Tela de Carmen Vale
| Os artistas vêem sempre muito longe. Vêem ao longe e captam tudo. Tudo
de uma vez, a cores, com alma, em movimento. Aos seus olhos, encurtam-se as distâncias.
Parece que se libertam dos limites do corpo, da matéria. Revela-o muito concretamente no
seu quadro «Adoração dos Magos» o nosso Vasco Fernandes. O
ameríndio aparece ali como um dos Magos, em vez do Rei Baltazar. Viu esse ameríndio
muito bem Vasco Fernandes, mesmo através dos oceanos, com toda a sua dignidade diante de
Deus e diante dos homens. Viu-o e plasmou-o para sempre nessa obra de arte que nos
deixou. Ao ver hoje esse quadro, as nossas crianças vão ver, também elas, depois de mais de quatro séculos, esse ameríndio, com toda a sua dignidade de homem e até de cristão. É uma descoberta que as crianças vão fazer hoje, não através dos oceanos, mas através desta obra de Vasco Fernandes. É como se ele lhes emprestasse os seus olhos. Fazer ver pelos olhos dos nossos artistas, é porventura a melhor forma de educar a comunicação visual das crianças que assim se habituam a ver sempre mais além do que aquilo que estamos a ver. Veremos assim melhor e sempre aquela que se chama a dimensão perdida que é a dimensão da profundidade das coisas e das pessoas. As crianças têm para isso grande capacidade pela limpidez do seu olhar. Estão ainda livres dos tais «vírus» que muitas vezes corrompem as «disquetes» de muitas pessoas, pessoas porventura mais sábias, mais crescidas. São «vírus» que corrompem ou anulam por vezes a limpidez que há sempre no coração de uma Criança. É muito possível, em tal perspectiva, virmos um dia a ver mais as coisas pelos olhos das crianças e vermos melhor. Jesus mandou-nos, há dois mil anos, aprender com as crianças. Sr. D.
António Monteiro |
Marco (7ºJ)
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