LABARINTO,
alvoroço; grande vozearia de protesto, desordem, confusão de gritos
sediciosos. Usa-se também a forma lavarinto. É forma alterada de
labirinto.
LÁBIA,
emprego de palavras lisonjeiras para se obter de alguém, alguma coisa.
LABIOSO,
o que tem lábia; homem ou mulher que procura iludir com palavras
amigáveis, exprimindo sentimentos que não possui. É biforme.
LADÊRA,
caminho ou via pública de plano muito inclinado, cuja subida cansa.
LADRONA,
ladra. É o feminino de ladrão e aplica-se a pessoas e, em sentido
figurada a coisas. Ex., Esta candéa é uma ladrona de azête, isto
é, gasta muito azeite.
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LAIMA,
grande porção de terreno.
LAJADA,
pedrada.
LAJE,
pedra talhada em forma rectangular ou triangular, com que se cobrem os
pavimentos laterais das ruas e praças.
LAJEDO,
o pavimento lateral das ruas ou praças, feito da laje. Ex., Não vai pelo
meio da rua, vai pelo lajedo, isto é, pelo pavimento lateral que fica um
pouco superior ao leito da rua.
/ 43 /
LANGONHA;
espuma que escorre da boca do cão hidrófobo. É também termo obsceno,
designativo do esperma do homem.
LlNGUARÊRO,
indivíduo incapaz de guardar sigilo; denunciante; inconveniente por
muito falar e sem reservas.
LlORNA,
trapalhada, confusão, mexeriquice. Suponho ser derivado de lio, feixe ou
molho.
LOBISHOMEM,
o homem que, por sortilégio ou por fadário, está condenado a
converter-se em lobo, durante a noite, percorrendo os campos,
rebolando-se nas encruzilhadas e só readquirindo a forma humana ao cair
da manhã. Hoje, a crença na existência de lobisomens, que foi muito
arreigada, vai quase completamente desaparecendo. Dela se aproveitam
alguns espertalhões para aventuras amorosas nocturnas.
LOENDRO,
árvore de cuja madeira se fazem cadeiras com assento de bainho. As
cadeiras de loendro não são pintadas e só se usam nas cozinhas e nas
casas dos pobres.
LOJE,
loja, estabelecimento de venda.
LOSNA,
planta que nasce sem cultura em muros e paredes de pedra. Aproveita-se
para poção medicamental em algumas doenças, especialmente de estômago.
LUME,
fogo de lareira e, por extensão a chaminé. Ex., Estar ao canto do lume,
isto é, ao canto da chaminé.
LUMINAIRAS,
iluminação pública e em particular comemorativa de algum acontecimento
festivo, feita com lanternas colocadas às janelas e portas das casas. A
mesma denominação de luminairas se dá a recipientes de barro, em
regra fundos de vasos que se quebraram, que, durante a noite, se colocam
em frente das igrejas para cumprimento de promessas feitas a um santo em
ocasião aflitiva e da qual se saiu livre. Nesses restos de vasos de
barro depositam-se borras de azeite que se embebe num trapo ou numa
torcida grossa de algodão que vai ardendo e dando luz. As luminairas
a Nossa Senhora, a Senhora das Candêas, padroeira de Mourão, são as mais
frequentes.
LUTA
(jogo da –), experimentação de força muscular entre dois adultos. Os
jogadores agarram-se um ao outro pela cintura, fincam os pés no chão, o
mais fortemente que possam, e procuram derribar-se. Ganha aquele que
conseguir tocar o chão ao parceiro. É jogo muito apreciado, que desperta
muito interesse nos assistentes
/ 44 / que, com ditos de
incitamento, vão animando os contendores. Escusado quase seria dizer que
este jogo tem, por vezes, consequências bastante desagradáveis,
convertendo-se em luta a sério em que os contendores procuram e
conseguem maltratar-se, o que provoca a intervenção dos assistentes para
os separar.
- M -
MAÇANILHA,
uma variedade de azeitona, preferida para a conserva. Além da maçanilha,
há as seguintes variedades: bical, galega e serol. O termo maçanilha é
de origem castelhana.
MADRE,
trave principal do madeiramento sobre o que assenta o telhado duma casa.
É aproveitada para pendurar uvas, melões e outras frutas que se reservam
para o inverno, e também os caniços com queijos.
MADÊRO,
o tronco de árvore que começa a arder na noite de Natal.
MAGANA,
mulher de má nota. O chamar magana a uma mulher constitui uma das
maiores afrontas que se pode dirigir, mas é vulgar mimosearem-se umas às
outras com este designativo, quando se zangam.
MAGUSTO,
assadura de bolota na lareira, nas noites de inverno. Antes de as lançar
ao lume, as bolotas são retalhadas, mas, por brincadeira, deitam-se
algumas sem serem retalhadas. Estas dão depois um estoiro, saltam de
lume, espalham algumas brasas, o que dá ensejo a grande galhofa dos que
estão junto ao lume, principalmente da parte das mulheres que manifestam
grande receio, às vezes exagerado, de que se lhe queimem as saias. A
bolota doce assada é muito saborosa.
MALHADA,
campo distante do povoado onde os gados caprino e ovino pastam e ficam
recolhidos. A choça do pastor tem também, por extensão do significado, o
nome de malhada.
MALlNA,
febre de mau carácter; no plural e sinónimo de sezões.
MAL TÊS,
vagabundo, vadio que anda de monte em monte pedindo comida e agasalho
por uns dias. Os malteses são mal vistos dos lavradores e trabalhadores
rurais, porque, em regra, fogem ao trabalho e causam grandes prejuízos,
danificando propriedades e utensílios agrícolas. Nos montes há sempre
uma
/ 45 / casa de malta,
aberta sempre, para receber os malteses que aí apareçam, procurando-se
assim evitar os seus malefícios, porquanto alguns chegam até a lançar
fogo às casas e às medas de trigo.
MANAGÊRO,
o dirigente de um rancho de trabalhadores, quer homens, quer mulheres,
nos serviços rurais. Para se reunirem os homens e as mulheres do rancho,
outrora, ao nascer do sol, o managêro tocava um búzio.
MANCÊBO,
cana suspensa de um cordel que acompanha verga da chaminé em todo o
comprimento desta. A cana tem diversos orifícios dos quais se suspendem
os candeeiros. Há também mancebos de madeira trabalhada com ornatos
feitos à navalha, alguns com certa arte e graça.
MANCO,
aquele a quem falta um braço, total ou parcialmente. É biforme.
MANDADO,
recado, serviço de ir levar ou trazer qualquer objecto ou transmitir
qualquer participação oral. Os mandados são feitos, a troco de pequena
paga, por mulheres, rapazes e raparigas. As casas abonadas têm sempre um
rapaz ou uma rapariga para os mandados.
MANGA,
chocalho muito grande que se põe ao pescoço do boi que serve de guia à
manada ou vacada.
MANGAÇÃO,
troça, zombaria, mentirola com intuito de iludir a ingenuidade alheia.
MANGADORI,
trocista, zombeteiro, o que gosta de rir à custa da boa fé alheia.
MANGALHO,
termo obsceno, designativo do órgão sexual masculino. Tem sentido
aumentativo.
MANGARI,
troçar, zombar, dizer mentirolas inofensivas para iludir a ingenuidade
alheia.
MANJADOIRA,
receptáculo de madeira, mais vulgarmente, de pedra, nas cabanas onde se
recolhe o gado de trabalho, cavalar, muar e asinino, no qual se põe a
ração de fava e palha, que os animais comem pela manhã, antes de irem
para o trabalho e, à noite, quando regressam.
MANJARI,
doce feito de leite, farinha de trigo, ovos e amêndoa pisada. Há mais de
uma espécie, manjar branco, manjar do céu, manjar doce.
/
46 /
Manjar não tem, ao contrário do que se
dá noutras terras, sentido de alimento, nem de comida apetitosa e
apreciada.
MANO,
irmão. Em regra, os irmãos mais novos tratam o mais velho por mano.
Também é de regra os irmãos mais novos tratarem-se uns aos outros por tu
e assim serem tratados pelo mais velho, que é tratado pelos mais novos
por vocemecê ou por senhor. Certamente há neste caso vestígios da
antiga preponderância dos morgados. Também em tom de intimidade, que não
exclui o respeito devido, os adultos dum e doutro sexo são tratados por
mano e mana, sem que haja qualquer laço de parentesco entre eles e as
pessoas que se lhes dirigem.
MANTEEIRO,
o encarregado de fornecer a alimentação aos trabalhadores ao serviço de
um lavrador, que contratou os seus homens com a cláusula de lhes dar
alimentos.
MANTÊGA,
banha de porco. O que em Lisboa se chama manteiga, designa-se em Mourão
por mantéga de vacas.
MAQUILÃO,
o indivíduo que transporta o trigo de casa de qualquer pessoa para o
moinho e deste traz a farinha para a casa do dono do trigo.
MARAFIM,
marfim.
MARAFONA,
mulher mal comportada; mulher sem habilidade para qualquer trabalho;
indolente.
MARAGOTÃO,
pêssego. É termo de origem castelhana, como dessa origem são os
pessegueiros que se plantam em quase toda a região da margem esquerda do
Guadiana.
MARAVALHAS,
as aparas de madeira que é aplainada. Aproveitam-se para acender o lume
na lareira. Há também a forma marafalhas, mas é de uso menos
corrente.
MAREARI,
embaciar-se qualquer objecto metálico, ou qualquer espelho ou objecto de
vidro. Assim diz-se copos mareados, espelho mareado, cafeteira mareada.
MARIA FRANClSCA,
prostituta. Ignoro a causa desta designação, pois a não considero, como
outrora considerei, alusiva ao honesto procedimento da esposa do infeliz
monarca português Afonso VI.
/ 47 /
MARRÃ,
porca grande e gorda, que já teve criação de bácoros. Mulher
desmazelada, indolente e pouco asseada.
MARRANA,
corcova nas costas; marreca.
MATANÇA,
o acto de matar o porco. A matança é sempre motivo de festa para a
família. É uso, quando se faz a matança, arranjar com as miudezas do
animal morto um cozinhado, a sorraburra, que, em panelinhas de
barro, se manda como mimo às pessoas de relações mais íntimas.
MATRACA,
instrumento feito com duas tábuas, ligadas por cordel, que batendo uma
na outra, quando sacudidas com maior ou menor força, substituem os
sinos, durante o tempo que decorre desde quarta-feira de trevas até ao
aparecimento da Aleluia. Algumas têm argolas de ferro que aumentam o
barulho produzido pelo matraquear. Há matracas de diversos tamanhos,
desde as que um homem possante mal pode tocar até ás que os rapazes
tocam correndo pelas ruas ou nos adros das igrejas onde se realizam as
cerimónias da chamada Semana Santa.
MEADURA,
gratificação recebida por qualquer pequeno serviço prestado. Em regra, é
um ou mais cálices de aguardente, ou copos de vinho.
MEDURA,
unidade para medir o azeite produzido num lagar. A medura
equivale a dez litros; o emprêgo deste termo vai caindo em desuso em
presença de deca equivalente ao decalitro. Assim dizia-se tive
tantas meduras de azeite, e hoje é mais corrente dizer-se tive
tantas decas de azeite.
MENINO
(noite do –), a noite de Natal.
MERENDA,
refeição da tarde. As refeições em Mourão e em outros pontos do país,
são quatro, almoço, de manhã; jantar, ao meio dia; merenda, das quinze
às dezasseis; ceia, de noite. De verão a merenda é geralmente gaspacho
adubado com pepino, carne cozida fria, tomate, pimentos e azeitonas. No
outono e no inverno está muito em uso a água de mel, na qual se embebem
sopas de pão. No verão fazem-se merendas alegres no campo.
MERENDÊRA,
pão de formato inferior ao normal, que servia para as merendas.
MESES
(nomes dos –). Em Mourão, alem dos nomes usuais dos meses, nomes que nem
todos conhecem, empregam-se as designações seguintes, pelas quais são
conhecidos. Janeiro, mês do Ano Novo ou S. Sebastião; Fevereiro, de
Nossa Senhora; Março, da Senhora de Março; Abril, mês da fêra; Maio, das
Santas Cruzes; Junho, de S. João; Julho, de São Tiago; Agosto, de Santa
Maria;
/ 49 / Setembro, da fêra
de Moira; Outubro, de S. Francisco ou da fêra do Redondo; Novembro, dos
Santos; Dezembro, do Natal. Preponderam como se vê, as designações
derivadas dos santos, cujas festividades se realizam nesses meses. A
Nossa Senhora que dá o nome a Fevereiro, é a Senhora das Candêas
ou da Purificação, padroeira de Mourão e objecto da maior devoção.
Comemora-se a padroeira a 2 de Fevereiro, dia que foi designado pela
Câmara Municipal para feriado municipal. O mês de Maio é chamado das
Santas Cruzes, porque no dia 3 desse mês se celebra a devoção da Santa
Cruz, que consiste em se ornamentarem com flores todas as cruzes
existentes em lugares públicos. Além disto, muitas famílias, em
cumprimento de promessas, fazem em casa, com mesas ou cómodas, um altar
sobre o qual colocam uma Cruz muito enfeitada com flores e cordões de
ouro, despicando-se em apresentarem os seus altares enfeitados o mais
graciosa e ricamente possível. À noite bandos, principalmente de
mulheres, percorrem as ruas visitando as Santas Cruzes das casas
particulares, apreciando o gosto e a arte com que foram ornamentadas. O
mês de Junho ou de S. João era também conhecido pelo mês das sortes,
pois era a 9 desse mês que os mancebos recenseados para o serviço
militar tiravam a sorte, isto é, o número que determinaria se ficavam
isentos ou se teriam de ir alistar-se no exército. Nesse dia, logo de
manhã, os mancebos que entravam nas sortes, percorriam em bandos as ruas
e praças da vila, entoando cantigas, especialmente esta quadra:
«Oh, olhos preparem lenços
Qu' é chegada a ócasião.
Vou tirar a minha sorte
A nove de S. João.»
Era dia de grande alegria para uns e de
tristeza e lágrimas para outros, consoante a sorte lhes fora favorável
ou adversa. As mães faziam promessas pela isenção dos filhos e algumas
procuravam saber antecipadamente a sorte que caberia aos filhos, fazendo
determinadas rezas e fazendo peneirar farinha para um alguidar,
deduzindo a sorte da forma porque a farinha ficava.
METROS,
os pavimentos laterais da rua, que orlam as casas e ficam em plano
superior ao leito da rua.
MÉZINHA,
remédio quer caseiro, quer manipulado na farmácia.
MIGAS,
comida feita de pão reduzido a massa pela cozedura em água. As migas são
temperadas com azeite e alho. Há migas sem mais adubos que os indicados
e há as chamadas canhas, que são amassadas com leite de cabra ou de
ovelha.
MILHANO,
ave de rapina, de arribação. Quando os milhanos passam, voando
alto, o rapazio em grande grita, profere estas palavras: «Milhano!
milhano! viste por lá o meu mano, com um saquinho às costas pedindo por
essas portas?»
/ 51 / para estes beberem
nos intervalos do trabalho.
MÓLHOS,
miudezas de carneiro, enroladas em forma de cilindro aproveitadas na
culinária.
MONDA,
o arrancar das ervas daninhas que prejudiquem o desenvolvimento do
trigo. É trabalho feito por mulheres, em rancho, e o mais mal pago de
todos os serviços do campo.
MONTADO,
terrenos onde há muitos chaparros, cujas bolotas o gado suíno come, em
liberdade. A carne do gado de montado é mais apreciada que a de porco
engordado em casa, por ser mais rija.
MONTE,
grande propriedade rústica, na qual há construções urbanas para morada
do proprietário ou do feitor deste, e para guarda dos utensílios
agrícolas e recolha dos produtos. Em sentido restrito, a designação
monte aplica-se à parte urbana da propriedade. Há montes pequenos e
outros há que são quase lugarejos ou aldeias pequenas.
MURCELA,
enchido, como o chouriço, seco ao fumeiro, feito de sangue de porco e de
algumas partes gordurosas ou entremeadas de gordura deste. É tão
apreciada como o chouriço, mas não se come crua com este.
MULHER
(a boa –), personagem que toma parte na procissão do Encontro que se
realiza na noite de quinta-feira de Endoenças. A boa mulher é figurada
por uma rapariga, rigorosamente vestida de luto, que, ao ver que os
legionários romanos, uns machacazes de grandes barbas postiças e armados
de espadagões, impedem que a Mãe de Cristo, acompanhada de S. João
Evangelista, se aproxime do Filho que, encontra ao cabo de muito
peregrinar, sobe a um banco, desdobra a Verónica e entoa um cântico em
que entram, as seguintes palavras latinas, que a boa mulher estropia
muito solenemente: «Oh, vos homines, qui transitis, videte si est
dolor aequus meol». Os legionários enternecem-se e deixam que o
encontro se dê. Ao lado da boa mulher vai a Padêrinha, igualmente
vestida de luto, que, durante o percurso da procissão, leva o braço
direito levantado e na mão um lenço para enxugar as lágrimas que não
derrama. Na procissão do Enterro do Senhor, que se realiza na noite de
sexta-feira, alem destas duas personagens femininas, vão no couce da
procissão, imediatamente a seguir ao esquife, três mulheres, as três
Marias, que em plangente cântico, pranteiam a morte de Jesus.
MULHERENGO,
efeminado, maricas, o que se compraz com distracções mais próprias de
mulher do que de homem.
MURGINARI,
chuviscar, o cair da chuva pouco intensa e passageira.
/
52 /
MUSGARI,
chamuscar o porco, depois de morto, com rojo, para melhor se poderem
arrancar os pêlos: Esta operação faz-se imediatamente à morte do animal
e no mesmo local, depois do que é aberto e pesado.
MURTA,
multa. Das folhas de um arbusto deste nome, depois de secas, faz-se pó
que se emprega como remédio contra inflamações cutâneas, polvilhando-se
a pele. |