Os
antigos deuses pagãos eram muito simples. Podiam ser imortais, mas
não eram eternos, já que se sabia como tinham nascido, quem eram
os pais, e quase o momento em que haviam visto a luz.
Enfim,
igualmente sujeitos aos caprichos de um destino que os transcendia,
também eles tinham que se precaver, para não caírem em desgraça,
o que podia acontecer pelas mais desvairadas razões, desde ciúmes
a outras raivinhas menos evidentes. Em suma, eles viviam a sua vida,
quase com tantas maçadas como qualquer comum mortal...
Sem
descurar nenhum deus em geral, os antigos tratavam de se virar para
uma divindade ou outra, consoante o aperto em que se encontravam.
—
JANO —
Entre
os deuses do Estado, havia JANO. Sob o seu comando estavam as
estradas, protegendo, pois, partidas e chegadas. Representado com
dois rostos opostos (um olhando para trás e o outro para a frente),
é considerado por uns como nativo de Roma e por outros como originário
da Tessália. Seja como for, atribuem-se ao seu reinado «as
habituais características da Idade do Ouro: completa honestidade
dos homens, abundância, paz profunda, etc.» E, ao que parece,
nunca ninguém o difamou por ter duas caras, nem consta que ele
fosse apoquentado por crises de identidade...
O
primeiro dia de cada mês era-lhe consagrado, do mesmo modo que o
primeiro mês do ano: Januarius, mês de Jano...
—
MINERVA —
Minerva,
a Palas Atena dos gregos, a deusa da sabedoria, gerada a partir da
cabeça de seu pai (Zeus grego; Júpiter
romano), defendia igualmente o Estado e a pátria
de todos os inimigos
exteriores. Representavam-na com a oliveira — árvore, criada por ela,
que simboliza a
paz e a fecundidade, a purificação, a força, a vitória e
a recompensa — e com
a coruja, ave que, com
os seus olhos muito abertos, é a própria imagem do eterno
deslumbre ante o saber...
—
BACO —
Outro
tipo de satisfação era o provido por Baco, a quem os gregos haviam
chamado Dionísio ou Diónisos, aquele cujas festas se alegravam com
o correr do sumo de uva, ou não fosse ele a divindade da vinha, do
vinho e do delírio místico. Não é pois de estranhar que a sua
existência fosse celebrada por alturas de Setembro, em plena época
de colheitas.
—
MARTE —
Para
as guerras, lá estava outro deus: Marte, que começou a sua carreira
como protector da vegetação que, com o nome de Silvano, tinha também
dado atenção aos rebanhos... Por
isso mesmo, quando já era patrono da
guerra, festejavam-no na chegada da
Primavera que, como todos sabemos,
neste hemisfério é em Março — mês
de Marte.
—
JÚPITER —
Havia
ainda Júpiter, pai dos deuses, casado
com a sua irmã Juno, a deusa da Lua.
Deus do Sol e dos fenómenos atmosféricos, era também grande
protector da cidade, o que não espanta devido à sua fama de
valente guerreiro.
—
VULCANO —
Vulcano,
detentor
de poderes sobre o
Sol e o raio. Dominava o fogo, tanto o benéfico como o dos
incêndios, podia
apagar quando quisesse. Talvez por isso fosse igualmente considerado
protector dos lares.
—
SATURNO —
E
Saturno? Zelava pelas colheitas e por
isso aparecia representado com uma
foice ou uma espiga de trigo nas mãos.
—
MERCÚRIO —
Ao
contrário de Saturno, que era da velha guarda, Mercúrio só foi
tido como importante quando os itálicos deixaram de ser
essencialmente agricultores e passaram a dedicar-se ao comércio,
afinal o seu domínio.
—
VESTA —
A
contrastar com os dois anteriores, Vesta, a
mais bonita das divindades romanas, personificava
o fogo, razão por que era objecto de culto público e
privado.
—
FORTUNA —
Entre
um sem-número de seres que povoavam as águas, os infernos e os
campos, entre outras coisas, não esqueçamos os que habitavam as
cidades, dos quais se
salienta
Fortuna, deusa do destino.
—
GÉNIOS, LARES E PENATES —
Já
ouviram falar em Génios? Juntamente com os Penates e os Lares —
também da cidade —, protegiam as habitações dos
particulares, que por isso, colocavam as suas imagens à entrada das
casas.
In:
292 "Público" VIII, Museus de Portugal (Adaptado)
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