Acesso à hierarquia superior.

Henrique J. C. de Oliveira, Gramática da Comunicação, Col. Textos ISCIA, Aveiro, FEDRAVE, Vol. I, 1993, 311 pp., Vol. II, 1995, 328 pp.


VI

A Língua Portuguesa:
Unidade Sistemática na Diversidade Dialectal

 

Área linguística do português. O discurso: diferentes aspectos de análise. Discurso oral e discurso escrito. Níveis ou registos de língua, dialectos e falares, crioulos e português do Brasil. Alguns traços gerais dos falares portugueses. Falares do português do Brasil. O discurso segundo as pessoas intervenientes na comunicação: discursos de primeira, segunda e terceira pessoa e discursos híbridos. O literário e o não literário.

 
 

O Português, cuja origem e evolução vimos no capítulo anterior, é actualmente uma das línguas mais espalhadas pelo mundo inteiro. É falado por cerca de 150 milhões de pessoas, repartidas por diferentes regiões.

   
 

Figura 40: Línguas mais faladas no mundo: Chinês 23 %, Inglês 9 %, Russo 6 %, Espanhol 5 %, Português 3,5 %, Francês 2 %, restantes línguas 49,5 %.

 


Segundo a Association pour le Développement des Études Portugaises et Brésiliennes de Paris, o
é a quinta língua mais falada no mundo. Segundo as estatísticas (veja-se o gráfico da figura 1), é o a primeira língua mais falada a nível mundial, seguindo-se-lhe o , que se tornou uma língua de comunicação internacional. Em terceiro e quarto lugar temos respectivamente o e o , seguindo-se depois o Português. Na globalidade das línguas faladas em todo o mundo, o Português equivale a uma percentagem de 3,5 %.

A nível do Continente Africano, o Português é uma das três línguas mais importantes. É a língua oficial dos novos países africanos, antigas colónias portuguesas, tornados independentes a partir de 1974: Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique[1].

Na metade sul do Continente Americano, podemos dizer que o Português é a língua de quase metade da população, uma vez que o ocupa 43 por cento da área total do continente.

Com o elevado surto migratório iniciado na década de 60 para os diferentes países da Europa, o Português tornou-se conhecido em diferentes países. Por exemplo, na França é hoje a segunda língua mais falada.

Por esta mesma altura, houve também um elevado surto de emigração para a América do Norte, sobretudo das regiões nortenhas de Portugal ─ Minho e Trás-os-Montes ─ e dos Açores. Nos Estados Unidos, a colónia portuguesa ascende já a cerca de um milhão de pessoas, vivendo cerca de dois terços  na  Califórnia  e  em Massachussets.  Além de conservarem o português de origem, constituem verdadeiras colónias portuguesas, tendo mesmo jornais e programas de rádio e televisão em língua portuguesa.

Esta elevada difusão no mundo actual fez com que o Português seja estudado como língua estrangeira em diversos países, nomeadamente em Espanha[2], França, Inglaterra, Bélgica, Itália, Roménia, Alemanha, Rússia, China, Israel e Estados Unidos da América.

 

ÁREA LINGUÍSTICA DO PORTUGUÊS

 

EUROPA

ÁFRICA AMÉRICA ÁSIA OCEÂNIA

Língua Nacional

Portugal Continental

Regiões Autónomas (Açores e Madeira)

Comunidades de Emigrantes em diversos países europeus

Cabo Verde

Guiné

S. Tomé e Príncipe

Angola

Moçambique

Brasil

Macau

(Região Autónoma)

 

Variedades Regionais (Dialectos e crioulos)

Portugal

Regiões Autónomas (Açores

e

Madeira)

Cabo Verde

Guiné

S. Tomé e Príncipe

Angola

Moçambique

Brasil

Índia

Ceilão

(Indo-Português)

Java e Malaca

(Malaio-português)

Bornéu

Timor

 
Figura 41: Área linguística do português actual.

Os quadros das figuras 41 e 42 permitem-nos fazer uma ideia mais precisa da área linguística do Português, que abrange os cinco continentes, quer como língua nacional, quer como variedades regionais, dialectais e crioulos.

 

 
  Figura 42: Distribuição da área linguística portuguesa. Antes de consultar a nota de rodapé, procure identificar os países ou regiões assinaladas de 1 a 13.  

Vemos que o Português é falado como língua nacional em quatro continentes[3]: na Europa, em Portugal continental, regiões autónomas e em diferentes comunidades de emigrantes, espalhadas por vários países; em África, nos países de língua oficial portuguesa; na América, no vastíssimo território do Brasil; na Ásia, na região autónoma de Macau.

Como variedades regionais, dialectais e crioulos, o Português ocupa os 5 continentes. Além de inúmeras variedades regionais, a que se dá o nome de falares, e de quatro dialectos, em Portugal continental e regiões autónomas, o  Português deixou vestígios no resto do mundo. Em África, nos novos países de expressão portuguesa, ao lado do português padrão e oficial, encontramos os chamados crioulos.

Na Índia, onde outrora os portugueses tiveram diversos territórios ─ Goa, Damão e Diu ─ , bem como em Ceilão, existem vestígios do português (o indo-português). Em Goa, actualmente, procura-se organizar uma associação para defesa da cultura portuguesa e para conservação dos vestígios e do património histórico português que ainda subsiste.

Em Malaca, fala-se ainda um Português sui-generis, no estilo do século XVI. Aqui vive uma comunidade muito ligada à vida do mar, de origem portuguesa, que conserva ainda os apelidos portugueses e um português com características próprias, designado pela expressão malaio-português.

Relativamente a Macau, existe actualmente a Fundação do Oriente, que visa a defesa da herança aí deixada pelos portugueses. Dentro de alguns anos, a administração do território será entregue à China. Como o idioma português apenas é falado por cerca de 5 % dos habitantes, poder-se-á talvez adivinhar o que lhe irá acontecer no futuro, a menos que a sua preservação seja devidamente salvaguardada.

 

DIFERENTES ASPECTOS DE ANÁLISE DO DISCURSO

Vimos já, em capítulo anterior, o que se entendia por discurso. Dissemos então que o vocábulo poderia ter diferentes acepções consoante as correntes e pressupostos inerentes a cada estudioso.

Vimos que discurso é a realização individual da língua através do acto de fala ou, como dizia Tatiana Slama-Casacu, então referida, é a «realização verbal do processo da comunicação», é o «acto de utilização individual e concreto da  língua no quadro do processo complexo da linguagem.»

Se consultarmos um dicionário de linguística, verificaremos que, para além da primeira definição por nós apresentada linguagem em acção, praticada por cada sujeito falante no acto comunicativo , poderemos encontrar outras formas mais complexas de considerar o discurso. Numa acepção linguística moderna, discurso designa todo o enunciado superior à frase, obedecendo a um conjunto de regras que permitem a coerência e o desenvolvimento lógico das diferentes frases que compõem um determinado enunciado, um dado texto. Não nos esqueçamos que todo o acto de fala gera textos, mais ou menos longos, constituídos por uma ou várias frases que se sucedem segundo um encadeamento lógico e coerente.

Segundo Émile Benveniste, o discurso, que tem como unidade linguística a frase, caracteriza‑se por uma enunciação, que pressupõe a existência de um emissor e de um receptor e uma vontade do primeiro influenciar de algum modo o segundo.

Há no entanto formas de discurso em que os sujeitos emissor e receptor o eu e o tu se encontram ausentes, como no caso do discurso pedagógico, em que apenas se encontra a terceira pessoa.

Assim sendo, se o discurso é todo o enunciado produzido durante o acto de fala por um sujeito falante, no acto comunicativo poderemos identificar discurso com texto, seja ele oral ou escrito, e, como tal, analisá-lo tendo em conta toda uma série de aspectos:
 

· segundo as pessoas accionadas no processo da enunciação linguística;

· segundo a forma de transcrição do enunciado ou modo de enunciação;

· segundo o estrato social do sujeito falante ou a situação em que ocorre a enunciação;

· segundo a forma de realização, oral ou escrita;

· segundo o grau de elaboração do discurso;

· segundo o modo de expressão desse mesmo discurso.
 

Possivelmente, poderemos ainda analisar o conceito de discurso segundo outras perspectivas, que não têm para nós interesse, como é, por exemplo, uma perspectiva psicológica ou, mais rigorosamente, psicanalítica. Está neste caso o estudo de Jacques Lacan, psicanalista francês, que estudou as regras do discurso ou processos discursivos tendo em conta a função e o campo da linguagem em psicanálise.

O quadro da figura 43, ainda que passível de crítica, tem a vantagem de nos apresentar, de forma clara, alguns dos diferentes aspectos que teremos de abordar para um conhecimento adequado da língua que utilizamos nas suas várias formas de realização.

Será com base nos elementos do quadro referido, embora não obrigatoriamente por essa ordem, que iremos analisar os diferentes aspectos, de acordo com uma sequência que nos pareça mais lógica e partindo de conhecimentos mais amplos para mais específicos e técnicos.

 

Segundo as pessoas accionadas no processo da enunciação linguística

Discurso de 1ª pessoa

Discurso de 2ª pessoa

Discurso de 3ª pessoa

Discursos híbridos

Quanto à forma de transcrição do enunciado ou modo de enunciação

Discurso directo

Discurso indirecto

Discurso indirecto-livre

Quanto ao estrato social ou situação em que ocorre o discurso

Níveis ou registos de língua

Dialectos e falares

Crioulos

Português do Brasil

Quanto à forma de realização do discurso

O oral

O escrito

Quanto ao grau de elaboração do discurso

O literário

O não literário

Quanto ao modo de expressão

Descrição

Narração

Diálogo

Monólogo/efusão lírica

Quanto aos tipos de mensagem verbais

Orais: informação, relato, saudação, sugestão, ordens, etc.

Escritos: relatório, acta, carta, dissertação, etc.

 
 

Figura 43: Quadro com os diferentes aspectos de análise do discurso.

 

 

DISCURSO ORAL E DISCURSO ESCRITO

Vivendo o Homem em comunidade, a necessidade de troca de ideias, de comunicação, tornou‑se desde logo um factor indispensável para o nascimento de uma faculdade nova entre esta espécie animal, mais evoluída e dotada de capacidades intelectuais superiores: a linguagem. Vimos em textos anteriormente transcritos como alguns linguistas procuraram explicar, de modo lógico e verosímil[4], o aparecimento da linguagem, actividade cultural e finalística que tem por objectivo a comunicação, e, consequentemente, numa primeira etapa, a linguagem falada, constituída por uma complexidade de processos, de mecanismos e de meios expressivos.

Com a multiplicação das diferentes sociedades humanas e com o volver dos tempos, com uma sucessão de gerações diferentes e cada vez mais evoluídas, foram surgindo os diferentes códigos linguísticos, as diferentes línguas, durante muitos séculos apenas utilizadas entre os diferentes membros de uma comunidade no plano da oralidade e transmitidas de pais para filhos, perdendo algumas unidades significativas, caídas em desuso, mas sempre aumentando cada vez mais o património cultural comum com novos vocábulos e novas capacidades de expressão de vontades, de sentimentos e de ideias cada vez mais complexas.

Mas esta comunicação oral, apesar de todas as suas características, que a tornam o meio ideal de comunicar, apresenta, no entanto, as suas desvantagens: é não só volátil, isto é, perde‑se facilmente, como exige a presença dos sujeitos falantes. Daí que, a partir de certo momento, o Homem tenha sentido a necessidade de tornar as suas mensagens mais duradouras e eficazes, criando um sistema de comunicação que habitualmente designamos por código escrito.

A passagem do domínio do oral para o escrito não se processou facilmente de um dia para o outro. A comunicação entre indivíduos, sem a necessidade da sua presença frente a frente, através da mensagem escrita, conheceu um lento processo evolutivo até alcançar as características da actual comunicação escrita.

Muitos pensadores se debruçaram já sobre o problema das origens da escrita, procurando explicar mesmo as causas do seu aparecimento. Não precisamos de recorrer à Antiguidade greco‑latina para darmos exemplos dessa reflexão. Bastar‑nos‑á lermos alguns escritores medievais portugueses. Todos são unânimes num aspecto: a necessidade não só de comunicar na ausência de um interlocutor, mas sobretudo o desejo de guardar para as gerações vindouras os conhecimentos que iam sendo gradualmente adquiridos e que, sem a sua fixação pela escrita, ficariam irremediavelmente perdidos. Recorde‑se, a título exemplificativo, o texto transcrito do Prólogo do Livro da Montaria de D. João I[5].

Em tempos muito remotos, o Homem procurava já registar para a posteridade os factos mais significativos da sua vida, gravando nas paredes das cavernas as suas façanhas de caça. Desde esta forma primitiva de escrita figurativa ou pictográfica até à escrita actual vai um salto de gigante, passando por várias formas intermédias de escrita: em caracteres hieroglíficos, depois simplificados para maior rapidez de escrita; em caracteres cuneiformes, escrita ainda mais sintética e complexa; em caracteres alfabéticos, reproduzindo mais ou menos os sons e a linearidade da cadeia fónica[6].

Podemos dizer que o código escrito é uma representação da língua falada por meio de sinais gráficos. É, segundo os linguistas, um código de comunicação de segundo grau relativamente ao código oral, que será do primeiro grau. Enquanto o código oral se desenvolve no tempo e se perde a menos que usemos os meios modernos de registo do som , a escrita tem um suporte material que permite conservá‑la e que possibilita uma comunicação diferida, capaz de vencer a barreira do tempo, podendo conservar‑se através das gerações.

Estamos já a ver que entre o código oral e o escrito há toda uma série de diferenças bastante apreciáveis, diferenças essas que iremos procurar analisar.

A expressão «língua escrita» ou «código escrito» pode ter dois sentidos diferentes. Numa primeira acepção, o código escrito é o conjunto de formas específicas que se utilizam quando escrevemos, quando redigimos um texto com determinadas características estilísticas, como é o caso, por exemplo, dos textos literários. Obtêm‑se deste modo textos cujo nível se opõe a uma linguagem familiar ou a uma linguagem popular. Numa segunda acepção, a língua escrita pode ser entendida como a transcrição do código oral ou falado. Quer encaremos o código escrito no primeiro, quer no segundo sentido, a realidade é que se estabelecem desde logo diferenças entre as duas formas de realização da língua.

A primeira grande diferença ressalta desde logo a partir da própria substância fónica ou gráfica com que o acto comunicativo se realiza. A língua falada apoia‑se numa substância de carácter sonoro, constituída por unidades de sentido a que damos o nome de sintagmas, unidades estas que são pronunciadas segundo uma determinada entoação, um determinado ritmo, com pausas mais ou menos prolongadas e acompanhadas, muitas vezes, de um código comunicativo secundário que ajuda a reforçar o primeiro a linguagem gestual.

A língua escrita ou, melhor dizendo, o código ou discurso escrito, apoia‑se numa substância gráfica, de carácter visual, cuja unidade gráfica é a palavra. Perde características inerentes ao código oral, como a entoação, o ritmo e suportes comunicativos complementares (caso da linguagem gestual), utilizando como compensação um conjunto de sinais auxiliares as notações léxicas ou sinais ortográficos e os sinais de pontuação[7].

Além destas diferenças a nível da substância, o código ou discurso oral exige a presença dos sujeitos que comunicam, tornando‑se consequentemente a transmissão e a recepção quase simultâneas. É também mais espontâneo, menos reflectido, acompanhado de marcas fáticas, apresenta frequentemente repetições desnecessárias e exige uma atenção imediata e permanente do receptor; caso contrário, gerar‑se‑ão situações de ruído pela não compreensão da mensagem.

O código escrito utiliza normalmente um vocabulário e estrutura mais complexos, tornando‑se por isso menos espontâneo e mais reflectido. Apresenta uma maior estabilidade e possibilidade de difusão, permitindo um contacto com a mensagem tantas vezes quantas o leitor desejar. Não há, pois, o perigo do receptor deixar de captar a mensagem por falta de atenção, podendo este tomar contacto com o conteúdo do texto quando e tantas vezes quantas quiser. Deste modo, pode desafiar a barreira do tempo, podendo‑se perpetuar através dos anos.

O quadro da figura 44 apresenta‑nos, de modo sistematizado e bastante completo, as diferenças entre o discurso oral e o discurso escrito, dispensando‑nos quaisquer comentários.

 

DISCURSO (CÓDIGO) ORAL

DISCURSO (CÓDIGO) ESCRITO

· Locutor e ouvinte têm de estar presentes

 

· A emissão e a recepção são quase simultâneas, desenrolando-se no tempo

 

 

 

· É volátil, perdendo-se no espaço uma vez emitido

 

· Possibilidade de alternância da situação emissor-receptor

 

 

 

· O discurso é espontâneo e irreversível, não sendo possível corrigir sem apresentar a mensagem de outra forma

 

 

· Sintaxe simplificada, frases inacabadas, repetições, quebras sintácticas, recursos estilísticos reduzidos ou nulos, adjectivação pobre, etc.

 

 

 

· Léxico fundamental, com palavras fáticas pelo meio para manter o contacto

 

 

· Igualdade do contexto espaço-temporal para emissor e receptor

 

 

· Alusão explícita ou implícita aos referentes situacionais

 

· Recurso à entoação, às pausas, aos acentos de insistência, ao ritmo e à linguagem gestual

 

· Mensagens mais curtas e simples

· O codificador do texto não necessita de estar em presença do leitor

 

· O intervalo entre a codificação da mensagem e a leitura pode ser mais ou menos longo, uma vez que a comunicação é diferida

 

· É estável, podendo perpetuar-se, passando de geração em geração

 

· A alternância da situação emissor-receptor torna-se mais demorada e mais difícil, sendo mesmo frequentemente impossível

 

· O codificador da mensagem tem tempo para reflectir, podendo seleccionar o vocabulário e compor o discurso


 

· Sintaxe elaborada, frases complexas, repetições desnecessárias inexistentes, frases sintacticamente correctas, recursos estilísticos em maior ou menor grau, maior adjectivação, etc.

 
 

· Léxico mais escolhido, podendo apresentar sinónimos, vocábulos usados menos frequentemente

 

· O contexto situacional está ausente, podendo ou não ser descrito pelo emissor

 

· Os referentes situacionais têm de ser descritos

 

· Recurso aos sinais de pontuação e de acentuação

 

 

· Mensagens mais longas e complexas
 

 
 

Figura 44: Quadro com as diferenças entre o código oral e o código escrito.

 

 

Sugestão de trabalho 12 

1 - Leia atentamente o texto de Almada Negreiros, «História das Palavras».

HISTÓRIA DAS PALAVRAS

As mulheres e os homens estavam espalhados pela Terra. Uns estavam maravilhados, outros tinham-se cansado. Os que estavam maravilhados abriam a boca, os que se tinham cansado também abriam a boca. Ambos abriam a boca.

Houve um homem sozinho que se pôs a espreitar esta diferença havia pessoas maravilhadas e outras que estavam cansadas.

Depois ainda espreitou melhor: todas as pessoas estavam maravilhadas, depois não sabiam aguentar-se maravilhadas e ficavam cansadas.

As pessoas estavam tristes ou alegres conforme a luz para cada um mais luz, alegres menos luz, tristes.

O homem sozinho ficou a pensar nesta diferença. Para não esquecer, fez uns sinais numa pedra.

Este homem sozinho era da minha raça era um Egípcio!

Os sinais que ele gravou na pedra para medir a luz por dentro das pessoas, chamaram-se hieróglifos.

Mais tarde veio outro homem sozinho que tornou estes sinais ainda mais fáceis. Fez vinte e dois sinais que bastavam para todas as combinações que há ao Sol.

Este homem sozinho era da minha raça era um Fenício.

Cada um dos vinte e dois sinais era uma letra. Cada combinação de letras uma palavra.

José de ALMADA NEGREIROS, in Obras Completas
 

Agora, que acabou de ler atentamente o texto de Almada Negreiros, procure responder às seguintes questões:

1 - A cada um dos dois primeiros parágrafos, o Autor faz corresponder dois tipos de homem:

1.1 - Caracterize-os;

1.2 - Indique  qual o que lhe parece ter contribuído para uma evolução dos conhecimentos, justificando adequadamente a sua opção.

2 - «Para não esquecer, fez uns sinais numa pedra». Esta frase documenta um momento importante na área da comunicação:

         2.1 - Demonstre-o;

2.2 - Releia a nota 7 (pág. 9) e indique qual a etapa a que corresponde, tendo em conta a classificação de M. Cohen.

3 - «Mais tarde veio outro homem sozinho que tornou estes sinais ainda mais fáceis.»  (l. 17):

3.1 - Indique as grandes vantagens deste novo sistema.

3.2 - Identifique a etapa correspondente, tendo em conta a classificação de M. Cohen anteriormente referida.

4 - No texto de Almada Negreiros são referidas algumas das grandes vantagens dos sistemas inventados pelos «homens sozinhos»:

         4.1 - Identifique as vantagens explicitadas no texto;

4.2 - Procure (oralmente ou por escrito) recordar as diferenças entre os dois tipos de registo (ou códigos) implícitos no texto. No final, compare e complete o seu trabalho recordando as ideias expressas no quadro da figura 44.

5 - Recorde o conceito de palavra (ou de signo linguístico) que estudou no vol. I e procure classificar as 10 palavras do texto transcritas no quadro, tendo em conta:

         5.1 - O número de sílabas;

         5.2 - A acentuação.

 

maravilhados - também - sozinho - esquecer - Egípcio - hieróglifos - fáceis - combinações - gravou - Sol

 

2 ‑ Leia atentamente o texto que a seguir se transcreve, extraído da obra de Ferdinand de Saussure, Curso de Linguística Geral, pp. 56‑59:

PRESTÍGIO DA LÍNGUA ESCRITA

E CAUSAS DO SEU ASCENDENTE SOBRE A FORMA FALADA

Língua e escrita são dois sistemas de sinais distintos; a única razão de ser do segundo é representar o primeiro; o objecto linguístico não é definido pela combinação da palavra escrita e da palavra pronunciada; esta última constitui, por si só, esse objecto. Mas a palavra escrita mistura‑se tão intimamente com a palavra pronunciada de que é imagem que acaba por usurpar o papel principal; acaba‑se por dar tanta importância à representação do signo vocal do que ao próprio signo. É como se se acreditasse que, para conhecermos alguém, mais vale olhar uma fotografia do que um rosto.

Esta ilusão existiu sempre e as opiniões correntes sobre a língua são desvirtuadas por ela. Assim, muitos acreditam que um idioma se altera mais rapidamente quando não há escrita; nada mais falso. A escrita pode, em certas condições, atrasar as modificações de uma língua, mas a sua conservação não fica de modo nenhum comprometida pela ausência da escrita. O lituano, que se fala ainda hoje na Prússia oriental e numa parte da Rússia, só é conhecido por documentos escritos a partir de 1540; mas nesta época tardia ele dava, em globo, uma imagem tão fiel do indo‑europeu como o latim do século III antes de Cristo. Só isso chega para mostrar como a língua é independente da escrita. (...)

Mas como se explica este prestígio da escrita?

1º ‑ A imagem gráfica das palavras surge‑nos como um objecto permanente e sólido, mais próprio do que o som para constituir a unidade da língua através dos tempos. Pode este laço ser superficial e criar uma unidade puramente factícia: ele será sempre mais fácil de apreender do que o laço natural, o único verdadeiro, o do som.

2º ‑ Para a maioria dos indivíduos as impressões visuais são mais nítidas e mais duradouras que as imagens acústicas; por isso dão normalmente mais importância às primeiras. A imagem gráfica acaba por se impor com prejuízo do som.

3º ‑ A língua literária aumenta ainda a imerecida importância da escrita. Ela tem os seus dicionários, as suas gramáticas; é a partir do livro e pelo livro que se ensina na escola; a língua aparece regulada por um código; ora este código é, ele mesmo, uma regra escrita, submetida a um uso rigoroso a ortografia. Eis o que confere à escrita uma importância primordial. Esquecemos que se aprende a falar antes de se aprender a escrever, e invertemos a relação natural.

4º ‑ Por fim, quando há um desacordo entre a língua e a ortografia, só o linguista consegue resolver a questão; mas como este não tem voto na matéria, a forma escrita toma fatalmente o primeiro lugar porque uma solução que assenta nela é sempre mais fácil; a escrita consegue assim uma importância a que não tem direito.

FERDINAND DE SAUSSURE, Curso de Linguística Geral, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1971, pp. 56‑59.

1.1 ‑ Efectue a síntese das ideias do texto.

1.2 ‑ Consulte atentamente o quadro da figura 44.

1.3 ‑ Estabeleça uma relação entre o texto acima transcrito e os elementos apresentados no quadro da figura 44.

2 ‑ Como trabalho prático, efectue a seguinte experiência: com um gravador, registe uma conversa ocasional entre si e um amigo ou entre amigos seus conhecidos. Em seguida, efectue a transcrição para uma folha de papel, procurando reproduzir o mais fielmente possível o conteúdo do registo magnético: as ideias, as hesitações e pausas no diálogo, as entoações, etc., de tal modo que a leitura permita reconstituir mentalmente o diálogo tal como ele ocorreu. 

2.1 ‑ No final do trabalho, retire as suas próprias conclusões. Aspectos que poderá ter em conta na sua reflexão: facilidade ou dificuldade da tarefa realizada e porquê; características de um e outro registo; meios utilizados para reproduzir fielmente o registo magnético; etc.

3 - A actividade seguinte consiste numa proposta para um trabalho de pesquisa, tendo diversos objectivos, entre os quais o de procurar levá-lo a recorrer às fontes de informação de que o homem moderno, quase em finais do século XX, dispõe.

3.1 - Procure encontrar e fotocopiar a entrevista «Colonialismo de pobres», publicada em 15 de Outubro de 1995, no suplemento dominical do «Magazine» nº 292 do jornal "Público".

3.2 - Releia atentamente as páginas iniciais deste volume relativas à «Área Linguística do Português» (pp. 1-5).

3.3 - Leia atentamente na íntegra a entrevista acima referida, tendo o cuidado de, à medida que for efectuando a leitura, destacar (sublinhando ou assinalando na margem) as informações essenciais, especialmente as que possam estar relacionadas com as páginas 1 a 5 deste livro.

3.4 - Procure resumir as ideias da entrevista.

3.5 - Procure extrair algumas ilações relativamente ao tema «Área Linguística do Português».

OBSERVAÇÃO Na impossibilidade de concretizar o ponto 3.1 da «Sugestão de trabalho», recorra aos excertos da entrevista a seguir transcritos:

COLONIALISMO DE POBRES

A série «O Mundo de Cá», produzida pela RTP e hoje (dia 16 de Outubro) em estreia na TV2, deambula pelos lugares do Império Português no Oriente. A aventura, os autores irão explicá-la pela sua própria pena, no «Público-Magazine» ao longo das próximas semanas. Agora, em entrevista, Camilo Azevedo e Paulo Varela Gomes falam da série. Sobre os mundos de cá e de lá.

O projecto de "O Mundo de Cá" levou dois anos a ser concretizado e consumiu dez semanas de filmagens na índia e em Ceilão, depois de uma preparação exaustiva. Em terras tão remotas que algumas delas, como Mandu (na Índia), nunca mais foram visitadas por portugueses desde há séculos. Para os seus autores, tratou-se de tentar procurar aquilo que da cultura portuguesa foi alterado pela força das outras culturas. Na Índia, por exemplo.

Produzida pela RTP, apoiada pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (CNCDP) e pela Fundação Oriente, O Mundo de Cá levou-nos longe na conversa. Ultrapassando os limites estritos da própria série, para falar sobre expansão, comemorações, política cultural. Porque não envereda propriamente pelo comemorativismo oficial das Descobertas. Foi por aí que se começou. Numa conversa indolente, um registo que une portugueses e orientais.

PÚBLICO A visão da História que consta de O Mundo de Cá está longe de ser a versão oficialista da História das Descobertas portuguesas. Isso correspondeu a uma opção de origem?

PAULO VARELA GOMES    A nossa primeira opção,  antes mesmo de começar  a  escrever  uma  linha  do  guião,  foi  tentar olhar para a Índia ex-portuguesa não de um ponto de vista paroquial, ou seja, não de um ponto de vista português, nem como mais uma daquelas expedições para encontrar mais uma pedrinha portuguesa e mais um velhinho ou velhinha que ainda falem português e mais uma memória nostálgica do Império. Antes tentar procurar aquilo que da cultura portuguesa foi alterado pela força das culturas que encontrámos na Índia. Foi, assumidamente, um ponto de vista artístico-cultural, que não fosse eurocêntrico e, concretamente, lusocêntrico. Sabendo que somos europeus e, portanto, o nosso ponto de vista é sempre europeu, não há volta a dar.

P. O que resulta da vossa série, em muitas referências, é a imagem do português torcionário, notando-se alguma tentativa de desconstrução da presença portuguesa na Índia. Terá ela sido falhada pela CNCDP?

CAMILO AZEVEDO    Acho que têm sido editados textos   e estou--me a lembrar de textos do Luís Filipe Thomás patrocinados pela CNCDP, que têm um ponto de vista muito próximo. Parece-me é que o que ressalta do trabalho da comissão são as partes mais positivas. A maior parte das nossas fontes foram textos da época. Nós fizemos uma colagem desses textos. Se fizermos uma análise, na Índia, o Império era uma rede de entrepostos e o Estado pouco lucrava com aquilo.

(...)

P. Então, existe um discurso oficial sobre os Descobrimentos?

P.V.G. É um discurso para diplomacia do final do século XX. É um discurso de continuidade, do género "vamos conversar, vamos fazer acordos culturais, vamos entender-nos".

P. Um discurso bastante inútil, em termos práticos...

C.A É um discurso afectivo. Nós temos traumas. Não podemos comparar-nos com os ingleses, que saíram marcando a data com dois anos de antecedência. Nós saímos mal. Um exercitozinho atacou Diu e saiu tudo em pânico. Saímos de cabeça baixa, traumaticamente. Além de uma parte afectivo-cultural, em Goa não ficou nada. A nossa relação com a Índia é perfeitamente periférica, sempre o foi.

P.V.G. Não há explicações ou melhor, há, mas são todas más para este pais, ao fim destes anos todos, não conseguir ter, sobre o seu próprio passado colonial, um ponto de vista claro. Como os espanhóis tentaram ter, também por razões diplomáticas, com a América Latina, como os ingleses têm.

P. No vosso trabalho, só muito incidentalmente se fala de história política. Também foi deliberado?

P.V.G. Foi uma opção deliberada. Só fomos "obrigados" a lidar um pouco em torno da história política em relação a Ceilão. Por uma razão objectiva, muito dura e muito clara: em Ceilão, os vestígios materiais da cultura portuguesa a língua não se filma e a religião filmámo-la um pouco não existem como na Índia. Por cima deles passaram os holandeses, os ingleses, a República de Ceilão, e não há nada. Encontrámos a malha urbana, nalgumas cidades, implantada pelos portugueses há 500 anos, mas a malha urbana não se filma.

P. Uma preocupação suscitada pelo vosso programa é o da preservação desses vestígios portugueses... É um verdadeiro libelo ao Estado português.

P.V.G. Espero que isso seja interpretado um pouco nessa direcção. Devo recordar que a última vez que se fizeram levantamentos em Chaul e Baçaim, que já não são cidades portuguesas desde o século XV, foi na altura do Estado Novo. A última vez que houve uma campanha grande para microfilmar os arquivos goeses foi durante o Estado Novo. Uma política de património está obrigatoriamente ligada a um Estado forte. O resto é música... Não há iniciativa privada no mundo que substitua o Estado na política patrimonial. A preservação desses vestígios é uma questão dos Estados de lá e do Estado de cá.

P. A situação é dramática

P.V.G. A situação é muito má, com excepção dos monumentos que mantêm uma ocupação. Talvez houvesse que dizer isto: a nossa concepção ocidental do monumento não tem nada que ver com a oriental, embora eles estejam aos poucos a absorver a concepção patrimonial europeia. A concepção europeia é muita nostálgica, triste, de alguém que quer manter os monumentos do passado porque sente que está mal hoje. É o desconforto em relação ao mundo de hoje que nos faz olhar muito para os monumentos antigos. No Oriente, os monumentos são constantemente apropriados e mudados não há um templo budista em Ceilão, um, que esteja intacto. São sociedades para quem o tempo não é uma ameaça e para quem a continuidade cultural é absoluta. Por outro lado, a Índia é o país com mais monumentos do mundo, mais do que a Itália, mas sem qualquer possibilidade às vezes, mesmo sem interesse de os manter.

C.A. Dada a pressão humana, a preservação é grande. Há uma tendência menor para a destruição. As coisas vão ficando.

(...)

P. A série destrói o mito de São Tomé na Índia.

P.V.G. Apontamo-lo como mito, que é o que ele é. A lenda de São Tomé é uma lenda. Não sei se ele, discípulo de Cristo, esteve na Índia ou não, nem isso importa muito. O que importa é o que os portugueses quiseram fazer com São Tomé. Nós falamos disso como uma "invenção de uma geografia sagrada". Essa foi parte da estratégia multifacetada do núcleo que se agrupava em torno do rei D. Manuel, um grupo que não deve ser subestimado, de gente muito culta e com a ambição de projectar uma imagem imperial. De herança dos grandes impérios. Não temos da História uma visão economista.

P. Mas têm uma visão dos Descobrimentos como opressão?

P.V.G. Temos uma visão de toda a expansão territorial e colonial como opressora. Aliás, o programa também refere a expansão colonial muçulmana. Toda a expansão colonial das culturas do Ocidente, de matriz que costumamos chamar judaico-cristã, mas que implica também os muçulmanos, é fortemente sectária. São culturas que acham que têm uma missão, a de converter, de evangelizar. Que é uma coisa que nunca aconteceu com a cultura hindu, muito menos com a budista.

(...)

P. O que distinguia o colonialismo português?

P.V.G. O que distingue não é o sermos menos ou mais racistas. O nosso foi um colonialismo de pobres, mais nada. Nos sítios onde a gente se instalou, os portugueses eram tão pobres ou mais pobres do que as populações que lá viviam. Menos cultos e mais pobres. A relação que se estabeleceu foi sempre marcada pela barreira da raça e da religião, mas permeável pelo facto de sermos tão pobres como eles. Coisa que nunca sucedeu com os ingleses. De alguma maneira, os ingleses fizeram condomínios fechados na Índia, nós não tínhamos dinheiro para isso. É isso que faz com que vejamos o nosso racismo como não sendo racista. Isso explica muito de um certo sucesso do modelo civilizacional. Os ingleses tiveram imenso sucesso no seu modelo civilizacional na Índia, mas a que nível? Na classe alta. Universidade, administração pública, forças armadas. Isso ainda é hoje "inglês" na Índia. Nós tivemos imenso sucesso em Goa a que nível? Classe média, baixa.

P. Qual dos dois aproveitou mais aos indianos?

P.V.G. Se falamos de escolas, estradas, caminhos-de-ferro, serviços de saúde, o modelo inglês aproveitou mais. Se falamos de uma certa doçura de viver, de capacidade de relacionar-se com as pessoas, de andar mais ou menos contente com a vida, de pôr de lado o "stress", foi o modelo português. Não há novidade nenhuma, é como cá.

(...)

P. A série é um trabalho condenado em termos de "share"... Não foi trabalho a mais para público a menos?

C.A.   Se for o público certo,  estou-me nas tintas.  Não quero dirigir--me ao público do [Não se Esqueça da] Escova de Dentes.

P.V.G. Nem eles querem ver isto, nem por um segundo. São públicos diferentes. Aqui são três por cento, noutros países são mais, mas serviço público de televisão é isto, no sentido mais literal do termo.

C.A. Há o serviço público de televisão dos políticos, que se resume ao telejornal, e há o serviço público das pessoas com este tipo de programas e outros, que se podem fazer até com poucos meios.

P. Há outros projectos em carteira?

C.A. Já propusemos um programa sobre a Rota da Prata dos portugueses na América Latina.

P.V.G. É outra história desconhecida. Houve na América Latina espanhola, no século XVI e XVII, milhares de portugueses que iam à prata espanhola. Eram perseguidos na América Latina e, no Peru, eram condenados e executados em auto de fé como sendo judeus ou cristãos-novos e muitos deles eram-no, de facto. Há uma conexão, que liga Sevilha, com uma fortíssima comunidade portuguesa, Amsterdão, com os cristãos-novos portugueses, e Lima, no Peru. Essa gente ia para a América Latina à procura de prata e depois acompanhava o contrabando do metal, descendo o Rio da Prata até à actual Buenos Aires e Montevidéu, onde havia um enclave português. A ideia era fazer disto uma história de aventuras, trágico-cómica.

(...)

Texto de Duarte Moral e Pedro Rosa Mendes, Colonialismo de pobres, In: "Público-Magazine", Nº 292, pp. 18-24 de 15/10/1995.

 


[1] – Estes países são habitualmente designados pela sigla PALOP, ou seja, Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

[2] – Segundo informação oral fornecida pelo Padre Dr. Joaquim António de Aguiar, durante o Colóquio-Debate sobre o V Centenário dos Descobrimentos, realizado em Aveiro no dia 19 de Maio de 1990, cerca de 150 alunos frequentavam já, por esta altura, na Universidade de Salamanca, um Curso de Língua e Cultura Portuguesa.

[3] – Identificação dos países ou regiões indicadas no mapa da figura 3: 1-Portugal; 2-Açores; 3-Madeira; 4-Cabo Verde; 5-Guiné; 6-S. Tomé e Príncipe; 7-Angola; 8-Brasil; 9-Moçambique; 10-Goa, Damão e Diu; 11-Ceilão; 12-Macau; 13-Timor.

[4] Veja‑se o texto extraído da obra de J. VENDRYES, Le langage. Introduction linguistique à l'histoire, Paris, La Renaissance du Livre, 1929, pp. 16-17, transcrito na primeira parte do nosso trabalho, capítulo III, páginas 91‑92.

[5] Veja‑se o texto de D. João I, Prólogo do Livro da Montaria, transcrito no capítulo V, texto 2, páginas 241 a 244, da primeira parte do nosso trabalho.

[6] Acerca da evolução dos sistemas de escrita têm sido propostas diversas classificações. A classificação tradicional de M. Cohen é histórica e distingue três etapas: a) os pictogramas, escrita arcaica figurativa; b) os ideogramas, sinais que representam mais ou menos simbolicamente o significado das palavras; c) os fonogramas, sinais abstractos que representam elementos de palavras ou sons e que estão na origem dos alfabetos.

Posteriormente, apresentaram‑se outras classificações, que consideram cinco etapas: a) os fraseogramas, que transmitem mensagens inteiras e se subdividem em dois grupos: os pictogramas e os sinais convencionais (signos totémicos, tabus, mágicos, etc); b) os logogramas (termo proposto por Bloomfield), que equivalem, no fundo, aos ideogramas, com dois tipos: logogramas semânticos e logogramas fonéticos; c) os morfemogramas, que marcam as diversas partes da palavra os morfemas; d) os silabogramas, que distinguem as diferentes sílabas; e) os fonogramas.

Para um conhecimento rápido mas com uma certa profundidade do problema das origens e evolução da escrita, que ultrapassa o âmbito do nosso estudo, aconselhamos a consulta do artigo presente no Dictionnaire de Linguistique, Librairie Larousse, 1973, páginas 175‑181, que aborda os seguintes aspectos: 1‑As origens da escrita; 2‑As condições da evolução da escrita; 3‑os pictogramas; 4‑os ideogramas; 5‑As escritas silábicas e alfabéticas.

[7] Veja‑se o capítulo IV, Da correcção na expressão escrita. Ortografia e notações léxicas, onde são estudados os sinais ortográficos (notações léxicas) e os sinais de pontuação relativamente ao Português, na 1ª parte deste trabalho, pp. 129-174, e, mais restritamente, as páginas 144 a 151.

 

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