Acesso à hierarquia superior.

Henrique J. C. de Oliveira, Gramática da Comunicação, Col. Textos ISCIA, Aveiro, FEDRAVE, Vol. I, 1993, 311 pp., Vol. II, 1995, 328 pp.


IV

Da correcção na expressão escrita
Ortografia e notações léxicas
 

 

Introdução e conceito de ortografia. Períodos da ortografia portuguesa (breve história). Erros mais frequentes em textos escritos. Palavras, sílabas e acentos tónicos. Os sons da fala humana. Ênclise, próclise e acentos especiais. As notações léxicas e suas funções. Os sinais de pontuação e sua utilização. Trabalhos práticos.

 


 

OS SINAIS DE PONTUAÇÃO

Além das notações léxicas já apresentadas, a linguagem escrita serve-se de um conjunto de sinais, que têm como objectivo, a nível do escrito, procurar reproduzir graficamente o ritmo, as entoações, as pausas, em suma, todo um conjunto de características próprias da comunicação oral.

Figura 26: Quadro com os diferentes sinais de pontuação. A sua função é a de servir como marcas auxiliares da leitura.

A cada acto elocutório, a cada função da linguagem, corresponde um determinado ritmo, uma determinada entoação. Os sinais de pontuação vão funcionar, a nível do texto escrito, como marcas auxiliares de leitura, ajudando-nos  a dar uma sequência lógica às frases, com pausas maiores ou menores, e a imprimir-lhes uma correcta entoação, tornando-as mais significativas e expressivas.

Os sinais de pontuação são geralmente divididos em dois grupos: os sinais de pausa e os sinais de entoação. Esta divisão tem essencialmente uma função didáctica, já que, rigorosamente, não podemos separar os sinais de pausa dos restantes, na medida em que todos eles ajudam a dar entoação; no entanto, a função principal dos sinais de pausa é a de marcar pausas mais ou menos prolongadas no discurso.

Além destes sinais, utilizam-se nos textos escritos muitos outros recursos, que podem também ter um valor expressivo; é o caso, por exemplo, do emprego de maiúsculas, de tipos de letra diferentes, como o itálico, o negrito, os versaletes, o sublinhado, etc..

Não é muito fácil a utilização imediata de forma correcta dos diferentes sinais de pontuação. No entanto, para além do conhecimento das funções específicas de cada um deles, há um conjunto de sugestões práticas, que poderão facilitar a aprendizagem do seu uso correcto.

 

A VÍRGULA

A vírgula marca uma pausa de pequena duração. Serve para separar os elementos secundários de uma oração e também para separar orações nas frases complexas. É, talvez, o sinal de pontuação mais incorrectamente utilizado, pelo que convém ter sempre presente algumas regras que passamos a apresentar, de entre as quais destacamos a primeira.
 

I - Dentro da oração

1º- NUNCA se separam por vírgulas os elementos principais de uma oração quando se encontram seguidos e ainda que não estejam pela ordem normal. Esta separação só poderá verificar-se no caso de uma construção frásica que procure pôr em realce um determinado elemento, procurando dar uma certa expressividade à frase, como no exemplo:  "O João, já não o vejo há dias!"

2º- Serve para separar diferentes elementos com a mesma função sintáctica. É o caso das enumerações, que constituem, por exemplo, um sujeito composto, e complementos:

A raiz, o tronco, os ramos, as folhas, as flores e os frutos da árvore do meu quintal acompanham-me nas tardes calmas de lazer.

Achava os homens declamadores, grosseiros, cansativos, pesados, frívolos, chulos, triviais. (Machado de Assis).

Observação: Quando os elementos da enumeração vêm ligados por conjunções caso do polissíndeto , há escritores que separam os diferentes elementos por vírgulas, embora isso não seja necessário:

Abrem-se lírios, e jasmins, e rosas. (Alberto de Oliveira)

Suspira e chora e cansa e geme e sua. (António Ferreira)

3º - Serve para separar elementos com funções sintácticas diferentes, geralmente para os realçar. É usada para:

     °   a) - isolar o aposto ou continuado:

          D. Afonso Henriques, o Conquistador, fundou Portugal.

     °   b) - isolar o vocativo:

          Menino, não faça isso.

     °   c) - isolar elementos repetidos:

"Nada, nada dizia o Vilaça todo amável cá o nosso solzinho  português sempre é o melhor" (Eça, Os Maias.)

     °   d) - isolar complementos circunstanciais:

          Ontem, durante a manhã, estavas à janela.

Observação: Se o complemento é de reduzida extensão, pode ser dispensada a vírgula: "Ontem estavas à janela". No entanto, a vírgula poderá conferir uma determinada expressividade: "Ontem, estavas à janela".

     °   e) - isolar, na datação de um escrito, o lugar:

          Aveiro,  3 de Maio de 1990.

     °   f) - indicar a supressão de um elemento (geralmente o verbo) ou de um grupo de palavras:  

          Chuva, névoa, desconforto,

          A imagem da minha vida!

                   (António  Botto)

II - Entre orações

1º - Serve para separar as orações coordenadas assindéticas:

          Aproximou-se pé ante pé, empurrou devagar a porta, espreitou, viu que não havia ninguém, entrou.
 

2º - Serve para separar as orações sindéticas, excepto as introduzidas pela conjunção e:

Parecia distraído, mas não perdia nada do que se dizia.

Observação: Podem-se separar por vírgula as orações coordenadas por meio da conjunção  e  quando o sujeito é diferente:

        A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino. (F. Namora)

Igualmente se podem separar por vírgulas, embora não seja necessário, as orações introduzidas por  e:

Comigo o mundo canta, e cisma, e chora, e reza,

E sonha  o que eu sonhar. (Teixeira de Pascoaes)

3º - Das conjunções adversativas, mas coloca-se sempre no começo da oração; as restantes podem vir no começo ou após um dos seus termos. Se se quiser marcar uma pausa mais prolongada, poder-se-á usar o ponto e vírgula (;) em vez da vírgula:

Pensa o que quiseres, mas a tua ideia está incorrecta.

Pensa o que quiseres, a tua ideia, no entanto, está incorrecta.

Pensa o que quiseres, a tua ideia está, no entanto, incorrecta.

Pensa o que quiseres;  a tua ideia, no entanto, está incorrecta.

4º - Serve para separar as orações intercaladas:

        "Faz sempre os teus trabalhos, disse ele ao filho, e eu te ajudarei."

5º - Serve para separar as orações subordinadas:

   Quando acabares, vai falar com o teu professor.

   Se tiveres um pouco de tempo, vai ver este filme.

   Não faças isso, que pode ser prejudicial.

Observação: Se a oração subordinada constitui o desenvolvimento necessário da frase não se usa a vírgula, como no caso das consecutivas e integrantes:

Falou tão baixo que ninguém o ouviu.

Ele disse que estava cansado.

6º - Serve para isolar as orações subordinadas relativas adjectivas:

          O juiz de linha, que estava atento, não deixou passar a falta.

Nem sempre estas orações são separadas por vírgulas. Quando são apenas restritivas, e não explicativas, como é o caso do exemplo anterior, a vírgula não se usa:

          O livro que escolheste não presta para nada. 

7º - Serve para separar as orações reduzidas de infinitivo, de gerúndio e de particípio quando equivalentes a orações adverbiais:

          A trabalhar desta maneira, cedo enriquecerá.

          Tendo reparado que as moças o olhavam, corou até às orelhas.

          Conhecidas as regras, fácil será aplicá-las.

 

O PONTO FINAL

Este sinal indica uma pausa máxima após uma sequência final descendente. Emprega-se para marcar o final das frases ou períodos, sejam eles simples ou compostos.

Quando se passa de um assunto ou conjunto de ideias para outro, costuma-se marcar a transposição com uma pausa maior na voz. Na escrita, esta pausa é marcada pelo ponto final seguido de parágrafo.

Quando se efectua um parágrafo, deixa-se o resto da linha em branco e muda-se para a linha seguinte, deixando-se sempre um pequeno espaço em branco no começo da linha. Embora, ultimamente, esteja a tornar-se moda escrever-se logo no começo da linha, não deixa de ser erro grave, podendo, em alguns casos, dificultar mesmo a compreensão, já que o aspecto visual ou gráfico é um importantíssimo auxiliar da leitura. Esta utilidade é ainda mais flagrante quando se está habituado a praticar a chamada "leitura rápida", também designada pelas expressões "leitura visual" ou "dinâmica". Não nos devemos esquecer que a marcação dos parágrafos tem a ver com a própria estrutura do texto, com a maneira como as ideias estão organizadas, pelo que, através da observação da mancha gráfica (ou tipográfica, no caso dos textos impressos) se podem obter desde logo informações complementares sobre o conteúdo do texto.

Se, eventualmente, não quisermos começar ligeiramente mais dentro quando efectuamos um parágrafo, então será de toda a conveniência deixar uma linha de intervalo entre cada parágrafo, prática esta que vem sendo cada vez mais frequente, mormente em textos escritos em computador com processadores de texto.

O ponto serve também para assinalar as abreviaturas e as siglas:

              I.S.C.I.A.   Sr.  Sr.ª   Dr.  V. S.ª   V. Ex.ª   O.N.U.   C.E.E.   R.P.

Modernos escritores há que usam frequentemente o ponto final em vez da vírgula, criando deste modo períodos bastante curtos, por vezes segmentos reduzidos a um só vocábulo, como nos dois textos seguintes:

"A tua presença provocou em mim o sentimento inédito que buscava. Fiquei transposto. Outro. Como desejava." (Almada Negreiros)

"Tristeza. Sentimento que às vezes me invade. Procuro reagir. Ligo o rádio.  A publicidade e certos locutores, que estragam a música com palavras inúteis, enfadam-me. Desligo. A tristeza continua. O silêncio do quarto esmaga-me. Procuro uma cassete. Música suave. Volto a ligar o rádio. Carrego na tecla. Música suave enche o quarto. Apodera-se a pouco e pouco de mim. Adeus tristeza!

A música penetra-me e embala-me. Os sons tornam-se distantes. Adormeço."  

 

PONTO E VÍRGULA

Tal como a designação indica, este sinal apresenta uma função intermédia entre o ponto e a vírgula, podendo aproximar-se ora de um, ora do outro. Daqui resulta uma certa imprecisão no seu emprego. A título de ajuda, apresentam-se algumas regras:
 

1º - Serve para separar num período orações da mesma natureza que tenham uma certa extensão:

        "Não sabe mostrar-se magoada; é toda perdão e carinho." (Machado de Assis)

2º - Serve para separar partes de um período, quando uma delas já está subdividida por vírgulas:     

        Luísa gosta de romances; sua irmã, não.

3º - Serve para separar os diversos itens de enunciados enumerativos em leis, decretos, portarias, regulamentos, etc.

  

DOIS PONTOS

Este sinal tem várias funções na escrita. Entre outras, serve para marcar:

1º - O discurso directo;

2º - Uma enumeração explicativa: Reúna os seguintes ingredientes: 6 ovos, 1 kg de açúcar, um de farinha, fermento, ...

3º - Um esclarecimento, uma síntese ou uma consequência do que foi enunciado:

"A razão é clara: achava a sua conversação menos insossa que a dos outros homens." (M. de Assis)

4º - Depois do vocativo, no começo das cartas, requerimentos, ofícios. No entanto, são  normalmente substituídos pela vírgula.

 

PONTO DE INTERROGAÇÃO

Este sinal serve para assinalar as frases interrogativas. Pode, no entanto, servir para dar mais vivacidade ao discurso, como é o caso da chamada interrogação ou pergunta de retórica.

Por vezes, emprega-se o ponto de interrogação para exprimir a dúvida e até mesmo a surpresa, surgindo frequentemente nos textos associado ao ponto de exclamação:

          "Tu já acabaste com o maço de cigarros?!"

 

PONTO DE EXCLAMAÇÃO

Tal como o nome indica, este sinal serve para ajudar a exprimir conteúdos de natureza emotiva ou afectiva. Utiliza-se normalmente:

 

a) - depois de interjeições ou de termos equivalentes, como os vocativos intensivos, as apóstrofes:

          Adeus, para sempre adeus!

          Vai-te, oh! vai-te, que nesta hora

          Sinto a justiça dos céus

          Esmagar-me a alma que chora. (...)  (A. Garrett)

 

b) - para marcar uma surpresa, juntamente com o ponto de interrogação:

          Já chegaste?!  Cuidei que vinhas mais tarde.

 

c) - na frase imperativa, quando o discurso se apresenta imbuído de uma forte carga emotiva:

        Não vás! Volta, meu filho! Não desampares a tua pobre mãe!

 

d) - para marcar um reforço especial na duração, na intensidade ou na altura da voz:

Varo-os como a cães!... Canalhas!!!... Hei-de lhes acabar com a manha de andarem atrás de mim!... (Branquinho da Fonseca)

 

RETICÊNCIAS

Este sinal serve para indicar uma interrupção da frase, uma hesitação, uma surpresa, uma dúvida, uma ideia que fica por expressar, cabendo ao leitor imaginar a sequência, a suspensão da voz no diálogo, para marcar a interrupção do discurso e tomada da palavra pelo interlocutor, para realçar uma palavra ou expressão, etc.

 

AS ASPAS

Este sinal serve para assinalar uma citação, para fazer   sobressair certos termos ou expressões (caso dos estrangeirismos, arcaísmos, neologismos, vulgarismos), realçar ironicamente uma expressão ou palavras, para assinalar o discurso directo quando não se usa o travessão, para destacar o título de uma obra.

 

PARÊNTESES (ou parêntesis)

Este sinal de pontuação serve para intercalar num texto uma indicação acessória, um comentário, um aparte, uma nota emocional.

Observações:  Eis alguns casos em que também se podem usar os parênteses:

a) - para referências a datas e indicações bibliográficas;

b) - para citação textual de uma palavra ou frase traduzida;

c) - para indicações cénicas, nas peças de teatro;

d) - para isolar orações intercaladas.

 

TRAVESSÃO

Este sinal serve para assinalar os diálogos (na transcrição dos discursos directos), isolar orações intercaladas e destacar certas partes do texto.

 

COLCHETES

Este sinal constitui uma variedade de parênteses, de uso restrito. Emprega-se para:

1º - indicar uma inserção na transcrição de um texto de outro escritor;

2º - indicar as transcrições fonéticas;

3º - isolar uma parte dentro de outra já separada por parênteses.

 

MAIÚSCULAS

A utilização das maiúsculas é um processo que tem por objectivo chamar visualmente a atenção para determinada palavra, individualizando-a ou assinalando simplesmente o começo de um período. Há inúmeros casos, geralmente conhecidos de todos, em que se usam as maiúsculas; no entanto, convirá referir alguns. As maiúsculas usam-se[12]:

1º - no começo das frases;

2º - no começo dos versos, em português;

3º - com os antropónimos e seus cognomes;

4º - nos nomes de postos, cargos ou dignidades hierárquicas, em documentos oficiais, na correspondência, por deferência entre particulares:

          "Por determinação do  Ex.mo  Director da..."

          "Ao meu prezado Mestre, ..."  "Meu querido Pai, ..."

5º - nas formas de tratamento reverencioso, nas abreviaturas de títulos universitários e eclesiásticos, na assinatura de documentos por altas individualidades;

6º - nas formas pronominais e adjectivas que se refiram a entidades sagradas ou pessoas de alta hierarquia falando de si mesmas:

          "Foi Ele que nos criou e tudo governa."

7º - nos nomes dados a animais, quando personificados:

          - Senhor Corvo, disse a Raposa arguta, saboreando já o queijo que iria obter...

8º - com os toponímicos, tais como nomes de países, cidades, lugares, ruas, lugares públicos, acidentes geográficos, etc.:

          O Mondego nasce na Estrela e desagua no Atlântico, depois de passar por duas           cidades: Coimbra e Figueira da Foz.

9º - nos pontos cardeais e colaterais, quando designam regiões ou quando abreviados: 

          O Norte é mais trabalhador que o Sul.

10º - nos nomes de astros e nomes mitológicos e sagrados;

11º - nos nomes que designam altos conceitos políticos, religiosos, nacionais, quando empregados individualmente sem quaisquer qualificativos:

          A República e a Monarquia são duas formas de governo.

12º - nos nomes do calendário, de épocas e de festas tradicionais. No entanto, os dias da semana escrevem-se com minúsculas.

13º - nos nomes de raças, povos ou populações, quando considerados na globalidade:

          O Português foi um povo destemido que deu novos mundos ao mundo.

14º - nos nomes de artes e ciências, quando designam disciplinas:

          Ele é doutorado em Medicina.  Ela tem aulas de Física e Matemática.

15º - nos nomes de factos históricos ou de grandes empreendimentos públicos e nos actos solenes ou de autoridades da República, em documentos oficiais:

          O Centenário da Princesa Santa Joana ocorreu em Maio de 1990.

16º - nos títulos ou subtítulos de livros, publicações periódicas e produções artísticas:

          Os Maias são talvez a obra mais lida em Portugal.

17º - nos nomes de agremiações, escolas, repartições, associações, edifícios públicos e estabelecimentos particulares;

Observações:

    ·    a) - Nos nomes compostos por justaposição, a maiúscula no primeiro elemento obriga a maiúscula no segundo;

     ·   b) - Os elementos de ligação entre os nomes, nas locuções substantivas próprias, escrevem-se com minúsculas:

Freixo de Espada à Cinta    Francisco de Holanda

 

Sugestão de trabalho 8

Nas páginas seguintes, são-lhe apresentados diversos trabalhos práticos, numa sequência de oito, relacionados com diversos aspectos tratados ao longo das páginas deste capítulo, tais como problemas de translineação, de acentuação e de pontuação.

Procure efectuá-los e, em caso de dúvida, recorra às informações que anteriormente lhe foram apresentadas.

 

Trabalho prático 1

Num determinado trabalho, efectuou-se a translineação de elevado número de vocábulos. Ao efectuarmos a sua análise, constatou-se que nem todos tinham sido correctamente divididos.

1 - Identifique-os, marcando com C ou E os correctos e os errados;

2 - Identifique em que consistiu o erro nos vocábulos que considerou como Errados.
 

 

Trabalho prático 2

Imagine que, tendo criado um texto, as palavras  a seguir apresentadas tinham de ser separadas para mudança de linha. No espaço em frente de cada uma, efectue a silabação tendo em conta as regras da translineação:

 
couve-flor cou- // ve- // -flor
desaguar de- // sa- // guar
czarista ______________________________________
psicólogo ______________________________________
aclimatar ______________________________________
sublingual ______________________________________
perspicaz ______________________________________
factor ______________________________________
desfazer ______________________________________
ninho ______________________________________
admissão ______________________________________
contíguo ______________________________________
cárie ______________________________________
pneumático ______________________________________
aguentar ______________________________________
psicologia ______________________________________
coordenar ______________________________________
desfez-se ______________________________________
exceder ______________________________________
cafeeiro ______________________________________
quintalório ______________________________________
calceteiros ______________________________________
cristalizações ______________________________________
vidraça ______________________________________
actrizita ______________________________________
compassado ______________________________________
retiniam ______________________________________
alegremente ______________________________________
fugidio ______________________________________
ilustração ______________________________________
persianas ______________________________________
enxárceas ______________________________________
andaimes ______________________________________
casario ______________________________________
subterrâneo ______________________________________
desassossego ______________________________________
supersticioso ______________________________________
indemnização ______________________________________
 

 

Trabalho prático 3

Num  texto de um jornal ocorreram alguns erros de translineação. Procure-os e identifique o erro ocorrido. (Nota: O texto, extraído do suplemento de um jornal diário, foi por nós intencionalmente alterado, criando-se erros não existentes no original.)
 

Clicar para ampliar.
 

Trabalho prático 4

Propositadamente, no texto seguinte, foram eliminados os acentos a todas as palavras. Leia-o atentamente e procure corrigi-lo. Em caso de dúvida, consulte as páginas deste capítulo.

 

Cercado por soitos verdes de castanheiros centenários, Quadrazais e um grande povoado moreno de casas pobres, edificadas sobre um vasto canape de terra vermelha, de encosto voltado a Espanha.

A marcar-lhe as entradas, nos pontos cardeais, alvejam as capelas de S. Sebastiao, Santo Cristo, Santo Antonio e Santa Eufemia, quatro sentinelas liturgicas a roda da igreja paroquial de uma so nave, ladeada por filas de altares, onde se entronizam, vestidas de sedas claras e cobertas de joias, as imagens venerandas dos quadrazenhos[13].

Bravios e destravados de lingua, e sempre negociantes na fala e no trato, os quadrazenhos mascaram frequentemente a verdade com truques verbais que lhes adormentem a consciencia, mas nunca dao testemunho falso, se alguem, sobre o livro santo, os empraza a jurar em nome de Deus, por eles tao ingenuamente amado, que, pela Semana Santa, ao descendimento da Cruz, a multidao se agita, como em Jerusalem nas horas do Calvario, e os seus gritos estridentes abafam os cantos de Igreja e a voz dos pregadores.

Mal vislumbram, nessa hora, os sacerdotes, de escadas nos ombros, encapuzados e vestidos de branco ate aos pes, a caminharem para a grande Cruz de Cristo, a turba ergue os braços, estorce-os, alucinada na dor, como se de novo fosse correr sangue das chagas de Jesus.

    Ai coitadinho! clama-se, angustiadamente.

    Despreguem-no com jeito!

    Peguem-lhe com amor!

 E ao ve-lo, depois, carinhosamente, levado no esquife, ja aliviados porque o maior sofrimento passou, suplicam suavemente:

   Nao o balancem!

  Levem-no devagarinho![14] 

 No entanto, e apesar destas lagrimas que se renovam pelo aniversario das almas[15], de tal modo a vida aventurosa e dificil do quadrazenho humaniza o auxilio sobrenatural, que arvorou Santo Antonio em protector do negocio proibido, e com tao acreditado sucesso, que a caixa do taumaturgo extravasa de moedas, nos dias de grande contrabando.

 Desta vez, porem, nem as moedas nem os rogos chorados, em todas as casas e capelas, davam esperanças contra as novas ameaçadoras que vinham de Lisboa.

 A imprensa ja falava em mudança de Governo, por nao se demitir o oficial que trocara as armas do Estado por uma quadrazenha de vida facil.

 E no parlamento o caso levantara tumulto e risos.

  Este oficial, crapuloso e vendilhao, e afilhado do senhor ministro da Guerra - clamou um fogoso deputado oposicionista, alongando o braço, a guisa de florete, para a bancada governamental. Foi ele que, traiçoeiramente, contando com a protecçao do Governo, introduziu a colera em Portugal.

               NUNO DE MONTEMOR, Maria Mim, Lisboa, 3ª edição, pp. 173-176.

 

Trabalho prático 5

Propositadamente, no texto seguinte, foram eliminados os sinais de pontuação.  Tente compreender o sentido do texto e coloque adequadamente os sinais de pontuação: vírgulas,  pontos e ponto e vírgula.

 

Além disso aqui em Portugal há muita outra gente que ensina  os outros Religiosos ensinam os seus e os de fora  os mestres seculares também ensinam E assim as minhas opiniões podem ter por objecto não uma só pessoa   isto me basta advertir a estas pessoas que querem saber mais que os autores e quererão explicar e interpretar  mal as minhas palavras    onde concluo que a todos venero e estimo mui particularmente  somente direi o que me parece se devia fazer para poder instruir com fruto

 ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...  ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   

Começo  pois  nesta carta  pela Gramática  que é a porta dos outros estudos  da qual depende a boa eleição dos mais  porque muitos não entendem o que significa este nome  por isso não fazem grande progresso na Gramática   eu ainda que falo com V. P.  que o sabe  falarei daqui em diante como se falasse com quem o não soubesse

A Gramática é a arte de escrever e falar correctamente    todos aprendem a sua língua no berço  mas  se acaso se contentam com essa notícia  nunca falarão como homens doutos   os primeiros mestres das línguas vivas comummente são mulheres ou gente de pouca literatura  de que vem que se aprende a própria língua com muito erro e palavra imprópria  e  pela maior parte palavras plebeias   é necessário emendar com o estudo os erros daquela primeira doutrina   uma razão  ainda que boa  um pensamento esquisito exposto com palavras toscas ou que não signifiquem o que se quer  desagrada muito e comummente não persuade

 ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...

Isto suposto  julgo que este deve ser o primeiro estudo da Mocidade  e que a primeira coisa que se lhe deve apresentar é uma Gramática da sua língua  curta e clara  porque  neste particular  a voz do Mestre faz mais que os preceitos    e não se devem intimidar os rapazes com mau modo ou pancadas  como todos os dias sucede  mas  com grande paciência  explicar-lhes as regras e  sobretudo mostrar-lhes  nos seus mesmos discursos  ou em algum livro vulgar e carta bem escrita e fácil  o exercício e a razão de todos esses preceitos   (...)

   Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar, Carta Primeira

 

 

 

Trabalho prático 6

Propositadamente, no texto seguinte, foram eliminados os acentos e os sinais de pontuação:  pontos, vírgulas, travessões, reticências, pontos de interrogação...  Leia  e  corrija o texto.

 

   numa destas ocasioes em que voltava de dentro do quarto do irmao encontrou se com um criado  rapaz ainda  o qual   encostado a ombreira da porta do jardim  parecia tao dominado por pensamentos penosos  que nem lhe deixaram perceber a aproximacao de Jenny

   a jovem inglesa olhou  o com bondade e  parando junto dele  perguntou-lhe

   Como esta sua mae   Jose

   o  rapaz voltou a si e tomando logo uma atitude de respeito   respondeu

   hoje ainda nao sei  minha senhora   ontem porem deixei-a bem mal

   Hoje nao sabe! exclamou Jenny   desviando o olhar para o relogio do corredor  que marcava onze horas e meia.   Nao sabe  e  e perto do meio-dia!

   entao  minha senhora?   como o Sr   Carlinhos se levanta mais tarde...

    Va ve la,  Jose   va   Naquele estado   coitada!...  sabe la a falta que lhe estara fazendo?

    Mas  se

   va;  carlos nao lhe importa    eu lhe direi   Ande  va

   Entao muito agradecido   minha senhora disse o rapaz   sensibilizado com a bondade da sua jovem ama

   Jenny continuou passeando

   ao passar junto das escadas do mirante  parou  afirmando se em alguma coisa   que via nelas    subiu dois ou tres degraus e curvou se para observar melhor;  era uma pena de ave  que o vento transportara do patio para ali   Jenny nao pode reprimir um pequeno movimento  de desagrado

   o escrupuloso amor do asseio   radicado no caracter e nos habitos ingleses nao lhe permitia ver com indiferenca aquilo

    varreram-se hoje estas escadas   Pedro   perguntou ela a um criado com longo avental branco  que naquele momento passava no corredor

   varreram   sim   minha senhora respondeu este

   repare acrescentou Jenny a falar verdade sao bem pouco cuidadosos  Veja este corrimao cheio de po

    E que se tornou a sujar    O  vento...

    Seria;   mas nao tira que se limpe outra vez

               JÚLIO DINIS, Uma família Inglesa, capº IV.

 

 

 

Trabalho prático 7

Propositadamente, no texto seguinte, foram eliminados os sinais de pontuação. Tente compreender o sentido do texto e coloque adequadamente os sinais de pontuação:  vírgulas,  ponto e vírgula, travessões, reticências, etc.

 

MORGADO

À ceia   o patrão   com a cara de poucos amigos  recusara-lhe as festas desta maneira    deixa-te lá de brincadeiras e enche-me esse bandulho   que amanhã de madrugada   nem que chovam picaretas    tal e qual  meteu a viola no saco  claro  e atirou-se ao penso como pôde   mas não sentia vontade  tinha ainda no estômago os tojos que despontara à tarde no monte  e andava  sem saber porquê  de coração apertado  além disso  aqueles modos do dono até parece que endureciam o feno  a gente também vive de boas palavras   e  com toda a franqueza  gostava do sujeito  desde que ele  há seis anos  na feira dos vinte e três  o distinguira no meio de um regimento de azémolas e lhe dera uma palmada rija na anca  simpatizara com a sua figura atarracada  vermelha  a respirar alegria   quanto custa o jerico       vinte libras   não é estampa para tanto dinheiro   ai o alma do diabo a desfazer  vinte libras   nem menos um real  deixe o garrano por dezasseis  e já é caro como fogo   o cigano  mas logo que o viu contar as dezassete moedas e pegar-lhe à arreata  estremeceu de contentamento estava farto das bebedeiras do Preguiças  cheio até às orelhas de subir a malvada ladeira da Queda a ouvir-lhe  as asneiras de bebedolas  mas era um macho  aguentava no lombo quinze alqueires  de farinha como se fossem quinze alqueires de penas  e o moleiro  com cardina ou sem ela  nas feiras  punha o preço em vinte libras   e ninguém lhe pegava   isso é carregá-lo de oiro   e tinha de regressar à loja   à maldita loja encostada ao moinho  ao lado da roda  sempre molhada e toldada de barulheira  e no dia seguinte trepar novamente a encosta  ao som da mesma cantilena de sempre  Zumba na barra da saia, ó Zé...     comida -  carqueja   palha  cevada estreme  e só lá de tempos a tempos uma mãozinha de grão   vida negra   por isso  quando o fulano chegou e lhe deixou cair a mão larga na garupa  sentiu-se redimido   e apenas ele se lhe escanchou em cima e o meteu pela estrada de Feitais  parecia-lhe que ia pelo ar  de tão feliz   em casa   logo uma manta a resguardá-lo dum resfriado  e milhão branco e graúdo na manjedoira  um céu aberto  evidentemente que não havia só rosas naquela casa   longe disso   o macho dum almocreve  sabe Deus   mas  bem comido e bebido  um homem trabalha com alegria  de mais a mais se o patrão diz o seu dito de vez em quando   a animar  ah  Morgado  que me deixas ficar mal     (...)

                          MIGUEL TORGA, Bichos

 

 

Trabalho prático 8

Os dois textos a seguir transcritos foram extraídos de um jornal diário. Tivemos o cuidado de os transcrever rigorosamente de acordo com os originais, publicados no suplemento de domingo, dia 6 de Maio de 1990, página 10, do jornal O Primeiro de Janeiro. Apenas omitimos a imagem central, mostrando um utilizador frente a um computador e diversas disquetes[16].

 

Além de pequenas falhas resultantes de uma deficiente digitação, que denotam falta de cuidado ou ausência de revisão de provas, os textos apresentam diversas incorrecções a nível da translineação, da pontuação, da redacção e da sintaxe.  Existem igualmente marcas de oralidade que poderiam ter sido suprimidas, melhorando a qualidade textual da informação.

 

Leia atentamente os textos e procure corrigir as deficiências e melhorar o conteúdo.


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[12] Acerca do emprego das maiúsculas, além do acordo ortográfico já citado, consulte-se o volume I, páginas XXXIX a XLVI do dicionário Lexilello,  Porto, Lello & Irmão, Editores, 1989.

[13] Alem da Senhora da Assunçao, que e orago, tem altares a Senhora do Rosário, Senhora das Dores, Senhora dos Remedios, Senhora do Livramento, Menino Jesus, Almas do Purgatorio, S. Gens e ultimamente a Senhora de Fatima. Quase todas estas imagens eram, ainda ha pouco tempo, de vestir.

[14] Na procissao nocturna de sexta-feira santa, pelas ruas de janelas iluminadas e decoradas com as mais finas roupas, as mulheres gritam e muitos dos homens soluçam.

[15] Por muito longe da terra que se encontrem, os quadrazenhos nunca faltam no aniversário das almas (13 de Março) nem na festa de Santa Eufemia (16 de Setembro).

[16] Em 2010, momento em que reconvertemos a Gramática da Comunicação para um formato em html, este texto constitui em certa medida um documento histórico, uma vez que nos fala de um suporte de informação hoje praticamente desaparecido e substituído por sistemas mais compactos e de alta capacidade de armazenamento de ficheiros informáticos. Há muito as «pens» substituíram as disquetes, tal como estas, dentro de algum tempo, irão provavelmente ser substituídas por outros suportes mais evoluídos.

 

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