BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


2001 - Entrada do Milénio - Ano Europeu das Línguas - Comemoração dos 150 Anos da criação do Liceu de Aveiro

PÁGINA 1
Editorial

Arsélio Martins

PÁGINA 2
Medidas Peda-
gógicas

João Paulo C. Dias

PÁGINA 3
Dificuldades
escolares no
SEUC Sec.

Helena Silva &
Rosário Ruivo

PÁGINA 4 
A árvore da
amizade
Um olhar sobre
a velhice
O poeta
Ana Cláudia Almeida / Ana
Maria Silva /
Liliana Borrego

PÁGINA 5
Contos portugueses
A riqueza e a
Fortuna

PÁGINA 6
11 de Setembro de 2001

PÁGINA 7
Natal 2001:
Um conto e um
poema
João Paulo Correia & Henrique J. C. de Oliveira

PÁGINA 8
Ciência na nossa
Vida
Núcleo de Estágio
de Fís.-Química

PÁGINA 9
Braga - A minha
cidade
Paulo Soares

PÁGINA 10
S. Martinho festejado
na escola

H.J.C.O.

PÁGINA 11
Tempo
Isabel Bernardino

PÁGINA 12
Divulgação e
Internet

H.J.C.O.

PÁGINA 13
Francês - Actividades
extra-curriculares
Alunos de Francês

PÁGINA 14
Se bem me lembro
Paula Tribuzi

PÁGINA 15
Hora do Recreio

PÁGINA 16
Fac-símile da 1ª página

 


Contos tradicionais portugueses

A riqueza e a fortuna


Continuando a rubrica iniciada no n.º 2 deste jornal, desta vez, apresentamos um conto proveniente do Algarve, registado por Teófilo Braga.

 

Um pobre homem estava a trabalhar no mato, a cortar lenha para ir vender pela vila e assim sustentar mulher e filhos. De repente viu ao pé de si dois sujeitos, bem vestidos, que lhe disseram:

— Nós somos a Fortuna e a Riqueza. Vimos-te ajudar. Cada um queria acudir de preferência ao pobre homem, e altercavam entre si. Dizia a Riqueza:

— Eu só por mim o faço feliz; sendo ele rico tem tudo.

— Pois mesmo sem ser rico, eu dando-lhe fortuna, faço-lhe maior benefício. Senão experimentemos

A Riqueza virou-se para o pobre do homem e disse: — Toma lá este cruzado novo; amanhã compra carne, pão e vinho e não trabalhes nesse dia.

O homem foi-se embora contentíssimo para casa; no outro dia foi ao açougue. Deu ao magarefe o dinheiro adiantado, mas como estava um grande barulho de gente no açougue, o carniceiro negou que lhe tivesse dado dinheiro, e o pobre homem resignou-se e foi outra vez trabalhar para o mato.

A Riqueza tornou a chegar ao pé dele e quando soube de que lhe servira o cruzado novo, ficou zangada e deu-lhe uma bolsa cheia de dobrões, o homem voltou para casa; mas como a bolsa era de marroquim vermelho uma ave de rapina caiu de repente sobre ele e arrebatou nas garras o saco. voou. O homem contou a sua tristeza à mulher, e no outro dia foi trabalhar para o mato. Tornou-lhe a aparecer a Riqueza; ficou mais desesperada quando soube do acontecido à bolsa dos dobrões.

— Pois desta vez dou-te um saco de peças tão grande que não podes com ele; mas aqui tens um cavalo, que to vai levar a casa.

O homem agradeceu aquele favor da Riqueza e pôs-se a caminho para casa. Quando ia por um atalho, estava num campo uma égua, e o cavalo botou a fugir atrás dela de tal forma que o homem não foi capaz de o agarrar, e por mais que andou não pôde achar o cavalo.

Quando a Riqueza não esperava tornar mais a encontrar o homem no mato, foi ao sítio costumado com a Fortuna, e qual não foi o seu pasmo quando viu o pobre do homem a trabalhar como dantes. Disse então a Fortuna:

— Agora é a minha vez de o fazer feliz; vou-lhe dar apenas um vintém Olhe lá, ó homem, tome esse vintém, e assim que chegar à vila compre a primeira coisa que lhe aparecer.

O homem em caminho para casa encontrou quem lhe ofereceu uma vara de andar à azeitona pelo preço de um vintém, e comprou-a. No outro dia, foi para a apanha, e quando ia varejar uma oliveira, caiu-lhe de um galho uma bolsa de marroquim cheia de dobrões. Agarrou nela e levou-a para casa, contou à mulher donde suspeitava que lhe vinha aquele tesouro. A mulher combinou ir fazer uma romaria, e puseram-se a caminho. Quando chegaram a um descampado acharam pegadas de cavalo. Foram andando por elas e chegaram a um sítio onde estava um cavalo deitado ainda com um saco cheio de peças. Voltaram logo para casa muito contentes, e mudaram de vida, que até àquele tempo tinha sido amargurada pelos poucos ganhos e muitos filhos.

A Riqueza e a Fortuna foram ao sítio onde o homem costumava cortar lenha e esperaram por ele bastante tempo. Por fim a Fortuna declarou-se vencedora, dizendo:

— Que te dizia eu? Não é com muito dinheiro que se é feliz.

(Algarve),

Extraído de Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português, vol. I, págs. 199-200. 


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