BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


Em Louvor da Mãe

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           NEGRA

A negra para tudo
a negra para todos
a negra para capinar plantar
regar
colher carregar empilhar no paiol
ensacar
lavar passar remendar costurar cozinhar
rachar lenha
Limpar a bunda dos nhozinhos
trepar:

A negra para tudo
nada que não seja tudo tudo tudo
até o minuto de
(único trabalho para seu proveito exclusivo) morrer.
Carlos Drummond de Andrade, Boitempo 1

 

       AQUELA NEGRA

Aquela negra, de enxada em punho,
Lutando pela minha fome;
Aquela preta que jorra suores a minha sede;
Que vai de lenha à cabeça
Porque o frio me consome;
Aquela negra, pobre, sem nada,
Que vende panos para me vestir,
Que chora nas ruas o meu nome,
Aquela negra é minha mãe.
Jorge Macedo (Angola)

 

      MÃE NEGRA

A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.


Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.

É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
- Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.

A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços...

Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade...
Aguinaldo Fonseca (Cabo Verde)

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