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Agostinho Fortes, Nótulas acerca dum falar da margem esquerda do Guadiana, acompanhadas de algumas notícias folclóricas, Cadernos CA, N.º 4, 1ª ed., Lisboa, Casa do Alentejo, 2000, 80 pp.


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URCERA, úlcera, chaga, ferida de mau aspecto.

- V -

VAIA, primeira e terceira pessoas do singular do presente do conjuntivo do verbo ir. Todo o tempo de conjuga assim, mas deve notar-se que a segunda pessoa do plural não se emprega, e na primeira do plural a acento tónico recai em sílaba vai, dizendo-se váiamos.

VARANDA, terraço de tijolo sobre as casas abobadadas, que serve de mirante e recinto de trabalhos de costura nas tardes de verão, quando o sol já vai declinando. Algumas varandas são enfeitadas com vasos de flores. As varandas são descobertas e caiadas.

VARANDIL, varanda pequena com cobertura de cúpula de tijolo, assente sobre quatro colunas quadrangulares, também de tijolo. Em regra os varandis são caiados de branco, mas alguns há em que a cal é corada de azul ou de vermelho.

VELARI, acompanhar a família dum morto, durante a noite que procede o funeral. O velar o morto é testemunho muito apreciado de saudade.

VENDA, casa que vende vinho a copo.

VENENA, bebedeira, embriaguez produzida por ingestão de bebidas alcoólicas.

VENEZA, arroz de primeira qualidade, preferido para se fazer arroz doce.

VENTANÊRA, vento forte e prolongado.

VERDETE, azebre; óxido formado nos utensílios culinários de cobre.

VÉSPORAS, toque do sino da igreja matriz de tarde. De verão é dado depois das 15 horas, em regra às 16, e indica o termo da sesta desse dia e o recomeço dos trabalhos rurais interrompidos pela intensidade do calor. / 67 /

VERGONHOSO, envergonhado, acanhado de trato. É biforme. O vergonhoso é sempre tido em boa conta, quando não exagerado.

VÉSTIA, casaco de rapaz ou de homem um pouco mais comprido que a jaqueta.

VÉVE, terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo viver. Diz-se vivo, véves, véve.

VINTE, jogo de inverno e de primavera, jogado tanto pelos rapazes como pelos homens, se bem que por estes só excepcionalmente. O vinte é uma pedra que se coloca verticalmente sobre um círculo traçado no solo, e que serve a alvo a malhas de pedra atiradas pelos jogadores dum local previamente determinado e marcado também por um traço. O parceiro que derrubar o vinte conta dois pontos, aquele cuja malha cair dentro do circunferência em que se encontra o vinte, mas sem derrubar este, conta um, os que não conseguirem que a malha fique no interior da circunferência nada contam. Ganha o primeiro que atingir um determinado número de pontos, em regra vinte.

VODA, casamento, conjunto de festas familiares ocasionadas por casamento. Diz-se estar de voda o ter casamento na família. As festas do casamento duram, em média três dias. Na véspera do casamento é a noite da cama, na qual as raparigas solteiras mais íntimas da noite vão fazer a cama que há-de servir aos noivos. Há baile e os convidados são obsequiados com distribuição de doces, pois que um casamento é tanto mais afamado quanto maior for a quantidade de doces, que figuram nas mesas da voda. É da praxe todos os convidados, embora por qualquer motivo não possam comparecer, mandarem aos noivos um prato ou mais de doces; os padrinhos e madrinhas, bem como os pais dos noivos, devem timbrar em apresentar muitos e bons pratos de doce, o que representa, por vezes, grande despesa. No dia do casamento ou da boda, organizam-se dois acompanhamentos, o da noiva constituído pelos convidados desta, raparigas amigas, pai e madrinhas; o do noivo formado pelos convidados deste, pai e padrinhos. Cada um dos acompanhamentos sai das respectivas residências da noiva e do noivo, devendo o deste chegar primeiro à igreja. Antes de sair da casa paterna, a noiva deve chorar muito, abraçando a mãe e as amigas, e no acto do casamento na igreja deve também chorar; se o não fizer é criticada. Celebrada a cerimónia religiosa, os dois acompanhamentos fundem-se num a que se junta, em regra o padre que realizou o acto. O noivo, a noiva, pais e os padrinhos fecham o acompanhamento que se dirige para a casa que os noivos vão habitar. Chegado aí o acompanhamento, os homens, todos de capa preta, comprida e de cabeção, colocam-se dum lado e doutro da porta, deixando um espaço para darem passagens aos noivos. Depois destes entrarem, entram todos os convidados e sentam-se às mesas pejadas de muitos doces e bebidas, especialmente licores. Prolonga-se o ágape por entre ditos e / 68 / graças algumas um tanto picantes. Há nova cena de lágrimas agora do noivo, da noiva e das respectivas mães; os pais disfarçam a comoção com ditos de espírito apropriados ao acta e o padre, para não deixar o crédito por mãos alheiras, alem de alguns conselhos dados aos noivos, vai contando a sua anedota salgadita. No dia seguinte, há na casa dos noivos grande jantarada, à qual, todavia, só assistem as famílias dos noivos e um ou outro amigo mais íntimo. Neste mesmo dia os noivos mandam a cada uma das pessoas amigas um presentinho de bolos de voda. Em Mourão é a noiva quem tem o encargo do pôr a casa, isto é, mobilar à sua custa a residência.

- X -

XARÔCO, vento forte e rijo; pedantismo; toleima; altivez. Duma pessoa orgulhosa, pretensiosa e que trata com desdém os outros, diz-se: sempre tem um xarôco! Também designa a própria pessoa que possua essas qualidades, como frases análogas a esta: Que tali está o xarôco! E possível que provenha de sirocco, vento de África.

- Z -

ZABUMBA, ronca feita com uma panela ou pote de barro, cuja boca se cobre com uma pele curtida de carneiro, à qual se prende verticalmente uma varinha encerada, que friccionada faz produzir um som cavo. Toca-se na noite de Natal, cantando-se ao som dela estas palavras castelhanas: La zabumba vá parir p’ra enero! zum! zum!

ZORRA, raposo; aplicado a pessoas, significa velhaco, astuto.

ZORRA, raposa; mulher de má nota, desonesta.

ZORZAL, ave de arribação, pequena, mas que devasta um olival. Diz-se também das pessoas que comem azeitonas por gosto.


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