Pronto, não é que as músicas não tenham uma certa glória (nunca tinha
ouvido disto na RFM antes) e não tenham um grande sucesso... mas neste
momento poucas pessoas conseguem ouvir Love Generation. Pelo menos eu,
que até gostei sempre da música, já estou um bocado farta porque é
constante. É em bares, é em cafés, é aquele DJ que todos adoram porque
passou vinte vezes o raio da música, é na MTV a toda a hora e momento.
Pelo menos eu já não consigo ouvir os assobios... Pronto, foi bom mas
já farta, “né”? Variedade, precisa-se!
Por acaso a professora contou que tinha pedido aos oitavos anos para
gravarem um CD com música House, para aeróbica. Que é que eles lhe
entregaram? O CD inteirinho do Bob Sinclair pirateado (não que tenha
algo contra a pirataria em "doses pequenas").
E então pus-me a pensar...
"Para estas crianças e putos de hoje o House resume-se a Bob Sinclair!"
Será bom? Não se estará a perder o verdadeiro sentido e magia da música,
seja de que género for…, com o uso e abuso da música e com a visão de "o
que é conhecido e o que vende é que é bom"?
Não é bom ouvir algo novo, explorar várias vertentes dos ritmos e
harmonias? É que também existe o house vocal, o electro house, o acid
house, hard house, house tribal... (limitando a enumeração a este género
de música).
Esta cultura de massas está, na realidade, a estreitar a visão daqueles
que um dia serão o futuro... Será que, dentro em pouco, design se
resumirá a um João Rolo e moda a uma Fátima Lopes? Tornar-se-á a beleza
sinónimo de anorexia e de uma Fiona qualquer, com revelações ao
estupefacto mundo de manequins brasileiras que morrem por só comerem
tomate e maçã e ainda acharem por bem provocar o vómito dessas
ingestões? Parece-me que a isso estamos mesmo condenados. Ainda me vêm
dizer que é ridículo pôr como número mínimo um 36/38 e que a moda ‘tá a
ser o "bode expiatório", que não tem culpa nenhuma e que está a apanhar
com as consequências dum flagelo global. Bah, vão p’ro inferno.
Na realidade, o tudo é que é bom! A variedade é porreira. Não interessa
tanto quanto isso tu ou o teu som estarem na berra, se passados uns
meses podem ser esquecidos. Interessa sim o teu som ser algo novo,
original, de que tu gostes, e que marque por ter identidade própria. Na
pintura interessaria vires com uma técnica nova e inovadora, tal como
Leonardo da Vinci fez com a técnica do sffumatto; na arquitectura,
apresentares um projecto de remodelação de uma zona urbana tendo em
conta coisas que talvez nunca o tivessem sido - mas por favor, mais
casas da música "chiquérrimas" a descaracterizar certas zonas típicas
não! Aquilo que deveria ser realmente apreciado e tido como fantástico e
digno de valor (que na realidade não está a ser) seriam a acústica e os
sistemas de som, coisa pioneira profissional neste país de pioneiros
amadores.
Bah. Maldita globalização. Maldita globalização que nos devia abrir os
horizontes e os nossos olhos. Maldita globalização que afinal nos
empoeira os olhos e que nos inflige o que é bom, o
que é mau e o que é assim-assim.
Vou fazer tudo para que um dia os meus filhos me venham pedir para falar
sobre os Beatles, Nelly Furtado, Roger Sanchez ou Evanescence. Pelo
menos que conheçam os nomes e tenham interesse em saber quem foram.
E isso farei com toda a certeza, porque acho que é muito importante
saber que há várias visões do que nos rodeia e tornarmo-nos múltiplos no
nosso olhar, para termos uma noção mais real e justa das coisas do
mundo. É bom falar mas também é bom sabermos ouvir, aprendermos sempre
mais um bocadinho e alargarmos a nossa visão cadenciadamente comprimida.
(Esta minha maneira de ver as coisas topa-se logo, por exemplo, pelos
meus CD's ou, pelo menos, através dos que cá se têm em casa. Tanto está
no “molho” Linkin Park, como Bach, Red Hot, Beyoncé, Diana Krall, David
Morales, Supertramp e Hillary Duff. Se procurarem bem lá no fundo,
também é capaz de ter Spice Girls (se as minhas irmãs ainda não os
apanharam) e talvez uma versão pirateada do "Beautiful Sky" dos Reamonn.
E quando isto não chega, há Maria Bethânia e Joe Cocker no meio dos CD's
da mãe.)
Mas acima de tudo, vou fazer tudo para que um dia os meus Juniores não
me venham perguntar "Mãe, o que é isso chamado cultura e individualidade
que as pessoas da tua idade dizem que se perdeu?". Porque aí, estaremos
todos iguais e já
será demasiado tarde para as pessoas se aperceberem disso.
Enfim. Acho que vou pedir para porem este texto no Jornal da Escola.
Pode ser que alguém abra os olhos ou que, pelo menos, os esfregue, nem
que seja só para saber que eles existem. O seu utilizar, a bom tempo
há-de vir! Ficará para uma próxima que, espero, não seja muito tarde. As
culturas e a Cultura merecem, tal como todos os que por ela se esforçam.
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