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Conceito de linguística; linguagem; linguagem humana e
linguagem animal; diferenças entre a linguagem humana e a
linguagem animal; os factores da comunicação; as funções da
linguagem; conceitos de língua, fala ou acto de fala e
discurso. Textos complementares e sugestões de trabalho. |
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FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Figura 16: As funções da linguagem segundo
Herculano de Carvalho.
Ligado a cada acto
de comunicação anda associada uma determinada intenção por parte do
sujeito falante. O sujeito emissor, quando fala, procura obter um
determinado resultado, procura transmitir um conhecimento, uma ordem ou
um desejo, ou, simplesmente, exteriorizar um estado de alma, uma emoção
ou sentimento. Significa isto que, associado ao acto de comunicação,
encontramos toda uma série de funções, que englobamos sob a designação
de funções da linguagem.
Se consultarmos a obra Teoria da linguagem,
de Herculano de Carvalho, verificaremos que o Autor nos apresenta dois
grandes tipos de funções: a função interna e a função
externa.
A função interna é aquela que o ser humano
realiza em primeiro lugar, mantendo-se praticamente pela vida fora. De
facto, e dado que a linguagem humana, como já vimos, não é hereditária,
a função interna começa a realizar-se desde o momento em que o ser
humano nasce, pois é por ela que a criança adquire os conhecimentos e
aprende a falar, mantendo-se depois ao longo de toda a sua vida. A
função interna consiste, pois, na aquisição de conhecimentos, visto que,
ao longo de toda a vida, cada sujeito falante vai adquirindo novas
palavras e novos conhecimentos. Herculano de Carvalho considera mesmo
que a função interna é a função primária da linguagem, uma vez que é
através do conhecimento que cada indivíduo se realiza plenamente como
ser humano, sendo este conhecimento que distingue o Homem dos outros
animais. Entre a função interna e a externa há, segundo ele, uma relação
de prioridade, na medida em que a função interna precede a
exteriorização. E esta precedência não é de natureza cronológica: não há
primeiro o conhecimento e depois uma exteriorização; ela é apenas de
carácter ontológico, na medida em que é o conhecimento e não a acção o
que constitui a verdadeira causa final da linguagem.
A função externa consiste na manifestação ou
exteriorização de toda uma série de conteúdos. Segundo a relação
Emissor/Receptor, H. de Carvalho considera a pura manifestação e
a manifestação para outrem ou
comunicação, sendo a segunda, do ponto de vista das funções
externas, o cerne ou função primária da linguagem. De facto, a
comunicação é a função primária da linguagem e opõe-se à pura
manifestação. Enquanto esta não permite a realização de comunidade, dado
que se restringe ao próprio indivíduo, a manifestação para outrem ou
comunicação dá lugar à permuta de conhecimentos, permitindo assim a
existência de comunidade. A pura exteriorização restringe-se ao
próprio indivíduo e constitui, na sua essência, aquilo que designamos
por monólogo. Mas a pura exteriorização, na prática, não existe,
dado que, numa situação de monólogo, o sujeito falante como que se
desdobra, transformando-se simultaneamente num emissor e num receptor.
Por isso, no fundo, um monólogo acaba por se transformar num diálogo,
ainda que incompleto, visto que o receptor não é mais do que o
desdobramento do próprio emissor. Pode-se por isso afirmar que a pura
manifestação ou monólogo é um acto de linguagem que tende para o puro
monólogo sem nunca o atingir.
H. de Carvalho reflecte também sobre o papel e
diferentes aspectos assumidos pelo monólogo, considerando que, no
monólogo expressivo, há também um monólogo apelativo e um monólogo
informativo. O monólogo apelativo realiza-se quando, estando-se só e
tendo de se tomar uma resolução, escolhendo um caminho a seguir dentre
vários que se nos apresentam, na nossa mente se trava um «diálogo», no
qual pesamos os prós e os contras das diferentes opções, antes de
tomarmos a decisão. O monólogo informativo, no qual se realiza a função
informativa, ocorre no pensamento discursivo, muito frequente quando
estudamos, em que as palavras se produzem quase sempre em silêncio,
embora nos pareça que as estamos a ouvir na nossa mente.
Na manifestação para outrem, tendo em conta
a natureza dos conteúdos manifestados, H. de Carvalho considera apenas
três funções, indicadas na figura 16. Antes de analisarmos cada uma
delas, dado que estas têm suscitado várias reflexões e que não são mais
do que o desenvolvimento do esquema triádico de Bühler, vejamos de que
modo as funções da linguagem têm sido encaradas por outros linguistas.
KARL BÜHLER, na sua teoria da linguagem[13],
apresenta essencialmente três funções. Diz-nos ele que «tripla é a
função da linguagem humana: manifestação, repercussão e representação»,
preferindo, actualmente, os termos «expressão, apelo e representação».
Figura 17: Funções da linguagem e
correspondentes factores da comunicação.
Roman JAKOBSON[14]
considera a existência de seis funções da linguagem, em vez das três
apontadas por Bühler, correspondentes aos seis factores da comunicação.
A partir do modelo triádico de Bühler, que Jakobson retoma, chega o
autor às restantes funções da linguagem, correspondentes aos seis
factores e cujo esquema está representado no quadro da figura 17. Em
letras maiúsculas encontram-se as funções da linguagem; em minúsculas,
os factores da comunicação sobre os quais incidem as seis funções.
Embora, analisando o esquema, se possa pensar que
cada função se verifica de modo independente, a verdade é que as funções
da linguagem não se realizam com a linearidade que o esquema dá a
entender. Numa mesma mensagem, podemos encontrar simultaneamente
diversas funções, muito embora uma delas seja a predominante para dado
tipo de mensagem. Tal como nos diz Jakobson, «embora distingamos seis
aspectos básicos da linguagem, dificilmente lograríamos, contudo,
encontrar mensagens verbais que preenchessem uma única função». O que
acontece é que, embora existindo mais do que uma função, há uma que é a
predominante, de acordo com o tipo de mensagem produzido.
Vejamos agora cada uma das funções
da linguagem em pormenor.
a)
─
Expressão ou função emotiva ou expressiva
Esta função dá vazão a
conteúdos de natureza emotiva. Está centrada no sujeito emissor e
caracteriza-se por ser
uma expressão directa da atitude do emissor em
relação àquilo de que fala. Em textos escritos, percebem-se esses
conteúdos de natureza emotiva pelo uso de interjeições, de exclamações e
até mesmo pelo uso de adjectivos carregados de subjectividade e de
certos diminutivos, etc.
b)
─
Apelo ou função apelativa, conativa, imperativa ou
volitiva
Embora se empregue mais correntemente a expressão
«função apelativa», não podemos ignorar as outras designações menos
frequentes para a mesma função da linguagem. Esta função está orientada
para o destinatário ou sujeito receptor e nele centrada. Veicula
conteúdos de natureza volitiva, que exigem ou procuram levar o sujeito
receptor a reagir. Procura, pois, actuar sobre ele, influenciando o seu
modo de pensar, o seu comportamento, e levando-o à acção. Na linguagem é
visível esta função através de diversas marcas, tais como o recurso ao
imperativo, ao vocativo, ao apelo. É o que sucede, por exemplo, na
linguagem publicitária, que procura, por mil e uma maneiras, por vezes
até mesmo de modo bastante subtil, levar o receptor à aquisição dos
produtos publicitados.
c)
─
Informação ou função informativa, referencial, cognitiva ou denotativa.
Esta função está centrada no contexto e ocorre sempre
que o sujeito emissor procura veicular de maneira directa e objectiva
conteúdos de natureza cognitiva. É esta a função dominante na maioria
das mensagens. Encontramo-la em todos os textos de carácter científico,
de carácter didáctico e nas notícias dos diferentes órgãos de
informação, onde o acontecimento deve ser apresentado de maneira
completa e em linguagem clara e objectiva.
d)
─
Função fática
A função fática tem por objectivo procurar estabelecer, manter ou
interromper a comunicação. Através dela os sujeitos falantes procuram
verificar se o canal de comunicação está operacional ou, frequentemente,
verificar até que ponto o interlocutor está interessado naquilo que lhe
estamos a transmitir. Está igualmente presente na mente do nosso
interlocutor, quando, à medida que falamos, nos vai acenando com a
cabeça ou procurando dar a entender que está a acompanhar e a
compreender o que lhe estamos a dizer. Está perfeitamente patente quando
a comunicação se realiza através de um meio de comunicação à distância,
como, por exemplo, quando usamos o telefone. Daí toda a série de
expressões tais como «olhe lá», «está?», «está a ouvir-me?», «está
bem?», «está a compreender?», «está a ver?», «sim... sim...», «pois...
pois», «escute», «ouça lá», etc.
e)
─
Função metalinguística
Esta função está centrada no código e realiza-se
quando os sujeitos falantes
─
emissor e/ou receptor
─ procuram ou necessitam de averiguar se ambos
utilizam o mesmo código linguístico. Sempre que, ao longo de um texto,
recorremos a expressões tais como «isto é», «ou seja», «quer isto
dizer», «isto significa que», etc., ou quando reflectimos sobre o
sentido de determinado vocábulo ou sobre qual o vocábulo mais adequado
para exprimirmos um determinado conceito, estamos a realizar a função
metalinguística. Esta visa, portanto, uma correcta utilização do código
e, consequentemente, uma comunicação isenta de ruído.
f)
─ Função
poética
Esta função está centrada na própria mensagem, sendo
dominante, mas não exclusiva, da linguagem literária, ao passo que
noutras formas de actividade verbal o seu papel é secundário. Sempre
que, num texto, recorremos às correspondências sonoras, ao ritmo, a
certos recursos estilísticos, a determinadas imagens e metáforas, etc.,
temos presente a função poética da linguagem. Significa isto que tanto a
podemos encontrar em textos em verso como em prosa.
Figura 18: Funções interna e externa da
linguagem.
Comparando as funções anteriormente apresentadas
─
de Herculano de Carvalho e de Jakobson
─,
somos levados a concluir que os esquemas apresentados, sendo incompletos
isoladamente, em conjunto dão-nos uma noção mais completa das funções da
linguagem, permitindo-nos chegar ao esquema apresentado na figura 18.
Observando o esquema proposto, encontramos representada à esquerda a
função interna da linguagem e, à direita, a função externa ou
comunicação. A função interna é a primeira a ser realizada por todos os
sujeitos falantes
─
a, b, c, ...n
─ e permanece por toda a vida. E é pelo contacto com
todos os sujeitos falantes que o rodeiam que cada ser humano vai
adquirindo a competência linguística. Só depois de adquirida, ao fim de
algum tempo, essa competência ele pode realizar de modo consciente a
função comunicativa ou externa da linguagem. E dizemos de "modo
consciente", porque comunicação existe desde o momento em que o ser
humano nasce. O choro na criança de tenra idade é já uma forma de
comunicação, na medida em que os pais reagem a esse sinal sonoro,
interpretando-o como sinal de uma necessidade vital da criança. Há,
pois, já uma forma de comunicação, embora primitiva, instintiva e não
verbal. Só ao fim de alguns meses, pela observação do mundo que a
rodeia, a criança vai adquirindo mecanismos conscientes para a
comunicação, começando, a pouco e pouco, a adquirir o código linguístico
dos pais e restantes elementos da comunidade linguística em que está
inserida. E depois, ao longo de toda a sua vida, o ser humano vai
realizando quer a função interna, quer a função externa, comunicando com
os restantes elementos da sociedade em que vive e dela recebendo
elementos de variada índole, que o vão enriquecendo culturalmente. E o
suporte linguístico será o meio por excelência para aceder a todas as
formas de cultura, donde a necessidade de termos uma noção e domínio
perfeitos da arte de nos exprimirmos, quer no domínio da oralidade, quer
no domínio da escrita[15].
LÍNGUA, FALA E ACTO DE FALA
São
muitas as definições que poderemos encontrar para este conceito.
Segundo Celso Cunha, por exemplo, a «língua é um sistema gramatical
pertencente a um grupo de indivíduos. Expressão da consciência de uma
colectividade, a língua é o meio por que ela concebe o mundo que a cerca
e sobre ele age».[16]
Figura 19: O acto de fala produz um texto, o
qual pode ser fixado.
Para Ferdinand de Saussure, língua não se confunde
com linguagem, pois não é mais do que uma parte desta, ainda que
essencial. A língua é simultaneamente «um produto social da faculdade da
linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adoptadas pelo corpo
social para permitir o exercício desta faculdade entre os indivíduos».[17]
A língua é, portanto, o resultado da vida social da
colectividade, é o sistema de linguagem por ela criado e, como tal,
constitui como que um ser vivo em constante mutação, em permanente
evolução. Significa isto que, uma vez que é o produto da sociedade,
sofre como ela uma permanente evolução, fazendo com que apresente
variações não apenas de região para região, dentro do plano sincrónico,
mas igualmente através dos tempos.
A linguagem verbal, isto é, falada, realiza-se
através da língua, variável de país para país (português, no caso de
Portugal e países de expressão portuguesa, francês, no caso da França,
etc.) e exterioriza-se mediante actos de fala.
Cada acto de fala produz um texto, o qual pode ou
não ser fixado, quer por meio de um registo escrito, quer por sistemas
de registo sonoro.
Sempre que utilizamos uma dada língua, português,
espanhol, francês, inglês, etc., estamos a produzir actos de fala.
Significa isto que fala ou acto de fala é a realização
individual da língua, fruto da necessidade de comunicação. Cada acto de
fala depende do sujeito falante, depende daquele que o pratica, pelo que
varia de acordo com os seus conhecimentos, situações, vontade, etc. A
fala difere da língua pelo facto de que, enquanto esta é produto da
colectividade, da sociedade, a fala é o produto de um acto individual,
dependente da vontade, inteligência e conhecimentos de cada sujeito
falante.
Discurso Segundo certos autores,[18]
discurso é a língua no acto de fala, na execução individual, donde o
podermos concluir que fala ou discurso são dois termos que
designam o mesmo: a realização individual da língua.
No entanto, embora discurso e fala
sejam, no fundo, sinónimos, é de uso corrente empregar-se o vocábulo
discurso para indicar os diferentes tipos de registo de fala ou,
como também são designados, registos de língua. Assim, uma
determinada pessoa pode empregar, na realização do acto de fala, um:
●
discurso de 1ª, 2ª ou 3ª pessoa;
●
discurso directo, indirecto ou indirecto-livre;
●
um
determinado nível ou registo de língua: gíria, calão, familiar,
corrente, etc.
Para conclusão desta matéria, nada melhor do que
transcrevermos algumas palavras de Tatiana Slama-Casacu:[19]
«A língua é a criação, mas também o fundamento da linguagem
─
que não poderia funcionar sem ela
─,
é, simultaneamente, o instrumento e o resultado da actividade de
comunicação. Por outro lado, a linguagem não pode existir,
manifestar-se e desenvolver-se a não ser pelo aprendizado e pela
utilização de uma língua qualquer. A mais frequente forma da
manifestação da linguagem
─
constituída por uma complexidade de processos, de mecanismos, de meios
expressivos
─
é a linguagem falada, concretizada no discurso, ou seja, a realização
verbal do processo de comunicação. O discurso é um dos aspectos da
linguagem
─
o mais importante
─
e, ao mesmo tempo (...), a forma concreta sob a qual se manifesta a
língua. O discurso define-se, pois, como o acto de utilização
individual e concreto da língua no quadro do processo complexo da
linguagem. Os três termos estudados
─
linguagem, língua, discurso
─
designam no fundo três aspectos, diferentes mas estreitamente ligados,
do mesmo processo unitário e complexo.»
Sugestão de trabalho 7
Leia os dez textos
que a seguir lhe são apresentados e procure identificar as funções da
linguagem neles presentes. Lembre-se que, embora predominando uma só
função em certos textos, noutros poderá encontrar mais do que uma,
podendo tornar-se difícil dizer qual a que predomina. Nestes casos,
procure identificar as funções presentes ao longo dos textos.
Texto 1:
Prédio de 9 andares
ruiu copiosamente
Um edifício de nove andares,
ainda em fase de acabamento, ruiu ontem de madrugada na Rua Capelo de
Brito, em Matosinhos. O edifício, que se encontrava desabitado, ficou
reduzido a um monte de entulho, não se tendo registado, todavia,
quaisquer acidentes pessoais.
O aluimento do prédio deu-se pouco
depois das três horas da manhã de ontem, e, embora bombeiros e
autoridades estejam a investigar a ocorrência, ainda não foi encontrada
qualquer explicação plausível para o sucedido.
Sabe-se apenas que o prédio é de
construção bastante recente e que o primeiro inquilino a habitá-lo devia
mudar-se para ali na próxima quarta-feira.
Em consequência do aluimento, uma grua
que se encontrava nas imediações do prédio foi arrastada, tendo atingido
outro edifício localizado numa zona contígua à sinistrada.
Um informador dos bombeiros referiu que
tudo indica que o piso onde o edifício estava tenha cedido e,
consequentemente, os alicerces do prédio não aguentaram e acabaram por
ruir.
A Polícia de Segurança Pública de
Matosinhos proibiu a circulação de automóveis na Rua Brito Capelo,
enquanto operários da obra e populares procederam, durante toda a manhã
de ontem, à remoção dos escombros do imóvel que ruiu.
Extraído de um jornal diário.
Texto 2
CONVERSA TELEFÓNICA
(Ouve-se discar um
número telefónico)
ELE - Está? ... Alô? ... Está? ...
ELA - Sim ... Quem fala?
ELE - Está? És tu? És tu, Ana Luísa?
ELA - Sim, quem fala?
ELE - Daqui é o Carlos.
ELA - Ah!... És tu, amor?!
ELE - Sim! Sou eu mesmo. Ouve lá:
chegaste bem a Lisboa? Não há novidade?
ELA - Como? Se fui passear à cidade?
ELE - Não, não é isso. Pergunto se
chegaste bem a Lisboa, se não há novidade.
ELA - Ah! Já ouvi. Cheguei, cheguei
muito bem. A viagem foi óptima. Está. Estás a ouvir-me?
ELE - Sim. Continua. Ouve-se mal, mas
dá ainda para perceber.
ELA - Pois! A viagem foi óptima.
Cheguei bem, embora um pouco cansada. Os meus tios estavam à espera.
ELE - Quem? O quê? Os teu fios?!
ELA - Não, disse que os meus tios
estavam à minha espera. Estão bons.
ELE - Olha... Luísa? Estás a ouvir-me?
Eu ouço muito mal. É melhor desligar. Às oito horas volto a ligar para
aí. Está bem?
ELA - Certo! À hora esperarei o teu
telefonema. Ciao! Até logo, querido.
ELE - Adeus, até logo.
Texto 3
NA FEIRA POPULAR
─
Hoje vamos todos sair
─ disse o pai.
─
Que bom! ... Onde vamos?
─
Vamos à Feira Popular.
As crianças saltaram todas de alegria,
perante a perspectiva de um dia diferente e bem passado.
Chegaram à feira. Viram um homem que
engolia mechas a arder.
─
Que horror! Que impressão que aquilo me mete!
─ disse a mãe dos miúdos, fazendo
uma careta de aflição. Passada esta primeira emoção, chegaram ao comboio
fantasma.
─
Paizinho, vamos andar, sim?
─
pediram os miúdos em grande algazarra, onde se notava enorme excitação.
Andaram. Apanharam alguns sustos, mas
gostaram. À saída:
─
Foi tão bom! Mas apanhei um grande susto, quando o macacão me atirou com
o cacho das bananas à cara. Mas gostei tanto!
─ disse o João, o filho mais
novo, não escondendo a sua emoção.
Depois da feira e chegados a casa, as
crianças não falavam de outra coisa: a feira, com todas as suas
diversões e cores brilhantes dos reclames.
Texto adaptado de um trabalho
apresentado por uma aluna da turma A do 8º Ano, em 1978/79.
Texto 4
CAMISOLA ORIGINAL
Fuja ao convencionalismo das
decorações uniformes, impessoais, e escolha uma estampa ou um texto ao
seu gosto para a sua camisola.
Para os mais novos, há bonecos
divertidíssimos, que poderá gravar juntamente com o nome do seu filho.
Para si, que tem gostos mais requintados, pode escolher motivos florais
ou mesmo desenhar, caso tenha habilidade, a sua própria gravura. Vá,
pois, à Feira Popular e aproveite a oportunidade, junto dos "standes" da
especialidade, para oferecer a si mesmo uma camisola original.
Texto 5
BOLETIM
METEOROLÓGICO
Tempo, hoje. Situação do tempo.
Em Portugal continental, o céu estava
geralmente muito nublado. O vento era fraco ou moderado e predominava a
Oeste. Caíam aguaceiros em vários locais. Temperaturas extremas: Monte
Estoril, máxima 16; Penhas da Saúde, mínima 6.
Previsão geral até às vinte e quatro
horas de amanhã: aguaceiros, alternando com abertas, possibilidade de
trovoada, em especial nas regiões montanhosas, vento fraco ou moderado,
predominando de noroeste.
Amanhã, o Sol nasce às oito horas e
vinte e cinco minutos; o ocaso às dezanove e dezassete minutos.
De um jornal diário.
Texto 6
BOLETIM
METEOROLÓGICO
Tempo
hoje.
Situação do tempo.
Em Portugal
continental
o céu
estava geralmente muito nublado.
O vento
era fraco ou moderado
e predominava a Oeste.
Caíam aguaceiros em vários locais.
Temperaturas extremas:
Monte Estoril, máxima 16; Penhas da
Saúde, mínima 6.
Previsão geral
até às vinte e quatro horas de
amanhã:
aguaceiros
alternando com abertas, possibilidade
de trovoada
em
especial nas regiões montanhosas
vento fraco
ou moderado
predominando
de noroeste.
Amanhã
o Sol
nasce às oito
e vinte e cinco
minutos
o ocaso
às dezanove
e dezassete
minutos.
De um jornal diário.
Dito por Mário Viegas.
Texto 7
BEN - Anda. Vai acendê-la.
GUS - Acender o quê?
BEN - A chaleira.
GUS - O gás, queres tu dizer.
BEN - Quem é que quer dizer gás?
GUS - Tu.
BEN - Se eu te disse para ires
acender a chaleira, era porque queria que tu fosses acender a chaleira.
GUS - Como é que se pode acender uma
chaleira?
BEN - É uma maneira de dizer!
GUS - Nunca ouvi.
BEN - Acender a chaleira? É uma
expressão usadíssima.
HAROLD PINTER, O monta-cargas. (Trad. de
Luís de Sttau Monteiro).
Texto 8
País, país... uma
feira no Sabugal
Uma equipa do nosso jornal televisivo
deslocou-se esta semana à vila do Sabugal, a fim de aí registar algumas
imagens da Feira Nova, que todos os anos se realiza nesta vila, no
primeiro dia de Setembro.
Este ano a feira esteve
excepcionalmente concorrida, para o que terá contribuído, entre outros
factores, o excelente dia de sol. Efectivamente, registou-se, sem sombra
de dúvida, uma elevada afluência de feirantes, quer de vendedores,
vindos dos mais diversos locais e regiões do país, quer de compradores,
provenientes não só do concelho, mas de toda a região limítrofe.
A feira estendeu-se por vasta área da
vila, desde o largo dos bombeiros, até à alameda do cemitério e terrenos
em redor. Neste local, concentraram-se essencialmente vendedores de
sapatos, de fazendas e fatos feitos e de muitos outros produtos do
artesanato regional.
No largo em frente à câmara e aos
bombeiros, local do mercado semanal, predominaram essencialmente
vendedores de frutas e legumes, de salgados e presuntos e, sobretudo, os
vendedores de queijo, do apreciado queijo da serra. Afluíram ainda em
elevado número emigrantes que, junto dos seus familiares e amigos,
vieram passar o período de férias e matar saudades da terra.
Extraído de um diaporama sobre o
Sabugal.
Texto 9
─
Tocay é, para o meu gosto, um vinho muito doce. Embebeda-me sempre. Evel
é leve de mais. Gatão, só com marisco. Cerveja? Nem penses nisso!
Enjoa-me. E se bebêssemos um vinho espesso, com corpo e alma, como as
cerejas?
─
Como as cerejas?
─
Sim, estúpido! Nunca viste ou comeste uma cereja grande, dura, com
sumo? Tem corpo e alma. Ou vamos beber apenas um vinho de areia? O
melhor vinho para um pato como este, cheio de gordura e bem recheado com
amoras... Ou pera? De que é o recheio?
─
O recheio?
─
Julgas que eu como pato sem ser recheado? Foi uma coisa que li nos
livros de culinária. Pato, só com recheio. Leitão é que se pode comer a
seco, para não saturar o sabor natural.
─
Leste um livro de culinária? Para quê?
─
Até li mais do que um. Já li muitos. E gosto de fazer bacalhau assado
com grandes rodelas de batata e cebola. E azeite, a nadar em azeite
pouco ácido. Com alho grande. Mas não lhe ponho salsa picada. Nunca pico
salsa. Vamos beber um vinho de areia, talvez Visconde de Salreu?
É uma marca de entendidos.
─
Quem era o Visconde de Salreu?
─
Era um visconde, estúpido! Tem um grande jazigo de família. Um visconde
é um visconde. Este é de Salreu.
JOÃO PALMA-FERREIRA, Primavera,
in: "As Novelas"
Texto 10
AS PALAVRAS
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
EUGÉNIO DE ANDRADE, Antologia
Breve.
___________________________
[13]
─
Karl BÜHLER, Teoria del lenguage,
Madrid, 1950, pp. 40-45.
[14]
─
Roman JAKOBSON, Linguistique et poétique, in: Essais de
linguistique générale, Paris, 1963, pp. 213-221. Nota: Além do
trabalho já citado de Herculano de Carvalho, aconselha-se a leitura
destas páginas de Jakobson sobre as funções da linguagem.
[15]
─
A parte final deste capítulo apresenta um bloco com
sugestões de trabalho. Nele encontra uma sequência de diversos textos
que deverá ler, identificando as funções da linguagem neles presentes.
[16]
─
Celso CUNHA, Gramática do português contemporâneo, 5ª ed.,
Belo Horizonte, Editora Bernardo Álvares S. A., 1975, pp. 15-16.
Veja-se também Celso CUNHA e Lindley CINTRA, Nova gramática do
português contemporâneo, Lisboa, Edições Sá da Costa, 1984, p.
1.
[17]
─
Ferdinand
de SAUSSURE, Cours de linguistique générale, Paris, 1964, pp.
23-31.
[18]
─
Veja-se a definição apresentada por Celso Cunha na obra
anteriormente citada.
[19]
─
Tatiana SLAMA-CASACU, Langage et contexte, Haia, p. 20.
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