A
criação dos liceus portugueses, obra de Passos Manuel, fez-se
em 1836, por decreto de 17 de Novembro. O de Aveiro só foi
fundado em 1851, ao abrigo do decreto de 20 de Setembro de 1844,
do governo de Costa Cabral.
Como
não existe nenhum documento esclarecedor, a análise das actas
do Conselho levaram a concluir que as primeiras instalações do
liceu se situaram no Paço Episcopal, que ocupava o terreno hoje
preenchido pelo prédio do Banco Fonsecas e Burnay e pela
escadaria que desce do turismo para a Rua do Clube dos Galitos.
Em
1852, por falta de capacidade das instalações do edifício do
Paço, o liceu passou para uma casa da Rua de Santa Catarina,
hoje 31 de Janeiro, casa situada em frente ao Restaurante
Evaristo.
O
liceu continuará com problemas: o senhorio pretende aumentar a
renda e ficar com as lojas e quintal. Então, na sessão
parlamentar de 16 de Julho de 1853, o aveirense José Estêvão
requer «primeiro, para que o governo mandasse fazer a planta e
o orçamento de um edifício para estabelecer o Liceu do
distrito de Aveiro, tendo por adjunto a Biblioteca Pública, que
estava decretada para esta cabeça de distrito, assim como para
todos mais; segundo, que se mandasse consultar as autoridades
para verificarem se as ruínas da Albergaria de S. Brás eram o
lugar mais próprio para o liceu».
O
governo autoriza a construção e a 15 de Agosto de 1855 começam
a ser levantados os alicerces. Para atenuar a despesa orçamentada,
é autorizada pelo Ministério a demolição de parte da antiga
muralha da cidade de Aveiro, na zona onde se encontrava a Porta
da Ribeira, para serem utilizados materiais e pedras na referida
construção.
Fruto
do descontentamento com as instalações da Casa de Santa
Catarina, o liceu muda uma vez mais, agora para o Convento de
Santo António, junto do actual Parque da Cidade.
As
obras do novo liceu iam continuando e, embora as actas das sessões
do Conselho sejam mudas a respeito da sua inauguração, segundo
dois escritores aveirenses, Marques Gomes e Rangel de Quadros, o
início das aulas neste edifício terá sido a 15 de Fevereiro
de 1860.
Assim,
graças ao esforço do deputado José Estêvão, surgiram as
instalações que hoje continuam a funcionar, constituindo a
actual Escola Secundária Homem Cristo. Agradecendo a ligação
a esta causa, foi inaugurado no liceu,
em 21 de Outubro de 1866, o retrato de José Estêvão, da
autoria do pintor lisbonense José Maria Sales; em 1889, foi-lhe
erigida uma estátua em pedra e bronze.
Entretanto,
quando se ultimavam os trabalhos da estátua, uma polémica
surge por tentativa de nova mudança das instalações do liceu,
para que estas fossem ocupadas por inteiro pelo Governo Civil e
Fazenda, que, desde o incêndio ocorrido em 1864, no edifício do
Paço, vinha ocupando o primeiro pavimento deste edifício.
Assim protestou a comissão responsável pela edificação da
estátua: «Deixai-nos que a estátua de José Estêvão se erga
defronte do nosso liceu. Deixai-nos que o bronze e a pedra
atestem o patriotismo do morto e o patriotismo dos vivos.
Deixai-nos que os dois monumentos, o amor de um homem e a gratidão
de um povo, sejam a nossa glória comum nos dias da festa que se
avizinha aí...»
Uma
vez mais voltamos a repetir, à semelhança do que fizeram, nos
finais da século passado, as gentes de Aveiro: «Deixai-nos que
o nosso liceu se erga defronte da estátua de José
Estêvão como Liceu. Não o desvirtueis, atribuindo-lhe funções
para as quais ele não foi criado. Deixai que os nossos filhos,
à semelhança dos nossos antepassados, continuem a ser
recebidos e educados dentro das suas paredes... mesmo com o nome
de outro Ilustre Aveirense. » H.J.C.O.
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