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Agostinho Fortes, Nótulas acerca dum falar da margem esquerda do Guadiana, acompanhadas de algumas notícias folclóricas, Cadernos CA, N.º 4, 1ª ed., Lisboa, Casa do Alentejo, 2000, 80 pp.


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FACÊRA, correnteza de casas numa rua.

FAIA, janota; homem bem vestido. Não tem sentido depreciativo com em outras terras.

FAMILA, aglomeração de gente; povo; multidão. Ex., Na praça hai munta famila.

FAROTA, mulher ou rapariga azougada, que gosta muito de andar for a de casa.

FARRAPILHA, homem quase andrajoso; pessoa pobremente vestida. Há também um jogo de cartas chamado farrapilha, que é o mesmo que em Lisboa se chama diabrete. Joga-se escondendo-se uma carta, que os parceiros não devem saber qual seja; distribuem-se as restantes pelos parceiros que as casam, isto é, juntam ases com ases, duques com duques, etc. e assim se libertam delas. Às que não se casarem são trocadas entre os parceiros até se irem casando, ficando farrapilha aquele que ficar com a carta que acasala com a escondida.

FAZENDA, propriedade rural não murada e de grandes dimensões, embora estas sejam inferiores às de um monte e até às de uma quinta.

FEZES, preocupações; dissabores; incómodos morais. / 37 /

FIDÚClAS, atrevido; insolente; presumido. Emprega-se depreciativamente.

FIGURIM, figurino.

FINO, esperto; inteligente; delicado; insusceptível de ser ludibriado; astuto. Quando aplicado a coisas, como, por exemplo, pão fino, lã fina, significa bom, de primeira qualidade.

FOFRES, fósforos.

FOGAÇA, oferta feita a um santo para a satisfação de voto feito para se alcançar a protecção do santo em qualquer caso difícil da vida. A fogaça, que é variável, pois pode ser um doce, ou um animal, como galinhas e até carneiros e bezerros, é vendida, no dia da festa do santo, a quem maior lanço oferecer. As fogaças vão à frente da procissão em honra do santo e os ofertantes durante o percurso lançam o pregão seguinte: «Quem dá mais pela fogaça de ( segue-se o nome do santo )? Paga logo.» E já na igreja, depois de recolhida a procissão cada um leva o que arrematou. O produto da venda reverte em favor das despesas da festa. / 38 /

FORCADO, vara de madeira terminada na parte superior por dois esgalhos, que serve de suporte às redes que se colocam em volta dos leitos dos carros para transporte de estrume.

FORQUILHA, instrumento agrícola constituído por um cabo comprido numa das extremidades do qual se inserem dois braços curvos e distanciados. Emprega-se para lançar da eira para os carros, que os hão-de transportar para o palheiro, os molhos de palha.

FRANCELHO, ave de rapina; milhafre. Aninham-se nos edifícios em ruína.

FUNÇANATA, pândega no campo ou à beira do Guadiana, para a qual cada um leva o seu farnel, de que faz parte indispensável a borracha de vinho.

FUNÇÃO, o mesmo que funçanata, mas com mais variedade de comida; festa com jantarada e, às vezes, bailes, quer no campo, quer em casa.

FUNDIÇA, mistura de detritos de animais, borrego ou galinha, a urina da gente, para desencardir a roupa que se há-de lavar. Prepara-se na véspera da lavagem e a roupa suja fica mergulhada na fundiça durante a noite.

FUNDIRI, extracção do óleo da azeitona no lagar. É também verbo.

FUTRICA, estabelecimento comercial de pouca importância.

FUTRIQUÊRO, comerciante sem importância; vendedor de mercadorias pouco valiosas; feirante que expõe os objectos em pequenas mesas, ou tábuas suportadas por quatro estacas, sem cobertura.

 

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GAIFONAS, macaquices; caretas; movimentos grotesco das mãos.

GALO-PIRUM, o segundo livro da leitura de Monteverde. Davam-lhe este nome porque, entre algumas gravuras que continha, figuravam a do galo e do peru. Quando alguém queria dar a notícia do estado de adiantamento na escola de alguma criança, dizia, por exemplo, já vai no galo-pirum. / 39 /

GAMÃO, caule de um pequeno arbusto, que, aquecido à fogueira até chiar e percutido contra um obstáculo duro, dá um grande estalo, semelhante ao de uma bomba de pequena força. É aproveitado pelo rapazio nas fogueiras e mastros das noites de S. João e S. Pedra.

GAMONA, palha encerada, ligada à pele da zabumba pequena. Para as zabumbas grandes emprega-se o gamão. É passando a mão pela gamona ou pelo gamão que se toca a zabumba. Creio serem os dois termos de origem castelhana.

GÁNHÃO, trabalhador rural, que se distingue pelo trabalho que produz, alem do que é normal. Serve de modelo aos outros companheiros sobre os quais exerce também fiscalização.

GARRÊA, desordem em que há pancada; luta entre gente desavinda; litígio; desacordo.

GARREARI, lutar; envolver-se em desordem; jogar à pancada.

GARROCHA, vara com um ferro numa das extremidades, que, de longe, nas touradas populares, em praças improvisadas num largo, em cujas embocaduras se colocam carros, se arremessa contra o touro. Deve vir de garrucha.

GATÊRA, orifício na parte superior das portas para por ele entrarem e saírem os gatos.

GATO, alem do animal deste nome, significa também a lingueta que se coloca na parte inferior das portas e, para segurança destas, se encaixa num pequeno orifício escavado na soleira.

GAZIL, alegre, loução, satisfeito de sua pessoa, um tanto vaidoso. Suponho o termo de origem árabe.

GENLRO, genro.

GENTIO, multidão de gente. O sufixo ia aqui, como em mulherio, designa grande ajuntamento, grande quantidade; mas tem, tanto num como noutro caso, também valor depreciativo, pois em gentío e em mulherio há igualmente a ideia de que a multidão é de gente de pouca importância social ou de mulheres de categoria considerada inferior.

GIMÃO, presunto. É de origem castelhana. / 40 /

GAGA, doença dos galináceos, a que noutros pontos do país chamam pevide. Substância calosa que aparece na língua das galinhas.

GARRA, barrete de lã tecida para agasalhar a cabeça das crianças no inverno.

GRAILE, instrumento de madeira escavada, que serve para nele se triturarem alguns condimentos culinários como alhos, salsa, poejos, sal, etc., por meio dum pisão manual, também de madeira. Há também grailes de pedra, especialmente mármore, empregados para esmagar a amêndoa destinada a doces.

GRAVE, bem vestido, o que enverga fato de cerimónia. Ex., F. Vai mun grave, isto é, muito bem vestido.

GRAVEJARI, vestir bem e com certo luxo.

GRAVIDADE, circunspecção, cerimónia, boa apresentação, seriedade.

GRAZINA, falador, indivíduo que gosta de falar muito e de chamar sobre si a atenção das outras pessoas pelo animado das palavras e dos movimentos. Provem talvez do castelhano.

GRAZINARI, falar muito, dizer coisas destrambelhadamente, falar com abundância de movimentos de braços, dizer futilidades.

GRISÉO, ervilhas grossas e cheias.

GRULHA, trapalhão, trapaceiro, aldrabão.

GUALDRAPA, abertura nas costas dos casacos dos homens; abas de casaco.

GUINÉA, grande alteração; discussão acalorada entre dois ou mais indivíduos, mas sem que haja pancada; barulho popular produzido por vozearia e apupos. Ignoro a etimologia.


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