PÁGINA 1
Editorial

H. Oliveira

 


PÁGINA 2

A Educação de Adultos
João Paulo



PÁGINA 3

Viagem pela Imprensa Escolar...
H. Oliveira

 


PÁGINA 4 

2 Contos tradicionais portugueses


PÁGINA 5
Debate: O Ensino de Adultos
João Paulo


PÁGINA 6

Dia da Poesia


PÁGINA 7

Adeus escudo! Viva o Euro
Cristina Campizes



PÁGINA 8

Adeus escudo! Viva o Euro (B.D.)
Emília R. Borges

 


PÁGINA 9

(In)Comunicação
Alcino Cartaxo



PÁGINA 10

Lenga-lenga
Linda Maria



PÁGINA 11

Para quando Arte para todos?

Claudette Albino


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Visita de Estudo - Ida ao teatro
Grupo de alunos


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Hora do Recreio

 

 

 

 

Viagem pela Imprensa Escolar ou...
...
As confissões de um jornal escolar

No dia 19 de Abril do corrente ano, tive o prazer de participar numa iniciativa do Centro da Área Educativa de Aveiro, que decorreu no Centro Cultural e de Congressos da nossa cidade. Deste modo, a minha leitura não ficou limitada à comunidade escolar em que nasci.

Como é que me foi proporcionada esta agradável alternativa de ser lido por mais pessoas?

Como os meus queridos leitores sabem, sou ainda muito jovem. Nasci quase no final do último ano lectivo. A meio do actual, voltei a estar junto dos meus leitores. O meu segundo número, graças às pessoas que me acarinham e procuram manter-me de boa saúde, nasceu mais gordinho, com dezasseis páginas. Mas tenho de confessar uma certa tristeza! Apesar de não poder deixar de me regozijar por continuar entre vós, não pude deixar de sentir uma certa tristeza! Contava com mais participação dos alunos da minha Escola, desta Escola já velhinha e sempre jovem, que comemora os 150 anos de existência. Preferia que houvesse mais alunos a alimentar-me. Não quero dizer com isto que não goste dos professores que me vêm acarinhando! Pelo contrário, preciso deles e do seu carinho! Mas gostava de contar mais com a participação dos alunos e restante pessoal da casa onde sou criado! Infelizmente, no último número, só alguns estudante guineenses se lembraram de mim! E neste, quer-me cá parecer que nem com a ajuda de um saca-rolhas conseguirei ter mais produção dos alunos. Será por falta de ideias dos mais novos? Será que eles não gostam de me ler? Será que não sentem prazer em que os seus artigos sejam publicados e lidos por toda a comunidade escolar?

Felizmente, esta tristeza foi compensada por uma alegria que me proporcionaram no início do terceiro período. Um tanto imprevistamente, vi-me em cima de uma mesa num Centro Cultural e de Congressos. E constatei com satisfação que todos os participantes me levaram, deixando a mesa vazia... E até tive o prazer de ouvir falar de mim! Pois é verdade! Durante a parte da tarde, tive o prazer de ser apresentado a todos os presentes. Neste período da sessão, o debate foi aberto com a intervenção do professor Henrique. Para meu espanto, antes de falar dos recursos materiais e humanos que um jornal escolar envolve e do seu valor pedagógico e cultural, o professor Henrique começou por falar de mim: do meu nascimento, do meu baptismo e dos meus objectivos.

Aliás, tenho de confessar que não fui só eu que estive presente neste encontro. Além de muitos outros jornais de outras escolas, tive comigo um companheiro de casa. Estive sempre na companhia do meu irmão mais velho, o “Aliás”. É um jornal já velhinho, com muita experiência. Nasceu no último trimestre de 1990. Já vai no 12º ano de existência!

Estou agora a sentir uma espécie de formigueiro provocado pelo meu caro leitor, formigueiro que me está a ser provocado pelas interrogações que acabaram de lhe surgir na massa cinzenta. Está espantado?! Está a perguntar como é que eu adivinhei, como é que eu descobri as suas perguntas?

O amigo leitor está a esquecer-se que, para me poder ler, tem de me ter nas suas mãos. Tem de me segurar e manter aberto, para que os seus olhos possam percorrer as minhas palavras... E aqui está o segredo, que já não é segredo, porque lho acabei de revelar! Sempre que o amigo leitor pensa, sempre que efectua uma reflexão, sinto-o perfeitamente através dos seus dedos e dos seus olhos. Sinto perfeitamente aquelas imperceptíveis mudanças de tensão, provocadas pelas imperceptíveis descargas eléctricas dos seus pensamentos. Ainda que fraquíssimas, consigo detectá-las e interpretar as causas das suas interrogações. Está a perguntar como é que eu fui parar a um encontro de jornais escolares. E está até com uma certa curiosidade em saber o que lá se passou.

Vou talvez decepcioná-lo. E vou decepcioná-lo, porque não lhe vou dizer como fui participar neste encontro de jornais escolares. Não veja nisto qualquer desinteresse ou desprezo pelas suas interrogações. Não o faço, porque considero mais importante que isto deixar aqui uma breve reflexão acerca de um aspecto que ouvi durante o debate.

Posso dizer que assisti com o máximo interesse a tudo quanto se passou, especialmente da parte da tarde. Estava bem posicionado na sala, graças às pessoas que me tiraram da mesa e me levaram com elas.

Um dos problemas debatidos, e que continua ainda a ecoar nos átomos das minhas páginas, foi o da inclusão ou não de publicidade nos jornais escolares. O Doutor Eduardo Madureira, que moderou o debate e está ligado ao jornal “Público”, acha que os jornais escolares não devem incluir publicidade. O professor Henrique apresentou uma estratégia já por ele utilizada para obter apoios financeiros para a produção de jornais escolares, que consiste em incluir a publicidade numa secção posteriormente destacável, sem prejuízo para os conteúdos dos jornais. Outros professores consideram que a publicidade, embora devendo ser evitada, não ficará mal num jornal escolar, desde que seja de tipo institucional. A certa altura, o professor Henrique, que fazia parte da mesa, voltou a intervir e disse que a publicidade era um mal menor, que preferia ver um jornal escolar com publicidade do que não ver nada por falta de meios económicos. E não posso deixar de estar de acordo com ele, porque o mais importante é que nós possamos ser criados e lidos por todos os que nos rodeiam.

No dia seguinte, já com a poeira das ideias bem assentes nos átomos das minhas folhas e com a maioria das palavras ouvidas completamente levadas pelo vento, tive o prazer de conviver com alguns companheiros de outras escolas. Com efeito, tenho ao meu lado, numa das estantes onde estou guardado, dois companheiros, “O Gafanhoto”, da Escola Secundária com 3º Ciclo da Gafanha da Nazaré, e o “Com Efeito”, da Secundária N.º 1 de Aveiro. São mais velhos do que eu e um deles até apresenta capas coloridas. São impressos em tipografias e têm publicidade. Eu sou apenas um companheiro mais pobre! Sou totalmente a preto e branco e feito na reprografia da minha escola! Mas todos nós, com ou sem publicidade, estamos satisfeitos, porque não deixamos de cumprir a nossa missão! Com efeito, tenho de confessar que passo uns momentos agradáveis na companhia deles. E até me tenho rido com “O Gafanhoto”. Ri-me bastante, quando ele me apresentou uma história já velhinha, com muitas barbas, mas ... As barbas tinham crescido e a história vários pontos acrescentada! Querem ouvi-la? Pergunta desnecessária! Quem é que não gosta de dar umas boas gargalhadas?! Vamos à história! Vamos a ela, que sempre nos faz rir e, além disso, esta é muito «inducativa», tanto mais que está relacionada com o Português:

 

«Numa manhã, a professora pergunta ao aluno:

— Diz-me lá quem escreveu “Os Lusíadas”?

A gaguejar, o aluno responde:

— Não sei, Sr.ª professora, mas eu não fui. E começou a chorar!

Furiosa, a professora diz-lhe:

— Pois então, de tarde, quero falar com o teu pai.

Em conversa com o encarregado de educação, a professora queixa-se:

— Não percebo o seu filho. Perguntei-lhe quem escreveu “Os Lusíadas” e ele respondeu-me que não sabia, que não tinha sido ele...

— Bem, ele não costuma mentir. — diz o pai. Se ele diz que não foi ele, é porque não foi mesmo ele! Já se fosse o irmão...

Irritada com tanta ignorância, a professora vai para casa e, de passagem pelo posto da G.N.R., o comandante, que estava à porta, vê a cara de poucos amigos da professora e diz-lhe:

— Ó Sr.ª Doutora, parece que o dia hoje não lhe correu lá muito bem!

— Pois não! Nem imagina o que hoje me sucedeu! Perguntei a um aluno quem tinha escrito “Os Lusíadas” e respondeu-me que não sabia! E desatou-me a chorar mais do que uma Madalena!

— Não se preocupe. Isso resolve-se. Chamamos cá o miúdo, damos-lhe um «aperto» e vai ver que ele confessa tudo!

Com os cabelos em pé, a professora chega a casa e encontra o marido sentado no sofá, a ler o “Público”. Assim que a vê, pergunta-lhe o marido:

— Então? Vens com mau aspecto. Parece que o dia não te correu muito bem!

— Ora, deixa-me cá! Hoje foi um dia para esquecer! Vê lá tu que perguntei a um aluno quem escreveu “Os Lusíadas” e começou a gaguejar-me, que não sabia, que não tinha sido ele, e desatou-me numa enorme choradeira. Mandei chamar o pai para falar com ele e disse-me que ele não costuma ser mentiroso. Quando passava pelo posto da G.N.R., o comandante disse-me que o ia chamar e obrigar a confessar. Que hei-de fazer perante toda esta santa ignorância?

— Ó mulher, deixa lá! Não te preocupes mais com isso. Esquece os problemas. Janta e vai dormir descansada, que tudo se resolve. Vais ver que, se calhar, até foste tu e já nem te lembras!»

Henrique J. C. de Oliveira


Escola Sec. José Estêvão

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Aveiro - Junho 2001