Deixemos as respostas
para os físicos e para a ligação estabelecida entre o tempo
e o movimento que produz as mudanças.
No plano filosófico,
também Kant se confrontou com o gigante a que chamamos tempo.
Concluiu que nada mais é do que uma condicionante do sujeito,
que limita o homem na sua relação com o mundo dos
fenómenos. Chamou-lhe uma forma a priori da
sensibilidade.
Existe outro domínio do
tempo que nos toca muito mais: o tempo vivencial, o tempo
psicológico - o tempo do passado, do presente e do futuro. É
este tempo que carregamos na nossa subjectividade e que
podemos catalogar como um tempo feliz ou um tempo monótono.
Bastam por vezes umas
horas de bem estar para dar sentido à rotina do dia a dia. E
se, tal como Sísifo, carregamos o rochedo às costas, também
neste tempo monótono surgem brechas de luz, que dão sentido
ao presente, reconstroem o passado e orientam o futuro. São
estas brechas que surgem como alternativas, que nos fazem
repensar o projecto de vida. O que está aqui e agora, mas
também o que pode ser feito (futuro), de modo a realizarmos
velhos sonhos ocultos do passado.
O regresso à escola é
uma brecha que pode lançar luz na monotonia do presente. De
novo sentados nas “velhas” carteiras, olhamos o quadro
negro e o tempo que rodopia e nos leva de volta... E lá, bem
no fundo, ouvimos de novo a voz da nossa professora que
pergunta: - Então João quantos são dois vezes dois? Ah! O
tempo... Como ele voou!
Mas o mistério
continua. Porque é que lá bem dentro do meu coração tudo
continua igual? Vejo-me menino a descobrir a vida e, sem
querer, olho o espelho e vejo a outra face do tempo - o
presente.
Algumas rugas sulcam-nos
já o rosto. E o olhar do outro confirma-nos o tempo exterior,
o tempo da mudança.
É neste tempo de
mudança que aproveitamos para de novo, na escola, libertarmos
as nossas asas de gaivotas cansadas e olharmos o mundo e os
outros de maneira diferente. E construiremos tantas
alternativas quantos os olhares no presente elucidem o
passado. Porque, como Hamlet, o tempo, o nosso tempo, reduz-se
a isto: «Ser ou não Ser». E é neste fluir que
transformamos o mundo - o nosso mundo - e damos sentido às
aprendizagens que vamos realizando neste “novo” regresso
à escola.
Isabel Bernardino