Acesso à hierarquia superior.

Henrique J. C. de Oliveira, Gramática da Comunicação, Col. Textos ISCIA, Aveiro, FEDRAVE, Vol. I, 1993, 311 pp., Vol. II, 1995, 328 pp.


IV

Da correcção na expressão escrita
Ortografia e notações léxicas
 

 

Introdução e conceito de ortografia. Períodos da ortografia portuguesa (breve história). Erros mais frequentes em textos escritos. Palavras, sílabas e acentos tónicos. Os sons da fala humana. Ênclise, próclise e acentos especiais. As notações léxicas e suas funções. Os sinais de pontuação e sua utilização. Trabalhos práticos.

 


INTRODUÇÃO E CONCEITO DE ORTOGRAFIA

Através dos tempos, a correcção na elaboração das mensagens, especialmente na comunicação  escrita, foi sempre um elemento importante para uma boa comunicação, para uma comunicação isenta de ruído. Para reduzir as probabilidades de ruído, o homem criou uma série de sinais e de regras que todos pudessem seguir, ciente de que uma má interpretação poderia ser susceptível de criar uma situação de conflito, a ponto de poder semear a discórdia entre os homens.

Apesar dos tempos modernos, em que os meios de comunicação se diversificaram e desenvolveram, a ponto da imagem obter tanto ou mais impacto que a própria palavra, mesmo assim estas regras não perderam a sua validade e importância; pelo contrário, esquecidas como andam e sendo a língua tão maltratada pelos nossos meios de difusão imprensa, rádio e televisão , mais urgente se torna a chamada de atenção para essas regras.

Não é a primeira vez que em jornais, onde erros graves vêm frequentemente a público, se chama a atenção para os erros cometidos em conversas diárias, difundidas na rádio e na T. V., com figuras da cena política e social do País. Frequentes vezes se criticam os erros cometidos pelos locutores da rádio e da televisão, inclusive nos noticiários difundidos. Se culpas cabem a esses locutores, não serão eles os únicos responsáveis. É certo que quem está à frente de um microfone ou de uma câmara de televisão deverá ter um mínimo obrigatório de cultura geral e, sobretudo, de conhecimentos da língua que fala, para evitar erros. No entanto, uma boa parte da culpa caberá também a quem redige os textos para os noticiários ou para outros programas e os dá a ler a um locutor.

Mas este grassar de erros não se limita à rádio e à televisão. Infelizmente, é praga corrente na nossa imprensa diária e periódica. E não nos referimos à vulgar gralha tipográfica. Esta é bicho corrente nas nossas publicações e nem sempre fácil de eliminar. Mesmo com uma boa equipa a efectuar a revisão das provas o que por vezes parece ser prática pouco corrente , há sempre uma gralha que escapa. O problema torna-se grave quando surgem erros resultantes da ignorância ou do pouco cuidado com que se realiza o trabalho. Ainda há relativamente pouco tempo, numa enciclopédia destinada à juventude, traduzida de uma versão espanhola, se apresentava como título de um artigo, em letras bem gordas, "As estrelas candentes", empregando «candentes» em vez de «cadentes».

Como dizia alguém num artigo jornalístico[1], «nunca houve em Portugal tanto jornal e revista, tanta rádio, tantos oradores e tantos erros de pronúncia, de ortografia, de morfossintaxe».

Impõe-se, portanto, reduzir a ameaça que paira sobre o futuro de uma língua, impõe-se que quem a transmita aos outros conheça minimamente as suas regras essenciais para uma comunicação correcta. É a esse conjunto de normas ou regras, que devem  ser conhecidas de todos, que se dá o nome de ortografia. Embora não seja o suficiente, pois outros conhecimentos são também necessários,  contribuem, no entanto, para uma correcta comunicação.

A ortografia de um idioma é o resultado de uma convenção, cujo objectivo é o de estabelecer uma uniformidade gráfica no registo dos sons[2]. Enquanto a língua francesa é essencialmente etimológica e a espanhola é fonética, o português foi sofrendo, ao longo dos séculos, diversas alterações, frequentemente bastante diferentes das normas actuais e do padrão ideal.

Considera-se como padrão ideal a norma que faz corresponder a cada representação gráfica sempre o mesmo som e a cada som apenas uma representação gráfica.

No português, devido à grande diversidade e complexidade de sons e ainda ao facto da procura em manter, nas diferentes áreas onde é falado, uma unidade gráfica, a ortografia torna-se bastante complicada, tendo sofrido alterações ao longo dos tempos.

Na história da ortografia portuguesa, podem-se distinguir três períodos: 1º - período fonético;  2º - período etimológico;  3º - período das reformas ortográficas.

 

PERÍODO FONÉTICO

Este período corresponde à época do português arcaico. É um período em que a uniformidade gráfica está longe de existir. Nos primórdios da língua portuguesa, surgem palavras novas que não existiam no latim e cujos sons eram diferentes. Os escrivães, perante a necessidade de registar essas palavras, efectuavam-no segundo critérios pessoais, donde resulta uma grande variedade de grafias para a mesma palavra. Não é necessário consultarmos documentos de carácter jurídico para nos darmos conta dessa multiplicidade de registos. Consultando textos de cunho literário referentes ao período da lírica medieval trovadoresca, encontraremos, por exemplo, grafias como muyto e muito, home e homen, i e ihi, mha senhor e mia senhor, ham e han, etc..

Os sons palatais [lh] e [nh] eram representados em português por li, l, ll  e  ni, n  e  nn. Só em 1255, no reinado de D. Afonso III, são impostas as grafias de origem provençal lh e nh  que ainda hoje se mantêm.

 

PERÍODO  ETIMOLÓGICO

Durante este período, que antes deveria ser designado por pseudo-etimológico, verifica-se uma tendência para afastar a escrita da pronúncia, para a fazer regressar à sua origem. Esta tendência vai-se verificar, sobretudo, em obras traduzidas do Latim e atinge o seu maior vigor durante o Renascimento.

Surgem neste período os grupos  ch, ph, rh, th, y  em palavras portuguesas de origem grega. É o caso de grafias como  eschola, phrase, pharmácia, theatro, rhetorico, estylo.

Abundam nesta época grafias de acordo com o étimo latino, levando ao aparecimento dos grupos  ct, gm, gn, mn, mpt, como por exemplo em  fructo, somno, prompto, etc..

Emprega-se muitas vezes o z em vez do s, como, por exemplo, nos vocábulos mez, portuguez.

A implantação da ortografia etimológica originou diversas polémicas entre os gramáticos, acabando por se impor em 1734, com a defesa de João de Morais Madureyra Feyjó, na sua Ortographia ou arte de escrever e pronunciar com acerto a língua portugueza.

 

PERÍODO DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS

Este período inicia-se em 1911, com a nomeação pelo Governo português de uma comissão de filólogos, de entre os quais se destaca Gonçalves Viana. Até então, a ortografia portuguesa continuava complicada e frequentemente sujeita ao arbítrio de cada um. Assim, e tendo em conta que o português é falado em vários continentes, procurou-se estabelecer um acordo que tivesse em conta as características da língua portuguesa em Portugal e no Brasil.

Em 1916, é implantada oficialmente a Nova Ortografia, resultante do trabalho da comissão nomeada cinco anos antes, e, em 1917, ligeiramente alterada.

Como no Brasil a implantação da Nova Ortografia não se tivesse verificado, em 1930, o problema volta a ser abordado nesse país, sendo, em 1931, assinado novo acordo com Portugal.

Em 1940, publica-se em Portugal um Vocabulário Ortográfico, organizado por Rebelo Gonçalves. Em 1943, surge no Brasil o Pequeno Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras. Verifica-se que entre estes dois trabalhos existem pequenas divergências. Para resolver esse problema das divergências, é nomeada nova comissão, chegando-se finalmente à assinatura, entre Portugal e o Brasil, do Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro, em 10 de Agosto de 1945.

Nos finais da década de 1980, o problema da simplificação e uniformização ortográfica volta a um primeiro plano. Ao contrário dos acordos anteriores, que apenas tiveram em conta as características da língua portuguesa em Portugal e no Brasil, em 1986, o grupo de trabalho constituído para a elaboração do projecto do novo acordo teve em conta os novos países de expressão portuguesa as ex-colónias portuguesas particularmente os novos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPS).

Desse grupo de trabalho resultou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), aprovado em Lisboa, em 12 de Outubro de 1990, pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e S. Tomé e Príncipe e com a adesão de uma delegação de observadores da Galiza. Este novo acordo foi aprovado na Assembleia da República,em 4 de Outubro de 1991, devendo entrar em vigor em 1 de Janeiro de 1994[3].

Concluindo, teremos de seguir as normas adoptadas  oficialmente em Agosto de 1945, as únicas que  por enquanto  se encontram  em  vigor, com pequenas alterações ocorridas durante a década de 1970[4], que simplificaram a utilização dos sinais de pontuação, até à entrada em vigor do novo acordo em 1 de Janeiro de 1994, «após depositados os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo da República Portuguesa».

 

 

ERROS MAIS FREQUENTES

Se para uma correcta comunicação escrita teremos de ter em conta toda uma série de factores, tais como objectivos do texto, destinatários e expressão das ideias, um dos aspectos que não deve ser descurado é o da correcção ortográfica. Além de prejudicar a qualidade da mensagem, o erro pode marcar socialmente aquele que o comete. E, no domínio da incorrecção, vários aspectos têm de ser levados em conta: o vocabulário, que poderá não ser o mais adequado, a construção da frase, que pode tornar difícil de entender a ideia expressa, e a incorrecção gramatical, englobando nesta última quer os erros de concordância, quer os que constituem infracção ao código ortográfico.

Tomando como base de recolha um conjunto de setenta e seis provas de frequência realizadas num curso de nível superior, procurámos efectuar uma análise da frequência de erros cometidos estritamente ao nível da correcção ortográfica. Face à diversidade de erros, agrupámo-los segundo diferentes tipos. Não considerámos o número de vezes que uma mesma incorrecção é cometida por um aluno, mas sim o número de alunos que comete incorrecções. Igualmente não considerámos a incorrecção quando ocasional, mas apenas quando cometida com certa frequência por um aluno.

Tivemos em conta diversos aspectos. Considerámos como deficiência a falta de clareza ou a redacção menos correcta da frase, que englobámos sob a designação "Redacção". Distinguimos, separadamente, o erro de concordância ou sintaxe, que registámos sob a designação  "Sintaxe".

No domínio da ortografia, a variedade de erros é grande. Considerámos independentemente a classe dos verbos, separando os erros a nível das conjugações pronominais das restantes. Deste modo, considerámos, de um lado, os erros resultantes da confusão dos tempos (por exemplo, entre as terceiras pessoas do plural do pretérito perfeito e do futuro); do outro, os erros resultantes da confusão com a conjugação pronominal como, por exemplo, "anda-mos" por "andamos".

Ainda no domínio da ortografia, considerámos os aspectos: "Ortografia-palavras mal escritas" e erros a nível da translineação;  considerámos separadamente o problema da acentuação das palavras, colocando, de um lado, a falta de acentuação ou a acentuação incorrecta por troca de acentos ou por troca do lugar dos acentos e, do outro, a falta de acentos ou má colocação do acento nos ditongos; finalmente, registámos os erros ao nível da pontuação.

Ao todo, reduzimos as deficiências detectadas a nove aspectos, que transcrevemos no quadro com a indicação do número de alunos que apresentaram incorrecção e a respectiva percentagem:

 

Incorrecções cometidas

N.º de alunos

percentagem

redacção de frases
ortografia – palavras mal escritas
ortografia – confusão de tempos
ortografia – conjugação pronominal
ortografia – translineação
acentuação – falta, troca
acentuação – ditongos
estrutura sintáctica/concordância
deficiente pontuação

20
37
3
4
3
51
41
19
45

26,3
48,7
3,9
5,3
3,9
67,1
53,9
25,0
59,2

 
 

Figura 20: Quadro com as percentagens de incorrecções cometidas em frequências de um curso de nível superior.

 

Num total de 76 provas observadas, 39 alunos cometeram erros de ortografia, o que equivale a 51,3 %, 63 cometeram erros de acentuação, perfazendo 82,9 %, 45 pontuaram deficientemente (59,2 %), 20 redigiram frases com incorrecção (26,3 %) e 19 cometeram erros de sintaxe (25). As maiores percentagens verificaram-se nos domínios da ORTOGRAFIA, ACENTUAÇÃO e PONTUAÇÃO, respectivamente com 51,3 %, 82,9 % e 59,2 %. Confrontem-se os quadros apresentados nos gráficos das figuras 21 e 22.  O gráfico da figura 22 mostra-nos os totais com as respectivas percentagens, algumas delas excessivamente elevadas, se tivermos em conta o grau de ensino.


Figura 21: Gráfico com os totais de incorrecções registadas.


Figura 22: Gráfico com os totais e as percentagens de deficiências detectadas.


Neste capítulo, iremos abordar dois aspectos importantes e facilmente corrigíveis por todos os que utilizam o código escrito. Referimo-nos aos problemas da acentuação e pontuação, para os quais basta o conhecimento de um determinado número de regras e alguns trabalhos práticos de aplicação  como, por exemplo, retirar toda a acentuação ou toda a pontuação de um texto correctamente escrito e, em seguida, procurar reconstituí-lo.

Relativamente ao problema da ortografia, a sua correcção torna-se mais difícil, embora não seja impossível, sendo bastante útil uma reflexão atenta sobre os erros cometidos.  As restantes deficiências, a nível da redacção e da sintaxe, exigem um tipo de trabalho diferente. A primeira a nível da redacção poderá ser eliminada com base numa reflexão sobre os diferentes tipos de textos susceptíveis de ser produzidos, seus objectivos específicos e estrutura e, em seguida, com uma fase de produção a partir de situações concretas, reais ou imaginadas; a segunda a nível da sintaxe poderá ser corrigida reflectindo-se sobre as estruturas da língua e tipos de desvios relativamente à norma gramatical[5].

 

 

PALAVRAS, SÍLABAS E ACENTOS TÓNICOS

Para que as regras da acentuação possam ser entendidas e correctamente aplicadas, é importante uma correcta noção da estrutura das palavras.

Quando pronunciamos uma palavra, damo-nos conta de que ela é constituída por uma cadeia sonora formada por pequenos segmentos, por sua vez constituídos por fonemas ou sons. Por exemplo, o vocábulo automóvel é por nós pronunciado não separando cada um dos fonemas (aquilo que em linguagem vulgar designamos por letras),

a - u - t - o - m - ó - v - e - l

mas juntando-os de acordo com o esquema

au  -  to  -  mó  -  vel.

Quer isto dizer que a pronúncia de uma palavra se faz mediante a leitura de unidades mínimas a que damos o nome de sílabas. As sílabas podem ser constituídas por um conjunto formado por:

a) - uma consoante mais uma vogal, um ditongo ou um tritongo;

b) - um conjunto formado apenas por uma vogal, ditongo ou tritongo.

a) -    pé      pou - co      U - ru - guai

b) -    é      eu      uau!

 

Podemos, assim, definir sílaba como uma unidade mínima imediata em que se divide a palavra e que é pronunciada de uma só vez, isto é, mediante uma só expiração.

As sílabas podem ser consideradas também abertas ou fechadas. Serão abertas se terminam por vogal e fechadas se terminam por consoante. Observem-se os exemplos:

sílabas abertas: a - pa - ga - do      a - ma - do      be - lo

sílabas fechadas:        par - tir      pas - tor      per - der

 

Uma palavra pode ser constituída por uma só ou por várias sílabas. Assim, quanto ao número de sílabas, as palavras podem-se classificar em[6]:

monossílabos  –   eu            tu      paz      pau      fim

dissílabos          café      regra      aula      livro      bola

trissílabos         caneca      vinheta      estação      tristeza

polissílabos       tristemente      otorrinolaringologista

 

São monossílabos (mono=um, uma) os vocábulos que apenas têm uma sílaba. São dissílabos (di=dois, duas) os que apresentam duas sílabas. São trissílabos (tri=três) os que têm três sílabas. A partir de quatro, os vocábulos são considerados polissílabos (poli=muito, muitas).

Quando as palavras apresentam mais do que uma sílaba, ao pronunciá-las, poderemos verificar que nem todas as sílabas se pronunciam com a mesma intensidade. Por exemplo, na sequência seguinte, verificamos que as sílabas registadas a letra mais escura se pronunciam com maior intensidade:

          Palavras  mal  registadas  são   palavras  erradas.

 

As sílabas na sua pronúncia podem adquirir, acusticamente, diversos aspectos, na medida em que os sons da fala humana podem variar quanto à intensidade, quanto ao tom, ao timbre e à quantidade  (veja-se o esquema da figura 23).


Figura 23: Quadro com os quatro aspectos a considerar relativamente aos sons da fala humana.

Para nós, agora, interessa-nos considerar apenas a intensidade com que as sílabas são pronunciadas. Em todas as palavras, salvo casos especiais[7], os acentos tónicos recaem na primeira, segunda ou terceira sílaba a contar do fim. Significa isto que em todas as palavras existe obrigatoriamente uma sílaba tónica, que se pronuncia com maior intensidade. As restantes, pronunciadas com menor intensidade, são as chamadas sílabas átonas. Assim, podemos considerar dois tipos de sílabas:

tónicas – pronunciadas com maior intensidade

átonas – pronunciadas com menor intensidade.

 

Quanto à posição da sílaba tónica, as palavras podem-se classificar em:

    ● oxítonas - acentuadas na última sílaba: cana; ca; rapaz; bilhar; comunicação; chá

    paroxítonas - acentuadas na penúltima sílaba: lado; bola; escola; acidente

    proparoxítonas - acentuadas na antepenúltima sílaba: otona; blico;  gratica; lido; oblíquo; dico

 

As palavras oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas são também tradicionalmente conhecidas pelas designações, respectivamente, agudas, graves e esdrúxulas. Convirá também nunca esquecer que a contagem das sílabas se efectua sempre a partir do fim das palavras.

Relativamente aos monossílabos, convém notar que os há que se pronunciam de modo tão fraco, que têm de se apoiar noutras palavras. Assim, efectua-se a distinção entre monossílabos átonos, os que se pronunciam de modo tão fraco, que, na frase, têm de se apoiar no acento tónico da palavra vizinha (ex.: Diga-me qual o preço da carne), e os monossílabos tónicos, os que são emitidos fortemente, não precisando do apoio de outras palavras (ex.: flor, pé).

 

PALAVRAS FREQUENTEMENTE MAL PRONUNCIADAS

Há uma série de vocábulos que, frequentemente, são submetidos a erros de pronúncia e que convém conhecer. A fim de se evitar esse erro, a que se dá o nome de silabada, apresenta-se uma listagem  extraída de uma gramática da língua portuguesa com esses vocábulos (vejam-se os quadros das figuras 24 e 25).


Figura 24: Quadro com a relação de palavras que podem suscitar dúvidas de pronúncia.



Figu
ra 25: Observações relativas ao quadro 24.
 

 

ÊNCLISE/PRÓCLISE E ACENTOS ESPECIAIS

Além dos aspectos já abordados, importa ainda referir o caso das palavras enclíticas e dos acentos de insistência,  afectivo e intelectual.

Quando uma palavra não tem acentuação própria, dependendo do acento da palavra próxima, formando com ela um todo fonético, dizemos que essa é uma palavra enclítica. Uma vez que estas se podem ligar à palavra que está antes ou depois, poderemos considerar duas formas de ênclise. Assim, as palavras enclíticas podem ser proclíticas e apoclíticas. Se estão após a palavra a que estão sujeitas, chamam-se apoclíticas. É o caso das formas átonas dos pronomes pessoais na conjugação pronominal:  amam-se; podes adormecê-lo contando-lhe histórias. Se estão antes da palavra a que estão sujeitas, chamam-se palavras proclíticas. É o caso das preposições e dos artigos: a criança ouve a cantiga de embalar.

Além dos acentos normais das palavras, podemos considerar o chamado acento de insistência, resultante de uma determinada elocução, tendo em vista realçar uma determinada palavra ou conferir-lhe uma determinada emotividade. Assim sendo, podemos considerar dois tipos de acento de insistência: o intelectual e o afectivo.

Se se procura transmitir uma determinada emoção, uma certa afectividade à palavra, introduzimos-lhe uma acentuação de carácter afectivo, emotivo. O acento intelectual é desprovido de qualquer emotividade; apenas pretende realçar um determinado conceito.

Como se distingue, na prática, o acento afectivo do intelectual?

O acento intelectual recai sempre na primeira sílaba da palavra que queremos destacar.

              Ex.:  A sua atitude é IMperdoável.

O acento afectivo pode recair na primeira ou na segunda sílaba. Se a palavra começa por consoante, recai na primeira; se por vogal, recai na segunda. De uma maneira geral, o ouvido é sensível as estas diferenças de entoação, já que o acento afectivo é, normalmente, mais prolongado.

 

OS SINAIS ORTOGRÁFICOS OU NOTAÇÕES LÉXICAS

Na língua portuguesa escrita, em território português, utilizamos um conjunto de notações léxicas a que normalmente damos o nome de sinais ortográficos. São elas o acento grave [ ` ], o  acento agudo [ ´ ], o acento circunflexo [ ^ ], o til [ ~ ], o apóstrofo [ ' ],  a cedilha [ ç ] e o hífen []. Existe ainda o trema [ ¨ ], que só está em vigor na ortografia brasileira e serve para desfazer o hiato.

De uma maneira geral, os erros mais frequentes no domínio da acentuação resultam da confusão entre os acentos grave e agudo e da sua inadequada utilização. Assim sendo, convirá saber qual a função de cada um dos acentos e conhecer algumas regras práticas.

 

ACENTO GRAVE [ ` ]

Este acento deixou praticamente de se usar no português. Apenas surge para marcar a crase da preposição a com as formas do feminino do artigo definido e com os pronomes demonstrativos.

              exs.:  Ela presta atenção à(s) aula(s) mas eles assistiram àquele(s)   jogo(s).

 

ACENTO AGUDO [ ´ ]

Este acento é empregado para assinalar as vogais tónicas fechadas i e u e as vogais tónicas abertas e semi‑abertas a, e, o. Há, no entanto, relativamente ao emprego deste acento, uma série de regras que convirá conhecer (ver mais adiante).

              exs.: aí, físico, açúcar, baú, fúnebre, há, pé, pó, amável, tivésseis, herói

 

ACENTO CIRCUNFLEXO [ ^ ]

Este acento é empregado para indicar o timbre semifechado das vogais tónicas a,  e,  o.

              Exs.: câmara, cântaro, hispânico, mês, dêem, êxodo, fêmea, pôs, cômputo

 

TIL  [ ~ ]

Este acento emprega‑se para indicar a nasalidade das vogais a e o. Coloca‑se sempre sobre a vogal tónica. Nos ditongos nasais, o acento tem de se colocar, obrigatoriamente, sobre a primeira vogal do ditongo.

              Exs.: mãe, maçã, pão, sermões, discussões, cão, cães, alemã, romã,  grão

 

APÓSTROFO [ ' ]

O apóstrofo surge frequentemente nos versos para assinalar a supressão de um fonema, normalmente uma vogal, e em registos escritos da fala popular ou em palavras compostas ligadas pela preposição de.

              Exs.:  'tá bem! São só cinco c'roas.        Galinha‑d'água

 

 

CEDILHA [ ç ]

A cedilha é colocada debaixo do c antes de a, o  e u.

              Exs.:  maçada, praça, caça, maciço, moço, almoço, açúcar, muçulmano

 

 

HÍFEN  [ ‑ ]

O hífen, na língua portuguesa, apresenta três funções distintas: 

1º ‑ Permite a formação de novas palavras, quer por meio de composição, quer de derivação; 

2º ‑ É utilizado nas diferentes conjugações pronominais bem como na ligação de formas pronominais enclíticas ao advérbio eis;

3º ‑ É utilizado na  translineação.

 

Dada, pois, a sua importância, há todo um conjunto de regras importantes que convirá reter.

Nas palavras compostas, bem como nas locuções e encadeamentos vocabulares, poderemos considerar os seguintes casos:

● 1º ‑ O hífen é utilizado nas palavras formadas por justaposição cujos elementos, sejam eles de natureza nominal, adjectival, numeral ou verbal, mantêm a sua própria acentuação.

exs.:  arco‑íris,  couve‑flor,  decreto‑lei,  médico‑cirurgião,  tenente‑coronel,  alcaide‑mor,  amor‑perfeito, euro‑asiático, luso‑brasileiro, histórico‑geográfico, guarda‑chuva,  conta‑gotas,  sul‑africano, norte‑americano,  primeiro‑ministro,  finca‑pé,  primeiro‑sargento, azul‑escuro, etc.

 

● 2º ‑ Emprega‑se o hífen nos topónimos compostos iniciados pelos adjectivos grão/grã, por forma verbal ou com os elementos ligados por artigo.

exs.:  Grã‑Bretanha,  Grão‑Pará,  Quebra‑Costas,  Trinca‑Fortes, Albergaria‑a‑Velha,  Montemor‑o‑Novo,  Trás‑os‑Montes,  Entre‑os‑Rios.

 

Excepções:  Há topónimos que não seguem esta regra, como é o caso de Cabo Verde, Castelo Branco, América do Sul, Freixo de Espada à Cinta, Belo Horizonte, etc.

 

● 3º ‑ Emprega‑se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas ou zoológicas, ligadas ou não por preposição ou outros elementos.

exs.: couve‑flor,  bem‑me‑quer (o mesmo que malmequer ou margarida),  andorinha‑do‑mar,  erva‑doce,  feijão‑verde,  fava‑rica, ervilha‑de‑cheiro, formiga‑branca, cobra‑capelo,  cobra‑d'água, etc.

 

● 4º ‑ Emprega‑se o hífen nos compostos com os elementos sem, alémaquém, recém.

exs.: recém‑casado, além‑fronteiras, além‑mar, recém‑nascido, sem‑cerimónia,  sem‑vergonha,  aquém‑fronteiras,  sem‑número

 

● 5º ‑ Emprega‑se o hífen com os advérbios bem e mal, sendo de notar as seguintes regras:  

com mal, usa‑se o hífen quando o elemento seguinte começa por vogal ou H.

              exs.:  mal‑humorado,  mal‑educado  (cfr. com malcriado),  mal‑estar

com bem, usa‑se o hífen quando o elemento seguinte tem autonomia e a pronúncia o requer.

              exs.: bem‑aventurança,  bem‑criado,  bem‑falante,  bem‑visto

NOTA:  Há casos em que bem aparece aglutinado, como nos exemplos: benfazejo,  benfeitor,  benfeito,  benquerença, etc.

 

● 6º ‑ Emprega‑se o hífen em ligações ocasionais de duas ou mais palavras, como por exemplo:

       Liberdade‑Igualdade‑Fraternidade        ligação rodoviária Lisboa‑Coimbra‑Porto

 

● 7º ‑ Embora geralmente o hífen não seja utilizado em locuções, sejam elas de que tipo for (substantivas, adjectivas, pronominais, etc), há alguns casos consagrados pelo uso, tais como:

     água‑de‑colónia,  cor‑de‑rosa,  mais‑que‑perfeito,  arco‑da‑velha, pé‑de‑meia

 

Nas palavras derivadas (por prefixação, recomposição ou sufixação, apesar do elevado número de prefixos e das formações por recomposição com elementos não autónomos ou falsos prefixos, de origem grega e latina[8], apenas se emprega o hífen nos seguintes casos:

● 1º ‑ Nas formações em que o segundo elemento começa por H.

exs.:  anti‑higiénico, pré‑história, super‑homem, neo‑helénico, pan‑helénico, sub‑hepático

Excepções: com os prefixos des‑ e in‑, quando o segundo elemento perdeu o H inicial, não se usa o hífen:  desumano,  desumidificador,  inábil,  inumano,  etc.

 

● 2º ‑ Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento.

exs.:  contra‑almirante,  auto‑observação,  micro‑onda

Excepções:  com o prefixo co‑, este aglutina‑se geralmente ao segundo elemento, mesmo quando iniciado pela vogal o: coordenar,  cooperante,  cooperativa, etc.

 

● 3º ‑ Com os prefixos circum‑ e pan‑, quando o elemento seguinte começa por  vogal, m, n ou h.

exs.: circum‑escolar, circum‑navegação, pan‑africano, pan‑negritude,  circum‑murado

 

● 4º ‑ Com os prefixos hiper‑, inter‑, super‑, quando seguidos de h  ou  r.

              exs.:  inter‑resistente, super‑herói, super‑revista

 

● 5º ‑ Com os prefixos pós‑, pré‑, pró‑, quando têm significado e acentos próprios.

exs.: pré‑diluviano,  pós‑diluviano,  pós‑graduação,  pós‑tónico,  pró‑popular,  pró‑africano,  pró‑europeu,  pré‑natal

 

● 6º ‑ Com os prefixos ex‑ (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota‑, soto‑, vice‑  e  vizo‑.

exs.:  ex‑almirante, ex‑marido, ex‑presidente, sota‑piloto, vice‑rei, vice‑presidente, vizo‑rei.

 

Atendendo a que é já prática corrente em termos técnicos e científicos a eliminação do hífen em vários casos, o novo acordo ortográfico, a entrar em vigor a partir de 1 de Janeiro de 1994, considera que não se deverá empregar o hífen:

a) ‑ «Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar‑se, prática já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico» como é o caso, por exemplo, das palavras antirreligioso, antissemita, infrassom, minissaia, biossatélite, microssistema, microrradiografia, etc.

b) ‑ «Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente», prática esta já corrente para os termos técnicos e científicos, como, por exemplo, nas palavras antiaéreo, extraescolar, aeroespacial, autoestrada, agroindustrialautoaprendizagem, etc.

 

O hífen emprega‑se também:

● 1º ‑ Com as conjugações pronominais:  amá‑lo‑ei,  escreve‑o,  dá‑se

● 2º ‑ Relativamente às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo  haver  seguido de preposição, a grafia actual faz‑se com o emprego do hífen:  hei‑de;  há‑de;   hás‑de;  hão‑de.  No entanto, a partir de 1994, o hífen deixará de ser empregue com essas formas do verbo  haver,  passando a grafia a ser:  hei de;  há de; hás de,  hão de.

● 3º ‑ Na ligação de formas pronominais enclíticas ao advérbio  eis e nas combinações de formas pronominais do tipo  no‑lo,  quando em posição proclítica.

      ei‑lo,   ei‑las,   eis‑me,   desejo que no‑las enviem...

 

Na translineação, o hífen permite separar as sílabas das palavras quando estas já não cabem e é preciso mudar de linha. Frequentemente a palavra é mal separada ou, então, na dúvida, para evitar o erro, escreve‑se na margem, com prejuízo da apresentação do próprio texto.

Com a utilização cada vez mais frequente do computador no processamento de textos, inclusive na edição electrónica de jornais, é corrente encontrarmos em textos impressos erros graves, como o de cortar uma sílaba ao meio, no estilo dos exemplos:  no‑//sso;  fil‑//hos;  son‑ //hos,  advog‑//ado.

A grande regra básica, que teremos de respeitar, é a de que NUNCA se deve cortar uma sílaba ao meio. Os elementos que constituem a sílaba são inseparáveis. Assim, quando uma palavra não cabe e é necessário efectuar a mudança de linha mediante a utilização do hífen, teremos de respeitar as seguintes regras de silabação:

Separam‑se na translineação:

● 1º ‑ As consoantes dobradas:

            os‑//so      car‑//ro

● 2º ‑ Os grupos de consoantes pertencentes a sílabas diferentes:

            adop‑//tar  diafrag‑//ma  oc‑//cipital ad‑//mirável  ad‑//jec‑//tivo ri‑//tmo

● 3º ‑ Os grupos de vogais pertencentes a sílabas diferentes:

         co‑//operativo     sa‑//ú‑//de       mi‑//ú‑//do    ra‑//i‑//nha

● 4º ‑ Nas palavras compostas por justaposição ou nas formas verbais referentes à conjugação pronominal, quando o hífen fica no final da linha, terá obrigatoriamente de se repetir no começo da seguinte:

            amá‑//‑lo  couve‑//‑flor  grão‑de‑//‑bico  comprá‑//‑lo lava‑//‑se

● 5º ‑ Não se separam os ditongos nem os tritongos:

            pa‑//péisvai‑//dosoPara‑//guai

● 6º ‑ Não se separam os grupos átonos finais ‑ia, ‑ie, ‑io, ‑oa, ‑ue, ‑uo:

            Pá‑//lio     con‑//tí‑//nuoro‑//ma‑//ria

 

Observações:   Embora o sistema ortográfico o permita, não se deve  escrever no princípio ou no fim da linha uma só vogal. Será também preferível evitar a partição de vocábulos como água, aí, aqui, baú, rua, daí, etc.. Convirá também que vocábulos como abrasar, aguentar, equidade, agradar, ortografia, etc., sejam apenas divididos nas sílabas indicadas:

            abra‑//sar   equi‑//da‑//de   aguen‑//tar  agra‑//dar   or‑//to‑//gra‑//fia

 

REGRAS DE ACENTUAÇÃO[9] 

Relativamente à utilização do acento grave, vimos já que, à excepção do caso indicado, este deixou praticamente de se usar no português. Restam‑nos, pois, algumas regras importantes relativas essencialmente à utilização do acento agudo, mas também do acento circunflexo, que a seguir transcrevemos. 

 

PALAVRAS  PROPAROXÍTONAS

Todas as palavras proparoxítonas são obrigatoriamente acentuadas:

● a) ‑ Usa‑se o acento agudo se na sílaba tónica se encontra a vogal a aberta, as vogais e ou o semi‑abertas, i ou u:

             árabe       tépido       cómico       límpido      túnica

● b) ‑ Usa‑se o acento circunflexo se a vogal tónica for fechada:

             câmara      lâmpada      pêndulo      fôlego

 

PALAVRAS  OXÍTONAS

● 1º ‑ Acentuam‑se as palavras oxítonas terminadas em a, e, o ou ditongo aberto ou semi‑aberto seguido ou não de s:

             má  boné  herói  lençóis  anéis  avó  pó  bacharéis  rouxinóis  chapéu 

● 2º ‑ Acentuam‑se as oxítonas terminadas em  ‑em e ‑ens desde que tenham mais de uma sílaba:

             Santarém      armazém      armazéns      alguém       também

● 3º ‑ Acentuam‑se com circunflexo (^)  as oxítonas terminadas em   a, e  e o fechados:avôportuguês

 

PALAVRAS PAROXÍTONAS

● 1º ‑ Acentuam‑se as palavras paroxítonas terminadas em ‑l, ‑n, ‑r ou ‑x:

             fácil  abdómen  fémur  Fénix  túnel  amável  têxtil  útil  açúcar  tórax

● 2º ‑ Acentuam‑se as paroxítonas terminadas em ‑i, ‑u, ‑is, ‑us, vogal nasal ou ditongo:

             júri  Vénus  órfã  amáveis  lápis  íris  ténis  bênção  bónus  vírus

● 3º ‑ Acentuam‑se as paroxítonas cuja sílaba tónica é um ditongo oral[10]:

             heróico        clarabóia        tipóia        gibóia

● 4º ‑ Acentuam‑se as paroxítonas no caso das palavras homógrafas, aplicando‑se a mesma regra para o caso das oxítonas homógrafas[11]:

             pára/para     pôde/pode     amámos/amamos      pêlo/pelo    

             têm/tem     retêm/retém     provêm/provém     quê/que    pôr/por

● 5º ‑ Acentuam‑se as paroxítonas terminadas em ‑um, ‑uns:

             álbum      álbuns

● 6º ‑ Quando o i ou u tónicos não formam ditongo, são assinalados com acento agudo para desfazer o hiato, quer a palavra seja oxítona ou paroxítona:

             aí  cafeína  balaústre  faísca  egoísta  saúde  heroína  juízo  viúvo

 

EXCEPÇÃO: Se o i ou u forem seguidos de l, m, n, r, z, que não iniciam sílaba, ou de nh, não levam acento:

             moinho   rainha   ventoinha   paul   Raul   ruim   demiurgo  juiz

________________________________

[1] Veja-se o artigo de Arnaldo SARAIVA, Na pátria da língua portuguesa,  publicado no "Jornal de Notícias" de 3 de Dezembro de 1989, pág. 64.

[2] Veja-se outra definição de ortografia, que transcrevemos:

«Grafia (ou ortografia) é a "técnica para usar a linguagem como comunicação escrita. Um desenho convencional reporta-se às formas da língua, constituindo a grafia por ideogramas, ou a elementos da fonação, constituindo a grafia fónica.  Em português, como nas demais línguas ocidentais, desde o grego antigo, a grafia é fónica na base de letras, complementadas pelos diacríticos  [sinais gráficos que conferem às letras ou grupos de letras um valor sonoro próprio, a que damos o nome de acentos]  e pelos sinais de pontuação.

Em toda a língua provida de escrita a tendência é para se fixar um sistema de grafia, que passa a ser a ORTOGRAFIA [do grego ORTHO 'correcto' mais o latim GRAFIA 'registo']». In: J. MATTOSO CÂMARA JR, Dicionário de linguística  e gramática, referente à Língua Portuguesa,  Petrópolis, Editora Vozes Ldª, 1977, pp. 128-129.

[3] O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) foi aprovado em Lisboa em 12 de Outubro de 1990, assinado em Lisboa a 16 de Dezembro de 1990 e aprovado na Assembleia da República em 4 de Junho de 1991, tendo sido publicado no Diário da República Nº 193, I Série-A, em 23 de Agosto de 1991, pp. 4370-4388.

[4] Em 6 de Fevereiro de 1973, pelo Decreto-Lei nº 32/73, «são eliminados da ortografia oficial portuguesa os acentos circunflexos e os acentos graves com que se assinalam as sílabas subtónicas dos vocábulos derivados com o sufixo MENTE e com os sufixos iniciados por Z.»

[5] Recorde-se tudo quanto foi dito no capítulo II, relativamente aos planos ou estruturas dos textos, bem como aos articuladores do discurso e diferentes técnicas na exposição das ideias (pp. 50-71).

[6] Há gramáticas que consideram os polissílabos a partir de três sílabas. Consideramos, no entanto, mais rigorosa a classificação tradicional, que só considera polissílabos as palavras com quatro ou mais sílabas. O porquê desta preferência é fácil de concluir. Se dissermos que dada palavra é um polissílabo, ficaremos sem saber quantas sílabas tem. Mas se dissermos que essa mesma palavra é um trissílabo, imediatamente ficaremos a saber, com precisão, como é a palavra.

[7] No caso das conjugações pronominais, acontece, por vezes, que o acento tónico recua uma sílaba em relação ao normal. Por exemplo, em "amávamos", a sílaba tónica situa-se na antepenúltima sílaba (a terceira sílaba a contar do fim da palavra); é uma palavra proparoxítona (ou esdrúxula). No caso de "nós amávamo-nos", há um recuo para a quarta sílaba a contar do fim. Dizemos que esta palavra é bisesdrúxula. O mesmo acontece no seguinte exemplo: "Façam-se-lhes as vontades e ...". Com a junção dos pronomes átonos à forma verbal, obteve-se uma palavra composta em que o acento recai na quarta sílaba a contar do fim.

[8] Exemplos de prefixos e elementos de origem grega e latina:

a) ante‑,  anti‑,  circum‑,  contra‑,  entre‑,  extra‑,  hiper‑,  infra‑,  intra‑, pré‑,  pró‑,  sobre‑,  super‑,  ultra‑,  etc.

b) aero‑,  agro‑,  auto‑,  bio‑,  electro‑,  geo‑,  hidro‑,  inter‑,  macro‑,  micro‑, maxi‑,  mini‑,  multi‑,  neo‑,  pan‑,  pluri‑,  proto‑,  pseudo‑,  retro‑,  semi‑,  tele‑,  etc.

[9] Nestas páginas apenas estão indicadas as regras mais importantes. Convirá notar que, em certos casos, há pequenas divergências de acentuação entre Portugal e o Brasil, facto que levou a algumas alterações pontuais no novo Acordo Ortográfico da Língua  Portuguesa, anteriormente referido, com o objectivo de uniformizar o Português nos dois lados do Atlântico. Para um estudo mais aprofundado desta matéria, aconselha‑se a consulta de uma gramática ou mesmo de um prontuário ortográfico e, sobretudo, o seu estudo complementar com a consulta do citado acordo. A título exemplificativo, indicamos a obra de Celso CUNHA e de Lindley CINTRA, Nova Gramática do Português Contemporâneo, edições Sá da Costa, 2ª ed., Lisboa, 1984, pp. 63‑74. Deveremos desde já acrescentar que as alterações introduzidas são mínimas e por nós referidas neste trabalho.

[10] A partir de Janeiro de 1994, deixarão de ser acentuados os ditongos ei e oi nas palavras paroxítonas, pelo que palavras como as acima indicadas deixarão de ser acentuadas, o que não deixa de ter uma certa lógica, tanto mais que actualmente já não se acentuam palavras como   comboio,  dezoito,  estroina, etc.,  cuja situação é rigorosamente idêntica.

[11] De acordo com o novo acordo ortográfico de 1990, a partir de Janeiro de 1994, esta regra deixará de existir porque, constituindo as palavras homógrafas pares «cujos elementos pertencem a classes gramaticais diferentes, o contexto sintáctico permite distinguir claramente tais homógrafas». Todavia, nem sempre esta clareza é assim tão evidente como se afirma, pelo que o desaparecimento do acento, nestes casos, irá tornar mais difícil a leitura imediata dos textos, obrigando a uma prévia leitura de reflexão para apreensão do sentido, com consequente dificuldade para uma correcta elocução das frases em situações de rápida comunicação. De onde se conclui que, por vezes, certas regras enunciadas por alguns filólogos, que alteram o que outros mais experientes e reflectidos determinaram, não deveriam ser apresentadas sem uma ponderada reflexão e auscultação da maioria dos falantes portugueses com conhecimentos bem alicerçados das estruturas linguísticas portuguesas.

 

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