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Origens da língua portuguesa: antecedentes históricos; povos da
Península Ibérica anteriores à romanização; noção de substrato;
a romanização; a noção de România e as línguas românicas; os
Bárbaros; a invasão árabe e a reconquista cristã; os
superstratos; os conceitos de latim erudito, latim vulgar e
latim cristão; do latim ao português.
Do século XII à actualidade: as diferentes periodizações na
evolução do português; a via erudita e a via popular; o período
galaico-português; Lisboa, centro difusor da língua padrão; os
cancioneiros; os primeiros textos em português: um testamento;
Cantiga da Garvaia; Cantiga de D. Sancho I; duas cantigas de D.
Dinis; uma cantiga de Afonso X; o período pré-clássico:
principais datas referentes à expansão portuguesa; alguns textos
desta fase; o período clássico: enriquecimento lexical do
português; alguns textos e nomes; os gramáticos; o período
moderno: breve panorama. |
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PERÍODO CLÁSSICO
Este
período, que se estende de 1540 a 1750, corresponde a uma fase em que
Portugal atinge o ponto mais alto do seu poderio económico e político
e, consequentemente, a um virar no sentido descendente ─ o começo da sua
decadência.
O século XVI é para Portugal uma era de transformação e
remodelação. Se, por um lado, as navegações e a descoberta de novos
mundos alargam os horizontes geográficos e científicos, por outro, a
acção dos humanistas dá a conhecer ao homem europeu a brilhante
civilização greco-latina. Ao mesmo tempo que o português se torna a
língua de comunicação das costas africanas e do Oriente, o Latim torna-se
a grande língua dos eruditos europeus.
É importante o texto de Jaime Cortesão, no qual nos é
posta em destaque a importância dos descobrimentos. Com eles, «humanidades
novas, totalmente ignoradas, surgem aos olhos dos navegantes, na orla ou
no interior dos continentes. E, ao mesmo tempo, plantas, flores, selvas,
feras, aves, astros, povos, artes e religiões, desenrolam formas, cores,
sabores, aromas, esplendores, crenças e criações do espírito,
inimaginadas!»
Do contacto do português com novas gentes, novos costumes
e novos elementos naturais, vai resultar um enriquecimento da língua,
com a entrada de novos vocábulos referentes aos costumes, animais,
plantas e objectos próprios dos novos mundos descobertos. E muitos deste
novos vocábulos vão entrar, através do português, noutras línguas
europeias.
São exemplos de palavras novas, importadas do Oriente,
sagu (do malaio), manga (do malabar, por sua vez do tamul
mankay), bambu (de origem malaia ou indiana), zebra
(de origem etíope ou congolesa), jangada (do malabar), leque
(de léqui ou derivado das ilhas de Léquios, ao sul do Japão),
etc.
Do continente americano entraram também diferentes
vocábulos, de origem tupi-guarani, embora em menor abundância, devido à
colonização tardia do Brasil. Frequentemente, o português adoptou as
mesmas palavras novas, para designar elementos da flora e da fauna do
continente americano, que entraram no espanhol, provenientes dos
quichuas, nahuatlecas, caribes e arahuacas, tais como lama (nome
de um animal), cacau, tomate, canoa, condor,
chocolate, etc.[45].
Além da grande importação de vocábulos provenientes das
novas áreas geográficas descobertas e frequentadas pelos portugueses,
durante o período do Renascimento e do Barroco, dá-se um grande
intercâmbio cultural e vocabular entre o português e as outras línguas
europeias. Diversos vocábulos portugueses entram no espanhol, no francês,
no italiano, no inglês e no alemão. É o caso, por exemplo, dos vocábulos:
marmelada, que dá no espanhol marmelada, no francês
marmelade, no inglês marmelade, no italiano marmellata;
feitiço dá em espanhol hechizo, no francês fétiche,
no italiano feticcio; caravela dá em espanhol caravela,
em francês caravelle; etc.
Em contrapartida, entra no português elevada quantidade
de estrangeirismos:
─de Itália são trazidos vocábulos como sentinela,
canalha, capricho, cartucho, alerta,
soneto, terceto, etc.
─do espanhol entra também grande quantidade de vocábulos,
como, por exemplo, hediondo, fanfarrão, camarada,
quixotesco, redondilha, abanico, pandeiro,
botija, pastilha, muchacho, etc.
Será conveniente lembrar que, durante bastante tempo, em
Portugal, as pessoas cultas eram normalmente bilingues, falando tão
facilmente o espanhol como o português. Não é por acaso que uma boa
parte dos autos vicentinos está escrita integralmente em castelhano,
como, por exemplo, o Auto da Barca da Glória, o Auto da
Visitação , o Auto Pastoril Castelhano, o Auto da Sibila
Cassandra, etc., enquanto outros são bilingues, como, por exemplo, a
Farsa de Inês Pereira, Floresta de Enganos, O Juiz da
Beira, etc.[46]
No século XVI, Lisboa torna-se uma cidade cosmopolita, um
local onde todas as línguas europeias se falam. Diz-nos um escritor da
época, Frei Heitor Pinto, que o mundo lhe parecia um anel e Lisboa a
pedra preciosa, a grande cidade onde todo o mundo vinha feirar, «Hüa
praça e feira de todo o universo, e o porto de Bethlem a boca desta
praça».
Lisboa é a cidade onde, além dos lisboetas da nobreza e
da classe média, se encontram vilões, ratinhos e negros.
Os vilões eram os camponeses que habitavam os arredores da cidade
e a abasteciam, vindo vender-lhe os seus produtos; os ratinhos
eram os provincianos, que emigravam para a cidade, atraídos pelo seu
esplendor e por uma vida mais fácil, longe da enxada e do arado. Eram
constituídos, sobretudo, por beirões e nortenhos e desempenhavam os mais
baixos serviços da cidade. São os ratinhos as personagens típicas de Gil
Vicente. Os negros eram a camada mais baixa da população. Eram
importados de África como escravos, chegando o seu número a atingir a
elevada cifra de dez mil.
Todas estas figuras da população lisboeta surgem com
frequência nas obras da época. Já no Cancioneiro Geral de Garcia
de Resende se encontram imitações das falas dos negros. Em Gil Vicente,
encontramos diferentes tipos que espelham a sociedade lisboeta, desde o
negro, o ratinho e o vilão até às mais altas figuras da nobreza e do
clero. É este facto que faz com que Gil Vicente seja, talvez, o autor
mais adequado e interessante para um estudo da evolução do português,
para um melhor conhecimento da transição do período pré-clássico para o
clássico, uma vez que registou nas suas obras exemplos das diferentes
camadas sociais e das suas falas.
Na farsa O Clérigo da Beira, por exemplo, ou nas
tragicomédias Frágoa d'Amor e Nau d'Amores, encontramos
exemplos da linguagem dos negros. Veja-se, a título exemplificativo, o
excerto extraído da tragicomédia Nau d'Amores,
em que encontramos
um negro de Benim:
Vem hum Negro de Beni, e diz:
NEGRO
Quere boso que mi bae
Buscar o poco de venturo,
Que a mi namorado sae
De moça casa sua pai,
Que tem saia verde-escuro,
Firalga masa que gavião:
Tem boquinho tan sentira;
Eu chamar elle minho vira,
E elle chama-mo cam.
A mi dá elle romão.
Doze, que a mi comprae,
E masa cinco mação
Se a mi vai elle falae
Faze carneo de verão.
Negro que faze folia
Por o que muto roga eu
Bai fruria por ota seu,
A mi disse a elle: Maria,
Que quebranta foi a meu?
E na mão minha barete
Mi risse a ella: Minha rosa,
Minho oio de saramonete,
Mas a turo mundo faramosa,
Falae-me poro bida bosso.
Ella disse: Quesso cabram!
A riabo que te ró, cam,
Para malo benturaro.
A mi disse elle cuitaro:
Que boso não tem razão.
Se boso firalga he aqui,
A mi firalgo tambem.
Fio sae de Rei Beni:
De quarenta qu' elle tem
A masa firalgo he mi.
Se pretendermos exemplos da linguagem campesina da época,
encontrá-los-emos em diferentes autos como, por exemplo, na Comédia
de Rubena, de onde extraímos o excerto seguinte:
Entra Cismena, pastorinha, fiando, e diz:
CISMENA
Vós vistes-me aqui andar
huns cabritinhos malhados,
E dous porquinhos cilhados[47]?
Cant' eu não nos posso achar.
Fui-me moacha jeitar
A dormir mal-avesinho
À beirinha do caminho,
E forão-m' os acossar.
Dizei, dizei se os vistes.
Bé! como estão pasmados!
Dous porquinhos trosquiados
Coinchar
não nos ouvistes?
Oh, dou ó Decho am dos tristes.
Amo, vistes-m'os pascer?
O que disserdes, hei de crer,
Porque vós nunca mentistes.
Samica
o nosso cadelo
Os fez elle derramar.
Não sei se os va buscar
Cajuso
ao nosso cancelo
Dera eu ora o meu orelo,
E os meus alfenetinhos,
E achasse os meus porquinhos
Cajuso em Val de Cobelo.
Chicos, chiquinhos, chicos.
O' Deus bem-aventurado,
Acha-me ora este meu gado,
Acha-me ora os meus cabritos. (canta)
«Grandes bandos andão na corte,
Traga-me Deos o meu bonamore.»
Vem hum pastorinho, por nome Joanne, e diz:
Oh pezar de mi comigo!
Di, rogo-te, Cismeninha,
Viste-m' a minha burrinha?
Cis. Viste-m'a minha burrinha?
Joa. Olha, olha o que te digo.
Cis. Olha, olha o que te digo.
Joa. Sempre tu has de chufar?
Cis. Que rosto de ma pezar
Pera casarem comtigo!
Sabes onde eu vi a burrinha?
Joa. Onde?
Cis. Não sei.
Joa. Não sei!
Cada sempre es garredinha.
(... ... ... ... ... ... ...)
Muitos outros exemplos da linguagem campesina nos surgem
na obra vicentina, dos quais o mais interessante é o que se encontra na
Romagem de Agravados, onde nos aparece um vilão que se
queixa da sua triste sorte, pois tudo lhe quadra às avessas: chove
quando quer sol e tem sol quando quer chuva e, por mais que se esforce e
peça a Deus, tudo lhe corre mal.
Podemos, pois, dizer que em Gil Vicente se encontra uma
panorâmica bastante ampla de todas as camadas sociais do seu tempo,
desde o mais baixo até ao mais elevado.
Muito acima das linguagens ou registos vulgares ou
populares da língua portuguesa, situava-se a fala da corte. Esta era,
segundo nos informa D. Jerónimo Osório, uma verdadeira «academia do bom
falar», um padrão literário e social, uma «escola de boas maneiras».
A Lisboa chegavam cada dia tantas e tão fabulosas
riquezas provenientes da Índia, que a capital portuguesa se tornava cada
vez mais uma cidade onde imperava o luxo, uma cidade onde, ao lado da
classe menos privilegiada, uma classe mais elevada levava uma vida
confortável, cheia de luxos e de requintes.
Há um texto de um viajante polonês, Sobíeski, que,
tendo estado em Lisboa, em finais do século XVI, fala com entusiasmo e
admiração do comerciante que o recebeu em sua casa:
«Um comerciante português (...) preparou-me um
aposento tão precioso, tão alcatifado e aromatizado de suavíssimos
perfumes, que o próprio rei da Polónia haveria podido habitá-lo. Esta
casa possuía preciosidades sem número e cousas raras das Índias. As
lojas e casas de comércio de Lisboa estavam cheias de semelhantes
objectos e ao entrar dentro delas parecia que se estava vivendo naqueles
países.»[48]
No campo da produção literária deste período, podem-se
destacar diversos nomes importantes, tais como Gil Vicente, Sá de
Miranda, António Ferreira, Diogo Bernardes, Camões, os cronistas João de
Barros e Damião de Góis, o Padre António Vieira e D. Francisco Manuel de
Melo, cuja obras são bastante conhecidas. Menos conhecidas, mas pelo
facto não menos importantes, são as obras Peregrinação, de Fernão
Mendes Pinto, a História Trágico-Marítima Portuguesa, compilação
de textos de diversos autores, a Etiópia Oriental, de Frei João
dos Santos, obras que enriqueceram o vocabulário português com
abundantes termos de origem asiática e americana, e as farsas, autos e
comédias de nomes praticamente desconhecidos e raramente, ou talvez
mesmo nunca, citados nas nossas escolas, como CHIADO, ANTÓNIO PRESTES e
JERÓNIMO RIBEIRO, que fixaram na literatura o falar popular e que
mereciam ser abordados, pelo menos numa cadeira de Cultura Portuguesa,
já que os restantes constam habitualmente dos programas da disciplina de
Português.
Grande importância têm para nós as obras dos gramáticos,
principalmente de Fernão de Oliveira, Gramática da Linguagem
Portuguesa (1536) e de João de Barros, Gramática da
Lingoa Portuguesa (1540), a que se seguiram muitas outras, ao longo
dos séculos XVI, XVII e XVIII[49].
Segundo se infere de Fernão de Oliveira, o ritmo da
língua, a entoação, era no século XVI diferente do actual. Enquanto hoje
os portugueses falam com um ritmo mais apressado, neste período falava-se
«com grande repouso, como homens assentados».
Das informações que os gramáticos nos deixaram, depreende-se
que o vocalismo tónico era idêntico ao actual, constituído pelo leque de
sons a seguir indicado:
Relativamente às vogais em posição átona, existem poucas
certezas. O -o final deveria soar [u] e o -e final
soaria como [i], embora houvesse oscilações de acordo com a região e com
a cultura dos falantes. A este respeito, as posições dos linguistas são
discordantes. Aliás, é de referir que ainda hoje há oscilações na
pronúncia destes sons, conforme as regiões do país e o nível cultural
dos falantes. Se hoje normalmente pronunciamos [gente], há regiões onde
a pronúncia é [genti].
O sistema consonântico português nos princípios do século
XVI era constituído pelos elementos presentes no quadro.
Até à primeira metade do século XVI, na língua culta,
ainda se distinguiam na pronúncia s-, -ss- (s surdo)
e ç; -s- (s sonoro) e z. Teriam pronúncia
diferente as palavras paço e passo, cozer e
coser.
A passagem das terminações -ês, -ea a
-eio e -eia ocorre durante o século XVI.
Os adjectivos terminados em -ês, -nte, -ol
e -or deixam de ser uniformes e passam a ter uma forma para o
feminino.
A segunda pessoa do plural dos verbos, que terminava em
-des, e que ainda se encontra em Gil Vicente, na boca de
personagens populares, adquire a forma actual -ais, -eis,
e -is (exs.: sodes > sois; comedes > comeis; amades > amais).
Sistema consonântico português nos princípios do século XVI.
Estas são apenas algumas das características do português
durante o período clássico.
PERÍODO MODERNO
O
período moderno vai desde os meados do século XVIII até aos nossos dias.
É o período que marca a fixação definitiva do português, pelo menos nos
moldes em que hoje o conhecemos.
Para começo deste período é normalmente apontada a
segunda metade do século XVIII, em virtude da primeira constituir um
prolongamento do período barroco, altura em que o português literário
sofre toda uma série de rebuscamentos e artifícios poéticos, não só no
domínio da poesia, mas também no campo da prosa. Aqueles mesmos
escritores que criticam esse rebuscamento das ideias e das formas ─ o
cultismo e o conceptismo ─, que torna obscura a própria língua, tornando
o texto escrito de difícil compreensão, esses mesmos acabam por utilizar
também, nas suas produções, idênticos artifícios literários.
A partir de 1799, a actualmente chamada Academia das
Ciências de Lisboa, fundada nesta data por iniciativa do Duque de
Lafões e do Abade Correia da Serra, vai contribuir para a
purificação do idioma. Nos começos do século XVIII, começou a ser
publicado o primeiro dicionário português. É entre 1712 e 1727 que se
publicam os dez volumes do Vocabulário Português e Latino, por
iniciativa do francês Rafael Bluteau. Em finais do século XVIII,
publica-se o Dicionário de Morais e Silva, ainda hoje
considerado como o mais rico para o estudo do português clássico.
Neste mesmo século é traduzida pelo Conde da Ericeira a
Arte Poética de Boileau, que vai constituir o manual de Estética
dos escritores de setecentos. Surge uma forte reacção ao Barroco e há um
retorno aos clássicos. Todos os conceitos, metáforas, hipérboles,
trocadilhos, metonímias e jogos de palavras são rejeitados e
considerados como inutilidades, preconizando-se o uso da língua de uma
maneira mais clara e racional, reduzindo-se o vocabulário ao essencial e
eliminando o supérfluo. É este mesmo o lema dos sócios da Arcádia
Lusitana, sintetizado pela expressão latina INUTILIA TRUNCAT.
Cortando tudo quanto é inútil e supérfluo, haverá uma simplificação da
língua, tanto a nível lexical como sintáctico, tornando-a muito mais
clara e permitindo o predomínio da razão sobre o sentimento.
Entra na língua abundante número de latinismos e de
galicismos,como resultado do elevado número de traduções de obras
francesas. O século XVIII é consequentemente marcado por uma influência
dominante da literatura francesa. Nomes importantes da nossa literatura,
além da criação dos seus próprios originais, vivem da tradução de obras
literárias francesas. São exemplo dessa actividade Filinto Elísio e
Bocage.
A nível da fonética, ocorrem no século XVIII
algumas transformações. Verifica-se, entre outros fenómenos, a passagem
da africada (tch) a (ch).
No domínio da morfologia, começa a haver o
predomínio das formas sintéticas dos comparativos e superlativos sobre
as formas analíticas.
No domínio da sintaxe, predomina o uso da
construção perifrástica por meio do gerúndio, em vez da construção
actual com o infinito regido da preposição a.
Com o século XIX, introduzido o romantismo em Portugal, a
perfeição do estilo e o domínio da razão vão dar lugar à expressão do
sentimento. Marcam uma grande viragem na literatura e na utilização da
língua dois grandes nomes do romantismo português: Alexandre Herculano e
Almeida Garrett. É, no entanto, o segundo quem vai imprimir à língua
portuguesa uma nova flexibilidade, frescura e leveza, com a publicação
de Viagens na minha terra. É esta a obra que marca uma
remodelação no emprego da língua, embora não seja a primeira. No
prefácio da Lírica de João Mínimo, Garrett prenuncia essa nova
forma de escrever, brincando com a língua e com os estilos. É o que se
poderá verificar no excerto que transcrevemos:
(...) «Durassem eles os Outeiros, houvesse
daquelas justas, daqueles torneios poéticos em que cada um fazia prova
singular e pública de seu talento e finura, e em que nenhum insulso
fazedor de versos soltos e frigidíssimas odes ousava intitular-se poeta
... houvesse ele Outeiros, e não veríamos o que vemos.
Tal era o tema e variações da nossa conversação, quando
outro aluno da antiga escola, outro filho do outeiral Apolo, nos veio
interromper agradavelmente. ─ Rapazes! correu ele para nós, muito estimo
encontrá-los aqui. Súcia! Vamos a Odivelas ao Outeiro de S. João, que é
hoje, é esta noite. ─ Quê! ainda ele há disso? Olha a nossa conversa ...
Pois deveras um outeiro?
─ Outeiro, sim senhor, vamos; é brilhante coisa: há mais
de dez anos que não se faz. Mas hoje temos tudo arranjado, tudo pronto.
Vai N., N. e N., que hão-de aterrar tudo com sonetos e colcheias, e já
levam provisão de quartetos e consoantes ─ disto que chamam de nariz
de cera que servem para todo o mote; mas não importa: o caso é fazer
bulha e estalar como um foguete de lágrimas nos ouvidos destes pedaços
de asnos. Havemos de meter tudo num chinelo. Nem Bocage nem Malhão
viram nunca no seu tempo um outeiro como este há-de ser. Vamos, rapazes,
que só faltam vocês. Toca, marcha.
E nós tocámos e marchámos capitaneados pelo nosso
director; e eis-nos saltando e folgando, todos umas paschoas; e ele que
dá connosco na redulente e viçosa praça da Figueira, onde encontramos
arreiados e vistosos ginetes e haqueanas mordendo de impaciência ─ os
doirados freios não ─ mas um resto de albarda velha. Eram burros. Porém
os mais pimpões e menos asinários animais-burros que trotam nas
vizinhanças da ínclita Ulisseia.
E os rapazes burriqueiros connosco, e: ─ Este, meu amo,
isto é que é jumento! ─ Este, o meu Junot! ─ Leve o meu Bonaparte. Isto é
que é fera. ─ Leve o meu Lorde inglês, que nunca tropeçou na sua vida. ─
Para Sintra, fidalgo, para Sintra? está lá em duas horas, o muito; é ir
no meu Doutor.
E com estas gritarias e desordem e encómios dos ruços
travou bulha suja entre os donos e condutores da asinária; durante a
qual o tertius gaudet de uma boa velha, que creio que vende
toucinho e queijos do Alentejo, aproveitou a ocasião e nos veio oferecer
as suas cavalgaduras ─ que estavam ajaezadas e prontas atrás do lugar (lugar
─ é a barraca de madeira em que estão anichados os vendilhões da praça
da Figueira e de outras praças e ruas de Lisboa). Estipulou-se pronto o
preço, montámos sem mais detença e partimos em garrido trote entre os
gritos e assobios da rapaziada burrical, que vendo-se desapontados pela
nossa repentina deliberação, largaram a bulha para nos rogar em coro um
sem-número de suas chulas pragas, a nós e à mãe dos burros, a boa velha
que nos acomodara tão bem, e que não teve o menor quinhão nas
jaculatórias do rapazio. E já passámos as sujas e enlameadas ruas, e já
em campo aberto a gozar a mais bela e deliciosa tarde de Junho que ainda
sorriu nos abençoados climas do nosso Meio-dia.
O ar doce e temperado apenas se agitava de uma ligeira
viração, tão branda como a que pode causar a trémula vibração de
ventarola asiática em mãos de formosa escrava, nos regalados jardins de
algum nababo delicioso...
Apre! que esta foi poética de mais ─ romântica de mais.
Sejamos clássicos:
Qual a suave ondulação mimosa
Que entorno à mãe dos lânguidos amores,
Em tarde estiva na estação calmosa,
Meneando os leques de cheirosas flores,
Fazem as Graças nos jardins de Gnido
Para embalar e acalentar Cupido.
Que tal? ─ o diacho é o maldito do leque. Parece-me
prosaico e vulgar como o
Escreve a seu irmão que lhe mandasse
A fazenda com que se resgatasse.
Paciência. ─ Abano, abanico ... nada! Ventarola já está
dito: leque ... leque... Leque sempre é o melhor. E mais não é bom. Mas
não diz lá o grande poeta da Fénix, falando do ferreiro Polifemo:
E porque só o vento se afiança,
Lhe servia de fole uma esperança?
Pois fole não é mais poético do que leque: e em sublime,
guindado, elevado e culto, se alguém sabia, era aquela gente da Fénix
Renascida.
As digressões matam-me: é a minha terrível e imperdível
mania. ─ Onde íamos nós? ─ No caminho de Odivelas: é verdade.
E íamos nós andando, andando, isto é, os nossos burros
trotando, trotando, e o ar delicioso, e os campos lindos, e as vinhas e
os pomares e os bosques exalando fragrância; e tudo alegre e risonho,
respirando saúde e vida e contentamento; e nós discutindo consoantes,
questionando sobre rimas, ventilando metros e outras coisas mais de
sublime importância.
─ E quem conheces tu lá para te dar mote? disse um da
súcia para o outro.
─ E para dar doce? ... que é um pouco mais interessante.
─ Falo no que pensam, que já tenho fome: e que será lá
para a noite velha, quando os consoantes começarem a faltar, as ideias a
fugir, a um pobre homem com o fecho do soneto atravessado na garganta,
que nem para trás nem para diante! Aí é que eu os quero ver: o estômago
vazio, e o parto de um soneto atravessado? Ninguém resiste a isso: eu
por mim...
─ Fuma-se.
─ Bom é: mas fumar não enche.
─ Querem vocês ouvir um soneto que eu fiz em Coimbra, de
... (...)
Excerto extraído de ALMEIDA GARRETT,
Prefácio da Lírica de João Mínimo
Tal como anteriormente dissemos, o prefácio da Lírica
de João Mínimo apresenta-nos um primeiro exemplo da prosa nova em
Portugal, como o próprio Garrett nunca tinha escrito. Para além da
ironia, um dos grandes elementos do universo literário de Garrett,
surge-nos um estilo coloquial, com uma frase solta, mais livre, que se
vai desenrolando, um novo emprego da adjectivação e do advérbio, um
estilo digressivo como que de alguém que procura, através de múltiplos
meandros, penetrar na realidade mais subtil das coisa e dos homens. E a
juntar a estes elementos, Garrett utiliza amiudadas vezes o processo da
metalinguagem, reflectindo sobre a sua própria linguagem como se
estivesse a falar com um interlocutor.
Uma das características do romantismo reside na
valorização do eu. Deste egocentrismo resulta o uso cada vez
maior da primeira pessoa do pronome pessoal. Surge também na época uma
nova forma de tratamento, criticada por Camilo, que acabou por se impor
no português. Trata-se do emprego de si e de consigo,
forma de tratamento intermédia entre tu e você. Deste modo, em Portugal
dir-se-á «eu vou consigo», em vez da forma usada no Brasil «eu vou com
você».
A nível lexical, os românticos seleccionam os
vocábulos tendo em conta o seu valor emotivo. São valorizados até ao
exagero temas tétricos, macabros, e até mesmo repugnantes. Há também uma
preferência dos românticos por vocábulos de nível familiar e regional,
quando não recorrem mesmo ao emprego de arcaismos. Ao lado destes novos
elementos lexicais, são frequentemente utilizados os estrangeirismos,
algumas vezes aportuguesados, como faz, por exemplo, Almeida Garrett com
o vocábulo inglês flirt, que, nas Viagens na minha terra,
traduz por flartar.
Segundo Serafim da Silva Neto, a língua portuguesa,
durante o século XIX, sobretudo no domínio literário, é enriquecida por
«três gerações ricas de expressão literária», que ele delimita da
seguinte maneira: a primeira, de 1799 a 1818; a segunda, de 1822 a 1831;
a terceira, de 1836 a 1846.
A primeira geração marca um rompimento com a escola
clássica e introduz o romantismo em Portugal. São os seus grandes
difusores Almeida Garrett (1799-1854) e Alexandre Herculano (1810-1877).
Retirados estes da cena literária, fica António Feliciano de Castilho
(1800-1875).
A segunda geração engloba diversos nomes, alguns pouco
conhecidos, tais como Rebelo da Silva (1822-1871), Andrade Corvo
(1824-1890), Camilo Castelo Branco (1825-1890), Latino Coelho
(1825-1891), Arnaldo Gama (1828-1869), Bulhão Pato (1829-1912), Tomás
Ribeiro (1831-1901). Esta segunda geração, embora já com características
próprias, ainda está ligada ao romantismo. Destes destaca-se
essencialmente Camilo, que vai introduzir nas suas obras grande
quantidade de vocábulos populares, especialmente das províncias do norte
de Portugal.
A terceira geração engloba nomes como Ramalho Ortigão
(1836-1915), Júlio Dinis (1838-1871), Antero de Quental (1842-1891), Eça
de Queirós (1845-1900) e Oliveira Martins (1845-1894). Foi esta geração
um grupo que levou à criação de uma prosa simples e sem preocupações
clássicas, utilizando artisticamente a linguagem familiar contemporânea,
ao lado de vocábulos de cunho científico e de galicismos. Recorde-se,
por exemplo, a prosa utilizada por Eça de Queirós em Os Maias,
que constitui um bom exemplo do que acabamos de dizer. Ao lado destas
características lexicais, encontramos também a técnica da adjectivação,
cujo primeiro grande mestre foi Garrett, e uma sintaxe bastante simples.
Mais tarde, com a geração de 90, entre os quais contamos
os nomes de Eugénio de Castro (1869-1944), António Nobre (1867-1900) e
Teixeira de Pascoaes (1877-1952), há o aproveitamento das técnicas
parnasianas ou da sensibilidade do simbolismo, para conferir à língua
portuguesa características novas, com sugestões sonoras e palavras
exóticas.
Mais próximos, há que referir os nomes de Sá-Carneiro
(1890-1916) e de Fernando Pessoa (1888-1935), que submetem a língua a
novas experiências, situando-se, se assim se pode dizer, no extremo
oposto de Aquilino Ribeiro (1885-1963), que tenta a renovação da novela
pelo uso, por vezes talvez um pouco exagerado, do vocabulário
regionalista.
Depois de 1920, o panorama é de tal modo amplo, que se
torna difícil ter uma visão de conjunto da evolução literária do
português. Uma análise pormenorizada levar-nos-ia a falar do grupo da
Presença e de todo um vasto leque de nomes da actual literatura
portuguesa, de entre os quais apenas citamos José Régio, Miguel Torga,
os neo-realistas Ferreira de Castro, Alves Redol, Fernando Namora e José
Gomes Ferreira, que, de maneira fria e objectiva, abordam os problemas
de ordem sócio-económica do país, utilizando uma linguagem viva de cunho
popular e num estilo, em geral, pouco cuidado.
Para concluirmos esta evolução histórica do português,
resta-nos referir, de modo esquemático, o actual sistema fonético
português.
Os sons vocálicos, representados por cinco letras, são em
maior número, tal como se mostram no esquema:
Os sons vocálicos podem ser orais ou nasais, de acordo
com a passagem do sopro fónico. Se este passa livremente pela cavidade
oral, devido ao levantamento do véu palatino e consequente oclusão da
cavidade nasal, o som será oral. Se o véu palatino baixa, permitindo a
passagem do sopro fónico simultaneamente pelas cavidades oral e nasal, o
som será nasal. Graficamente, esta nasalação é representada com o
auxílio do til (~) ou com a junção de m ou n.
Quando i e u se juntam a outras vogais, estes são
considerados como semivogais, sendo o conjunto dos dois sons
designado por ditongo. À semelhança dos sons vocálicos anteriores,
os ditongos podem ser abertos ou fechados, conforme a primeira vogal é
aberta ou fechada, e orais ou nasais.
O sistema consonântico é constituído pelo conjunto de
elementos representados no quadro
seguinte:
Sugestão de trabalho
11
Agora, que chegou ao fim deste capítulo, verifique os seus
conhecimentos respondendo às questões:
1- O que entende por substratos e superstratos?
2- Quais os povos englobados nas duas designações
anteriores?
3- Que elementos terão ficado na língua portuguesa de
origem: lígure; céltica?
4- Segundo Giuseppe Cardinalli, enquanto para a
conquista das diversas regiões do império os romanos precisaram de cerca
de 20 anos ou até mesmo menos, para conquistarem a Península Ibérica
foram-lhes necessários cerca de 200 anos. Quais as causas, segundo ele,
que dificultaram a conquista?
5- Como se explica a romanização sócio-cultural da
Península em que os vencidos esquecem a própria língua, adoptando a do
povo vencedor?
6- Quais as divisões administrativas ocorridas na
Península Ibérica?
7- O que entende por România?
8- Quais as línguas românicas?
9- Que facto ocorreu na Península Ibérica a partir de 711
d. C.?
10- O que entende por moçárabes?
11- Na evolução do português do século XII à actualidade,
vários filólogos apresentaram diversos períodos. Indique-os.
12- Como considera José Joaquim Nunes constituído o
vocabulário da língua portuguesa?
13- Quais as principais características do período
galaico-português?
14- Quais os documentos literários e não literários mais
antigos em língua portuguesa?
15- O que entende por Banda Desenhada? Quais os seus
antecedentes históricos na Península Hispânica?
16- Releia as páginas 235 a 237 e observe atentamente o
quadro da figura 38 ─ Feche o livro e, mentalmente, indique as quatro ou
cinco datas mais importantes na expansão portuguesa.
17- Quais as principais características do período
pré-clássico?
18- No período clássico, a língua portuguesa sofre um
grande enriquecimento lexical. Como o explica?
19-O período moderno vai desde meados do século XVIII
aos nossos dias. Indique, de maneira esquemática, os aspectos mais
importantes referentes ao século XVIII e XIX.
NOTA:
Lembramos-lhe que, neste capítulo, tem ainda diversas sugestões de
trabalho nas páginas 216 a 232 e 245 a 253.
[45]
–
lama < do quichua llama; cacau e tomate,
respectivamente do nahuatleca cacauatl e tomate;
canoa do caribe kanua, através do arahuaco; condor,
do quichua cúntur; chocolate do azteca *chocahuatl.
[46]
–
Da vasta produção de obras de Gil Vicente, das quais apenas chegou até
nós um total de 45 peças, 16 estão integralmente escritas em português,
18 são bilingues e 11 são integralmente em castelhano. É este o balanço
que se obtém contabilizando a produção vicentina a partir de
edições correntes das obras completas. Se quisermos uma ideia mais
rigorosa, poderemos obtê-la consultando uma literatura portuguesa.
Diz-nos Álvaro Júlio da Costa Pimpão: «Onze dos Autos de Gil Vicente
(incluindo o Monólogo da Visitação) são em castelhano; catorze ou
quinze (quinze com o Auto da Festa) são bilingues, pela
introdução de uma ou mais personagens que falam em castelhano. Dois
─
o Auto da Fama e o Auto das Fadas
─
são, pode dizer-se, plurilingues. Os autos restantes
─
dezasseis
─
são em português. Alguns dos autos bilingues são predominantemente
portugueses (...). Considerada em conjunto, a obra de Gil Vicente
apresenta, pois, um saldo positivo a favor de Portugal.» In:
Álvaro Júlio da Costa PIMPÃO, História da Literatura Portuguesa,
vol. II, p. 170.
[47]
–
cilhados: adjectivo relacionado com cilha, zona que passa
por debaixo da barriga do animal. Cilhado diz-se do animal
que tem, no sítio correspondente à cilha, uma faixa de pelo
diferente do do resto do corpo.
moacha:
vocábulo de origem desconhecida que, na edição original, se encontra
registado sob a forma maocha. Apesar de suposições várias, a
verdade é que não se sabe o que significa. Segundo Carolina
Michaëlis de Vasconcelos, moacho aparece como uma das formas
intermédias para explicar o termo macho, no sentido de
mulo, mulacho, moacho, macho. No entanto,
esta explicação não se enquadra no texto transcrito.
jeitar:
do latim JACTARE, significa 'lançar, atirar'.
mal-avesinho:
talvez signifique 'com mau vizinho, com má vizinhança'.
coinchar:
verbo onomatopaico, que procura imitar o grunhir dos porcos
pequenos.
am:
palavra enigmática que alguns consideram como forma apocopada de
amo.
samica:
também registado samicas, é um vocábulo arcaico, já registado
pelo gramático Fernão de Oliveira com o sentido de 'talvez, por
ventura'. Parece ser derivado do italiano sa, forma verbal
que significa 'sabe', e micas, que significa 'nada' e que
seria equivalente ao actual quiça, 'quem sabe'.
cajuso:
forma popular que significa o mesmo que samicas, 'talvez'.
orelo:
o mesmo que ourelo ou ourela, tira de pano grosseiro.
chufar:
dirigir chufas a alguém, ou seja, 'troçar, mofar de, zombar'.
[48]
–
Extraído da obra de SERAFIM DA SILVA NETO, História
da língua portuguesa, col. Linguagem, nº 11, 3ª ed., Rio de Janeiro,
Ed. Presença, 1979, p. 481.
[49]
–
A seguir se transcreve uma relação de algumas
obras de carácter gramatical ou de reflexão linguística publicadas
em Portugal a partir de 1536:
·Fernão de Oliveira, Grammatica da Lingoagem Portuguesa
─
1536
·João de Barros, Grammatica da Língua Portuguesa
─
1540
·Pero de Magalhães de Gândavo, Regras Que Ensinavam a
Maneira de Escrever a Ortografia da Língua Portuguesa, com um
diálogo que adiante se segue em defensão da mesma língua
─
1574
·Duarte Nunes de Leão, Ortografia da Língua Portuguesa
─
1576
·Duarte Nunes de Leão, Origem da Língua Portuguesa
─
1606
·Álvaro Ferreira de Véra, Breves Louvores da Língua
Portuguesa
─
1631
·João Franco Barreto, Ortografia
─
1671
·Jerónimo Contador de Argote, Regras da Língua Portuguesa
Espelho da Língua Latina
─
1721
·Rafael Bluteau, Prosas Portuguesas
─
1728
·João de Morais Madureira Feijó, Ortographia ou arte de
escrever e pronunciar com acerto a língua portugueza
─
1734
·Luís Caetano de Lima, Ortografias
─
1736
·Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar
─
1746
·Frei Luís de Monte Carmelo,
─
1767 (A mais completa obra com exposição da pronúncia portuguesa
existente em Portugal).
Para uma informação mais completa e pormenorizada,
consulte-se o artigo de Jacinto do PRADO COELHO, Linguística,
publicado no
Dicionário de Literatura (Portuguesa, Brasileira, Galega...),
vol. II, pp. 531 a 534. |