JORNAL
N.º 6

FEVEREIRO
1992 ANO IV


ESCOLA SECUNDÁRIA HOMEM CRISTO - AVEIRO
COLABORA NO ENRIQUECIMENTO DO TEU JORNAL

SUMÁRIO

 

Editorial

 

Breve
notícia
histórica
do liceu
 

 

Acerca da
desactivação
Carta da DAE

 

Carta ao
Senhor
Ministro

 

Carta a
José
Estêvão

 

Entrevista
a Idalécio
Cação

 

Notícias
várias

 

Passatempos

 

 

Fac-símile
da 1ª página

 

 

 

 

 

 












COM O ESCRITOR IDALÉCIO CAÇÃO

Q — O que é escrever?

IC — O acto de ESCRITA é um trabalhar a palavra. O escritor é alguém que se esforça por cumprir isso, não é um E. T. nem um génio. É uma pessoa comum.

Q — É professor universitário e Escritor. Se pudesse optar entre as duas actividades, qual escolheria?

IC — Ser Escritor, sem dúvida. Ser professor é muito trabalhoso, gasta-se muito tempo e economicamente não compensa. Ser Escritor é a minha vocação.

Q — Quando escreve, fá-lo em silêncio?

lC — Antes de escrever, elabora-se mentalmente aquilo que virá a ser o texto. Esse trabalho tanto posso fazê-lo em silêncio como à mesa de um café. Agora, o escrever, prefiro-o no silêncio, num ambiente que me possibilite a concentração.

Q — Quando era pequeno pensou que viria a ser Escritor?

lC — Sempre. O meu avô, que era carteiro, tinha uma biblioteca bastante razoável. Recordo-me que um dos livros que lá havia era Os Fidalgos da Casa Mourisca, acerca do fim da nobreza e do retomar das terras pela burguesia. Marcou-me muito.

Q — Porquê após Nas Fronteiras do Tédio e As Evidências e o Prisma abandonou a Poesia?

IC — De facto, não a abandonei. Simplesmente acho que a minha poesia carece de unidade para ser publicada em forma de livro. Assim, dedico-me mais ao conto ou à crónica romanceada. Mas não sou romancista: é preciso uma grande disciplina e disponibilidade de tempo para escrever textos tão longos.

Q — Quando publica, tem medo?

lC — Boa pergunta! De certa forma, sim. Escrever exige muito tempo para se atingir um bom resultado. É como tratar de uma árvore, podando as expressões menos felizes. Temos de nos preocupar com o lado estético. É isso, para mim, a Literatura: beleza.

Q — Pensava que o obra Daqui ouve-se o Mar iria ganhar o Prémio Miguel Torga?

IC — Embora não concorra para ganhar, mas para me automotivar e para progredir, não fiquei admirado quando recebi o prémio. Embora, nos concursos tudo dependa da perspectiva do júri. Mas sou muito autocrítico, e este livro agrada-me muito, bem mais do que Os Sítios Nossos Conhecidos, escrito em princípios dos anos setenta.

Q — Porque usa os regionalismos?

IC — Nasci em Alhadas na região Gandaresa da Figueira da Foz, uma área algo isolada. Por isso existe lá uma forma de falar que descende do Português arcaico, e que se tem vindo a perder. Desejei perpetuá-la nos meus escritos. Nesse sentido estou também a trabalhar num glossário com mais de mil e quinhentos vocábulos. Palavras como “perro” (‘coluna que sustenta a chaminé’) ou “burra” (‘gancho usado para preparar comida ao ar livre’) são exemplos disso. Tenho também interesse em que certas peças sejam recolhidas num museu etnográfico.

Turma: 8º E, 13/Dez./1991

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