O
naturalista John Lubboek, com o conto da gralha que
contava os caçadores, fez entrar este simpático animal no
rol dos Matemáticos.
Uma incómoda gralha tinha feito o seu ninho no cimo da torre
de um velho castelo.
O proprietário decidiu desalojar ou matar o animal.
Porém, de cada vez que o homem subia à torre, a gralha
afastava-se, para só voltar quando o caçador se tinha ido
embora.
Então, para confundir as ideias do pássaro e apanhá-lo
numa armadilha, dirigiram-se para a torre dois homens.
Um
escondeu-se e o outro voltou para trás: a gralha continuou
afastada da torre e só regressou passadas muitas horas,
quando viu sair também o segundo homem. No dia seguinte, tentou-se o mesmo processo, mas desta
vez com três homens. Dois voltaram a descer e um ficou escondido.
Mas a gralha não se deixou enganar e só voltou ao
ninho quando o terceiro homem abandonou o seu posto. Por fim, o dono do castelo conseguiu ganhar a partida,
porque decidiu mandar para a torre seis homens, fazendo voltar
cinco para trás. Era um
número demasiado
grande para ser apreendido pelo pássaro.
A gralha soubera contar até quatro,
mas não conseguiu ir mais além,
e aí deixou as penas.
Os
nossos antepassados não se devem ter comportado de modo muito
diferente do dos animais, no que respeita à concepção dos números. De facto, a maior parte das antigas linguagens e a
maioria dos idiomas tribais dos povos menos evoluídos, ainda
hoje existentes na América do Sul, na África e na Austrália,
têm termos precisos para indicar os números 1 e 2, ao passo
que qualquer número de objectos ou animais superior a dois é
descrito com palavras, cuja tradução é porção,
uma grande quantidade, um
conjunto.
Os
estudos de antropologia revelaram que foram necessários
muitos séculos antes que os homens concebessem a ideia de número,
isto é, antes que compreendessem que dois ovos e duas árvores,
um par de olhos e duas pedras são só exemplificações de um
conceito geral: o número
2. Os nossos antepassados tiveram de realizar um grande esforço
para se separarem do concreto das necessidades da vida e da
realidade do mundo circunstante e para chegarem ao conceito
das
entidades numéricas, completamente independente de qualquer
referência concreta.
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