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Boletim da Biblioteca    

Falámos com...

   Aurélio Fernandes,

            professor de Matemática, aposentado.

Um leitor compulsivo. Lê muito, de tudo, autores diferentes na forma, no estilo, no tempo. E sabe que livros leu, quantos leu, porque fica tudo registado na respectiva pasta do seu Mac.

 

Quem consegue “batê-lo” em mais de cinquenta livros que lê por ano?... A família, pelo menos, já nem tenta, depois de derrotas sucessivas...

 

Muitos anos nesta Escola e uma relação especial com a Biblioteca. É o amor aos livros que explica essa ligação de tanto tempo?

 

A minha paixão/obsessão/fixação em livros vem, tanto quanto me recordo, desde o tempo da 4ª classe (actual 4º ano). Vivia então no Porto, numa enorme e sombria casa; numa das minhas incursões a um dos recantos mais sombrios, descobri resmas de velhos livros do meu avô – passou a ser o meu local predilecto… A minha mãe, para tentar desviar-me, vaticinava:

 

– “Não tarda que tenhas de usar óculos!” (o que de facto aconteceu, mas cinquenta anos depois…)


– “Ainda hás-de vir a ser bibliotecário”.


Foi a mais correcta “orientação profissional” que alguma vez me foi feita, só que nunca passei de ”bibliotecário amador” e estou a viver o meu amadorismo (já quase profissional!) aqui na Biblioteca

desta escola, há cerca de doze anos.


Dois anos antes de me aposentar, soube que a então Directora, a colega Alice, ia proceder a uma profunda reorganização da Biblioteca (nessa altura ainda não expandida para o Museu de Ciências

Naturais). Logo se me “arrebitaram as orelhas” – a grande oportunidade da minha vida! Foi uma tarefa arrasadora, mas que me deu imenso gozo.


Passados poucos anos, a Biblioteca foi expandida e de novo, embora menos violenta, nova grande mexida de livros.


Dez anos após a minha saída, ainda por cá continuo e o trabalho não está concluído: de facto, criar um ficheiro informático de cerca de quinze mil livros em acumulação com outras actividades, é coisa demorada…

 

De que forma tem colaborado com a Biblioteca?

 

Sintetizando o que já disse atrás, a minha actividade tem-se centrado em colaborar na organização e na informatização. E ainda uma situação insólita: há alguns anos não foi possível nomear um director e fui eu, professor aposentado, o “senhor director” …

 

É um requisitante assíduo. Como avalia o acervo desta Biblioteca escolar?

 

Tenho dúvidas de que seja razoável uma escola ter uma “biblioteca histórica”. Sobretudo no referente a obras muito antigas, dos séculos XVII e XVIII, que exigem tratamento e ambiente muito especiais para evitar a sua degradação. E, além disso, não tardará muito que haja problemas em encontrar espaço para novas aquisições.

 

Há sectores em que a Biblioteca Escolar está muito bem provida, noutros um pouco menos, mas, de um modo geral, é francamente boa.
 

No aspecto literário, a situação tem falhas graves; por exemplo, (quase) não é possível ler obras de Eça ou de Camilo: são de tal modo antigas que o aspecto e o cheiro a mofo afastam até o leitor mais interessado… Comprar novas edições? Mas não sendo possível dar baixa das antigas, onde guardar as modernas? Será que teremos de passar para as edições digitalizadas? … Que eu já não assista a tal!

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