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Quando se fala de Aveiro, uma tão
velha quanto inadequada comparação é repetidamente
evocada e que consiste em chamar-lhe Veneza
portuguesa. Ora, a verdade é que não há proximidade
alguma, quer estética, quer física, quer monumental
entre estas duas cidades. Cada uma tem a sua
personalidade e carácter próprios. Assim,
desmistificada aquela ideia errática, é tempo de
afirmar que, sem dúvida, Aveiro se apresenta como
uma terra de água de singularidade única, com
características próprias, bem vincadas,
diferenciadas de todas as outras cidades deste nosso
país. |
Considerados os dotes naturais,
intrínsecos, que possui, bem que Aveiro poderia e
deveria constituir um excelente exemplo de urbanismo
de qualidade, respeitador do seu património
histórico construído, o que lamentavelmente, nem
sempre tem acontecido. A par de uma certa política
do betão, a cidade tem sido atulhada de construções
incaracterísticas, algumas mesmo abomináveis,
esquecendo a inadiável criação de espaços urbanos de
acordo com equilíbrios físico-ecológicos e,
concomitantemente, praças, parques, jardins, etc. –
e até amplos estacionamentos. Depois, como se
constata, Aveiro é carente de monumentos, sobretudo
de arte contemporânea inovadora, o que em nada abona
em favor da nossa sensibilidade de aveirenses, para
esta vertente cultural tão decisiva, até como
enriquecedora atracção turística.
Por outro lado, temos algumas
realizações muito positivas como são, entre muitos
outros, os casos dos túneis rodoviários (para o
trânsito), e das zonas pedonais (para as pessoas);
aqui, o espaço onde um número assaz significativo de
predadores-condutores-auto permanentemente circulam
e/ou estacionam. Para além do facto abominável
destes criminosos se manterem impunemente à solta,
Aveiro é uma cidade bela em que, apesar de tudo, há
uma certa qualidade de vida e é, pois, bom viver. É,
por assim dizer, no contexto nacional, uma cidade
diferente, que não fica a perder em confronto com
algumas centenas de urbes de dimensão equivalente de
outros países que já tivemos oportunidade de visitar
e que, sem receio, testemunhamos.
Artur Fino
Fundador do Grupo AveiroArte e
CETA, Artista plástico |