URCERA,
úlcera, chaga, ferida de mau aspecto.
- V -
VAIA,
primeira e terceira pessoas do singular do presente do conjuntivo do
verbo ir. Todo o tempo de conjuga assim, mas deve notar-se que a segunda
pessoa do plural não se emprega, e na primeira do plural a acento tónico
recai em sílaba vai, dizendo-se váiamos.
VARANDA,
terraço de tijolo sobre as casas abobadadas, que serve de mirante e
recinto de trabalhos de costura nas tardes de verão, quando o sol já vai
declinando. Algumas varandas são enfeitadas com vasos de flores. As
varandas são descobertas e caiadas.
VARANDIL,
varanda pequena com cobertura de cúpula de tijolo, assente sobre quatro
colunas quadrangulares, também de tijolo. Em regra os varandis são
caiados de branco, mas alguns há em que a cal é corada de azul ou de
vermelho.
VELARI,
acompanhar a família dum morto, durante a noite que procede o funeral. O
velar o morto é testemunho muito apreciado de saudade.
VENDA,
casa que vende vinho a copo.
VENENA,
bebedeira, embriaguez produzida por ingestão de bebidas alcoólicas.
VENEZA,
arroz de primeira qualidade, preferido para se fazer arroz doce.
VENTANÊRA,
vento forte e prolongado.
VERDETE,
azebre; óxido formado nos utensílios culinários de cobre.
VÉSPORAS,
toque do sino da igreja matriz de tarde. De verão é dado depois das 15
horas, em regra às 16, e indica o termo da sesta desse dia e o recomeço
dos trabalhos rurais interrompidos pela intensidade do calor.
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67 /
VERGONHOSO,
envergonhado, acanhado de trato. É biforme. O vergonhoso é sempre tido
em boa conta, quando não exagerado.
VÉSTIA,
casaco de rapaz ou de homem um pouco mais comprido que a jaqueta.
VÉVE,
terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo viver.
Diz-se vivo, véves, véve.
VINTE,
jogo de inverno e de primavera, jogado tanto pelos rapazes como pelos
homens, se bem que por estes só excepcionalmente. O vinte é uma pedra
que se coloca verticalmente sobre um círculo traçado no solo, e que
serve a alvo a malhas de pedra atiradas pelos jogadores dum local
previamente determinado e marcado também por um traço. O parceiro que
derrubar o vinte conta dois pontos, aquele cuja malha cair dentro do
circunferência em que se encontra o vinte, mas sem derrubar este, conta
um, os que não conseguirem que a malha fique no interior da
circunferência nada contam. Ganha o primeiro que atingir um determinado
número de pontos, em regra vinte.
VODA,
casamento, conjunto de festas familiares ocasionadas por casamento.
Diz-se estar de voda o ter casamento na família. As festas do casamento
duram, em média três dias. Na véspera do casamento é a noite da cama, na
qual as raparigas solteiras mais íntimas da noite vão fazer a cama que
há-de servir aos noivos. Há baile e os convidados são obsequiados com
distribuição de doces, pois que um casamento é tanto mais afamado quanto
maior for a quantidade de doces, que figuram nas mesas da voda. É da
praxe todos os convidados, embora por qualquer motivo não possam
comparecer, mandarem aos noivos um prato ou mais de doces; os padrinhos
e madrinhas, bem como os pais dos noivos, devem timbrar em apresentar
muitos e bons pratos de doce, o que representa, por vezes, grande
despesa. No dia do casamento ou da boda, organizam-se dois
acompanhamentos, o da noiva constituído pelos convidados desta,
raparigas amigas, pai e madrinhas; o do noivo formado pelos convidados
deste, pai e padrinhos. Cada um dos acompanhamentos sai das respectivas
residências da noiva e do noivo, devendo o deste chegar primeiro à
igreja. Antes de sair da casa paterna, a noiva deve chorar muito,
abraçando a mãe e as amigas, e no acto do casamento na igreja deve
também chorar; se o não fizer é criticada. Celebrada a cerimónia
religiosa, os dois acompanhamentos fundem-se num a que se junta, em
regra o padre que realizou o acto. O noivo, a noiva, pais e os padrinhos
fecham o acompanhamento que se dirige para a casa que os noivos vão
habitar. Chegado aí o acompanhamento, os homens, todos de capa preta,
comprida e de cabeção, colocam-se dum lado e doutro da porta, deixando
um espaço para darem passagens aos noivos. Depois destes entrarem,
entram todos os convidados e sentam-se às mesas pejadas de muitos doces
e bebidas, especialmente licores. Prolonga-se o ágape por entre ditos e
/
68 / graças algumas um tanto picantes. Há nova cena de
lágrimas agora do noivo, da noiva e das respectivas mães; os pais
disfarçam a comoção com ditos de espírito apropriados ao acta e o padre,
para não deixar o crédito por mãos alheiras, alem de alguns conselhos
dados aos noivos, vai contando a sua anedota salgadita. No dia seguinte,
há na casa dos noivos grande jantarada, à qual, todavia, só assistem as
famílias dos noivos e um ou outro amigo mais íntimo. Neste mesmo dia os
noivos mandam a cada uma das pessoas amigas um presentinho de bolos de
voda. Em Mourão é a noiva quem tem o encargo do pôr a casa, isto é,
mobilar à sua custa a residência.
- X -
XARÔCO,
vento forte e rijo; pedantismo; toleima; altivez. Duma pessoa orgulhosa,
pretensiosa e que trata com desdém os outros, diz-se: sempre tem um
xarôco! Também designa a própria pessoa que possua essas qualidades,
como frases análogas a esta: Que tali está o xarôco! E possível que
provenha de sirocco, vento de África.
- Z -
ZABUMBA,
ronca feita com uma panela ou pote de barro, cuja boca se cobre com uma
pele curtida de carneiro, à qual se prende verticalmente uma varinha
encerada, que friccionada faz produzir um som cavo. Toca-se na noite de
Natal, cantando-se ao som dela estas palavras castelhanas: La zabumba vá
parir p’ra enero! zum! zum!
ZORRA,
raposo; aplicado a pessoas, significa velhaco, astuto.
ZORRA,
raposa; mulher de má nota, desonesta.
ZORZAL,
ave de arribação, pequena, mas que devasta um olival. Diz-se também das
pessoas que comem azeitonas por gosto. |