PÁGINA 1
Editorial

 

PÁGINA 2
A Educação de Adultos
Prof. João Paulo

 

PÁGINA 3
Ensino Recorrente em 1999/2000 

 

PÁGINA 4 
Ensino Recorrente - Plano 2001-2001

 

PÁGINA 5
Aveiro e SEUC sem carros
Prof. Cristina Campizes

 

PÁGINA 6
O cavalinho das sete cores

 

PÁGINA 7
Ano Europeu das Línguas

 

PÁGINA 8
Diversos 
Tatiana e Virgínia Sabino

 

PÁGINA 9
Encontro com Luís de Camões 
Profª Paula Tribuzi


PÁGINA 10

Quentes e Boas

 


PÁGINA 11

Uma questão de Felicidade 
Prof. Henrique Oliveira 


PÁGINA 12

Duas datas, dois momentos
Profª Claudette Albino

 

PÁGINA 13
Hora do Recreio

 

 

 

 

 

 

Encontro com Luís de Camões
na obra «A Casa do Pó» de F. Campos

Um franciscano chamado Pantaleão, assistindo à chegada de uma nau da Índia, testemunha o regresso de Luís de Camões à Pátria e descreve a sua figura envelhecida por uma vida de miséria no Oriente. Algumas semanas depois, enceta-se um contacto directo entre ambos na tipografia que imprime, pela primeira vez, «Os Lusíadas». Pantaleão é confidente da história atribulada do Poeta e acompanha, emocionado, a publicação da grande epopeia nacional.

É através da focalização do protagonista da obra «A Casa do Pó» que a figura de Luís de Camões é retratada nas vertentes física, social e psicológica. No momento do seu regresso a Portugal, a dura vivência no exterior reflecte-se no corpo «magro de meia-idade», com «o rosto tisnado do mar», a «barba grisalha» e «um olho vazado». A imagem do poeta é ainda perspectivada pela mesma personagem com o seguinte vestuário: «gola de folhos, colete de fendas aveludadas, coçado, capa pendente do ombro, calções tufados».

Quanto ao enquadramento social de Camões, o livro de F. Campos fornece-nos vários dados biográficos: a frequência atribulada da vida palaciana («Não tardará que de novo a corte te acolha»); a vida de miséria no Oriente («tão pobre que vivia de amigos») e a ligação de amizade com Diogo do Couto («lhe pagara a viagem, mais a do seu pobre amigo javanês, para poder chegar a Lisboa»; «E esse teu livro de que fiz o comentário histórico?»). Ao nível do relacionamento amoroso, também a vida do Poeta é marcada pelo signo da infelicidade («os seus desiludidos amores»).

No papel de interlocutor, Pantaleão penetra no mundo íntimo da confidência e do desabafo e lega-nos um retrato psicológico de Camões: «É uma alma amargurada e desencantada». A sua inquietude entusiasma-o a recitar o verso modelar «Esta é a ditosa pátria minha amada» e castiga-o no reconhecimento da «terra madrasta». E a obra, principalmente «Os Lusíadas», representa a única fonte de motivação para uma existência ensombrada de pessimismo.

Como autor, Luís de Camões figura igualado a Homero ou a Virgílio e o poema «Os Lusíadas» é enaltecido como a «Eneida portuguesa». Nestas referências emocionadas do franciscano, fica realçado o valor do Poeta e o carácter épico do poema à pátria lusa, que mantém algumas afinidades com obras do mesmo género na cultura greco-latina.

Diogo do Couto vaticina a recepção da obra D. Sebastião, «exaltado com a glória da pátria», e é esta faceta que o Poeta consagra e estimula na Dedicatória ao jovem monarca e no discurso final, também laudatório, de «Os Lusíadas».

Acompanhando avidamente a primeira impressão da epopeia, Pantaleão testemunha o alvará de el-rei que anuncia o livro e menciona as suas principais características formais: «Eu el Rey faço saber aos que este Alvara virem que eu ey por bem & me praz dar licença a Luís de Camões pera que possa fazer imprimir «nesta cidade de Lisboa hua obra em Octava rima chamada Os Lusiadas, que contem dez cantos perfeitos...»

O assunto da obra decorre da intenção, por parte do Poeta, de cantar os feitos ilustres de um povo «que descobre uma nova dimensão no espaço e no tempo cósmico, a comunhão das raças e das crenças, dos usos e maneiras». Estas qualidades ilustram uma nova visão do Homem, engrandecendo-o como senhor do universo. A edificante realização colectiva que a epopeia imortaliza goza de um significativo interesse nacional e de um alcance ao nível mundial.

O espírito humanista que envolve a produção camoniana confere-lhe um sentido de modernidade claramente denunciado na seguinte passagem do livro de Fernando Campos: «Poeta moderno, desta corrente que bebe seus cânones nos poetas e artistas italianos».

Após a publicação de «Os Lusíadas», a vida de Camões definha numa vertiginosa decadência. A miséria e a doença são o prenúncio do fim de uma existência e alastram numa época também em ruína O desaparecimento do jovem monarca reinante liquida uma situação estéril e irreversível: «Nos começos de Agosto chegavam as primeiras vozes da imensa desgraça e pronunciava-se a medo o nome de Alcácer Quibir... e em dois anos apenas tudo baqueia. O rei fora morrer lá longe sem deixar semente.»

A morte do Poeta coincide com a derrocada de uma nação que ele imortalizou na memória épica da fértil expansão. Este desabamento trágico está patente na consciência lúcida do protagonista do romance de Fernando Campos: «Luís está a morrer! Ainda corro a tempo de escutar o último pulsar daquele “peito ilustre lusitano” e de o ungir. Não tem outros companheiros a seguir-lhe os restos senão a mim e a Jau... Tudo está perdido! A derrota de Alcântara! O prior do Crato a fugir pelo Minho e muitos dos seus apoiantes presos e enviados para as masmorras de Espanha!»

A perda da independência nacional corresponde ao desmoronamento dos anseios do franciscano em encontrar a sua própria identidade, privando-o de reconhecer as suas origens: «Na capela dos dominicanos, onde penso ajoelhar-me na pedra rasa do túmulo de minha mãe, nenhum vestígio existe de lajes tumulares (...) depois de um terramoto que quase destruiu o convento. Imagino que duas lajes deviam ter estado ali deitadas, lado a lado, defronte do altar-mor, mas que o Céu nem isso consentiu que permanecesse.»

Paula Tribuzi


Escola Sec. José Estêvão

Página anterior     Primeira página     Página seguinte

Aveiro - Janeiro 2001