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BOLETIM
CULTURAL E RECREATIVO - SECUNDÁRIA JOSÉ ESTÊVÃO - AVEIRO |
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Assim vai o
ensino em Portugal |
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Introdução
Ensino recorrente: um percurso formativo
Professores: para quê?
Fases do ensino em Portugal
(humor)
Cálculos
Ser professor
Um mail de
sugestão aos professores
Novos critérios de avaliação
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Nestes últimos
tempos, especialmente no esgotante ano lectivo de 2005/06, o ensino
em Portugal tem conhecido uma série de autênticas revoluções,
alterações substanciais de tudo quanto havia sido instituído nas
últimas décadas, fazendo-se praticamente tábua rasa de princípios
que pareciam ser inabaláveis. Num país em crise, com casos difíceis
em vários sectores, num país onde as regalias dos governantes não
podem ser tocadas e estes exigem, em contrapartida, um apertar do
cinto das classes médias, o ensino teria de ser uma espécie de «bode
expiatório», para não dizermos uma forma de distracção da opinião
pública de questões mais graves, já que não chega o futebol para
afastar a atenção dos reais problemas.
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Consequentemente,
vêm-se sucedendo os diversos textos de reflexão acerca do assunto,
alguns de carácter jocoso, mas nem por isso menos críticos, outros de
reflexão mais séria sobre a situação da classe ensinante.
Neste exemplar do
“Alternativas”, transcrevem-se alguns dos muitos textos suscitados pelo
actual problema do ensino, começando-se pela reflexão, escrita
especialmente para este exemplar, relativa ao chamado «Ensino
Recorrente». Depois, sucessivamente, poderão ser lidos dois textos, um
inserido em tempos nos destaques do mês do espaço «Aveiro e Cultura»; o
outro, publicado numa revista intitulada “Super Interessante”. Quebrando
o tom entre sério e irónico de ambos os textos, é apresentado mais um,
de índole humorística, reflexo de uma série de etapas ao longo do ensino
em Portugal. Finalmente, reproduz-se um texto, escrito por alguém que
nada tem a ver com o ensino, mas que apresenta, em jeito de
reflexão-sugestão, um modo eficaz de os professores fazerem valer os
seus direitos.
(HJCO)
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ENSINO RECORRENTE: UM PERCURSO FORMATIVO
A formação de
adultos surge no
post-25 de Abril, num contexto
social em que é reconhecida a importância da educação permanente com
vista à integração numa sociedade em continua mutação. Várias medidas
formativas têm sido adoptadas, nomeadamente o S.E.U.C. Esta modalidade
acabará no ano lectivo 2007/2008, segundo regulamentação estabelecida,
pelo que, baseando-me na minha experiência como docente e assessor dos
cursos nocturnos e nas finalidades deste tipo de formação contempladas
na lei, é oportuno fazer uma breve avaliação.
O S.E.U.C.
destina-se a um público heterogéneo em termos de pré-requisitos – alguns
tinham abandonado a escola há vários anos –, de capacidades e de
disponibilidades. Tal aspecto não era impeditivo do sucesso, uma vez que
o aluno tinha que definir, no início do ano lectivo, um itinerário
formativo e poderia reformulá-lo posteriormente. Contudo, a definição
desse percurso não deveria ser uma “performance” meramente burocrática,
sem o valor que, na realidade, lhe caberia ser atribuído. Esta
desvalorização tem várias razões, designadamente:
– um alheamento do
discente, principalmente dos mais novos, quanto às regras de
funcionamento desta modalidade de ensino. Isto é reflexo de que, neste
país, não existe uma educação para a cidadania – não há
consciencialização dos direitos e deveres – e, reconheço que a própria
escola, apesar de ter os mecanismos organizacionais, eles não são, por
vezes, eficazes.
– a motivação que
determinou o regresso do aluno à escola. A propósito, é de referir que o
S.E.U.C. tem um baixo sucesso, não justificante do investimento. É
incontestável, mas tal está relacionado, em parte, com certas motivações
– a pré-concepção de um ensino facilitador, a possibilidade de sair à
noite – que não são compatíveis com a opção ‘regresso à escola’.
Uma outra
componente importante, relacionada com o sucesso, é o papel do docente.
Neste tipo de processo educativo, não é possível desenvolver, no geral,
um tipo de ensino-aprendizagem que assente numa autonomia do aluno,
pelas razões anteriormente referidas. Assim, dada a heterogeneidade, é
exigida ao professor uma planificação que requer bastante trabalho, para
que a leccionação seja para todos os alunos que estão na sala de aula,
pois é um dever do docente promover a aprendizagem. Admito que, por um
lado, há a legislação, algumas vezes “cega” por ser inflexível – um mal
do sistema burocrático –, resultando situações, em algumas disciplinas,
em que o docente, dado o número de alunos, vê-se confrontado com uma
grande dispersão de unidades, o que não lhe permite fomentar um ensino
de qualidade. Por outro lado, há várias circunstâncias em que é possível
implementar uma adequada estratégia pedagógica, mas o professor não tem
perfil para este tipo de formação – usa uma metodologia clássica ou uma
pseudo-pedagogia – porque a sua opção de serviço lectivo baseou-se em
interesses pessoais e não profissionais (salvo os que são colocados
posteriormente e já com serviço atribuído) e, muitas das vezes, sem um
conhecimento da filosofia subjacente à política educativa do S.E.U.C. O
resultado é a desmotivação dos alunos e o consequente abandono. Contudo,
nesta situação, há docentes que aceitam o desafio às suas competências,
o que requer bastante trabalho, mas têm como compensação a satisfação
profissional. Não é minha intenção transmitir a ideia de que estes
docentes conseguem 100% de sucesso, mas a de haverem-no conseguido com
os discentes motivados para a formação.
Neste tipo de
ensino, existe uma medida estratégica, a chamada «equipa pedagógica»,
cuja finalidade é orientar a aprendizagem, através de métodos de estudo,
superação de dificuldades…Todo o sucesso obtido foi resultado de uma
coordenação entre os docentes desta equipa e os das aulas das
disciplinas.
As instituições
hierarquicamente superiores tiveram a preocupação de ajustar os
normativos legais às mudanças que se verificavam. A eficácia do processo
ensino-aprendizagem depende, em parte, da regulamentação, o que nem
sempre aconteceu.
Apesar de todos os
constrangimentos referidos, tem-se constatado algum sucesso educativo
que, em alguns casos, teve como reflexo, entre outros, a formação de
nível universitário.
O M.E., perante o
pequeno sucesso educativo, propôs para o ensino recorrente, na revisão
curricular do ensino secundário, um currículo igual ao do ensino regular
– o actual ensino modular –, fundamentando-se na permeabilidade dos
vários percursos formativos. Mas, ignorou a impossibilidade de
conciliação entre um processo formativo temporalmente pré-estabelecido e
a heterogeneidade do público-alvo. Além disto, eliminou uma
flexibilidade na escolha das disciplinas – o que não se verifica no
S.E.U.C. – restringindo a possibilidade de abertura de certos cursos.
Enfim, as condições do sistema modular do ensino nocturno são limitantes
para os discentes. O escasso sucesso e o grande abandono escolar
demonstrados são uma prova e, como “contra factos não há argumentos”,
parece que a nova perspectiva formativa é o R.V.C.C.
É importante que
se mude a política educativa dos adultos para melhorar as competências /
qualificações da população. Será o R.V.C.C. a solução? O tempo provará
se é ou não uma boa alternativa formativa.
João Paulo Dias |
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Professores – Para quê?
O mal dizer é uma
“ virtude” portuguesa.
O papel das velhas
cantigas de escárnio e maldizer pertence hoje aos
mass media.
Os focos,
actualmente, estão centrados nos professores! Passaram de pessoas
responsáveis e competentes para uns “malandros” que só têm regalias e
nada querem fazer.
A generalização
destas “qualidades” correu célere e é comum ouvir conversas de rua onde
se ajuíza sobre os professores de uma forma leviana e estereotipada.
A classe política,
cujo único objectivo é reduzir os gastos para passar na avaliação do
parlamento europeu, aproveita esta campanha difamatória dos
media para,
com o aplauso dos que querem nivelar tudo pelas bases (como se houvesse
alguma sociedade que não seja estratificada), retirar aos docentes
direitos que tinham sido adquiridos pelo facto de a profissão ter um
estatuto diferenciador.
Mas afinal para
que servem os professores?
Pode a sociedade passar sem eles?
Porque são tão desprestigiados?
Os professores
ensinam! Investigam, fazem formação fora do horário normal de trabalho,
planificam as suas actividades, motivam os alunos para as aprendizagens,
desenvolvem competências nos seus alunos. Ensinam de tudo, os
professores!
Assemelham-se aos
velhos “sofistas” que se vangloriavam de saber de tudo um pouco.
Começam por
ensinar a desenhar letras e números, lentamente levam os alunos a ler, a
escrever, a desenhar, fazer teatro, trabalhos manuais e ensinam também
as regras do saber estar.
A complexidade do
ensino vai crescendo com o desenvolvimento cognitivo dos jovens. E
surgem as línguas estrangeiras e a filosofia, a matemática, a física...
e tantas outras!
Hoje, pede-se
também ao professor que seja um
expert em
cidadania e em educação sexual!
A sociedade das
novas tecnologias centra-se na operacionalização de competências e são
os professores que as desenvolvem nos jovens. Isto irá permitir a
educação permanente.
Ao professor cabem
outras tarefas. O professor faz matrículas, regista e justifica as
faltas dos alunos, ocupa-os nos tempos livres e ajuda-os a descobrir o
meio envolvente, responsabilizando-se por turmas que fazem viagens de
estudo. Ainda apoia e está presente em concursos ou debates
inter-escolas.
O professor é
sempre uma figura de referência no universo dos jovens.
Face ao exposto, o
professor é um profissional fundamental para a nossa sociedade.
As famílias hoje
delegam nas escolas a responsabilidade de formação das suas crianças,
porque vivem sobre-ocupadas.
Vive-se então uma
grande contradição – os professores são fundamentais no processo de
socialização dos jovens, mas a profissão docente é cada vez mais
desprestigiada e até “achincalhada”.
A que se deve
isto?
– Massificação do
ensino nas sociedades democráticas?
– Mudança de
epicentro valorativo onde o dinheiro é o núcleo fundamental?
– Maioria dos
professores é do género feminino – velho estigma subalternizante da
mulher transposto para a profissão?
Sem resposta, e
agora que a euforia do Mundial de Futebol estás prestes a terminar,
resta-nos receber os nossos “ heróis” e voltar o nosso olhar para a
infinitude do mar, esperando que chegue o desejado D. Sebastião -esse
que chegará num dia de nevoeiro…
Isabel Magalhães
(6 de Julho 2006)
— (Prof.ª do 10º Grupo B) |
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Fases do ensino em
Portugal
1ª fase (antes
de 1974)
O aluno ao
matricular-se ficava automaticamente chumbado. Teria de provar o
contrário ao professor.
2ª fase (até
1992)
O aluno ao
matricular-se arriscava-se a passar.
3ª fase
(actual)
O aluno ao
matricular-se já transitou automaticamente de ano, salvo casos muito
excepcionais e devidamente documentados pelo professor, que terá de
incluir no processo, obrigatoriamente, um "curriculum vitae"
extremamente detalhado do aluno e, em alguns casos, da própria família.
4ª fase (em
vigor a partir de 2007)
O professor está
proibido de chumbar o aluno; nesta fase quem é avaliado é o próprio
professor pelo aluno e respectiva família, correndo o risco quase certo
de chumbar...
Apetece mesmo
acrescentar uma 5ª fase.
Os alunos que
saibam escrever o seu nome sem erros, nem precisam matricular-se. Têm
acesso directo ao Conselho de Ministros como consultores privados do 1º
Ministro, equiparados a Chefe de Gabinete, com direito a subsídio de
almoço e de transporte. |
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Cálculos
Repita-se que
aprender e pensar é trabalhoso mas interessante, e que estas duas
actividades propiciam incomensuráveis alegrias ao ser humano.
O Ministério da
Educação apresentou há semanas a proposta de alteração do Estatuto da
Carreira Docente do ensino não superior. Esta revisão, leio no
“Público”, constituirá, no entender do Ministério, "uma oportunidade
para reforçar as estratégias de promoção do sucesso escolar e de combate
ao abandono". Mais se propõe o Ministério, sempre de acordo com o mesmo
jornal, "promover a qualificação da profissão docente, tomando-a mais
exigente e mais assente na qualidade". Não posso ser mais entusiasta de
tais finalidades e desideratos. Avaliações são fundamentais para o bom
andamento de qualquer actividade e exigir qualidade na docência é de
elementar bom-senso. Saúda-se, pois, a iniciativa. Posto isto,
permito-me algumas ponderações.
Antes de mais,
esclareço que sou professora universitária há quarenta anos, trinta e
cinco e tal deles na Faculdade de Letras de Lisboa. A esmagadora maioria
dos meus centenares de ex-alunos e alguns dos que ainda estão nas minhas
salas de aula, sobretudo de Mestrado, são professores do secundário. Por
intermédio de uns e de outros, acompanho de bastante perto o quotidiano
das escolas e os problemas que aos professores do secundário
quotidianamente se põem. Tenho também, ao longo dos anos, participado em
numerosas acções de formação sobre o papel da Literatura no ensino
secundário, dei palestras e conferências, integrei mesas redondas.
escrevi artigos. Antes de iniciar a carreira universitária, no Brasil,
leccionei no ensino secundário oficial e privado. Esclarecido isto,
passo às ponderações. A primeira é: desconheço, mas estou pronta a
acreditar que exista, país onde a figura do professor do ensino
secundário seja mais denegrida do que em Portugal. Nos últimos anos tem
sido um fogo de barragem. Sei que há professores incompetentes,
relapsos, e o mais que se queira. Pois que actuem os órgãos competentes
quando assim for, com as sanções previstas. Mas evite-se, por todos os
modos, dar uma imagem sistematicamente negativa — e sobretudo que não
corresponde à verdade — do grupo profissional encarregado de ensinar e
de educar. A gravidade desta postura, onde e quando a iliteracia campeia,
ultrapassa a minha capacidade de verbalização.
A segunda
ponderação concerne a escola enquanto contrato. Contratantes são, de um
lado, a própria escola, de outro o aluno e os encarregados de educação.
Não matava ninguém se houvesse uma alertagem permanente para a
necessidade absoluta de o pacto escolar ser cumprido do lado do aluno,
com comportamentos simplicíssimos: estudar e estar na sala de aula de
modo a não impedir o professor de exercer com sossego a sua função. Não
se pede uma classe em mortal silêncio, nem nada que se pareça. Mas
testemunhos sucessivos de alunos meus, docentes do secundário, dão conta
do penoso dia-a-dia de quem tem
de dinamizar classes de trinta e tal adolescentes (com o natural
desassossego da idade), quando a simbólica prevalecente — porque se
trata também, e talvez antes do mais, de uma questão de simbólica — diz
ao aluno que ao professor falta sempre a razão. Abençoado seja um miúdo,
de cidade ou vila do Norte, que, perguntado sobre as possíveis causas do
mau posicionamento da sua escola no
ranking
nacional, respondeu, lapidarmente, "Atão, pois a gente não estuda!"
Entra aqui a estafada questão do eduquês: não há memória de qualquer
escolarização que prescinda da disciplina, do sacrifício e da canseira.
A disciplina é sagrada em qualquer actividade, mesmo, como se sabe, nos
hobbies: a
maneira de a conseguir na escola relaciona-se com o desempenho
pedagógico do professor,
mas também e em igual medida com a vontade do aluno de se
autodisciplinar.
Sacrifício tem de haver, pois ninguém se diverte loucamente durante todo
o tempo em que está estudando. Não se diverte e, além disto, cansa-se:
estudar é um
trabalho,
embora a simbólica em má hora instilada em doses homeopáticas jure que
não. Promova-se, com urgência, a simbólica oposta, repetindo-se à
exaustão que aprender é trabalhoso mas interessante, que pensar é
trabalhoso mas interessante e que estas duas actividades propiciam
incomensuráveis alegrias ao ser humano. É crucial ir pingando esta ideia
na educação geral de uma comunidade onde a iliteracia impede a percepção
da serventia do saber
para a realização da humanidade da pessoa.
Propõe, ainda, o
Ministério, que os professores sejam avaliados pelos resultados dos
alunos em determinadas provas e pelos encarregados de educação, estes
impedidos de se pronunciarem no plano científico (o que acho lógico),
devendo, contudo, e torno a citar o “Público”, fazer "uma contribuição
individual de apreciação dos professores dos filhos". Preocupam-me aqui
os fundamentos da apreciação. Deverão os pais apreciar em função do
resultado dos filhos? Ou deverão ter também
obrigatoriamente
em conta o empenhamento, de alunos e professores? Parece mais sensata a
última hipótese, pois permite ponderar mais variadas evidências. Aos
pais será relativamente fácil avaliar se os filhos cumpriram o contrato
escolar. Mas como saberão com satisfatória clareza o desempenho
pedagógico e humano do professor? Calculo que se preveja presença de
representantes dos pais em sala de aula, ao longo de todo o ano lectivo.
Calculo que, ao final de cada aula, os pais presentes, reunidos,
preencham uma ficha sobre o desempenho do professor. Calculo que, no fim
do ano, os conselhos executivos das escolas analisem todas as fichas, a
partir delas e de esclarecimentos finais proporcionados, naquele mesmo
momento, por pais ou seus representantes, decidam uma avaliação a ser
lançada em super-ficha cujo modelo já é bom ir criando. Calculo que seja
assim, mais coisa menos coisa. E não posso deixar de achar muitíssimo
bem, é mesmo o que nos faz falta...
MARIA
LÚCIA LEPECKI,
in: “Super Interessante”, n.º 99, Julho 2006, pág. 20 |
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Ser Professor
1º. - Esta é uma
profissão em que a imensa maioria dos seus agentes trabalha (em casa e
de graça, entenda-se) aos sábados, domingos, feriados, madrugada adentro
e, muitas vezes, até nas férias! Férias, sim, e sem eufemismos, que bem
precisamos de pausas ao longo do ano para irmos repondo forças e
coragens. De resto, é o que acontece nos outros países por essa Europa
fora, às vezes com muito mais dias de folga do que nós: 2 semanas para
as vindimas em Setembro/ Outubro, mais duas para a neve em Novembro, 3
no Natal e mais 3 na Páscoa, 1 ou 2 meses no verão.
2º. - É a única
profissão em que se tem falta por chegar 5 minutos atrasado (também
neste caso, exigirá a senhora Ministra um pré-aviso com 5 dias de
antecedência?)
3º. - É uma
profissão que exclui devaneios do tipo “hoje preciso de sair meia hora
mais cedo”, ou o corriqueiro “volto já”, justificando a porta fechada em
horas de expediente.
4º. - É uma
profissão que não admite faltas de vontade e motivação ou quaisquer das
'ronhas' que grassarão, por exemplo, no ME (quem duvida?) ou na
transparente AR.
5º. - É uma
profissão de enorme desgaste. Ainda há bem pouco tempo foi divulgado um
estudo que nos colocava na 2ª posição, a seguir aos mineiros, mas isto,
está bom de ver, não convém a ninguém lembrar… E olhe que não, senhor
secretário de estado, a escola da reportagem da RTP 1 não é, nem de
longe, caso “único, circunscrito e controlado”!
6º. - É uma
profissão que há muito deixou de ser acarinhada ou considerada humana e
socialmente. Pelo contrário, todos os dias somos agredidos – na nossa
dignidade ou fisicamente (e as cordas vocais não são um apêndice
despiciendo…), enxovalhados na praça pública, atacados e desvalorizados,
na nossa pessoa e no nosso trabalho, em todas as frentes, nomeadamente
pelo “patrão” que, passe a metáfora económica tão ao gosto dos tempos
que correm…, ao espezinhar sistematicamente os seus “empregados” perante
o “cliente”, mais não faz do que inviabilizar a “venda do produto”.
7º. - É uma
profissão em que se tem de estar permanentemente a 100%, que não se
compadece com noites mal dormidas, indisposições várias (físicas e
psíquicas) ou problemas pessoais…
8º. - É uma
profissão em que, de 45 em 45, ou de 90 em 90 minutos, se tem de repetir
o processo, exigente e desgastante, quer de chegar a horas, quer de
"conquistar", várias vezes ao longo de um mesmo dia de trabalho, um novo
grupo de 20 a 30 alunos (e todos ao mesmo tempo, não se confunda uma
aula com uma consulta individual ou a gestão familiar de 1, 2, até 6
filhos...)
9º. - É uma
profissão em que é preciso ter sempre a energia suficiente (às vezes
sobre-humana) para, em cada turma, manter a disciplina e o interesse,
gerir conflitos, cumprir programas, zelar para que haja material de
trabalho (muitas vezes nem sequer existindo nos locais de trabalho e
obrigando o professor a trazê-lo de casa!), atenção, concentração,
motivação e produção.
(Batemos aos
pontos as competências exigidas a qualquer dos nossos milionários
bancários, dos inefáveis empresários, dos intocáveis ministros! Ao
contrário deles, e como se não bastasse tudo o que nos é exigido (da
discrepância salarial e demais benesses não preciso nem falar)…
10º. - Ainda somos
avaliados, não pelo nosso próprio desempenho, mas pelos sucessos e
insucessos, os apetites e os caprichos dos nossos alunos e respectivas
famílias, mais a conjuntura política, económica e social do nosso país!
Assim, é bom que a
“cara opinião pública" comece a perceber por que é que os professores
"faltam tanto":
Para além do facto
de, nas suas "imensas" faltas, serem contabilizadas também situações em
que, de facto, não estão a faltar, mas a trabalhar para a escola:
- no acompanhamento de alunos em
visitas de estudo;
- em acções, seminários, reuniões,
para as quais até podem ter sido oficialmente convocados;
- para ficarem a elaborar ou corrigir
testes e afins, que não é suficiente o tempo atribuído a essas tarefas;
- ou, como vem sucedendo ultimamente,
a fazerem (em casa, que é o sítio que lhes oferece condições) horas e
horas não contabilizadas do obrigatório “trabalho de escola”…
Para além disto, e
não é pouco, há pelo menos, como acima se terá visto, toda uma lista de
10 boas e justificadas razões para que o façam.
«... texto de uma
professora que, por achar que em termos de políticas educativas e
laborais deste governo dito socialista estamos muito pior que no tempo
do Salazar, não arrisca a identificar-se...» |
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Um
«mail» de sugestão aos Professores
A propósito das
avaliações e do processo continuado de desacreditação dos Professores
que a Ministra quer impor à opinião pública, gostaria que os Professores
pensassem no seguinte:
Em vez de fazerem
greves inócuas, que ainda por cima cheiram a férias desapropriadas entre
feriados, os professores deveriam pensar seriamente em cumprir
integralmente nas suas escolas o horário de trabalho. Passo a explicar:
Pela manhã, TODOS
os professores se apresentavam nas suas escolas para iniciarem o dia de
trabalho. Agora vai ser necessário um pouco de aritmética, mas da mais
básica. Se um professor tem 3 horas de aulas num dia, cumpre mais quatro
horas de permanência na escola. Nessas quatro horas é suposto corrigir
testes, preparar aulas, elaborar enunciados das provas, etc., etc. tudo
o que se relacione com a sua profissão e que normalmente está habituado
(mal) a fazer em casa. É também suposto utilizar as secretárias, as
cadeiras, os computadores e as impressoras da escola para o trabalho. É
que também é suposto que, antes de exigir resultados, a escola lhe
forneça condições de trabalho.
No final das sete
horas de trabalho diário (7 x 5 = 35) saíam da escola para casa,
deixando na escola o trabalho que ficou por fazer.
Facilmente os
Conselhos Executivos chegarão à conclusão que a escola não oferece
condições aos professores para que estes trabalhem, e terão que o
comunicar ao Ministério, ou não há seriedade. Ou tentarão os Conselhos
Executivos agir de forma a convencerem os professores de que como estes
se acotovelam na escola o melhor será irem para casa?
Mas poderão os
professores ser penalizados por quererem exercer o seu trabalho no local
de trabalho que lhes está por natureza determinado?
Deixem de ser um
bando e passem a actuar como um grupo.
TODOS para as
escolas desde manhã a cumprir o horário de trabalho na escola, o local
de trabalho natural.
Atasquem
completamente as escolas com a vossa presença e deixem que a ausência de
condições de trabalho faça o resto.
Deixem-se de
greves inócuas e atrapalhem verdadeiramente o sistema de forma legal.
Provem de uma vez
por todas que querem trabalhar e que este patrão não vos dá condições de
trabalho, apesar de vos exigir resultados e, ainda por cima,
enxovalhando-vos continuamente.
Substituam os
sindicalistas que vos representam tão mal e que já não sabem o que é dar
uma aula há mais de 20 anos por Professores que saibam discutir os
assuntos de forma séria.
Sejam de uma vez
por todos PROFESSORES UNIDOS.
Se assim não for,
rendam-se às evidências e façam o trabalho dos auxiliares educativos,
que ajudam o ministério a poupar uns cobres.
E NÃO SE QUEIXEM.
Para quem não
sabe, não sou professor. Sou um reles engenheiro que, às vezes, pensa
nestas coisas, muitas delas quando às quatro ou cinco da manhã grito
para a minha mulher que está no escritório a corrigir testes e pergunto
se não se vem deitar.
Agora façam a
vossa parte. Façam
forward
deste
mail para
todos os vossos amigos, especialmente os professores. Comecem a divulgar
esta ideia e pode ser que tenham um futuro melhor.
Artur
Guindeira
Novos Critérios de Avaliação
(Humor)
As coisas têm de mudar, dizem as novas correntes da Educação. Aqui está
um exemplo da NOVA ATITUDE que os professores têm de adoptar, a bem dos
tempos modernos.
Avaliação de um exercício nos tempos que
correm...
(Orientado para professores que têm de mudar... e
cumprir políticas da Sr.ª Ministra... )
QUESTÃO
PROPOSTA: 6 + 7 = ?
A .
EXERCÍCIO FEITO PELO ALUNO: 6 + 7 = 18
B - ANÁLISE:
A grafia do número seis está absolutamente
correcta; o mesmo se pode concluir quanto ao número sete; o sinal
operacional + indica-nos, correctamente, que se trata de uma adição;
Quanto ao resultado, verifica-se que o primeiro algarismo (1) está
correctamente escrito - corresponde ao primeiro algarismo da soma
pedida. O segundo algarismo pode muito bem ser entendido como um três
escrito simetricamente - repare-se na simetria, considerando-se um eixo
vertical! Assim, o aluno enriqueceu o exercício recorrendo a outros
conhecimentos.. a sua intenção era, portanto, boa.
C - AVALIAÇÃO:
Do conjunto de considerações tecidas nesta
análise, podemos concluir que:
A atitude do aluno foi positiva: ele
tentou! Os procedimentos estão correctamente encadeados e os elementos
estão dispostos pela ordem precisa.
Nos conceitos, só se enganou (?) num dos
seis elementos que formam o exercício, o que é perfeitamente
negligenciável.
Na verdade, o aluno acrescentou uma
mais-valia ao exercício ao trazer para a proposta de resolução outros
conceitos estudados - as simetrias... - realçando as conexões
matemáticas que sempre coexistem em qualquer exercício...
Em consequência, podemos atribuir-lhe um...
..."EXCELENTE"...
...e afirmar que o aluno...
..." PROGRIDE ADEQUADAMENTE"!!!
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Introdução
Ensino recorrente: um percurso formativo
Professores: para quê?
Fases do ensino em Portugal
(humor)
Cálculos
Ser professor
Um mail de
sugestão aos professores
Novos critérios de avaliação
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1 - Editorial
2 -
Contos tradicionais portugueses
3
- Água nossa de cada dia...
4 -
Assim vai o ensino em Portugal
5
- Os cais da cidade
6 -
Do Amor
7 - Acerca da poesia de Mário Beirão
8
- Clube de cidadãos
9 - Colóquio Percursos do acanto
10 - A Senhora Colette
11
- Hora do Recreio |
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