BÁCORA,
além do significado de animal suíno pequeno, do sexo feminino, tem o de
mulher pouco escrupulosa nos costumes e na linguagem. Todavia não é tão
ofensiva esta designação de bácora aplicada a uma mulher, como as de
zorra magana e tronga, a que nos referiremos na altura
devida.
BAGAÇO,
restos sólidos das uvas e da azeitona, depois de premidas nos lagares. O
bagaço da uva é aproveitado para o fabrico de aguardente, o da azeitona
para alimentação do gado suíno, engordado em casa.
BALDOSA,
espécie de tijolo, quadrado, pouco espesso, empregado no pavimento das
casas. Há também baldosas feitas de quadrados de laje. É termo de
origem castelhana.
BALDROEGAS,
beldroegas, planta herbácea, que se aproveita na culinária, cozida com
grãos. Faz sopa muita saborosa.
/ 19 /
BÁLHAR,
dançar. Segundo Kórting, de palhare.
BÁLHO, dança; reunião, quer em casa, quer ao livre, para se dançar. Ex.,
Hoje hai bálho à do F., isto é, hoje há uma reunião familiar em casa
de F. para se dançar. Outrora estas assembleias dançantes terminavam por
um bálho de roda, em que como a designação indica, rapazes e
raparigas, alternados e de mãos dadas, entoavam modas, cantigas ao
desafio, muitas delas improvisadas. Também era da praxe nos bálhos
bálharem-se as saias, acompanhadas da quadra seguinte:
«Estas é que san as saias
Estas mesmas é que são
Bein cantadas, bein bálhadas
Na noite de S. João»
BANDEARI,
oscilar, mover-se dum lado para outro um objecto suspenso. Ex., A
candéa bandéa. Reflexamente e aplicado a pessoas, significa
bambolear-se, saracotear-se, com toleima e para atrair as atenções. Ex.,
A Maria toda se bandéa pró Manel a ver, isto é, toda se
saracoteia.
BARATILHO,
excessivamente barato; casa de comércio onde os géneros são
sensivelmente baratos, embora se não recomendem pela qualidade. Tem, por
vezes, sentido depreciativo e até zombeteiro para as pessoas que dele se
aproveitam. Ex., Só gasta do baratilho, isto é, do que é tão
barato que não presta. Julgo que este termo é castelhano.
BARRANHA,
espécie de alguidar pequeno, de barro cozido, que serve para se pôr na
mesa com comida, servindo-se todos os comensais directamente dela, sem
necessidade de prato. Outras barranhas empregam-se na lavagem da
cara e das mãos.
BARRANHÔA,
barranha grande, É também apelido de família, feminino de Barranhão,
pois que, em Mourão, como no restante Alentejo, os apelidos familiares
são biformes. Assim as mulheres da família Barranhão são Barranhoas; as
da família Leitão Leitoas, as da família Carvalho Carvalhas.
BARRIGANA,
homem ou mulher de barriga muito grande. O sufixo ana é aqui
aumentativo, como em cabeçana.
BARROQUÉRO,
pedregulho; pedra de dimensões relativamente grandes, mas susceptível de
ainda, à mão, ser arremessada a distância.
BIBES, pedreiro. Hoje já não se usa mas persiste ainda na toponímia, havendo
em Mourão, uma Rua dos Bibes.
/ 20 /
BICAL, espécie de azeitona.
BICHARRACO,
animal de dimensões superiores às normais da espécie a que pertence.
Usa-se também no feminino, bicharraca.
BICHÉRA,
tumor, ferida com pus.
BICHÔCO,
espécie de furúnculo no rosto. Este termo como bichéra deriva de
bicho.
BIQUÉRA,
parte de calçado oposta ao tacão; no plural biquêras, designa os
espaços entre as fiadas de telhas que cobrem as casas, e pelos quais a
água da chuva escorre.
BAGA, peixe pequeno do Guadiana, muito apreciado pelas pessoas menos
abonadas.
BOGANGA,
espécie de abóbora de qualidade inferior, que, crua, se dá como alimento
ao gado suíno engordado em casa. Também cozida com grão, se emprega na
culinária.
BOLETA,
bolota. É o alimento preferido para o gado suíno que é criado nos
montados; mas dá-se também, embora em pouca quantidade, ao criado em
casa. Da boleta doce, no inverno, fazem-se magustos, isto é,
assam-se as bolotas na lareira para serem comidas enquanto dura o serão.
BOM! Exclamação ora expletiva, ora dubitativa, a que já nos referimos.
Algumas pessoas prolongam muito a emissão do o nasal, o que é
objecto de zombaria para os circunstantes.
BANDA, forma imperativa equivalente a basta, não é preciso mais. Do verbo
bondar que, todavia, só se emprega nesta forma, que, alem de
imperativa, se emprega como terceira pessoa do singular do presente
indicativo. Ex., Isto bonda, quer dizer isto basta.
BORNAL,
espécie de saco de pano ou de esparto, que, com palha, fava e aveia, se
suspende à cabeça dos animais de tiro para estes comerem durante a
marcha ou quando fazem alto. Metaforicamente, quando um indivíduo está
macambúzio, não respondendo nem prestando atenção ao que ouve, diz-se
que está com a cabeça no bornal, ou meteu a cabeça no bornal.
BOSTIGO,
postigo; abertura quadrangular feita nas portas ou nas janelas, pela
qual se olha para o interior, sem ser necessário abrir a porta ou a
janela. Os bostigos fecham-se também com trincos.
/ 21 /
BOTICAIRO,
boticário, farmacêutico.
BOTINA, calçado fino para
mulheres.
BRASÉRA,
recipiente de louça ou de cobre, no qual se colocam brasas para
aquecimento de pessoas e casas, durante o Inverno.
BRINCA,
divertimento; partida inofensiva feita a qualquer pessoa, sem intuito de
a melindrar ou magoar. É sinónimo de brincadéra que também se
emprega, embora menos frequentemente.
BRINHÓLOS,
fritos em azeite, feitos com farinha e açúcar, e metidos em calda de
mel. É palavra vinda de castelhano.
BRUNHO,
abrunho.
BUINHO,
espécie de vime com que se fazem os fundos das cadeiras.
BURDA, diz-se da lã de qualidade inferior. É empregado adjectivamente.
BURRELFA,
empola na pele com formação de líquido. Faz-se desaparecer picando-a com
um alfinete. Estas empolas são muitas vezes produzidas pelo excessivo e
contínuo calor recebido das braséras ou do lume das chaminés. |