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Editorial

H. Oliveira


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A Educação de Adultos
João Paulo



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Viagem pela Imprensa Escolar...
H. Oliveira


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2 Contos tradicionais portugueses


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Debate: O Ensino de Adultos
João Paulo


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Dia da Poesia


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Adeus escudo! Viva o Euro
Cristina Campizes



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Adeus escudo! Viva o Euro (B.D.)
Emília R. Borges


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(In)Comunicação
Alcino Cartaxo


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Lenga-lenga
Linda Maria


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Para quando Arte para todos?

Claudette Albino

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Visita de Estudo - Ida ao teatro
Grupo de alunos

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Hora do Recreio

 

Contos tradicionais portugueses

No jornal anterior, iniciámos uma rubrica com contos tradicionais portugueses. Apresentámos a história do cavalinho de sete cores, que contribuiu para a felicidade de duas pessoas que se amavam.

Desta vez, transcrevem-se duas histórias muito antigas, retiradas de um manuscrito com o fabulário português. Como os textos se encontram em Português medieval, algumas palavras estão reproduzidas, na parte final, com as correspondentes actuais.

 

O LEÃO E O PASTOR

Andando um leão seu caminho, entrou-lhe uma espinha no pé; e este leão andando mui tribulado com esta espinha pela mata, encontrou-se com um pastor que guardava gado. O pastor com grão medo quando viu o leão tomou um carneiro e pô-lo avante o leão; o leão não lho quis tomar, e mostrava-lhe o pé onde tinha a espinha, e rogava ao pastor que lha tirasse. 

E o pastor tomou uma sovela, e tirou-lhe a espinha e muito vurmo que já trazia. O leão lambia a mão a este pastor.

Depois que o leão se sentiu são, sempre o acompanhou; e quando havia talante de comer, andava a caça das alimárias à silva; e como havia seu mantimento, tornava-se ao pastor. Em tal guisa lhe guardava seu gado, que lobo nenhum nem outra animalha não lhe fazia dano; e com todo isto o leão espreveu mui bem no seu coração o serviço que lhe o pastor fizera.

E de ende a poucos dias foi tomado aquele leão em um laço e foi posto em Roma com outros leões. Dali a certo tempo o pastor fez um malefício; e mandou a justiça que o metessem com os leões, que o matassem; e foi posto entre eles. O leão a que ele tirara a espinha o conheceu e chegou-se a ele e andava o lambendo e defendia o dos outros leões, que lhe não fizessem mal. Vendo os senadores esta maravilha, foram muito espantados, e por isso perdoaram a morte ao pastor.

(Fabulário Português, século XV, manuscrito da Biblioteca de Viena, folha 19 V - Revista Lusitana, vol. 8, pág. 121, apud Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português, vol. II, págs. 97-98)

 

O LOBO E O CORDEIRO

Conta-se que o lobo bebia uma vez em um ribeiro, da parte de cima, e o cordeiro bebia em aquele mesmo ribeiro, da parte do fundo. Disse o lobo ao cordeiro:

— Porque me luchas a água e danas este ribeiro?

E o cordeiro respondeu e disse humildemente:

— Eu não te faço injúria, nem lucho a o rio, porque a água corre contra mim, e a água é mui clara; e pero se a quisesse abolver, não poderia.

Outra vez o lobo brada forte e diz:

— Não te avonda que tu me fazes injúria e dano, e ainda me ameaças?

E o cordeiro outra vez humildosamente responde:

— Não te ameaço, mais eu me escuso com boa razão.

E o lobo respondeu outra vez:

— Ainda me ameaças? Já semelhável injúria me fizeste tu e teu padre, são já bem seis meses.

O cordeiro disse:

— Ó ladrão, eu não hei tanto tempo!

E o lobo iroso disse:

— Ó mau rapaz, ainda ousas falar?

E foi-se a ele e matou-o e comeu-o.

Fabulário Português, século XV, manuscrito da Biblioteca de Viena, folha 19 V - Revista Lusitana, vol. 8, pág. 104, apud Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português, vol. II, págs. 97-98)


Glossário: tribulado - atormentado ● sovela - espécie de agulha metálica usada pelos sapateiros para furar o couro ● vurmo - pus ● talante - vontade ● alimárias - animais selvagens ● guisa - maneira ● espreveu - escreveu, marcou ● ende - aí ● luchar - torvar ● abolver - revolver ● avonda - basta


Escola Sec. José Estêvão

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Aveiro - Junho 2001