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Artes - Letras - Ciências
Suplemento do n.º 261 do "Litoral"
Outubro de 1959, Ano I, n.º 2
págs. 12 e 13

 
 

UM HOMEM DE CANTAR ESTRELAS
CANTOU TEU NOME, VIRTUDE.
NA PRAÇA DESERTA O DISSE.
HOUVE GENTE QUE O OUVISSE
FALAR DE TI AMIÚDE.

UM HOMEM DE CANTAR VÍCIOS
CANTOU TEU NOME, ALEGRIA.
NA PRAÇA DESERTA E FRIA
HOUVE GENTE QUE O OUVISSE
E O MALDISSE, POESIA.

HOMEM DE CANTAR OS DIAS
VEIO P'RA CANTAR TEU NOME.
A PRAÇA ANTES QUE O OUVISSE
JÁ O MALDISSE E CHAMOU-ME.
MAS EU, EU NÃO O DESDISSE:
CHOREI TEU NOME, POESIA!

                              
Dinis de Ramos

 

Poema em clave de sol

HOJE NÃO QUERO SABER DE COISAS TRISTES
NÃO ME IMPORTO QUE LOUCOS
DESENFREADOS
ATROPELEM CRIANÇAS DESCUIDADAS
QUE OS FILHOS DO VIZINHO
SE AFOGUEM EM GARROTILHO
QUE O TRIBUNAL DOS PEQUENOS DELITOS
SUPURE MISÉRIAS DE CULPAS NOSSAS.
VOU CHEGAR TARDE AO CINEMA
PARA FUGIR AO JORNAL FOX
E ÀQUELES BONECOS A BRANCO E PRETO
QUE LÁ AGONIZAM EM LUTAS
DE QUE NEM SABEM O SIGNIFICADO

BASTA DE FILMES ITALIANOS
COM A DOR A SUBIR DE ESCOMBROS
E DE ESCADARIAS ESTILHAÇADAS
COM A MISÉRIA DAS PROSTITUTAS
E OS SEUS BERROS SEM BELEZA.

E, SOBRETUDO, BASTA DE GUERRAS
E DE LOUCOS COMO O HITLER
QUE FELIZMENTE MORREU,

MANDEM-ME PARA LONGE OS JORNAIS
E A DOIDA NECROLOGIA.
BASTA DE PASSARINHOS TRANSIDOS
DE DONZELAS À FORÇA POSSUÍDAS
E DE LIVROS QUE ME ATEMORIZEM
COM DRAMAS E VILANIAS.

HOJE QUERO SOL.
UM SOL LIMPO
INTEIRAMENTE LIMPO
AQUECENDO CAMPOS SEM FIM.
                                                   Amândio Sereno

 

Quem me mereça me cante,
quem me ame me sujeite,
me cuspa, me fira ou beije.
Deixo as escamas aos peixes,
deixai-me apenas ser gente,
cavalgar potros de espanto.
Quem me ouça no que canto
me espere ou desespere.

Vence-me, não me violentes,
cada instante me requer.
         Dinis de Ramos

 

Devassei o tempo
Para além da morte
E ultrapassei
O meu próprio feto.
Bailei a valsa incolor e virgem
Dos sem nome
Dos sem futuro
E dos sem passado.

Violentei o tempo
Até o aquém e o além de mim
E verifiquei que não havia tempo
Mas o acidente ruim
Do nascimento.
                        Amândio Sereno

 

Escreve a tua alegria
a golpes de canivete,
Repara que é cobardia
a que se não compromete
                  Dinis de Ramos

 

Quem se vence logo perde
o que não soube ganhar.
Com as armas que não tinha
porque não medra e se mede,
e porque apunhala e cede
e não vai por onde vinha?
                  Dinis de Ramos

 

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