Já te contaram? Não? Então eu vou pôr-te a par do assunto.
Lembras-te do belo edifício que há muitos anos mandaste
construir e que destinaste a ser o primeiro liceu do distrito e
um dos primeiros do país? Pois, caro conterrâneo, querem
destrui-lo. Não pôr as paredes abaixo, mas tirar-lhe e vida
que ele encerra.
Tu sonhaste encher as grandes salas e os fundos corredores de
jovens, ávidos de saber, ávidos de vida. Do teu pedestal,
durante anos e anos, viste sair, pelas portas da escola, jovens
que iam enfrentar o mundo, que iam ajudar a construir a cidade,
o país. Viste jovens que se sentavam na base da tua estátua,
que riam, que trocavam saberes, que eram irreverentes.
Mas tu sabias isto quando fundaste a escola e, durante estes anos
todos, tu, os jovens e a cidade habituaram-se a ver o belo edifício
pleno de vida, o teu largo transformado num espaço humanizado.
Não, não, caro concidadão, não é nenhum conterrâneo teu
que quer dar cabo da escola...
Eles não tinham coragem! Eles consideram a escola um espaço
cultural que faz parte da própria cidade. Eles gostam do que
lhes lembra os aveirenses ilustres.
Estás revoltado? Também eu. Só que a tua revolta não chega cá
abaixo e a minha não chega lá acima...
A tua conterrânea,
Graciete Almeida
Aveiro
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