Falando do meu caso, não nasci para ser
escritor. Há escritores que, efectivamente, nascem com
uma biblioteca em casa, têm uma educação séria e, numa
espécie de movimento natural, começam a interessar-se
pela escrita. E escrevem.
Eu nunca tive projectos de vida, nem de
escritor, nem de qualquer outra coisa. E nunca tive
ambições, nunca pensei a minha vida em termos de
carreira. As coisas foram simplesmente acontecendo.
Quando me deram o Prémio Nobel, numa
conferência de imprensa, em Frankfurt, disse: “Eu não
nasci para isto! Mas tenho-o”. Provavelmente, em todas
as coisas é preciso um pouco de sorte. Quantos
escritores andam por aí, em todo o mundo, que não
conseguem romper a indiferença dos editores. E muitos
poderiam ter uma reacção positiva por parte dos
leitores. Quando falo de sorte é no sentido de estar no
sítio certo, no momento certo. O sítio certo pode ser
uma editora que se interessa por um livro, e o momento
certo pode ser aquele em que, por qualquer motivo, esse
livro ganha uma dimensão quantas vezes inesperada e
chega aos leitores. Porque se não temos leitores, não
temos nada. Talvez pareça um pouco excessivo, mas do meu
ponto de vista, a obra completa de um autor só é
realmente completa se se publicam dois ou três volumes
com as cartas dos seus leitores.
A vida de escritor para mim não tem
qualquer sentido. Parece que obriga a uma certa pose, a
uma certa forma de comportamento. E o escritor faz um
trabalho, nada mais.»
"J. L.", n.º 978 de 26
de Março a 8 de Abril, 2008 |