Dia após dia, ano após ano, vivemos numa corrida
imparável contra o tempo. Temos nas mãos uma
Vida da qual cada um é responsável e autor(a)
por ela…e por vezes pergunto-me…o que fazemos
realmente com esse Bem tão precioso e único?
Onde está a verdadeira dignidade do ser humano?
Estaremos realmente a dar o verdadeiro valor às
simples coisas/ prazeres da Vida? Que tempo
temos para o essencial? A partilha, o pensar,
agir, sentir, sonhar, amar tudo aquilo que
fazemos e quem temos…e, já agora, que espaço
damos ao Livro / Leitura nas nossas Vidas? Tal
como Daniel Pennac diz no seu famoso ensaio
“Como um Romance”: Vivemos uma vida que “é um
perpétuo entrave à leitura”… Mas “livro é vida”
e, tal como cada um de nós, o livro tem um nome,
um corpo com cores e traços, tem um perfume
característico, e até respira o aroma intenso
das suas viagens.
O título deste simples e pequeno texto “O Livro
e a Vida” relembra-me as páginas que ando a
“escrever” no livro da minha Vida. Num dos
capítulos do livro lê-se:
«Foi em 1992 que iniciei um novo caminho na
Escola Secundária José Estêvão. Durante quatro
maravilhosos anos encontrei em todos os espaços
da escola, nas salas de aulas, corredores, bar,
pátio, professores, auxiliares, colegas/amigos
que me ajudaram a crescer, enriquecendo-me com
um currículo de conhecimentos e partilha de
saberes que hoje recordo com saudosismo. Os dias
na Escola, que me orgulho em dizer que
frequentei, foram “escritos” com valores com
base na amizade, no carinho, na ajuda e na
partilha.
Quando estava a concluir o Ensino Secundário,
encontrei um maravilhoso emprego, que me orgulho
em dizer, me preenche completamente. Trabalhar
na Biblioteca Municipal de Aveiro (“casa dos
livros” como um dia disse uma criança), tem sido
até hoje muito gratificante. Partilho
experiências de vida e de leitura com diferentes
utilizadores, tendo a possibilidade de contactar
com pessoas de raças/etnias, idades e hábitos de
leitura diferentes. O livro continua nas minhas
mãos para ser tratado bibliograficamente na
biblioteca e “escrito” na minha vida”.
Mudamos de capítulo e leio no “meu livro da
vida” sobre a minha entrada no ensino superior,
em 1998.
Foi na nossa linda Universidade de Aveiro que
percorri cinco anos da minha vida. Esses cinco
anos de sensações fortes, de dias intensos de
trabalho, de alegrias conquistadas encontrei-os
sim, e partilho convosco um segredo que um
director da Escola Secundária José Estêvão me
“segredou” ao partilhar com ele o meu receio de
frequentar um ensino superior devido aos
problemas de saúde que tenho: ”Vai Jeanete, não
tenhas medo, vão ser os melhores anos da tua
vida”… e hoje confirmo que essas palavras foram
verdadeiras e fizeram todo o sentido.
O percurso académico continua com outro tipo de
experiência – tirar uma pós graduação na área
das Ciências Documentais, variante Bibliotecas,
na Universidade Portucalense, no Porto. Foi mais
uma aventura da minha vida. Esta pós-graduação
fez-me acreditar que tudo é possível, apenas
temos de confiar e não haverá obstáculo nenhum
que nos impeça de continuar a escrever as
páginas da nossa vida.
Sabemos que, como diz Eduardo Sá, “A Vida não se
aprende nos Livros”, que o dia-a-dia é um livro
com páginas em branco e que, por isso, teremos
de o escrever com afectos, gestos, acções e
palavras dignas de serem coloridas para que
possam dar sentido a um verdadeiro caminho, e
para que o final seja um motivo de continuidade
e de procura de algo mais nas nossas vidas. Tal
como a leitura, a Vida tem de ser saboreada,
vivida com sentido, num caminho que por vezes
terá obstáculos (ou conteúdos pouco fáceis de
interpretar), mas encontraremos sempre as
melhores palavras ditas/escritas por alguém que
nos farão criar um laço afectivo com o prazer da
leitura e nos ajudarão a escrever o Grande Livro
da nossa Vida.
Jeanete A. Conceição