois em casa dos meus avós não havia. A minha avó contava histórias, cantadas com voz aguda, de mouras encantadas, de amores atribulados que sempre acabavam bem e de ladrões que roubavam os ricos para dar aos pobres. O meu avô lia passagens da Bíblia e fazia-nos reflectir sobre elas. Eu e as minhas irmãs representávamos peças de teatro improvisadas, que eram aplaudidas com um entusiasmo e um carinho, que só os corações puros podem ter, e que tanta segurança e contribuição deram para a construção da minha pessoa.

Como havia tempo para tanta coisa? Os meus avós não trabalhavam 7 ou 8 horas... Saíam para o campo ao amanhecer e voltavam ao anoitecer, almoçavam nas terras e regressavam com uma disponibilidade total, que os levava a responder a todas as nossas perguntas. Ao recordar-me, agora, lembro-me que a minha avó pendia com a cabeça para a frente, enquanto cantarolava as suas cantatas e o meu avô endireitava as costas num esgar de dor, rendidos pelo cansaço, mas não paravam, cumprindo dia após dia a missão, pois eles eram a nossa televisão de hoje...

Na aldeia todos eram “tios” e “tias”, todos riam quando os outros riam, todos choravam quando os outros choravam. Havia pobreza e fome naquela aldeia, como ainda hoje há na nossa cidade, mas aqui ninguém faz mais uma chávena de arroz, ou mete mais 2 ou 3 batatas na panela, ou acrescenta a sopa, para saciar a fome de quem bate à porta, numa noite gelada, como fazia a minha avó.

Partilhei muitas vezes a mesa, ao jantar, com pessoas desconhecidas e mal vestidas, a quem o meu avô dava dormida e um voto de confiança, em noites de inverno. Quem o faria hoje? Onde nos levará este nosso mundo? Preocupamo-nos que os nossos filhos saibam informática, música, ballet, pintura, que sejam os melhores na escola, tenham boas notas, entrem na faculdade, etc. E a sensibilidade? E as coisas puras e simples da vida? Será que daqui a 10 ou 20 anos os nossos filhos poderão falar assim de uma recordação?

Odete Nogueira - 12º Via Ensino Turma M

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