QUARTÃS,
febres palustres cujos acessos duram quatro dias.
QUÊJÊRA,
receptáculo de madeira em que se deposita o leite das cabras ou das
ovelhas para se separar, por meio de cardo, o coalho com que se há-de
fabricar os queijos. A coalhada aproveita-se também em Mourão e em
muitas, senão em todas, as povoações do Alentejo para se fazerem
queijadas.
QUÊMÁDA,
queima de ervas nocivas e secas, em terrenos que se preparam para
cultura. Às vezes as quêmádas estendem-se a grandes tratos de
terreno e, como são feitas ainda no verão, a seguir às debulhas de
trigo, produzem, por vezes, calor quase sufocante.
QUÊMÔSO,
o que tem muito picante de pimenta. Ex., o caldo está quémôso; as
sardinhas estan quémôsas.
QUITANGA,
loja ou estabelecimento de venda pouco importante.
/
58 / Mala em que os caixeiros viajantes levam as amostras
das coisas que procuram vender.
QUÓRTILHO,
quartilho, medida para líquidos equivalente a um quarto de canada. É
ainda hoje uso corrente, embora as medidas em uso sejam as do sistema
decimal.
- R -
RABINO,
mau; desinquieto; turbulento. É biforme e aplica-se especialmente, a
crianças.
RABISCO,
apanha, feita por crianças e mulheres, de trigo, cachos de uva e
azeitonas, que hajam ficado no campo depois de terminadas as ceifas, as
vindimas e a apanha da azeitona.
RAMAGE,
tecido de algodão com desenhos a cores, representativos de folhas e
flores, que serve para cobrir arcas e caixas, e para fazer cortinas para
portas e janelas. É tecido ordinário e barato.
RAMALHOS,
pernadas secas de árvores, que se utilizam para o lume. Emprega-se
também rasmalho, no mesmo sentido.
RANCHO,
grupo de trabalhadores, homens e mulheres, ocupados na mesma tarefa
agrícola por conta do mesmo patrão.
RASOIRA,
instrumento de madeira, cilíndrico ou quadrangular, com que se rasam, ou
põem ao nível dos bordos exteriores das medidas de madeira, os produtos
agrícolas, como trigo, cevada, aveia e feijão.
RECHINA,
cozinhado feito de fígado, bofe e coração de porco, logo a seguir à
matança deste.
REGRADO,
papel pautado; pauta; linhas de papel de escrever.
REGUÊRA,
o meio leito da rua, mais baixo que as partes laterais, para dar vazão à
água da chuva.
RENTAR-SI,
não ligar importância; desprezar os bons conselhos;
/
59 / não aceitar a preponderância que alguém pretenda
exercer sobre nós: Emprega-se sempre reflexamente.
REQUÊJÃO,
nata do leite, muito apreciada nas merendas.
RIBÊRA,
o rio Guadiana. O termo Guadiana é feminino, dizendo-se vamos à
Guadiana e não ao Guadiana. O meu ilustre amigo e colega, doutor
José Leite de Vasconcelos, forneceu-me a quintilha seguinte, por ele
encontrada num passo dum documento do século XV, em transcrição do XVI:
«Se tu vás por Mourão
Algu ora per a feira
Não hás-de por pé no chão,
Que metido num ceirão
Hás-de passar a ribeira.»
É prolóquio mouranense que quem beber a
água do Guadiana não mais sairá de Mourão, ou nunca mais dele se
esquecerá, tais são os encantos da terra e as saudades que dela ficam.
Há, porventura, neste dizer resquícios da crença em rios cujas águas,
como as do letes, traziam o esquecimento do resto do mundo. Desde o
último decénio do século passado possui o Guadiana ponte magnífica;
antes, porem, era atravessado em barca que, nas invernias grandes, não
funcionava, pelo que Mourão ficava isolado do resto do país, mantendo
comunicações apenas com a vizinha Espanha. De verão o Guadiana oferece
passagem a vau nalguns pontos, conhecidos pela designação genérica de
portos. O Guadiana é bastante piscoso e mais seria se não houvera o
criminoso uso da Dinamite na pesca, que destrói muitas criações de
peixes. Algumas espécies piscosas são muito saborosas e apreciadas,
aparecendo, uma ou outra vez, peixes que pesam mais de dez quilogramas.
Nas margens do Guadiana há uma planta, a erva da ribêra, muito estimada
como tempero em muitos cozinhados de peixe.
RIGORI,
fitas de seda, linho ou algodão, de cores diferentes, que, nas
festividades em honra dos santos, são benzidas à hora da missa solene e
vendidas na igreja ou no percurso da procissão, revertendo o produto
para custeamento das despesas.
RIO,
lavadouro de água corrente. A expressão ir Ó rio significa ir lavar
roupa for a de casa.
RISCO,
traçado ou plano de construção de prédio urbano.
ROLA,
mentira; trapaça.
ROMÃO CEGO,
termo obsceno designativo do órgão sexual masculino.
/
60 /
RONCA,
instrumento sonoro, feito com uma pele de carneiro, curtida, assente
sobre uma armação de folha ou de madeira, que se percute para produzir o
som.
ROSQUILHA,
pão pequeno em forma de rosca. É de origem castelhana.
RÓTULAS,
entrançado de madeira, que se põe nos postigos das portas ou das janelas
para resguardar do ar e da luz intensa do sol, e livrar das vistas
indiscretas dos transeuntes.
- S -
SALAMANTIGA,
espécie de lagartixa. Creio ser termo de origem castelhana.
SANGRIA,
refresco feito com vinho, açúcar, canela e rodas de laranja. É de origem
castelhana.
SANJA,
vaio, fosso aberto nas terras de semeadura para escoamento da água.
SAPATILHAS,
chinelos; sapatos feitos de cordel. É de origem castelhana.
SARGENTEARI,
passear; andar de um lado para outro sem fazer nada e apenas com o
intuito de se mostrar, de se pavonear.
SARRABULHO,
comida cozinhada com sangue de porco cozido e depois temperado com
azeite e vinagre. O sangue de carneiro também se aproveita para o mesmo
efeito.
SARRAZINA,
impertinente; o que insiste num pedido, perseguindo constantemente com
palavras a pessoa de quem pretende haver qualquer coisa; enfadonho;
teimoso.
SARRAZINARI,
perseguir alguém com insistência para obter qualquer coisa; causar tédio
pela insistência no pedir ou no falar.
SEBASTIANA,
tremo obsceno, designativo das práticas sexuais contra
/
61 / a natureza, o acto do onanismo.
SÉCIA,
vestido novo e bonito. Como adjectivo significa mulher bem trajada, com
luxo maior do que é dado à sua categoria. Neste último caso tem sentido
um tanto irónico.
SÉJE,
trem com cobertura desmontável.
SENTIMENTOS,
condolências pela morte de alguém. É da praxe, constituindo grave
afronta não o fazer, o ir dar os sentimentos à família do falecido.
SERMENHO,
pêro silvestre ou bravo; pouco apreciado por ter sabor um tanto ácido.
Usa-se também a forma seromenho.
SEROL,
espécie de azeitona.
SOÁLHÊRA,
sol de calor muito intenso. Assim diz-se F. apanhá hoje uma soálhêra
que lhe fez mal, isto é, muito sol, quando este irradiava mais
calor.
SOBRADO,
pavimento superior das casas de habitação. Os lavradores pequenos ou
seareiros utilizam, em regra, os sobrados para depósito dos cereais
destinados ao consumo doméstico.
SOBRENFUSA,
sopa feita com linguiça, vinagre e refogado de cebola. A linguiça pode
ser substituída por qualquer outro condimento feito de carne de porco.
SOBRE LAJE,
a divisão que fica para alem da loja, mas no mesmo pavimento, utilizada
para depósito das mercadorias que se vendem ao balcão.
SOPAS,
jantar; a refeição mais abundante do dia, outrora tomada ao meio dia, o
que hoje só fazem os trabalhadores rurais.
SORRABURRA,
cozinhado de miudezas de porco e sangue do mesmo, que se faz no dia da
matança. Oferece-se, em púcaros de barro com o seu testo, e com todas
rodas de laranja, às pessoas amigas a cujas casas se manda. É muito
apreciada esta comida, e a sua não distribuição a qualquer família, com
a qual se mantenham relações de amizade, representa agravo e tensão de
relações afectuosas.
SÓTO,
divisão interior das casas de habitação. Não recebe luz directa e serve
normalmente de quarto de cama.
SOVA,
pancada rija. É de origem castelhana. |