Tendo em vista o
levantamento de dificuldades escolares dos alunos do S.E.U.C.,
foi elaborado e aplicado um inquérito para recolha de
elementos que permitam a posterior realização de acções de
sensibilização relativas a métodos e hábitos de estudo.
Este trabalho foi iniciado em anos anteriores, tendo sido
alargado no ano lectivo de 2000/2001 aos alunos do nível
secundário.
O seu objectivo teve,
pois, um carácter exploratório, visando conhecer melhor as
dificuldades sentidas por alunos deste nível de ensino, de
forma a tentar equacionar medidas de apoio tendentes a
minimizá-las.
O questionário abordou
quatro áreas:
- Material: materiais
usados no estudo, acessibilidade da linguagem
científico-técnica dos guias e critérios de selecção dos
textos por parte dos alunos.
- Métodos de estudo:
tempo de estudo semanal, uso de técnicas de estudo,
estratégias de aprendizagem e atitudes face às dificuldades.
- Apoios educativos:
salas de estudo e aulas de Apoio.
- Atitudes face à
avaliação.
O questionário foi
aplicado a uma população de 64 alunos do Ensino Recorrente
nocturno secundário.
Tendo em vista as
respostas dadas às diferentes questões do levantamento
realizado junto dos alunos do SEUC, a propósito de métodos
de estudo, procedeu-se a uma breve análise dos resultados.
Esta análise foi feita de forma a tentar relevar aspectos
tendenciais que nos pareceram ser os mais representativos
dentro de cada grupo, adoptando por critério o número de
respostas. Constituindo-se este trabalho como um momento
pontual de reflexão, não apresentaremos um quadro conceptual
prévio, procurando, no entanto, colmatar este aspecto com
algumas referências que se integrarão na análise.
Passamos a referir
algumas dessas tendências:
I
Os alunos continuam a
dar preferência ao uso dos guias, por vezes complementando o
seu trabalho com manuais do Ensino Secundário diurno. São
ainda poucos os alunos que aprofundam a sua aprendizagem
seleccionando e organizando informação em outras fontes como
material da biblioteca e artigos de jornal.
Alguns alunos, apesar de
insatisfeitos com os guias, aparentemente não recorrem a
outras fontes. Este aspecto mereceu-nos duas leituras. A
primeira vai no sentido de os professores, nas suas práticas
pedagógicas não disponibilizarem/incentivarem o recurso a
materiais que não o guia. Quanto à segunda, dado que os
alunos não parecem procurar outras fontes de informação,
denotam falta de autonomia no seu trabalho, bem como de
capacidade para impulsionar e organizar as suas aprendizagens.
Esta leitura dos dados remete-nos no seu conjunto para
aspectos motivacionais cuja análise não cabe no âmbito da
presente reflexão, mas a que não podemos deixar de fazer
referência: importaria conhecer qual o valor que a escola tem
para estes alunos, quais as suas expectativas de futuro
escolar e ainda o seu nível de aspiração neste âmbito.
Parece ser evidente a
necessidade de remeter progressivamente os alunos para fontes
alternativas de informação, com vista a desenvolver
capacidades de selecção de informação, organização de
conteúdos e estabelecimento de esquemas conceptuais mais
alargados, de reflexão crítico, bem como de comunicação.
Trabalhando a partir de materiais da actualidade com aspectos
científicos e/ou sociais interessantes e ajustados ao
contexto dos alunos porque relacionados com aspectos
relevantes da sua vida como cidadãos, estes poderão dar mais
significado às suas aprendizagens e nova dimensão à sua
cidadania. Importaria, talvez, criar nova dinâmica na sala de
estudo para que tal fosse possível.
Uma actividade mais
autónoma, torna-se mais exigente em termos de capacidades
cognitivas e processuais bem como de atitudes e de valores.
II
A grande maioria dos
alunos afirma estudar fora das aulas, verificando-se a
existência de um pico entre as 2 e 5 horas semanais e outro
pelas 10 horas semanais.
Mais de dois terços dos
alunos disseram costumar pensar na forma como estudam. Referem
estudar por ordem decrescente de número de respostas: a
sublinhar o texto, fazer resumos da matéria, ler em
silêncio, fazer esquemas da matéria e ler em voz alta. No
questionário não se incluía um item relativo à avaliação
da sua própria aprendizagem e eficácia das estratégias
utilizadas, que teria certamente interesse analisar.
Mais de metade dos
alunos referem que aprendem melhor ouvindo nas aulas e
participando em trabalhos de grupo, enquanto que menos de um
quarto referem a concretização individual das propostas dos
professores nas aulas. Aparentemente estes resultados apontam
para um papel mais passivo dos alunos nas aulas, não
valorizando o esforço individual e o empenho pessoal na
aprendizagem, tendo como aspecto positivo a valorização do
trabalho em grupo. De referir que a partir do questionário,
não é possível avaliar se o aluno se posiciona numa
perspectiva de trabalho de grupo ou apenas de trabalho em
grupo, naturalmente mais passivo.
O envolvimento dos
alunos em trabalhos de grupo que privilegiem a discussão de
ideias e a construção de conceitos em domínios do seu
interesse, permite desenvolver competências conceptuais e
procedimentais, bem como atitudes de autonomia, empenho no
trabalho, procura de rigor e ainda competências de
comunicação oral e escrita, de emitir opiniões
fundamentadas, desenvolvendo competências de reflexão e
crítica. Por esta via, os trabalhos desenvolver-se-iam de
forma mais autónoma porque participada. Pensamos ser
importante incrementar esta vertente.
Por último, mais de
dois terços dos alunos referem recorrer ao professor quando
têm dificuldades na aprendizagem considerando vantajosa esta
ajuda na superação das referidas dificuldades. Este aspecto
parece, a nosso ver, encontrar barreiras na excessiva
dispersão que os professores têm que enfrentar nas suas
aulas dado o elevado número de unidades que leccionam em
simultâneo. Esta realidade, traduz-se necessariamente em
menor disponibilidade temporal para acompanhar o percurso
individual dos alunos, o que é também reconhecido pelos
próprios.
III
Quanto às aulas, os
alunos afirmam preferir, pela ordem indicada: ouvir,
participar em trabalhos de grupo, escrever, ler e visualizar.
Parece evidente
continuar a ser importante para os alunos o espaço da aula,
orientado pelo professor, possivelmente entendido como
transmissor de conhecimentos. Poderá, assim, estar a ser
valorizada uma tendência de passividade em detrimento da
participação na construção dos aprendizagens, já referida
anteriormente. Em alternativa, importará que os professores
encarem, cada vez mais, as aulas como espaço para ajudar a
construir conceitos estruturantes de aprendizagens e grandes
sínteses integradoras em esquemas conceptuais, envolvendo
afectivamente os alunos.
Trabalho intra e extra
aula devem articular-se num crescendo de situações de
aprendizagem. O trabalho extra aula não deve ser encarado
como algo repetitivo e mecanicista. Deve antes partir dos
interesses e necessidades de aprendizagem e levar a um
envolvimento dos alunos não devendo ser exterior aos alunos.
Os professores devem tornar claro aos alunos a importância
desta mudança de atitude e orientá-los na tomada de
consciência da reflexão sobre a sua aprendizagem.
Relativamente à
frequência de aulas de apoio, apenas cerca de um terço dos
alunos dizem faze-lo, enquanto que menos de um terço de
alunos a frequenta com regularidade a sala de estudo.
De acordo com as
opiniões expressas oralmente no debate da sessão sobre
métodos de estudo, as razões apontadas pelos alunos vão
mais no sentido de constatarem a inadequação do horário a
que as referidas aulas têm lugar, e menos por motivos
imputáveis a condições de trabalho ou interesse deste
espaço para a formação dos alunos.
Os alunos que
responderam à pergunta referente a aspectos positivos da sala
de estudo, referiram o facto de estar sempre aberta e ter
materiais de estudo, poder tirar dúvidas com os colegas,
haver ambiente de trabalho e haver maior disponibilidade por
parte dos professores. Como aspectos negativos valorizaram o
excesso de barulho por parte de alguns alunos.
Afigura-se-nos
importante repensar a organização da sala de estudo
adaptando-a à especificidade deste tipo de ensino e
simultaneamente e estudar a possibilidade de a articular com
as aulas de apoio.
IV
Respondendo a maioria
dos alunos que utiliza como critérios para seleccionar os
textos que utilizam as sugestões feitas pelos professores ,
seguida de critérios baseados em simplicidade e clareza de
leitura e ainda a sua ligação com os conteúdos das aulas
que estejam relacionados com os conteúdos das aulas. Estes
dados levam-nos a pensar que um centro de recursos destinado a
alunos deveria ser um espaço pensado para disponibilizar um
conjunto de informação seleccionada por professores de cada
área disciplinar, que versem temáticas relacionadas com os
conteúdos temáticos abordados nas aulas e que
simultaneamente apresentem uma linguagem atractiva, pautada
pela clareza, e simplicidade. Naturalmente, que este trabalho
nunca poderá surgir de um esforço ocasional de boas
vontades, devendo ser feito em parcerias disciplinares e
interdisciplinares num trabalho intencional, devidamente
balizado por objectivos definidos, de acordo com a formação
desejável e pretendida no final do curso, segundo o perfil
estabelecido pelo Ministério de Educação.
V
Apenas um quarto dos
alunos valoriza a avaliação formativa como parte integrante
da sua metodologia de trabalho.
Parece importante que
professores e alunos olhem a avaliação com uma componente
maioritariamente formativa, e a utilizem como um instrumento
orientador de práticas pedagógicas e de aprendizagens.
Podemos referir parecer
importante abrir novas vertentes de trabalho nesta área.
Helena Silva e Rosário
Ruivo
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